07/03/2014

NUNC COEPI 07 Mar 2014

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Reflectindo - 232

Fidelidade

Tantas vezes se tem abordado este tema nas mais diversas circunstâncias.

De facto, não se esgota nem se dirá, nunca, tudo.
Da fidelidade depende a própria felicidade do homem. Quem não é fiel  dificilmente será feliz e, a razão, é simples e lógica: como pode ser feliz, alguém que não merece confiança que é consequência directa da fidelidade?

Não admite …"graus", ou se é fiel em tudo, no grande como no pequeno, no importante como no de escasso valor, ou não se é fiel de todo.
Também não considera circunstâncias porque a Fidelidade não as conhece, melhor dizendo, não é influenciada por elas.
E, temos de reconhecer, que não ė fácil ser fiel, sempre sejam quais forem as circunstâncias, o ambiente, ou aquilo em que se deve ser fiel.
Por isso mesmo há algo de que a Fidelidade pode depender... e muito: da unidade de vida.

A fidelidade tem a sua raiz no carácter, ou melhor dizendo, na nobreza de carácter.
As pessoas têm uma tendência quase atávica para estabelecer comparações entre si, mesmo que o padrão pessoal seja de alguma forma vago ou indefinido, mas há pelo menos um ponto de referência a que recorrem sempre: a fidelidade!
Não se consentem ou validam razões para ser infiel. O acto de infidelidade fica como um ferrete indelével a marcar o carácter da pessoa que o cometeu.
Mas a unidade de vida, base poderosa para sustentar a fidelidade, tem, também, a sua base no carácter, na sua estrutura, na sua expressão mais comum e natural: o comportamento pessoal.
Donde que, estreitamente ligada à virtude da Fidelidade a construção de um carácter recto e bem estruturado è tarefa importantíssima e prioritária.


(AMA, reflexões, 17.05. 2014)

Evangelho do dia e comentário

Tempo Comum Semana VIII
Evangelho: Mt 9, 14-15

14 Então foram ter com Ele os discípulos de João e disseram-Lhe: «Qual é a razão por que nós e os fariseus jejuamos e os Teus discípulos não jejuam?». 15 Jesus respondeu-lhes: «Porventura podem estar tristes os companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? Mas virão dias em que lhes será tirado o esposo e então eles jejuarão.

Comentário:

Note-se bem que a resposta de Jesus Cristo encerra a verdade da questão: a conotação feita pelos judeus entre a tristeza e o jejum.

Com efeito sabemos bem como costumavam dar-se às aparências dos rituais e hábitos prescritos na Lei judaica. Quase tudo era feito de modo público e, portanto, pouco mais era, em grande parte, que o cumprimento legal.

O jejum, como qualquer outra mortificação, se perde o seu carácter pessoal, íntimo, convicto não só perde mérito como faz pouco sentido.

Tais privações, ou actos de renúncia devem, sempre, partir do íntimo do coração, numa decisão pessoal da alma que pretende, assim, contrariar os desejos do corpo e honrar a Deus.

A discrição e recato são imprescindíveis para que o valor que possam ter seja apreciado unicamente pelo Senhor que, de facto, é o que nos deve interessar.

Se os outros se apercebem ou não é secundário e não acrescenta nada ao mérito que possamos ter.


(ama comentário sobre Mt 9,14-17, 2014. 01.15)

Leitura espiritual para Mar 07

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)

Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Evangelho: Lc 5, 12-26

12 Sucedeu que, encontrando-se Jesus numa cidade, apareceu um homem cheio de lepra, o qual, vendo Jesus, prostrou-se com o rosto por terra e suplicou-Lhe: «Senhor, se Tu queres, podes limpar-me». 13 Ele, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: «Quero, sê limpo!». Imediatamente desapareceu dele a lepra. 14 Jesus ordenou-lhe que a ninguém o dissesse. «Mas vai, disse-lhe, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua cura o que foi ordenado por Moisés, para lhes servir de testemunho». 15 Entretanto difundia-se cada vez mais a fama do Seu nome; e concorriam grandes multidões para O ouvir e ser curadas das suas doenças. 16 Mas Ele retirava-Se para lugares desertos, e fazia oração. 17 Um dia, enquanto ensinava, estavam ali sentados fariseus e doutores da lei vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do Senhor levava-O a fazer curas. 18 E eis que uns homens, levando sobre um leito um homem que estava paralítico, procuravam introduzi-lo dentro da casa e pô-lo diante d'Ele. 19 Porém, não encontrando por onde o introduzir por causa da multidão, subiram ao telhado e, levantando as telhas, desceram-no com o leito no meio de todos, diante de Jesus. 20 Vendo a fé deles, Jesus disse: «Homem, são-te perdoados os teus pecados». 21 Então os escribas e os fariseus começaram a pensar e a dizer: «Quem é este que diz blasfémias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?».22 Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu-lhes: «Que estais a pensar nos vossos corações? 23 Que coisa é mais fácil dizer: “São-te perdoados os pecados”, ou dizer: “Levanta-te e caminha”? 24 Pois, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar pecados, Eu te ordeno - disse Ele ao paralítico - levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa». 25 Levantando-se logo em presença deles, tomou o leito em que jazia e foi para a sua casa, glorificando a Deus. 26 Ficaram todos estupefactos e glorificavam a Deus. Possuídos de temor, diziam: «Hoje vimos coisas maravilhosas».


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE
O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL

Capítulo II

NA CRISE DO COMPROMISSO COMUNITÁRIO

Sim às relações novas geradas por Jesus Cristo

87. Neste tempo em que as redes e demais instrumentos da comunicação humana alcançaram progressos inauditos, sentimos o desafio de descobrir e transmitir a «mística» de viver juntos, misturar-nos, encontrar-nos, dar o braço, apoiar-nos, participar nesta maré um pouco caótica que pode transformar-se numa verdadeira experiência de fraternidade, numa caravana solidária, numa peregrinação sagrada. Assim, as maiores possibilidades de comunicação traduzir-se-ão em novas oportunidades de encontro e solidariedade entre todos. Como seria bom, salutar, libertador, esperançoso, se pudéssemos trilhar este caminho! Sair de si mesmo para se unir aos outros faz bem. Fechar-se em si mesmo é provar o veneno amargo da imanência, e a humanidade perderá com cada opção egoísta que fizermos.

88. O ideal cristão convidará sempre a superar a suspeita, a desconfiança permanente, o medo de sermos invadidos, as atitudes defensivas que nos impõe o mundo actual. Muitos tentam escapar dos outros fechando-se na sua privacidade confortável ou no círculo reduzido dos mais íntimos, e renunciam ao realismo da dimensão social do Evangelho. Porque, assim como alguns quiseram um Cristo puramente espiritual, sem carne nem cruz, também se pretendem relações interpessoais mediadas apenas por sofisticados aparatos, por ecrãs e sistemas que se podem acender e apagar à vontade. Entretanto o Evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com o seu sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura.

89. O isolamento, que é uma concretização do imanentismo, pode exprimir-se numa falsa autonomia que exclui Deus, mas pode também encontrar na religião uma forma de consumismo espiritual à medida do próprio individualismo doentio. O regresso ao sagrado e a busca espiritual, que caracterizam a nossa época, são fenómenos ambíguos. Mais do que o ateísmo, o desafio que hoje se nos apresenta é responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro. Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que os cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo que os chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não humanizam nem dão glória a Deus.

90. As formas próprias da religiosidade popular são encarnadas, porque brotaram da encarnação da fé cristã numa cultura popular. Por isso mesmo, incluem uma relação pessoal, não com energias harmonizadoras, mas com Deus, Jesus Cristo, Maria, um Santo. Têm carne, têm rostos. Estão aptas para alimentar potencialidades relacionais e, não tanto, fugas individualistas. Noutros sectores da nossa sociedade, cresce o apreço por várias formas de «espiritualidade do bem-estar» sem comunidade, por uma «teologia da prosperidade» sem compromissos fraternos ou por experiências subjectivas sem rostos, que se reduzem a uma busca interior imanentista.

91. Um desafio importante é mostrar que a solução nunca consistirá em escapar de uma relação pessoal e comprometida com Deus, que ao mesmo tempo nos comprometa com os outros. Isto é o que se verifica hoje quando os crentes procuram esconder-se e livrar-se dos outros, e quando subtilmente escapam de um lugar para outro ou de uma tarefa para outra, sem criar vínculos profundos e estáveis: «A imaginação e mudança de lugares enganou a muitos». 68 É um remédio falso que faz adoecer o coração e, às vezes, o corpo. Faz falta ajudar a reconhecer que o único caminho é aprender a encontrar os demais com a atitude adequada, que é valorizá-los e aceitá-los como companheiros de estrada, sem resistências interiores. Melhor ainda, trata-se de aprender a descobrir Jesus no rosto dos outros, na sua voz, nas suas reivindicações; e aprender também a sofrer, num abraço com Jesus crucificado, quando recebemos agressões injustas ou ingratidões, sem nos cansarmos jamais de optar pela fraternidade.  69

92. Nisto está a verdadeira cura: de facto, o modo de nos relacionarmos com os outros que, em vez de nos adoecer, nos cura é uma fraternidade mística, contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom. Precisamente nesta época, inclusive onde são um «pequenino rebanho» (Lc 12, 32), os discípulos do Senhor são chamados a viver como comunidade que seja sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-16). São chamados a testemunhar, de forma sempre nova, uma pertença evangelizadora. 70 Não deixemos que nos roubem a comunidade!

Não ao mundanismo espiritual

93. O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal. É aquilo que o Senhor censurava aos fariseus: «Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único?» (Jo 5, 44). É uma maneira subtil de procurar «os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo» (Fl 2, 21). Reveste-se de muitas formas, de acordo com o tipo de pessoas e situações em que penetra. Por cultivar o cuidado da aparência, nem sempre suscita pecados de domínio público, pelo que externamente tudo parece correcto. Mas, se invadisse a Igreja, «seria infinitamente mais desastroso do que qualquer outro mundanismo meramente moral». 71

94. Este mundanismo pode alimentar-se sobretudo de duas maneiras profundamente relacionadas. Uma delas é o fascínio do gnosticismo, uma fé fechada no subjectivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos. A outra maneira é o neopelagianismo auto-referencial e prometeico de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado. É uma suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário, onde, em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. Em ambos os casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente. São manifestações dum imanentismo antropocêntrico. Não é possível imaginar que, destas formas desvirtuadas do cristianismo, possa brotar um autêntico dinamismo evangelizador.

95. Este obscuro mundanismo manifesta-se em muitas atitudes, aparentemente opostas mas com a mesma pretensão de «dominar o espaço da Igreja». Nalguns, há um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história. Assim, a vida da Igreja transforma-se numa peça de museu ou numa possessão de poucos. Noutros, o próprio mundanismo espiritual esconde-se por detrás do fascínio de poder mostrar conquistas sociais e políticas, ou numa vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, ou numa atracção pelas dinâmicas de auto-estima e de realização auto-referencial. Também se pode traduzir em várias formas de se apresentar a si mesmo envolvido numa densa vida social cheia de viagens, reuniões, jantares, recepções. Ou então desdobra-se num funcionalismo empresarial, carregado de estatísticas, planificações e avaliações, onde o principal beneficiário não é o povo de Deus mas a Igreja como organização. Em qualquer um dos casos, não traz o selo de Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado, encerra-se em grupos de elite, não sai realmente à procura dos que andam perdidos nem das imensas multidões sedentas de Cristo. Já não há ardor evangélico, mas o gozo espúrio duma autocomplacência egocêntrica.

96. Neste contexto, alimenta-se a vanglória de quantos se contentam com ter algum poder e preferem ser generais de exércitos derrotados antes que simples soldados dum batalhão que continua a lutar. Quantas vezes sonhamos planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos de generais derrotados! Assim negamos a nossa história de Igreja, que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso, porque todo o trabalho é «suor do nosso rosto». Em vez disso, entretemo-nos vaidosos a falar sobre «o que se deveria fazer» – o pecado do «deveriaqueísmo» – como mestres espirituais e peritos de pastoral que dão instruções ficando de fora. Cultivamos a nossa imaginação sem limites e perdemos o contacto com a dolorosa realidade do nosso povo fiel.

97. Quem caiu neste mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência. Circunscreveu os pontos de referência do coração ao horizonte fechado da sua imanência e dos seus interesses e, consequentemente, não aprende com os seus pecados nem está verdadeiramente aberto ao perdão. É uma tremenda corrupção, com aparências de bem. Devemos evitá-lo, pondo a Igreja em movimento de saída de si mesma, de missão centrada em Jesus Cristo, de entrega aos pobres. Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais! Este mundanismo asfixiante cura-se saboreando o ar puro do Espírito Santo, que nos liberta de estarmos centrados em nós mesmos, escondidos numa aparência religiosa vazia de Deus. Não deixemos que nos roubem o Evangelho!

Não à guerra entre nós

98. Dentro do povo de Deus e nas diferentes comunidades, quantas guerras! No bairro, no local de trabalho, quantas guerras por invejas e ciúmes, mesmo entre cristãos! O mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança económica. Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial.

99. O mundo está dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar. Em vários países, ressurgem conflitos e antigas divisões que se pensavam em parte superados. Aos cristãos de todas as comunidades do mundo, quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais uns pelos outros, como mutuamente vos encorajais, animais e ajudais: «Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). Foi o que Jesus, com uma intensa oração, pediu ao Pai: «Que todos sejam um só (…) em nós (para que) o mundo creia» (Jo 17, 21). Cuidado com a tentação da inveja! Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto! Peçamos a graça de nos alegrarmos com os frutos alheios, que são de todos.

100. Para quantos estão feridos por antigas divisões, resulta difícil aceitar que os exortemos ao perdão e à reconciliação, porque pensam que ignoramos a sua dor ou pretendemos fazer-lhes perder a memória e os ideais. Mas, se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas, isso é sempre uma luz que atrai. Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes comportamentos?

101. Peçamos ao Senhor que nos faça compreender a lei do amor. Que bom é termos esta lei! Como nos faz bem, apesar de tudo amar-nos uns aos outros! Sim, apesar de tudo! A cada um de nós é dirigida a exortação de Paulo: «Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (Rm 12, 21). E ainda: «Não nos cansemos de fazer o bem» (Gal 6, 9). Todos nós provamos simpatias e antipatias, e talvez neste momento estejamos chateados com alguém. Pelo menos digamos ao Senhor: «Senhor, estou chateado com este, com aquela. Peço-Vos por ele e por ela». Rezar pela pessoa com quem estamos irritados é um belo passo rumo ao amor, e é um acto de evangelização. Façamo-lo hoje mesmo. Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!

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Notas:
68 Tomás de Kempis, De Imitatione Christi, Liber primus, IX, 5: «Imaginatio locorum et mutatio multos fefellit».
69 Pode ajudar-nos o testemunho que Santa Teresa de Lisieux nos deixou acerca do impacto decisivo que teve uma experiência interior para superar o aspecto particularmente desagradável da assistência prestada a uma irmã: «Uma tarde de Inverno, estava eu a cumprir, como de costume, a minha doce tarefa para com a irmã Saint-Pierre. Estava frio, começava a anoitecer... De repente, ouvi ao longe o som harmonioso de um instrumento musical. Então imaginei-me num salão muito bem iluminado, todo resplandecente com seus ricos dourados; e, nele, senhoras elegantemente vestidas, prodigalizando-se mutuamente cumprimentos e cortesias mundanas. Em seguida, pousei o olhar na pobre doente que assistia. Em vez de uma melodia, podia ouvir de vez em quando os seus gemidos lastimosos. (...) Eu não consigo exprimir o que se passou na minha alma. Tudo o que sei é que o Senhor a iluminou com os raios da verdade, que de tal maneira ultrapassavam o brilho tenebroso das festas da Terra, que não podia acreditar no grau da minha felicidade»  «Manuscrit C», 29frt-30vrs: Œvres complètes, (CERF-DDB, Paris 1992) 274-275 .
70 Cf. Propositio 8.
71 Henri De Lubac, Méditation sur l’Église (FV, Paris 1968), 321.


Tratado dos vícios e pecados 26

Questão 74: Do sujeito dos pecados.

Art. 7 ― Se o pecado do consentimento no acto reside na razão superior.

(Supra, q. 15, a. 4; II Sent., dist. XXIV, q. 3, a. 1; De Verit., q. 15, a. 3)

O sétimo discute-se assim. ― Parece que o pecado do consentimento no acto não reside na razão superior.

1. ― Pois, consentir é acto da virtude apetitiva, como já se estabeleceu (q. 15, a. 1). Ora, a razão é uma faculdade apreensiva. Logo, o pecado de consentimento no acto não reside na razão superior.

2. Demais. ― A razão superior dirige-se a observar e a consultar as razões eternas, como diz Agostinho 1. Ora, às vezes consentimos nos actos, sem consultarmos as razões eternas, pois, nem sempre pensamos nas coisas divinas, quando consentimos num acto. Logo, o pecado de consentimento no acto nem sempre está na razão superior.

3. Demais. ― Assim como, pelas razões externas, podemos regular os actos exteriores, assim também podemos por elas regular os prazeres interiores ou outras paixões. Ora, o consentimento no prazer, sem a intenção de o consumarmos pela obra, pertence à razão inferior, como diz Agostinho 2. Logo, também o consentimento no acto do pecado deve ser atribuído, às vezes, à razão inferior.

4. Demais. ― Assim como a razão superior excede a inferior, assim a razão excede a potência imaginativa. Ora, às vezes, procedemos ao acto pela apreensão da potência imaginativa, sem qualquer deliberação da razão, tal é o caso quando, sem premeditação, movemos a mão ou o pé. Logo, também às vezes a razão inferior pode consentir no acto do pecado, sem a razão superior.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Se, no consentimento de usar mal das coisas percebidas pelos sentidos corpóreos, de tal modo nos determinamos a um pecado, que, se pudermos, o levaremos a termo no corpo, devemos então entender que a mulher deu ao marido o pomo proibido 3; por onde se representa a razão superior. Logo, pertence a esta consentir no pecado.

O consentimento implica um certo juízo relativo àquilo em que consentimos. Pois, assim como a razão especulativa julga e sentencia sobre o inteligível, assim, a razão prática julga e sentencia sobre o que devemos fazer. Devemos porém considerar que, em todo o juízo, a sentença última pertence ao supremo tribunal, assim vemos que, na ordem especulativa, a decisão última sobre uma proposição é dada pela sua resolução aos primeiros princípios. E enquanto existir um princípio mais alto, ainda é possível examinarmos, à sua luz, o objecto em discussão, e portanto, fica suspenso o juízo até ser dada a sentença final. Ora, é manifesto, que os actos humanos podem ser regulados pela regra da razão humana, deduzida das coisas criadas, que podemos conhecer naturalmente; e, ulteriormente, pela regra da lei divina, como já dissemos (q. 19, a. 4). E como a lei divina é superior, por consequência a última sentença, que finalmente termina o juízo, pertença à razão superior, conhecedora das razões eternas. Mas quando são várias as coisas a serem julgadas, o juízo final recai sobre o ocorrido em último lugar. Ora, nos actos humanos, o existente em último lugar é o próprio acto, cujo preâmbulo é a deleitação, a ele conducente. Donde, à razão superior propriamente pertence o consentimento no acto, e à inferior, cujo juízo é inferior, pertence o juízo preambular, que versa sobre a deleitação. Embora destas a razão superior também possa julgar, pois, tudo o dependente do juízo da razão inferior, depende também do da superior, mas não inversamente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Consentir é acto da virtude apetitiva, não absolutamente, mas consequente ao acto da razão deliberativa e judicativa, como já dissemos (q. 15, a. 3), pois, o consentimento termina quando a vontade busca o que foi julgado pela razão. Donde, o consentimento pode ser atribuído tanto à vontade quanto à razão.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Por isso mesmo que a razão superior não dirige os actos humanos, segundo a lei divina impediente do acto pecaminoso, nós consideramo-la como consenciente, quer considere a lei eterna, quer não. Pois, se considera na lei de Deus, despreza-a pelo seu acto, e se não a considera, menospreza-a a modo de omissão. E portanto, de todos os modos, o consentimento no acto do pecado procede da razão superior. Pois, como diz Agostinho, o pecado por obra não pode ser consentido eficazmente pela vontade, sem que aquela sua intenção, onde reside o sumo poder de mover os membros ao acto ou dela os coibir, cedendo ou servindo à má ação 4.

RESPOSTA À TERCEIRA.― Assim como a razão superior pode, considerando na lei eterna, dirigir ou coibir o acto exterior, assim também pode fazer o mesmo relativamente à deleitação interior. Entretanto, antes de se declarar o juízo da razão superior, a razão inferior, deliberando apoiada em juízos temporais, às vezes cede ao prazer da sensualidade, assim que esta lho propõe, e então, o consentimento na deleitação pertence à razão inferior. Se, porém, mesmo depois de consideradas as razões eternas, o homem persevera no mesmo consentimento, então este já é da alçada da razão superior.

RESPOSTA À QUARTA. ― A apreensão da potência imaginativa é súbita e não deliberada, e portanto, podemos praticar um acto, antes de a razão superior ou a inferior ter tempo de deliberar. Porém o juízo da razão inferior é acompanhado de deliberação, dentro de certo tempo, durante o qual também a razão superior pode deliberar. Donde, se esta, pela sua deliberação, não coibir o acto pecaminoso, este ser-lhe-á justamente imputado.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. XII De Trinit. (cap. VII).
2. XII De Trinit. (cap. XII).
3. XII De Trinit., cap. XII.
4. XII de Trin. (cap. XII).




Jesus Cristo e a Igreja - 5

São José esteve casado por segunda vez?

Segundo S. Mateus, quando a Santíssima Virgem concebeu virginalmente Jesus, estava desposada com São José embora ainda não vivessem juntos (Mt 1, 18). Tratava-se da situação prévia aos desposórios que, entre os judeus, suponha um compromisso tão forte e real, que os comprometidos podiam ser já chamados esposo e esposa, e que só podia ser anulado mediante o repúdio. Do texto de S. Mateus deduz-se que, após o anúncio do anjo a José explicando-lhe que Maria concebera por obra do Espírito Santo (Mt 1, 20), se casaram e passaram a viver juntos. A narração da fuga e regresso do Egipto, e o estabelecimento em Nazaré (Mt 2, 13-23), bem como o episódio da apresentação do Menino no Templo – quando tinha doze anos, acompanhado pelos seus pais, tal como relata S. Lucas (Lc 2, 41-45)
– assim o deixam entender. S. Lucas, além disso, ao narrar a anunciação do anjo a Maria apresenta-a como “uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de David” . Portanto, segundo estes evangelhos, São José esteve casado com a Santíssima Virgem. Este é o dado que pertence com certeza à tradição histórica recolhida nos evangelhos.

Ora bem, se essas foram as segundas núpcias de São José, ou se São José, já ancião e viúvo, não chegou a desposar a Virgem Maria, mas que unicamente cuidou dela como de uma virgem a seu cargo, são coisas que caem no terreno das lendas e que não oferecem qualquer garantia de historicidade.
A primeira menção de tais lendas encontra-se no chamado “Proto-evangelho de S. Tiago”, no séc. II.
Conta que Maria permanecia no Templo desde os três anos e que, ao fazer doze anos, os sacerdotes procuraram alguém que tomasse conta dela.
Reuniram todos os viúvos da aldeia, e após um sinal prodigioso realizado no bordão de José, que consistiu em que dele saiu uma pomba, entregaram a Virgem à sua guarda. Segundo esta lenda, no entanto, José não tomou Maria por esposa. De facto quando o anjo lhe aparece em sonhos não diz a José como em Mt 1, 20 “ não temas receber em tua casa Maria, tua esposa”, mas, antes, “ não temas por esta donzela” (XIV, 2).
Outro apócrifo mais tardio que rescreve essa história – chamado “ Pseudo Mateus”, talvez do séc. VI – parece dar a entender que Maria foi desposada com José, pois o sacerdote diz a este: “deves saber que não pode contrair matrimónio com nenhum outro” (VIII, 4). Contudo, habitualmente, fala de S. José como do guarda da Virgem. Pelo contrário no “ Livro do Nascimento de Maria” – uma espécie de resumo do “ Pseudo Mateus” – e na “História de José, o carpinteiro” (IV, 4-5), diz-se claramente que José desposou Maria.

Portanto, não há dados históricos que permitam afirmar que São José tivesse sido casado antes. O mais lógico é pensar que fosse um homem jovem quando desposou a Santíssima Virgem, e que só se tenha casado essa vez.


© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.

Temas para meditar 35

Esmola

Quem distribui esmolas faça-o com 

despreocupação e alegria, já que, quanto 

menos se reserve para si, maior será o 

ganho que obterá.



(S. leão magnoSermão 10º sobre a Quaresma)


Não cries necessidades

Não esqueças: tem mais aquele que precisa de menos. – Não cries necessidades. (Caminho, 630)

Há muitos anos – mais de vinte e cinco – eu costumava passar por um refeitório de caridade, para mendigos que não comiam em cada dia outro alimento senão o que ali lhes davam. Tratava-se de um local grande, entregue aos cuidados de um grupo de senhoras bondosas. Depois da primeira distribuição, acudiam outros mendigos, para recolher as sobras. Entre os deste segundo grupo houve um que me chamou a atenção: era proprietário de uma colher de lata! Tirava-a cuidadosamente do bolso, com avareza, olhava-a com satisfação e, quando acabava de saborear a sua ração, voltava a olhar para a colher com uns olhos que gritavam: é minha! Dava-lhe duas lambedelas para a limpar e guardava-a de novo, satisfeito, nas pregas dos seus andrajos. Efectiva mente era sua! Um pobre miserável que, entre aquela gente, companheira de desventura, se considerava rico.

Por essa altura, conhecia também uma senhora com título nobiliárquico, Grande de Espanha. Isto não conta nada diante de Deus: somos todos iguais, todos filhos de Adão e Eva, criaturas débeis, com virtudes e com defeitos, capazes dos piores crimes, se o senhor nos abandona. Desde que Cristo nos redimiu, não há diferença de raça, nem de língua, nem de cor, nem de estirpe, nem de riquezas... Somos todos filhos de Deus. Essa pessoa de que vos falo agora residia numa casa solarenga, mas não gastava consigo mesma nem duas pesetas por dia. Por outro lado, pagava muito bem aos seus empregados e o resto destinava-o a ajudar os necessitados, passando ela própria privações de todo o género. A esta mulher não lhe faltavam muitos desses bens que tantos ambicionam, mas ela era pessoalmente pobre, muito mortificada, completamente desprendida de tudo. Compreendestes bem? Aliás, basta escutar as palavras do Senhor: bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.


Se desejas alcançar esse espírito, aconselho-te a que sejas sóbrio contigo e muito generoso com os outros. Evita os gastos supérfluos por luxo, por capricho, por vaidade, por comodidade...; não cries necessidades. Numa palavra, aprende com S. Paulo a viver na pobreza e a viver na abundância, a ter fartura e a passar fome, a ter de sobra e a padecer necessidade. Tudo posso naquele que me conforta. E, como o Apóstolo, também sairemos vencedores da luta espiritual, se mantivermos o coração desapegado, livre de ataduras. (Amigos de Deus, nn. 123–124)

Pequena agenda do cristão