05/03/2014

Tratado dos vícios e pecados 26

Questão 74: Do sujeito dos pecados.

Art. 5 ― Se o pecado pode existir na razão.

(II Sent., dist. XXIV, q. 3 a. 3).

O quinto discute-se assim. ― Parece que o pecado não pode existir na razão.

1. ― Pois, o pecado de uma potência é um defeito da mesma. Ora, o defeito na razão não é pecado, mas antes, desculpa dele, assim, a ignorância desculpa-nos do pecado. Logo, na razão não pode haver pecado.

2. Demais. ― O primeiro sujeito do pecado é a vontade, como já se disse (a. 1). Ora, a razão, sendo a que dirige a vontade, tem precedência sobre ela. Logo, não pode haver pecado na razão.

3. Demais. ― Não pode haver pecado senão relativamente ao que existe em nós. Ora, a perfeição e a deficiência da razão não são coisas que estejam em nós, assim, alguns têm a razão deficiente ou solerte. Logo, não há pecado na razão.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que o pecado reside na razão inferior e na superior 1.

O pecado de uma potência consiste no acto da mesma, como do sobredito resulta (a. 1, 2, 3). Ora, a razão é susceptível de duplo acto. Um pertence-lhe por si mesma e é relativo ao seu objecto próprio, que é conhecer a verdade. O outro pertence-lhe enquanto directiva das outras potências. ― Ora, pode haver pecado na razão de um e de outro modo. Do primeiro, quando ela erra no conhecimento da verdade, em cujo caso o pecado lhe é imputado, se nutria ignorância ou erro no tocante ao que podia ou devia saber. Do segundo, quando impera, ou também não reprime, após a deliberação, os actos desordenados das potências inferiores.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A objecção procede, relativamente ao defeito da razão, pertinente ao seu acto próprio, que lhe respeita o objecto próprio. E então, quando há defeito do conhecimento daquilo que não podemos saber, esse defeito não é pecado, mas antes, desculpa-o, e tal é o caso dos actos cometidos pelos loucos. Se porém o defeito da razão disser respeito ao que podemos e devemos saber, então não ficamos totalmente isentos de pecado, mas esse mesmo defeito é-nos imputado como pecado. O defeito porém, que só está em dirigir as outras potências, é-nos sempre imputado como pecado, porque pelo próprio acto podíamos obviá-lo.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Como já dissemos (q. 17, a. 1), quando tratamos dos actos da vontade e da razão, a vontade, de certo modo, move a razão precede-a, mas também esta, de certo modo, precede àquela. Donde, o movimento da vontade pode ser chamado racional, e o acto racional, voluntário. E a esta luz, a razão é suscetível de pecado, quer por ser o seu defeito voluntário, quer por ela ser princípio do acto da vontade.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Resulta clara do que ficou dito.


Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. XII De Trinit. (cap. XII).





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