07/11/2011

Devem ser adoradas de algum modo as relíquias dos santos?

Ampola com sangue  do Btº João Paulo II

Parece que não devem ser adoradas de modo algum as relíquias dos santos:

1. Com efeito, não devemos fazer nada que possa ser ocasião de erro. Ora, adorar as relíquias dos mortos parece cair no erro dos pagãos, que rendiam culto aos mortos. Logo, não devem ser honradas as relíquias dos santos.

2. Além disso, parece uma tolice venerar um objeto insensível. Ora, as relíquias dos santos são insensíveis. Logo, é tolice venerá-las.

3. Ademais, um corpo morto não é da mesma espécie do que um corpo vivo; e, por conseguinte não parece ser numericamente o mesmo. Parece, pois, que depois da morte de um santo, o seu corpo não deve ser adorado.


EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz o livro dos Dogmas eclesiásticos: “Cremos que devem ser adorados com sinceridade os corpos dos santos, e principalmente as relíquias dos bem-aventurados mártires, como se fossem os membros de Cristo”. E acrescenta logo depois: “Se alguém for contra esta doutrina, não é cristão, mas seguidor de Eunômio e de Vigilâncio”.
Agostinho afirma: “Se a roupa e a aliança de um pai, ou outras coisas parecidas, são tanto mais apreciadas pelos filhos quanto maior é o seu amor pelos pais, de modo algum devem ser desprezados os corpos que, sem dúvida, são para nós muito mais familiares e intimamente unidos do que qualquer roupa que vistamos; pois os corpos pertencem à natureza mesma do homem”. É evidente que quem ama uma pessoa, depois de sua morte, venera tudo o que fica dela; não só o corpo ou as partes dele, mas também objectos exteriores, por exemplo, as roupas ou coisas semelhantes. É, pois, evidente que devemos ter veneração pelos santos de Deus como membros de Cristo, filhos e amigos de Deus e intercessores nossos. E, portanto, em memória deles, devemos venerar dignamente qualquer relíquia deles, principalmente os seus corpos, que foram templos e órgãos do Espírito Santo, que habitou e agiu neles, e que devem ser configurados ao corpo de Cristo pela glória da ressurreição. Por isso, o próprio Deus honra como convém as suas relíquias, pelos milagres que faz na presença deles.
Quanto às objecções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Esta era a razão apresentada por Vigilâncio, cujas palavras são citadas por Jerónimo no livro que escreveu contra ele: “É um rito quase pagão que acaba sendo introduzido sob pretexto de religião: eles adoram, beijando-o, não sei que tipo de pó, depositado numa pequena vasilha, envolvida num pano precioso”. Contra ele escreve Jerônimo: “Nós não adoramos, a saber, com adoração de latria as relíquias dos mártires; nem o sol, nem a lua, nem os anjos. Mas honramos as relíquias dos mártires para honrar aquele de quem são mártires; honramos os servos para que a honra prestada aos servos redunde ao Senhor”. Assim, pois, honrando as relíquias dos santos não caímos no erro dos pagãos que rendiam culto de latria aos mortos.
2. Não adoramos o corpo insensível por si mesmo, mas pela alma com a qual esteve unido e que agora frui de Deus; e por causa de Deus, a cujo serviço estiveram.
3. O corpo morto de um santo não é idêntico numericamente ao seu corpo vivo, que tinha uma forma diferente, ou seja a alma; mas é o mesmo pela identidade da matéria, que deverá unir-se de novo à sua forma que é a alma.

Suma Teológica III, q.25, a.6


Novíssimos - Juízo Particular 4

Julgamento de Francisco - banqueiro. [i]

O piloto lutava com os comandos do helicóptero num frenesim crescente.
O aparelho entrara em rodopiar sobre si mesmo e todos os esforços do experiente piloto não conseguiam resolver a situação.
Em escassos segundos entrou em perda total e os gritos de socorro reconhecidos internacionalmente começaram com angústia:

May day! May day! May day!

Francisco, no banco traseiro do confortável aparelho que só alguns administradores usavam, agarrava-se como podia aos braços da poltrona. A seus pés, a pasta com documentos que estivera a ver deixara cair todo o conteúdo que se espalhava pela cabina.

Habituado como estava a situações extremas tentava manter o sangue frio que o caracterizava.
Não obstante a sua vida corria-lhe pela mente com uma celeridade espantosa. Viu a mulher, os dois filhos jovens, a mansão acabada de estrear, a herdade recentemente comprada e ainda em obras de melhoramento.
A sua curta vida estava em perigo mas, decidiu que não acabaria assim.

Uma acção rápida se impunha. Olhando pela janela viu que se precipitavam em direcção às águas da barragem que estavam a sobrevoar. Não hesitou um segundo e, soltando o cinto de segurança e abrindo a porta ficou à espera uns momentos. Quando lhe pareceu que já estavam suficientemente próximos da água atirou-se pela porta fora e caiu no espaço.

A aeronave rodopiava incontrolada sobre a sua cabeça e a última coisa que sentiu foi uma das pás a corta-lo a meio do corpo…

O Francisco foi sempre um estudante aplicado e com resultados muito acima da média. De tal forma que logo que acabado o curso e o MBA foi convidado para um lugar de destaque na instituição financeira onde rapidamente subiu todos os escalões até integrar o CA.
Foi sempre exemplar no seu trabalho nunca transigindo com algo menos correcto e, talvez por isso, era tão respeitado como temido pelos seus pares.
Rejeitou inúmeras propostas aliciantes que decerto lhe trariam largos proventos por considerar que não eram sérias ou honestas…

O Juiz falou:

“Tudo isso é muito bom mas, na verdade, ser honesto não é um mérito mas uma obrigação, trabalhar bem e com afinco é um dever. Há alguma coisa a propósito de obras de caridade, vida de piedade, prática dos Sacramentos, a Santa Missa aos Domingos – pelo menos -  enfim… alguma coisa realmente merecedora de prémio que tenha ficado por dizer?”

O Ser resplandecente de vestes alvas como a neve que estivera a fazer o relato da vida de Francisco, ficou calado.

Uma voz cuja serenidade parecia a superfície de um lago tranquilo em fim de tarde, fez-se ouvir:

“Tenho algo a dizer. O Francisco foi abordado por um Sacerdote muito idoso com um pedido. Toda a sua vida este bom homem tinha procurado erguer uma capela em minha homenagem mas os fundos necessários para tal que conseguira reunir eram insuficientes. Como não quis infringir as normas e regras que ele próprio tinha estabelecido como administrador, o Francisco, do seu próprio bolso, entregou ao Sacerdote o dinheiro que faltava. O templo foi construído e tem sido muito concorrido por um número crescente de devotos que organização procissões com um andor com a minha imagem, rezam o terço e cantam lindas melodias em meu louvor”

O Juiz disse então:

"Como em Caná da Galileia fiz o que me pediu, faça-se agora como a Minha Mãe desejar".



[i] Levanta-se a questão da vida para além da morte. É uma das grandes interrogações que alguma vez durante a sua vida o homem se coloca.
É natural porque o ser humano é dotado de espírito, alma, que tem preocupações mais para além do imediatamente sensível.
Para os cristãos a segurança da Fé fá-los compreender que está destinado à eternidade, ou seja, embora o corpo pereça e acabe a vida terrena, a sua alma não morrerá jamais e, naturalmente, tende a voltar para o seu Criador, Deus.
Sim... a lógica propõe o que a fé garante, porque não se concebe o Criador abandonar a criatura a um desaparecimento puro e simples.
O restante do problema é o que se refere ao "destino" da alma e que é "marcado" na conclusão do juízo a que é sujeita pelo próprio Criador, logo que, após a separação do corpo, se apresenta perante Si.
No imaginário livro da vida, ao contrário do que que é mais comum, não existem colunas de "deve" e "haver" onde é feita uma espécie de contabilidade, não! O que existe é uma lista completa dos bens recebidos em vida, os dons, graças, auxílios, inspirações e meios com que o Senhor foi dotando cada um de forma especial e única.
Cada ser humano recebe um "pacote" específico, para si em exclusivo.
Deus Nosso Senhor não dispensa os Seus benefícios adrede ou de uma forma sistemática ou mecânica. Cada ser humano é objecto de atenção exclusiva e única por parte do Criador que lhe concede os Seus dons e benefícios conforme a Sua Soberana Vontade determina.
Esta misteriosa magnitude de Deus tem uma razão de ser.
O homem não é capaz por si mesmo de evoluir, de melhorar sem que um estímulo o leve a tal.
Este estímulo surge exactamente no estreitamento das suas relações com Deus.
Quanto mais se relaciona mais recebe e, quanto mais se recebe mais se deseja intimar com Deus.
Por isso no Evangelho consta «àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado» Lc 8, 16-18.

Para chegar a Deus, o caminho seguro, é Maria Sua e nossa Mãe! 

Sancta Maria iter para tutum! (Santa Maria, prepara-me um caminho seguro)

Pensamentos inspirados à procura de Deus


À procura de Deus



Deus não está.

Deus é!









jma

Oração e Luta

Reflectindo

Quando Jesus desperta os discípulos adormecidos e os exorta à oração, vinha de experimentar, na Sua própria, as mais graves dificuldades. Ele não pode estranhar que a nós nos custe orar. Mas a luta santa – a agonia de que fala S. Lucas – que o Senhor teve que enfrentar e vencer põe diante dos olhos que não se entra por caminhos de verdadeira vida interior se não há verdadeira luta por perseverar na oração: uma luta que, de um modo ou outro, é a de nos acomodarmos plenamente à Vontade Divina.

(d. javier echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Pg. 160)

Os perfeitos só se encontram no Céu.

Textos de São Josemaria Escrivá


Que ele está cheio de defeitos!... Bom... Mas, além de que os perfeitos só se encontram no Céu, tu também tens os teus, e todavia suportam-te; e, mais ainda, estimam-te: porque te amam com o amor que Jesus Cristo tinha pelos seus, que bem carregados de misérias andavam! – Aprende! (Sulco, 758))


Queixas-te de que ele não é compreensivo... E eu tenho a certeza de que faz o possível por entender-te. Mas tu, quando te esforçarás um bocadinho por compreendê-lo a ele? (Sulco, 759)


De acordo; admito: essa pessoa portou-se mal; a sua conduta é censurável e indigna; não demonstra categoria nenhuma.
– "Merece humanamente todo o desprezo!", acrescentaste.
Insisto: compreendo-te, mas não compartilho a tua última afirmação. Essa vida mesquinha é sagrada; Cristo morreu para redimi-la! Se Ele não a desprezou, como podes tu atrever-te a desprezá-la? (Sulco, 760)

Realmente, a vida, já por si estreita e insegura, às vezes torna-se difícil... Mas isso contribuirá para te tornar mais sobrenatural, para que vejas em tudo a mão de Deus; e assim serás mais humano e compreensivo com os que te rodeiam. (Sulco, 762)

© Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet

A turista e o engraxador

Navegando pela minha cidade
Há qualquer coisa de muito humilde em engraxar sapatos; em ser engraxador. 
Talvez este je ne sai quoi indefinido e intangível que aponta para a humildade, comece pelo nível (altitude) a que se trabalha. Que outra razão haverá para que os pilotos de avião tenham um status social elevado a não ser o de trabalharem em elevadas altitudes? Então não são eles apenas motoristas de autocarro? Sim, porque na verdade um avião não é mais do que um autocarro com asas.

Os pilotos de uma qualquer companhia de aviação conduzem um autocarro com asas a nove ou dez mil metros de altitude. O engraxador faz brilhar sapatos ao nível do chão. E é com os pés no chão que qualquer homem se firma e se afirma. E se a base - os pés bem calçados nuns sapatos bem engraxados – estiver bem tratada, prenuncia que o resto também o estará.

Aprendi o ritual de engraxar os sapatos com o meu Pai. Que importância tinha ir ao Café Avis num Domingo de manhã e tomar um café enquanto um dos engraxadores privativos do estabelecimento dava nova vida aos sapatos!

Aquelas caras sérias e marcadas pela vida dos engraxadores; aquelas cabeças de que, por estarem viradas para os sapatos – concentradas no trabalho – só se lhes via a parte de cima cheias de brilhantina; aquelas mãos polidas de tanto polirem que nos seus movimentos rápidos e mecânicos até se confundiam com os sapatos; aquelas grandes latas de graxa tão brilhantes que até pareciam de prata; aquele toquezinho na ponta do sapato indicando que o devia tirar do apoio e lá pôr o outro; aquelas tosses cavernosas de velhos fumadores; aquele final a fazer chiar o pano comprido no calcanhar e depois, para finalizar, fazê-lo estalar – tráz-tráz - no peito do pé era só para os mestres.

Tudo isto para dizer que os engraxadores sempre me inspiraram muito respeito e que os tenho em muito maior conta do que a qualquer piloto de avião.

O Sr. António, o último grande engraxador do Porto desapareceu há muitos meses. Recusava-se a cobrar mais de um euro e meio porque afasta os fregueses conforme dizia a quem lhe perguntava porque não cobrava dois euros como os outros. E quando lhe diziam que agora a vida está muito pior do que antes do vinte e cinco de Abril ele num tom muito baixo e calmo, levantava os seus olhos azuis e lacrimejantes e dizia: antigamente? Antigamente eu ia com o meu pai todos os dias à sopa na Trindade; era uma bicha de povo que dava quase a volta ao quarteirão. Não, não, agora nem é mau para quem não quer trabalhar.

Os que restam concentram-se na Praça da Liberdade aonde fui a semana passada numa manhã deste Outono que até parece Verão.

Bandos de turistas trazidos por pilotos da companhia de aviação Ryanair eram conduzidos pelos seus guias enquanto eu assentado num banco encostado à parede, via o engraxador a engraxar-me os sapatos e verificava se ele o estava a fazer com graxa neutra em vez de castanho para não escurecer demais os sapatos.

Quando levantei os olhos dos sapatos, verifiquei que estávamos – eu e o engraxador - a ser alvo de grande interesse e curiosidade de um bando de turistas cuja nacionalidade não consegui identificar, mas que eram europeus, talvez de um dos fragmentos da ex-Jugoslávia. Uns tiravam fotografias discretamente e menos discretamente; outros cochichavam e comentavam qualquer coisa olhando para nós os dois; ou talvez só para o engraxador.

A certa altura, quando o grupo já se estava a ir embora, uma rapariga magra, nova e séria, aproxima-se em passinhos curtos e hesitantes, discretos, baixa-se ao lado do engraxador e deposita junto à lata de graxa um montinho de moedas de vinte cêntimos e retira-se rapidamente.

O engraxador voltou a cabeça para ela que já ia a mais de três ou quatro metros, pára o movimento das mãos por cima dos meus sapatos e fica a olhar durante um bocado que pareceu imenso.

Depois olha para mim e eu olho para ele e rimos. Rimos talvez até mais por dentro. Rimos pelo equívoco; sorrimos pelo relativismo da riqueza.

Eu sorri pela generosidade de ambos: da turista e da do engraxador. Dela por ter dado e dele por ter aceitado.

Se este gesto não tivesse uma bondade intrínseca apetecer-me-ia ter-lhe perguntado se também iria pôr um montinho de euros no cockpit do piloto da Ryanair.

Afonso Cabral

Evangelho do dia e comentário













T. Comum– XXXII Semana



Evangelho: Lc 17, 1-6

1 Depois, Jesus disse a Seus discípulos: «É impossível que não haja escândalos, porém, ai daquele por quem eles vêm! 2 Seria melhor para ele que lhe pendurassem ao pescoço uma pedra de moinho, e que fosse precipitado no mar, do que ser causa de escândalo para um destes pequeninos. 3 «Estai com cuidado sobre vós. Se teu irmão pecar, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. 4 E, se pecar sete vezes ao dia contra ti, e sete vezes ao dia for ter contigo, dizendo: estou arrependido, perdoa-lhe». 5 Os apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta-nos a fé!». 6 O Senhor disse-lhes: «Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te para o mar, e ela vos obedecerá.

Comentário:

Perdoar sempre! Eis a recomendação de Jesus.

Sete vezes ou outras, muitas, mais, porque nós, perguntemo-nos com sinceridade, quantas vezes ofendemos a Deus?

Com faltas leves e pequenas e outras mais pesadas e graves?

Sim… quantas vezes!

E não é verdade que Ele nos perdoa sempre?

Então…

(ama, comentário sobre Lc 17, 1-6, 2010.11.08)