09/10/2014

O optimismo cristão

Temos de ser optimistas, mas com um optimismo que nasce da fé no poder de Deus.
O optimismo cristão não é um optimismo adocicado, nem tão pouco uma confiança humana em que tudo correrá bem.

É um optimismo que mergulha as suas raízes na consciência da liberdade e na segurança do poder da graça; um optimismo que leva a exigirmo-nos a nós próprios, a esforçarmo-nos por corresponder em cada instante aos chamamentos de Deus. (Forja, 659)

Tarefa do cristão: afogar o mal em abundância de bem. Nada de fazer campanhas negativas, nem de ser anti-nada. Pelo contrário: viver de afirmação, cheios de optimismo, com juventude, alegria e paz; olhar para todos com compreensão: os que seguem Cristo e os que O abandonam ou não O conhecem.

Compreensão, porém, não significa abstencionismo, nem indiferença, mas actividade. (Sulco, 864)

O Senhor – repito – deu-nos o mundo por herança. Temos de ter a alma e a inteligência despertas; temos de ser realistas, sem derrotismos. Só uma consciência cauterizada, só a insensibilidade produzida pela rotina, só o estouvamento frívolo podem permitir que se contemple o mundo sem ver o mal, a ofensa a Deus, o dano por vezes irreparável para as almas. É preciso sermos optimistas, mas com um optimismo que nasça da fé no poder de Deus – Deus não perde batalhas – com um optimismo que não proceda da satisfação humana, duma complacência néscia e presunçosa. (Cristo que passa, 123)

A alegria, o optimismo sobrenatural e humano, são compatíveis com o cansaço físico, com a dor, com as lágrimas – porque temos coração –, com as dificuldades na nossa vida interior ou na tarefa apostólica.

Ele, «perfectus Deus, perfectus homo», perfeito Deus e perfeito homem, que tinha toda a felicidade do Céu, quis experimentar a fadiga e o cansaço, o pranto e a dor..., para que percebermos que para ser sobrenaturais temos de ser muito humanos. (Forja, 290)

Nosso Senhor quis que os seus filhos, que recebemos o dom da fé, manifestemos a visão optimista original da criação, o «amor ao mundo» que palpita no cristianismo.

Portanto, não deve faltar nunca entusiasmo no teu trabalho profissional nem no teu empenho por construir a cidade temporal. (Forja, 703)

Esse desalento, porquê? Pelas tuas misérias? Pelas tuas derrotas, às vezes contínuas? Por uma queda grande, grande, que não esperavas?

Sê simples. Abre o coração. Olha que não está tudo perdido. Ainda podes continuar, e com mais amor, com mais carinho, com mais fortaleza.

Refugia-te na filiação divina: Deus é teu Pai amantíssimo. Esta é a tua segurança, o ancoradouro onde lançar a âncora, aconteça o que acontecer na superfície deste mar da vida. E encontrarás alegria, força, optimismo, vitória! (Via Sacra, 7, 2)


Dantes eras pessimista, indeciso e apático. Agora, estás totalmente transformado: sentes-te audaz, optimista, seguro de ti mesmo..., porque finalmente te decidiste a buscar o teu apoio só em Deus. (Sulco, 426)

Misericórdia

As obras de misericórdia, além do alívio que causam aos necessitados, servem para melhorar as nossas próprias almas e as dos que nos acompanham nessas actividades. Todos temos experimentado que o contacto com os doentes, com os pobres, com as crianças e os adultos com fome de verdade, constitui sempre um encontro com Cristo nos Seus membros mais débeis ou desamparados e, por isso mesmo, um enriquecimento espiritual: o Senhor mete-Se com mais intensidade na alma de quem se aproxima dos seus irmãos pequenos, movido não por um simples desejo altruísta – nobre, mas ineficaz desde o ponto de vista sobrenatural - , mas pelos mesmos sentimentos de Jesus Cristo, Bom Pastor e Médico das almas.


(Beato Álvaro del portilloCarta, 1987.05.31, nr. 30)

Jesus Cristo e a Igreja - 37

Quem foi Caifás?

Caifás - (Joseph Caiaphas) - foi um sumo-sacerdote contemporâneo de Jesus. É citado várias vezes no Novo Testamento (Mt 26,3; 26,57; Lc 3,2; 11,49; 18,13-14; Jo 18,24.28; Act 4,6). O historiador judeu Flávio Josefo disse que Caifás acedeu ao sumo sacerdócio por volta do ano 18, nomeado por Valério Grato, e que foi deposto por Vitélio por volta do ano 36 (Antiquitates Iudaicae) 18.2.2 e 18.4.3). Estava casado com uma filha de Anás. Também segundo Flávio Josefo, Anás tinha sido o sumo sacerdote entre os anos 6 e 15 (Antiquitates Iudaicae) 18.2.1 e 18.2.2). De acordo com estas datas, e com o que assinalam também os evangelhos, Caifás era o sumo-sacerdote quando Jesus foi condenado à morte na cruz.

A sua longa permanência no sumo sacerdócio é um indício muito significativo de que mantinha relações muito cordiais com a administração romana – também durante a administração de Pilatos. Nos escritos de Flávio Josefo são mencionados em várias ocasiões os insultos de Pilatos à identidade religiosa e nacional dos judeus, e as vozes de personagens concretos que se elevaram protestando contra ele. A ausência do nome de Caifás – que era e o sumo-sacerdote precisamente nesse momento – entre aqueles que se queixaram dos abusos de Pilatos, manifesta as boas relações que havia entre ambos. Essa
mesma atitude de aproximação e colaboração com a autoridade romana é a que se reflecte também no que contam os evangelhos durante o processo de Jesus e a sua condenação à morte na cruz. Todos os relatos evangélicos coincidem em afirmar que após o interrogatório de Jesus, os príncipes dos sacerdotes concordaram em entregá-Lo a Pilatos (Mt 27, 1-2; Mc 15, 1; Lc 23, 1 e Jo 18, 28).
Para ver como entenderam os primeiros cristãos a morte de Jesus, é significativo o que narra São João no seu evangelho, acerca das deliberações prévias à condenação: “ um deles, chamado Caifás, que era o Sumo-Sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós não sabeis nada, nem considerais que vos convém que morra um homem pelo povo e que não pereça toda a nação!». Ora ele não disse isto por si mesmo [assinala o evangelista], mas, como era Sumo-sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para unir num só corpo os filhos de Deus dispersos” (Jo 11, 49-52).

Em 1990 apareceram na necrópole de Talpiot em Jerusalém doze ossários, um dos quais com a inscrição «Joseph bar Kaiapha», com o mesmo nome que Flávio Josefo atribui a Caifás. Trata-se de ossários do século I, e os restos contidos nesse recipiente podiam muito bem ser os do personagem mencionado nos evangelhos.

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.


Reflectindo - 41


Pedro e o seu irmão, André «Deixaram tudo»!... diz Mateus.
Como Cristo hão-de entregar também as suas vidas na cruz.


Ambos se consideraram indignos ser crucificados como o Rabi por Quem tinham abandonado tudo, naquele dia, nas margens do mar da Galileia: Pedro quer ser crucificado de cabeça para baixo; André escolhe uma cruz em X.

Quiseram deixar bem claro quem era o Mestre e quem eram os discípulos.

E eu? O que é que eu tenho deixado, ao longo da minha vida, pelo meu Mestre?
Umas poucas coisitas de pouca monta e, mesmo assim, sempre relutante, a contra-gosto.
Fico-me para aqui, agarrado às minhas redes, encostado ao meu barco e não avanço mar dentro à pesca com é meu dever. Ah! Porque o tempo não está favorável; talvez amanhã; porque estou cansado; porque chove; está frio; faz muito calor; não me apetece; ainda ontem fui e não apanhei nada!
Tantas razões sem razão nenhuma!

Vá! Nunc coepi! 
Agora...agora começo. Com o que tenho, com as minhas misérias e pouca coisa, com os meus enormes defeitos e pequenas virtudes mas de ouvidos bem atentos à voz de quem chama: Tu...! Vem e segue-me!

(ama, reflexão, 2006)



Tratado da Graça 21

Questão 112: Da causa da graça

Art. 2 – Se, da parte do homem, é necessária alguma preparação ou disposição para a graça.

(Qu. Seq., a. 3, IV Sent., dist. XVII, a. 2, qª 1, 2, In Ion., cap. IV, lect. II, Ad Hebr., cap. XII, lect. III).

O segundo discute-se assim. – Parece que, da parte do homem, não é necessária nenhuma preparação ou disposição para a graça.

1. – Pois, como diz o Apóstolo, ao que obra, não se lhe conta o jornal por graça, mas por dívida. Ora, a preparação do homem pelo livre arbítrio só é possível por alguma operação. Logo, não há lugar para a graça.

2. Demais. – Quem se ataca no pecado não se prepara para receber a graça. Ora, a alguns, que nele se atacam, foi dada a graça. Tal é o caso de Paulo, que a alcançou, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Logo, da parte do homem, não é necessária nenhuma preparação para a graça.

3. Demais. – Um agente de poder infinito não precisa de matéria predisposta, pois nem dela, em si mesma, precisa, como o demonstra a criação, a que é comparado a infusão da graça, chamada nova criatura. Ora, só Deus, cujo poder é infinito, causa a graça, como se disse. Logo, da parte do homem, não é necessária nenhuma preparação para alcançar a graça.

Mas, em contrário, diz a Escritura: Prepara-te a saíres ao encontro do teu Deus, e: Preparai os vossos corações para o Senhor.

Como já dissemos, a graça tem duas acepções, ora, significa o dom habitual de Deus, ora, o auxílio de Deus, que move a alma para o bem. – Na primeira acepção, exige de nós uma preparação, porque nenhuma forma pode existir senão na matéria já predisposta. – Na segunda, não exige, da parte do homem, nenhuma preparação, quase preveniente ao auxílio divino, antes, qualquer preparação, que possa existir no homem, provém do auxílio de Deus, que move a alma para o bem. E sendo assim, o próprio bom movimento do livre arbítrio, pelo qual nos preparamos a receber o dom da graça, é um acto procedente da moção divina. E neste sentido, diz-se que o homem se prepara, conforme a Escritura: Da parte do homem está o preparar a sua alma, essa preparação provem principalmente de Deus, que move o livre arbítrio. E em tal acepção, diz-se que a vontade humana é preparada por Deus, e que Deus lhe dirige os passos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. – Certa preparação do homem para ter a graça vai simultaneamente com a infusão própria dela. E tal operação é, certamente, meritória, não, da graça, já possuída, mas da glória, que ainda não o é. Há porem outra preparação, imperfeita, para a graça, que às vezes precede o dom da graça santificante, e contudo provém da moção divina. Essa preparação, porém, não basta para o mérito, enquanto o homem não foi justificado pela graça, porque nenhum mérito pode provir a não ser dela, como a seguir se dirá.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O homem não pode preparar-se para a graça mas chegar à preparação perfeita, súbita ou paulatinamente. Donde o dizer a Escritura: A Deus é fácil enriquecer de repente ao pobre. Ora, acontece algumas vezes, que Deus move o homem a algum bem, mas não perfeito, e essa preparação precede a graça. Outras vezes, porém, rápida e perfeitamente, move-o para o bem e ele recebe a graça de súbito, conforme a Escritura: Todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim. Ora, isto deu-se com Paulo que, de súbito, quando mais se atascava no pecado, teve o coração perfeitamente movido por Deus, que o fez ouvir, aprender e ver, por isso, conseguiu, de súbito, a graça.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Um agente de poder infinito não exige qualquer matéria preexistente ou predisposta, quase um pressuposto, por acção de outra causa. Contudo é necessário, conforme à condição da coisa a ser criada, causar nela tanto a matéria como a disposição devida para a forma. Semelhantemente, para Deus infundir a graça na alma, não há nenhuma preparação exigida, que Ele não realize.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho diário e coment. Leit. Espiritual (Enc Principes pastorum (S. João XXIII)

Tempo comum XXII Semana

Evangelho: Lc 11, 5-13

5 Disse-lhes mais: «Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite para lhe dizer: Amigo, empresta-me três pães, 6 porque um meu amigo acaba de chegar a minha casa de uma viagem e não tenho nada que lhe dar; 7 e ele, respondendo lá de dentro, disser: Não me incomodes, a porta está agora fechada, os meus filhos e eu estamos deitados; não me posso levantar para tos dar; 8 digo-vos que, ainda que ele não se levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua impertinência se levantará e lhe dará tudo aquilo de que precisar. 9 Eu digo-vos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 10 Porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e ao que bate, se lhe abrirá.11 «Qual de entre vós é o pai que, se um filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, em vez de peixe, lhe dará uma serpente? 12 Ou, se lhe pedir um ovo, porventura dar-lhe-á um escorpião? 13 Se pois vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que Lho pedirem».

Comentário:

A perseverança na oração dá sempre frutos. Por vezes somos levados pelo desânimo porque parece que o Senhor não nos ouve nem Se interessa pelo que se passa connosco, as nossas necessidades, a urgência que sentimos em que se resolva uma situação que nos preocupa.
Não desistamos nem esmoreçamos na oração. Ele acabará por nos dar, talvez não o que pedimos mas, seguramente o que mais nos convenha.

(ama, comentário sobre Lc 11, 5-13 2013.10.10)


Leitura espiritual




Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
PRINCEPS PASTORUM
DO SUMO PONTÍFICE PAPA JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS
E AOS OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE AS MISSÕES CATÓLICAS

Metas na formação do laicado em terra de missão

26. Nas novas cristandades, não se trata somente de proporcionar, com as conversões e os batismos, um grande número de cidadãos ao reino de Deus, mas também de os tornar aptos, por uma adequada educação e formação cristã, a assumirem, cada um segundo a sua condição e as suas possibilidades, as suas responsabilidades na vida e no futuro da Igreja.
O número dos cristãos pouco significaria se faltasse a qualidade, se faltasse a solidez dos próprios fiéis na profissão cristã, e se faltasse o aprofundamento da sua vida espiritual, e se, depois de haverem nascido para a fé e para a graça, eles não fossem ajudados a progredir na juventude e na madureza do espírito que dá impulso e prontidão para o bem. Com efeito, a profissão de fé cristã não pode ser reduzida a um dado anagráfico, mas deve investir e modificar o homem no profundo (cf. Ef 4, 24), dar significado e valor a todas as suas manifestações.

Particulares deveres do clero

27. Os leigos não poderão chegar a essa meta de maturidade se o clero, quer alienígena, quer nativo, não se propuser oportunamente o programa já sugerido, nas suas linhas essenciais, pelo primeiro Papa: "Sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa" (1 Pd 2,9).

28. Uma instrução e educação cristã que se considerasse satisfeita por haver ensinado e feito aprender as fórmulas do catecismo e os preceitos fundamentais da moral cristã com uma casuística sumária, sem envolver a conduta prática, expor-se-ia ao risco de proporcionar à Igreja de Deus um rebanho por assim dizer passivo. O rebanho de Cristo, ao invés, é formado de ovelhas que não só escutam o seu Pastor, mas têm a capacidade de reconhecê-lo e de lhe reconhecerem a voz (cf. Jo 10, 4, 14), de segui-lo fielmente, e com plena consciência, aos pastos da vida eterna (Jo 10, 9, 10), para poderem merecer um dia, do Príncipe dos Pastores, "a coroa imarcescível da glória" (1 Pd 5,4), ovelhas que, conhecendo e seguindo o Pastor que por elas deu a vida (cf. Jo 10, 11), estejam prontas a dedicar-lhe a sua vida e a cumprirem a sua vontade de levar a fazerem parte do único ovil as outras ovelhas que não o seguem, mas vagueiam longe dele, que é caminho, verdade e vida (Jo 14, 6).

29. O impulso apostólico pertence essencialmente à profissão de fé cristã: com efeito, "cada um é obrigado a difundir no meio dos outros a sua fé, seja para instruir ou confirmar os outros fiéis, seja ainda para repelir os ataques dos infiéis", [33] especialmente nos tempos, como os nossos, em que o apostolado é uma tarefa urgente para as difíceis circunstâncias em que se acham a humanidade e a Igreja.

30. A fim de que seja possível uma completa e intensa educação cristã, requer-se que os educadores sejam capazes de achar as vias e os meios mais aptos para penetrar nas várias psicologias, por onde facilitar ao máximo, nos novos cristãos, a assimilação profunda da verdade com todas as suas exigências. O nosso Salvador, com efeito, impôs a cada um de nós o cumprimento deste supremo mandamento: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente" (Mt 22, 37).
Aos olhos dos fiéis deve bem depressa brilhar em todo o seu esplendor a sublimidade da vocação cristã, a fim de que eficazmente se lhes acenda no coração o desejo e o propósito de uma vida virtuosa e ativa, moldada na própria vida do Senhor Jesus, que, tendo assumido a natureza humana, nos mandou seguir os seus exemplos (cf.1 Pd 2, 21, Mt 11, 29, Jo 13, 15).

Deveres do leigo de testemunhar a verdade

31. Todo cristão deve estar convicto do seu fundamental e primordial dever de ser testemunha da verdade em que crê e da graça que o transformou. "Cristo – dizia um grande Padre da Igreja – deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam, a fim de que cumpríssemos o nosso dever de fermento, a fim de que nos comportássemos como anjos, como anunciadores entre os homens, a fim de que fôssemos adultos entre os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos, a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos.
Nem sequer seria necessário expor a doutrina, se a nossa vida fosse irradiante a esse ponto, não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas obras dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos comportássemos como verdadeiros cristãos". [34]

32. Como é fácil de compreender, este é o dever de todos os cristãos do mundo inteiro.
Mas é fácil compreender que, nos países de missão, ele poderia produzir frutos especiais e particularmente preciosos para os fins da dilatação do reino de Deus mesmo junto àqueles que não conhecem a beleza da nossa fé e o poder sobrenatural da graça, como já nos exortava Jesus: "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, a fim de que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,16), e S. Pedro advertia amorosamente os fiéis: "Exorto-vos, ó caros,... a que vos abstenhais dos desejos carnais, que promovem a guerra contra alma. Seja bom o vosso comportamento entre os gentios para que, mesmo que falem mal de vós, como se fôsseis malfeitores, vendo as vossas boas obras glorifiquem a Deus, no dia da Visitação" (1 Pd 2, 12).

Eficácia do testemunho da caridade

33. O testemunho dos indivíduos precisa ser confirmado e ampliado pelo da comunidade cristã inteira, à semelhança do que acontecia na estação primaveril da Igreja, quando a união compacta e perseverante de todos os fiéis "no ensino dos Apóstolos e na comum fração do pão e nas orações" (At 2, 42) e no exercício da mais generosa caridade, era motivo de satisfação profunda e de mútua edificação, com efeito, eles "louvavam a Deus e eram bem vistos por todo o povo. E o Senhor aumentava cada dia aqueles que vinham à salvação" (At 2, 47).

34. A união nas orações e na participação activa na celebração dos mistérios divinos na liturgia da Igreja contribui de maneira particularmente eficaz para a plenitude e riqueza da vida cristã dos indivíduos e da comunidade, e é um meio admirável para educar naquela caridade que é o sinal distintivo do cristão, uma caridade que foge de toda discriminação social linguística e racial, que estende os braços e o coração a todos, irmãos e inimigos.
Sobre este assunto apraz-nos fazer nossas as palavras do nosso predecessor S. Clemente Romano: "Quando (os gentios) ouvem de nós que Deus diz: Não há mérito para vós se amais aqueles que vos amam, mas há mérito se amais os inimigos e os que vos odeiam (cf. Lc 6, 32-35), ao ouvirem estas palavras eles admiram esse altíssimo grau de caridade. Mas, quando veem que nós não só não amamos os que nos odeiam, mas nem sequer amamos aqueles que nos amam, eles riem de nós, e o nome de Deus é blasfemado". [35]
O maior dos missionários, s. Paulo Apóstolo, escrevendo aos Romanos no momento em que se preparava para evangelizar o extremo Ocidente, exortava à "caridade sem fingimento" (Rm 12, 9ss), depois de haver elevado um hino sublime a esta virtude "sem a qual o cristão não é nada " (l Cor 13, 2).

Dever de contribuir para as necessidades materiais da comunidade

35. A caridade torna-se, outrossim, visível no socorro material, como afirmava o nosso imortal predecessor Pio XII: "O corpo exige também uma multidão de membros, unidos entre si para se prestarem mútuo auxílio.
Se no nosso organismo mortal, quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele, dando os membros sãos o próprio auxílio aos doentes, igualmente na Igreja todo membro não vive unicamente para si, mas ajuda também os outros para a sua mútua consolação, como também para um melhor desenvolvimento de todo o corpo místico". [36]

36. As necessidades materiais dos fiéis incluem também a do organismo eclesiástico, e, para isso, é bom que os fiéis nativos se habituem a sustentar espontaneamente, na medida das suas possibilidades, as suas Igrejas, as suas instituições e o clero que a eles se dedicou completamente.
Não importa se este contributo não pode ser notável, o importante é que seja testemunho sensível de uma viva consciência cristã.

IV. DIRETRIZES PARA O APOSTOLADO LEIGO NAS MISSÕES

Preparação para o apostolado

 37. Os fiéis cristãos, membros de um organismo vivo, não podem ficar encerrados em si mesmos e acreditar que basta ter pensado e providenciado sobre as próprias necessidades espirituais para ter cumprido todo o seu dever.
Em vez disso, cada um por sua própria parte deve contribuir para o incremento e para a difusão do reino de Deus na terra.
O nosso predecessor Pio XII lembrou a todos este dever universal: "A catolicidade é uma nota essencial da verdadeira Igreja: a tal ponto que um cristão não é verdadeiramente afeiçoado e devotado à Igreja se não é igualmente afeiçoado e devotado à universalidade dela, desejando que ela lance raízes e floresça em todos os lugares da terra". [37]

38. Todos devem entrar numa porfia de santa emulação e dar assíduos testemunhos de zelo para o bem espiritual do próximo, para a defesa da própria fé, para fazê-la conhecer a quem a ignora completamente ou a quem mal a conhece e por isto a julga mal.
Desde a infância e desde a adolescência, mesmo nas mais jovens comunidades cristãs é necessário que o clero, as famílias e as várias organizações locais de apostolado inculquem este santo dever. Depois, há algumas ocasiões particularmente felizes, em que tal educação no apostolado pode achar o lugar mais adequado e a expressão mais convincente.
Tal é, por exemplo, a preparação dos rapazes e dos neo-batizados para o sacramento da Confirmação, com o qual "é infundida nos crentes uma nova força para defenderem a santa mãe Igreja e a fé que dela receberam", [38] preparação esta sumamente oportuna, especialmente lá onde existem nos costumes locais cerimónias apropriadas de iniciação a fim de preparar os jovens para o ingresso oficial no seu grupo social.

Os catequistas

39. Aqui não podemos deixar de dar o justo relevo à obra dos catequistas, que na longa história das missões católicas se têm demonstrado de insubstituível auxílio.
Eles sempre foram o braço direito dos operários do Senhor, e lhes têm compartilhado e aliviado as fadigas a ponto de os nossos predecessores terem podido considerar seu recrutamento e sua formação cuidadosíssima entre os "pontos importantíssimos para a difusão do Evangelho", [39] e os terem definido como "o caso talvez mais clássico do apostolado leigo". [40]
A eles renovamos os mais amplos elogios, e exortamo-los a meditarem sempre mais na felicidade espiritual da sua condição e a nunca desistirem de todo esforço para enriquecerem e aprofundarem, sob a guia da hierarquia, a sua instrução e formação moral.
Os catecúmenos devem aprender deles não somente os rudimentos da fé, mas também a prática da virtude, o amor grande e sincero a Cristo e à sua Igreja.
Todo cuidado dedicado ao aumento do número destes eficacíssimos auxiliares da hierarquia e à sua adequada formação, e todo sacrifício dos catequistas para cumprirem de modo mais apto e perfeito a sua tarefa, será um contributo de imediata eficácia para a fundação e para o progresso das novas comunidades cristãs.

(cont)

(revisão da versão portuguesa por ama)

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Notas:
[33] S. Tomás. Summa Theol. II-II, q. 3, a. 2, ad 2.
[34] S. João Chris. Hom. X in ITm., Migne, PG LXII, 551.
[35] F.X. Funk, Patres Apostolici, vol. I, p. 201.
[36] Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 200.
[37] Carta enc. Fidei donum: AAS 49(1957), p. 237.
[38] Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 201.
[39] Cf. Pio XI, Carta enc. Rerum Ecclesiae: AAS 18(1926), p. 78.
[40] Cf. Pio XII, Sermão do ano 1957 àqueles que participaram no II Congresso para o apostolado dos leigos católicos de todo o mundo: AAS 49(1957), p. 937.