29/08/2014

Jesus Cristo e a Igreja 29

Que relação teve Jesus com Maria Madalena?

Dos evangelhos deduz-se que Maria Madalena sentia um grande amor por Jesus. Tinha sido libertada por ele de sete demónios, seguia-o como discípula, assistia-o com os seus bens (Lc 8, 2-3) e esteve com Maria, a Mãe de Jesus, e as outras mulheres, quando Jesus foi crucificado (Mc 15, 40-41 e par.). Foi, de acordo com os evangelhos, a primeira a quem apareceu Jesus depois da ressurreição, depois de O procurar com lágrimas (Jo 20, 11-18). Daí a veneração que teve na Igreja como testemunha do ressuscitado. (Ver a pergunta Quem foi Maria Madalena"). Destas passagens não se pode deduzir nem que tenha sido uma pecadora, nem muito menos que tenha sido mulher de Jesus.
Os que sustentam esta última opinião recorrem ao testemunho de alguns evangelhos apócrifos. Todos eles, talvez com a excepção de uma parte do (Evangelho de Tomé, são posteriores aos evangelhos canónicos e não têm carácter histórico, dado que são um instrumento para transmitir ensinamentos gnósticos.

Destas passagens não se pode deduzir nem que tenha sido uma pecadora, nem muito menos que tenha sido mulher de Jesus.

Segundo estas obras – que embora levem o nome de evangelhos, não são propriamente tais, mas antes escritos com revelações secretas de Jesus aos seus discípulos depois da ressurreição – Mariam (ou
Mariamne ou Mariham) – não aparece o nome de Madalena salvo em uns poucos livros – é a que entende melhor essas revelações. Por essa razão é a preferida de Jesus e a que recebe uma revelação especial. A oposição que em alguns destes textos (Evangelho de Tomé, Diálogos do Salvador, Pistis Sophia, Evangelho de Maria)  mostram os apóstolos em relação a ela por ser mulher, reflecte a consideração negativa que alguns gnósticos tinham pelo feminino, e a condição de Maria como discípula importante. No entanto, alguns querem ver nesta oposição um reflexo da posição da Igreja oficial de
então, que estaria contra a liderança espiritual da mulher que propunham estes grupos. Nada disto é demonstrável. Essa oposição pode antes entender-se como um conflito de doutrinas, as de Pedro e dos outros apóstolos, frente às que estes grupos gnósticos propagavam em nome de Mariam. Em qualquer caso, o facto de se recorrer a Maria é uma forma de justificar os seus fundamentos gnósticos.

Os que sustentam outras opiniões recorrem ao testemunho de alguns evangelhos apócrifos. Todos eles talvez com a excepção de uma parte do Evangelho de Tomé, são posteriores aos Evangelhos Canónicos e não têm carácter histórico, dado que são um instrumento para transmitir ensinamentos gnósticos.                                                                                                                               
Noutros evangelhos apócrifos, especialmente no Evangelho de Filipe, Mariam (desta vez citada também com o nome de origem, Madalena) é modelo do gnóstico, precisamente pela sua feminilidade. Ela é símbolo espiritual do seguimento de Cristo e da união perfeita com ele. Neste contexto fala-se de um beijo de Jesus a Maria (se é que o texto se pode entender realmente assim), que simbolizam essa união, já que mediante esse beijo, uma espécie de sacramento superior ao baptismo e à eucaristia, o gnóstico se gerava a si mesmo como gnóstico. O tom destes escritos não tem qualquer significado sexual.
Por isso, nenhum estudioso sério entende estes textos como um testemunho histórico de uma relação sexual entre Jesus e Maria Madalena. É muito triste que esta acusação, que não tem nenhum fundamento histórico, já que nem sequer os cristãos da época se viram obrigados a polemizar para se defenderem dela, ressurja de vez em quando como uma grande novidade.

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.




Temas para meditar 220


Caridade


A verdadeira virtude não tem limites, avança sempre; mas muito principalmente a santa caridade que é a virtude das virtudes.



(S. francisco de sales Tratado do Amor de Deus Livro VI Cap. I)

Tratado da Graça 09

Questão 109

Art. 9 — Se quem já conseguiu a graça pode, por si mesmo, praticar o bem e evitar o pecado, sem outro auxílio da mesma.

(II Sent., dist. XXIX, expos. Litt.; De Verit., q. 24, a. 13, 14; q. 27, a. 5, ad 3; In Psalm. XXXI).

O nono discute-se assim. — Parece, que quem já conseguiu a graça pode, por si mesmo, praticar o bem e evitar o pecado, sem outro auxílio da mesma.

1. — Pois, é vão ou imperfeito aquilo que não realiza o fim para o qual foi feito. Ora, a graça nos é dada para podermos fazer o bem e evitar o pecado. Se, portanto com o auxílio dela, o homem não pode evitá-lo, resulta que é vã ou imperfeita.

2. Demais. — Pela graça o próprio Espírito Santo habita em nós, conforme a Escritura (1 Cor 3, 16): Não sabeis vós, que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus mora em vós? Ora, o Espírito Santo, sendo onipotente, tem poder para nos levar a agir rectamente e guardar-nos do pecado. Logo, quem conseguiu a graça pode agir retamente e livrar-se do pecado, sem outro auxílio da mesma.

3. Demais. — Se o homem, que já conseguiu a graça, ainda precisa de outro auxílio dela, para viver rectamente e abster-se do pecado, pela mesma razão, quando tiver alcançado esse outro auxílio, precisará ainda de um terceiro. Donde, o processo irá ao infinito, o que é inadmissível. Logo, quem está em graça não precisa de outro auxílio da mesma, para agir bem e abster-se do pecado.

Mas, em contrário. Agostinho diz: assim como os olhos da carne, por perfeitos que sejam, não podem ver, senão ajudados pelo brilho da luz, assim também, o homem, embora perfeitissimamente justificado, não pode viver rectamente, se não for ajudado pela luz eterna da divina justiça. Ora, a justificação é operada pela graça, conforme a Escritura (Rm 3, 24): Tendo sido justificados gratuitamente por sua graça. Logo, quem já tiver a graça, precisa ainda de outro auxílio da mesma para viver rectamente.

Como já dissemos (a. 5), o homem, para viver rectamente precisa duplamente do auxílio de Deus. Primeiro, do dom habitual, que restaura a natureza humana corrupta e, uma vez restaurada, eleve-a a fazer obras meritórias para a vida eterna, que lhe excedem a capacidade. Segundo, o homem precisa do auxílio da graça, a fim de que Deus a mova para agir. — Ora, do primeiro modo, o homem, no estado da graça, não precisa de nenhum outro auxílio da mesma, que seria um como segundo hábito infuso. Precisa porém do auxílio da graça, pelo qual Deus o move a agir rectamente. — E isto, por duas razões. A primeira, de ordem geral, é que, como já dissemos, nenhum ser criado pode praticar qualquer acto, senão em virtude de moção divina. — A segunda, de ordem especial, funda-se na condição do estado da natureza humana, que, embora restaurada pela graça, quanto ao espírito, permanece contudo corrupta e contaminada na carne, pela qual serve a lei do pecado, como diz o Apóstolo (rm 7, 25). Embora ainda permaneça uma certa obscuridade da ignorância na inteligência, pela qual, como diz o mesmo Apóstolo (Rm 8, 26), não sabemos o que havemos de pedir, como convém. Pois, por causa das várias eventualidades da vida, e por não nos conhecermos perfeitamente a nós mesmos, não podemos plenamente saber o que nos convém, conforme a Escritura (Sb 9, 14): Os pensamentos dos mortais são tímidos, e incertas as nossas providências. Donde, temos necessidade de ser dirigidos e protegidos por Deus, que tudo conhece e tudo pode. E por isso, mesmo aos que pela graça renasceram filhos de Deus, convém dizer: E não nos deixes cair em tentação e Faça-se a tua vontade, assim no céu como na terra, e o mais que contém a oração dominical, relativa ao assunto vertente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O dom da graça habitual não nos é dado para que deixemos, por ele, de precisar de outro auxílio divino. Pois, toda criatura necessita de ser conservada, por Deus, no bem que d’Ele recebeu. Donde, de precisar o homem de auxílio divino, ainda depois de ter recebido a graça, não se pode concluir que ela tenha sido dada em vão ou seja imperfeita. Pois, mesmo no estado da glória, quando já a graça for absolutamente perfeita, o homem precisava do divino auxílio. Na vida presente, porém, enquanto não está completamente restaurado, a graça é, de certo modo, imperfeita, como já dissemos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A acção do Espírito Santo, que nos move e protege, não fica circunscrita pelo efeito do dom habitual, que causa em nós. Mas, além desse efeito, move-nos e protege-nos, simultaneamente com o Pai e o Filho.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A objecção conclui que o homem não precisa de outra graça habitual.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evang.; Coment.; Leit. Esp. (Cong. Dout da Fé - Libertais conscientia)

Tempo comum XXI Semana

Evangelho: Mc 6, 17-29

17 Porque Herodes tinha mandado prender João, e teve-o a ferros numa prisão por causa de Herodíades, mulher de Filipe, seu irmão, com a qual tinha casado. 18 Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter a mulher de teu irmão». 19 Herodíades odiava-o e queria fazê-lo morrer; porém, não podia, 20 porque Herodes, sabendo que João era varão justo e santo, olhava-o com respeito, protegia-o e quando o ouvia ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. 21 Chegou, porém, um dia oportuno, quando Herodes, no seu aniversário natalício, deu um banquete aos grandes da corte, aos tribunos e aos principais da Galileia. 22 Tendo entrado na sala a filha da mesma Herodíades, dançou e agradou a Herodes e aos seus convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei». 23 E jurou-lhe: «Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja metade do meu reino». 24 Ela, tendo saído, perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?». Ela respondeu-lhe: «A cabeça de João Baptista». 25 Tornando logo a entrar apressadamente junto do rei, fez este pedido: «Quero que me dês imediatamente num prato a cabeça de João Baptista». 26 O rei entristeceu-se, mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis desgostá-la. 27 Imediatamente mandou um guarda com ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi degolá-lo no cárcere, 28 levou a sua cabeça num prato, deu-a à jovem, e esta deu-a à mãe. 29 Tendo sabido isto os seus discípulos, foram, tomaram o corpo e o depuseram num sepulcro.

Comentário:

O Percursor tem a sua vida intimamente ligada ao Salvador. Até na própria morte segue as Suas pegadas.
Pode o discípulo divergir, seja no que for, do seu Mestre?
Não!
Também Jesus Cristo há-de “agradar” a Herodes e deixá-lo perplexo.
No fim e ao cabo, - podemos concluir – a Verdade influi sempre nos corações dos homens por mais empedernidos ou mesquinhos que possam ser.

(ama, comentário sobre Mc 6, 17-29, 2013.08.29)

Leitura espiritual



Documentos do Magistério

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

INSTRUÇÃO
LIBERTATIS CONSCIENTIA
SOBRE A LIBERDADE CRISTÃ E A LIBERTAÇÃO
CAPÍTULO I

A SITUAÇÃO DA LIBERDADE NO MUNDO DE HOJE

II. A liberdade na experiência do Povo de Deus

Igreja e liberdade

20. Porque consciente dessa mortal ambiguidade, a Igreja, pelo seu Magistério, elevou a sua voz, ao longo dos últimos séculos, alertando para os desvios que ameaçam desvirtuar o élan libertador, transformando-o em amargas decepções. Naqueles momentos, muitas vezes, ela foi incompreendida. Com o recuo do tempo, torna-se possível reconhecer a exactidão do seu discernimento.

Foi em nome da verdade sobre o homem, criado à imagem de Deus, que a Igreja interveio.10 Entretanto, acusam-na de ser um obstáculo no caminho da libertação. Sua constituição hierárquica opor-se-ia à igualdade; seu Magistério iria contra a liberdade de pensamento. Certamente, houve erros de julgamento ou omissões graves, de que, ao longo dos séculos, os cristãos foram responsáveis. 11 Mas tais objecções desconhecem a verdadeira natureza das coisas. A diversidade dos carismas no povo de Deus, que são carismas de serviço, não é contrária à igual dignidade das pessoas e à sua vocação comum para a santidade.

A liberdade de pensamento, como condição de busca da verdade em todos os domínios do saber humano, não significa que a razão humana deva fechar-se às luzes da Revelação, cujo depósito Deus confiou à sua Igreja. Abrindo-se à verdade divina, a razão criada encontra um desabrochamento e uma perfeição que constituem uma forma eminente de liberdade. Por outro lado, o Concílio Vaticano II reconheceu plenamente a legítima autonomia das ciências, 12 como também das actividades de ordem política. 13

A liberdade dos pequeninos e dos pobres

21. Um dos principais erros que contaminou gravemente o processo de libertação, desde o Iluminismo, consiste na convicção largamente difundida de que os progressos realizados no campo das ciências, da técnica e da economia, deveriam servir de fundamento para a conquista da liberdade. Desconhecia-se, dessa forma, a profundidade da mesma liberdade e das suas exigências.

Essa realidade profunda da liberdade, a Igreja sempre a experimentou, sobretudo através da vida de uma multidão de fiéis, especialmente entre os pequeninos e os pobres. Na sua fé, eles sabem que são objecto do amor infinito de Deus. Cada um deles pode afirmar: «Vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim» (Gl 2, 20b). Tal é a sua dignidade, que nenhuma das potências lhes pode arrancar; tal é a alegria libertadora neles presente. Sabem que também a eles é dirigida a palavra de Jesus: «Não mais vos chamo servos, pois o servo não sabe o que seu amo faz; mas eu vos chamo amigos, pois tudo o que ouvi do Pai eu vos dei a conhecer» (Jo 15, 15). Essa participação no conhecimento de Deus é a sua emancipação com relação à pretensão de dominação por parte dos detentores do saber: «Todos possuís a ciência ... e não tendes necessidade de que alguém vos ensine» (1 Jo 2, 20b. 27b). Eles têm consciência também de participarem do conhecimento mais elevado a que a humanidade é chamada. 14 Sabem-se amados por Deus como todos os outros e mais que todos os outros. Vivem, assim, na liberdade que provém da verdade e do amor.

Recursos da religiosidade popular

22. O mesmo sentido da fé do povo de Deus, na sua devoção cheia de esperança à cruz de Jesus, percebe a força contida no mistério de Cristo redentor. Longe, pois, de desprezar ou querer suprimir as formas de religiosidade popular que essa devoção assume, é preciso, ao contrário, destacar e aprofundar todo o seu significado e todas as suas implicações. 15 Ela constitui um facto de dimensão teológica e pastoral fundamental: são os pobres, objecto da predilecção divina, que melhor compreendem – e como que por instinto – que a libertação mais radical, que é libertação do pecado e da morte, é aquela que foi realizada pela morte e ressurreição de Cristo.

Dimensão soteriológica e ética da libertação

23. A força dessa libertação penetra e transforma em profundidade o homem e sua história, em sua actualidade presente, e anima o seu élan escatológico. O sentido primário e fundamental da libertação que assim se manifesta é o sentido soteriológico: o homem é libertado da escravidão radical do mal e do pecado.

Nessa experiência da salvação, o homem descobre o verdadeiro sentido da sua liberdade, já que a libertação é restituição da liberdade. Ela é também educação da liberdade, isto é, educação para o recto uso da liberdade. Dessa forma, à dimensão soteriológica da libertação acrescenta-se a sua dimensão ética.

Uma nova fase da história da liberdade

24. Em graus diversos, o sentido da fé, que se encontra na origem de uma experiência radical de libertação e da liberdade, impregnou a cultura e os costumes dos povos cristãos.

Hoje, porém, de um modo totalmente novo, por causa dos terríveis desafios que a humanidade deve enfrentar, torna-se necessário e urgente que o amor de Deus e a liberdade na verdade e na justiça imprimam a sua marca nas, relações entre os homens e entre os povos e animem a vida das culturas.

Pois onde faltam a verdade e o amor, o processo de libertação leva à morte de uma liberdade que terá perdido qualquer base de apoio.

Abre-se diante de nós uma nova fase da história da liberdade. As capacidades libertadoras da ciência, da técnica, do trabalho, da economia e da acção política, só darão frutos se encontrarem sua inspiração e medida na verdade e no amor mais fortes do que o sofrimento, revelados aos homens por Jesus Cristo.

CAPÍTULO II

VOCAÇÃO DO HOMEM
A LIBERDADE E DRAMA DO PECADO

I. Primeiras abordagens da liberdade

Uma resposta espontânea

25. A resposta espontânea à pergunta: «O que é ser livre?», é a seguinte: é livre aquele que pode fazer unicamente o que quiser, sem ser impedido por coacção externa e que, por conseguinte, goza de plena independência. O contrário da liberdade seria, assim, a dependência de nossa vontade à uma vontade estranha.

Mas o homem sabe sempre o que quer? Pode tudo o que deseja? É conforme à natureza do homem limitar-se ao próprio eu, separando-se da vontade de outrem? Frequentemente, a vontade de um momento não é a vontade real. E no mesmo homem podem coexistir vontades contraditórias. Mas, sobretudo, o homem defronta-se com os limites da sua própria natureza: sempre quer mais do que pode. Dessa forma, o obstáculo que se opõe ao seu querer nem sempre provém de fora, mas dos limites do seu ser. Por isso, sob pena de se destruir, o homem deve aprender a conciliar a sua vontade com a sua natureza.

Verdade e justiça, regras da liberdade

26. Além disso, cada homem é orientado para os outros homens e tem necessidade da sua sociedade. Somente aprendendo a pôr de acordo a sua vontade com a dos outros, em vista de um bem verdadeiro, fará o aprendizado da rectidão do querer. É, pois, a harmonia com as exigências da natureza humana que torna humana a vontade. Com efeito, esta exige o critério da verdade e uma relação justa com a vontade dos outros. Verdade e justiça são, assim, a medida da verdadeira liberdade. Afastando-se desse fundamento, o homem, ao tomar-se por Deus, cai na mentira e, ao invés de se realizar, destrói-se.

Longe de cumprir-se numa total autonomia do eu e na ausência de relações, a liberdade só existe verdadeiramente quando laços recíprocos, regidos pela verdade e pela justiça, unem as pessoas. Mas para que tais laços sejam possíveis, cada um, pessoalmente, deve ser verdadeiro.

A liberdade não é liberdade de fazer não importa o quê; ela é liberdade para o Bem, o único em que reside a Felicidade. O Bem é também a sua finalidade. Por conseguinte, o homem torna-se livre na medida em que tem acesso ao conhecimento do verdadeiro e que este último conhecimento, e não qualquer outra força, guie a sua vontade. A libertação em vista de um conhecimento da verdade que – única – dirige a vontade é condição necessária para uma liberdade digna desse nome.

II. Liberdade e libertação

Uma liberdade de criatura

27. Em outras palavras, a liberdade que é controlo interno dos seus próprios astos e é auto-determinação, implica imediatamente uma relação com a ordem ética. Ela encontra seu verdadeiro sentido na escolha do bem moral. Manifesta-se, então, como um resgate em relação ao mal moral.

Pela sua acção livre, o homem deve tender para o Bem supremo, através dos bens conformes às exigências da sua natureza e de acordo com a sua vocação divina.

Exercendo a sua liberdade, decide sobre si mesmo e forma-se. Nesse sentido, o homem é causa de si mesmo. Mas ele o é a título de criatura e de imagem de Deus. Tal é a verdade do seu ser, que manifesta, por contraste, o que têm de profundamente erróneo as teorias que creem exaltar a liberdade do homem ou a sua «praxis histórica», fazendo dela o princípio absoluto do seu ser e do seu devir. Essas teorias são expressões do ateísmo, ou tendem ao ateísmo, pela sua própria lógica. O indiferentismo e o agnosticismo deliberado vão na mesma direcção. É a imagem de Deus, no homem, que fundamenta a liberdade e a dignidade da pessoa humana. 16

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)

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Notas:
10 Cfr. Instr. Libertatis Nuntius, XI, 5: AAS 76 (1984), 904; João Paulo II, Discurso inaugural de Puebla: AAS 71 (1979), 189.
11 Cfr. Const. past. Gaudium et Spes, n. 36.
12 Cfr. Ibid.
13 Cfr. Loc. cit., n. 41.
14 Cfr. Mt 11, 25; Lc 10, 21.
15 Cfr. Paulo VI, Exort. apost. Evangelii Nuntiandi, n. 48: AAS 68 (1976), 37-38.
16 Cfr. Instr. Libertatis Nuntius, VII, 9; VIII, 1-9: AAS 76 (1984), 892; 894-895.