06/12/2014

Temas para meditar - 293


Amor de Deus




O fogo de amor de Ti, que em nós queres que arda até incendiar-nos, abrasar-nos e queimar o que somos, e transformar-nos em Ti, Tu o sopras com as mercês que em tua vida nos fizeste, e fazes com que arda com a morte que por nós passaste.



(são joão d'ávilaAudi filia, 69, trad ama)

Deus resiste aos soberbos

Caminho certo de humildade é meditar como, mesmo carecendo de talento, de renome e de fortuna, podemos ser instrumentos eficazes, se recorremos ao Espírito Santo para que nos conceda os Seus dons. Os Apóstolos, apesar de terem sido instruídos por Jesus durante três anos, fugiram espavoridos diante dos inimigos de Cristo. Todavia, depois do Pentecostes, deixaram-se vergastar e encarcerar, e acabaram dando a vida em testemunho da sua fé. (Sulco, 283)

Jesus Cristo, Nosso Senhor, propõe-nos com muita frequência na sua pregação o exemplo da sua humildade: aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, para que tu e eu aprendamos que não há outro caminho; que só o conhecimento sincero do nosso nada é capaz de atrair sobre nós a graça divina. Por nós, Jesus veio padecer fome e alimentar-nos, veio sentir sede e dar-nos de beber, veio vestir-se da nossa mortalidade e vestir-nos de imortalidade, veio pobre para nos tornar ricos.


Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes dá a sua graça, ensina o Apóstolo S. Pedro. Em qualquer época, em qualquer situação humana, não existe – para viver vida divina – senão o caminho da humildade. Será que o Senhor se regozija com a nossa humilhação? Não. Que lucraria com o nosso abatimento Aquele que tudo criou, e mantém e governa tudo o que existe? Deus só deseja a nossa humildade, que nos esvaziemos de nós próprios para ele nos poder encher; pretende que não lhe levantemos obstáculos, a fim de que – falando ao modo humano – caiba mais graça sua no nosso pobre coração. Porque o Deus que nos inspira a ser humildes é o mesmo que transformará o nosso corpo de miséria, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso, com aquele poder com que pode também sujeitar a si todas as coisas. Nosso Senhor faz-nos seus, endeusa-nos com um endeusamento bom. (Amigos de Deus, nn. 97–98)

Tratado do verbo encarnado 51

Questão 7: Da graça de Cristo como um homem particular

Art. 5 — Se em Cristo existiam os dons.

O quinto discute-se assim. — Parece que em Cristo não existiam os dons.

1 — Pois, como geralmente se diz, os dons são conferidos como auxiliares das virtudes. Ora, o em si mesmo perfeito não precisa de auxílio externo. Logo, como Cristo tinha a perfeição das virtudes, nele não existiram os dons.

2. Demais. — Não pode a mesma pessoa conferir e receber os dons, pois, dá quem tem e recebe quem não tem. Ora, Cristo podia conferir dons, segundo a Escritura: Tornaste dons para os distribuíres aos homens. Logo, não podia receber os dons do Espírito Santo.

3. Demais. — São quatro os dons próprios da vida contemplativa, a saber: a sabedoria, a ciência, o intelecto e o conselho, o que pertence à prudência, enumerando por isso o Filósofo esses dons entre as virtudes intelectuais. Ora, Cristo tinha a contemplação do céu. Logo, não tinha os referidos dons.

Mas, em contrário, a Escritura: Lançaram mão de um só homem sete mulheres. Ao que diz a Glosa: Isto é, os sete dons do Espírito Santo, Cristo.

Como dissemos na Segunda Parte, os dons são propriamente umas certas perfeições das potências da alma, que lhes torna natural o serem movidas pelo Espírito Santo. Ora, como é manifesto, a alma de Cristo era perfeitissimamente movida pelo Espírito Santo, segundo o Evangelho: Cheio, pois, do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto. Donde, é manifesto que em Cristo existiam excelentissimamente os dons.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O perfeito na ordem da sua natureza necessita ser ajudado pelo que é de natureza superior, assim o homem, por mais perfeito que seja precisa de ser ajudado por Deus. E deste modo as virtudes precisam de ser fortificadas pelos dons, que aperfeiçoam as potências de alma, enquanto movidas pelo Espírito Santo.

RESPOSTA À SEGUNDA. Cristo não recebe e confere os dons do Espírito Santo, aos mesmos respeitos, mas, ele confere-os como Deus, e recebe-os como homem. Donde o dizer Gregório: O Espírito Santo não abandonou nunca a humanidade de Cristo, de cuja divindade procede.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Em Cristo não somente havia o conhecimento da pátria, mas também o da via, como a seguir se dirá. E contudo, mesmo na pátria, existem de certo modo os dons do Espírito Santo, como na Segunda Parte se estabeleceu.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Ev. diário, coment. L. esp. (Cristo que passa)

Advento I Semana

Evangelho: Mt 9 35 10 1 6-8

35 Jesus ia percorrendo todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino, e curando toda a doença e toda a enfermidade.
1 Tendo convocado os Seus doze discípulos, Jesus deu-lhes poder de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a doença e toda a enfermidade.
6 ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7 Ide, e anunciai que está próximo o Reino dos Céus. 8 «Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, lançai fora os demónios. Dai de graça o que de graça recebestes.

Comentário

Muitas vezes quando somos “bem-sucedidos” num trabalho apostólico, com a natural alegria vem também um pouco de orgulho pessoal. Penso que é natural que seja assim, somos humanos com os nossos defeitos e misérias e espanta-nos que, não obstante, sejamos capazes de boas obras.
Lembremo-nos então destas palavras do Senhor e dos poderes que deu aos Seus enviados. Se Ele nos convida – mais - se nos manda – trabalhar no que é Seu como podemos admirar-nos que nos dê os meios que nos possam faltar para que o trabalho resulte bem?
Sim… Ele conhece-nos muito bem e dar-nos-á, sempre, o que nos faltar.

(ama, comentário sobre Mt 9, 35; 10, 1, 6-8, 2013.12.07)

Leitura espiritual

São Josemaria Escrivá

Cristo Que passa 181 a 187

181           
O reino da alma

Como, és grande, Senhor, Nosso Deus! Tu és quem dá à nossa vida sentido sobrenatural e eficácia divina. Tu és a causa de que, por amor de teu filho, com todas as forças do nosso ser, com a alma e com o corpo, possamos repetir: oportet illum regnare!, enquanto ressoa o eco da nossa debilidade, porque sabes que somos criaturas - e que criaturas! - feitas de barro, dos pés à cabeça, sem esquecer o coração. Perante o divino, vibraremos exclusivamente por Ti.

Cristo deve reinar, em primeiro lugar, na nossa alma. Mas como Lhe responderíamos, se Ele nos perguntasse: como é que tu Me deixas reinar em ti? Eu responder-lhe-ia que para que Ele reine em mim, preciso da sua graça abundante, pois só assim é que o mais imperceptível pulsar do meu coração, a menor respiração, o olhar menos intenso, a palavra mais corrente, a sensação mais elementar se traduzirão num hossana ao meu Cristo Rei.

Se pretendemos que Cristo reine, temos de ser coerentes, começando por Lhe entregar o nosso coração. Se não o fizéssemos, falar do reino de Cristo seria vozearia sem substância cristã, manifestação exterior de uma fé inexistente, utilização fraudulenta do nome de Deus para compromissos humanos.

Se a condição para que Jesus reinasse na minha alma, na tua alma, fosse contar previamente em nós com um lugar perfeito, teríamos razão para desesperar. Mas não temas, filha de Sião; eis que o teu Rei vem montado num jumentinho. Vedes? Jesus contenta-se com um pobre animal por trono. Não sei o que se passa convosco, mas a mim não me humilha reconhecer-me aos olhos do Senhor como um jumento: fui diante de ti como um jumento. Porém, estarei sempre contigo: tomaste-me pela minha mão direita, tu és quem me leva pela arreata.

Pensai nas características dum jumento, agora que vão ficando tão poucos. Não falo dum burro velho e teimoso, rancoroso, que se vinga com um coice traiçoeiro, mas dum burriquito jovem, com as orelhas tesas como antenas, austero na comida, duro no trabalho, com o trote decidido e alegre. Há centenas de animais mais formosos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo preferiu este para se apresentar como rei diante do povo que O aclamava, porque Jesus não sabe que fazer da astúcia calculadora, da crueldade dos corações frios, da formosura vistosa mas vã. Nosso Senhor ama a alegria dum coração moço, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. E é assim que reina na alma.

182           
Reinar servindo

Se deixarmos que Cristo reine na nossa alma, não nos tornaremos dominadores; seremos servidores de todos os homens. Serviço. Como gosto desta palavra! Servir o meu Rei e, por Ele, todos os que foram redimidos com o seu sangue. Se os cristãos soubessem servir! Vamos confiar ao Senhor a nossa decisão de aprender a realizar esta tarefa de serviço, porque só servindo é que poderemos conhecer e amar Cristo e dá-Lo a conhecer e conseguir que os outros O amem mais.

Como o mostraremos às almas? Com o exemplo: que sejamos testemunho seu, com a nossa voluntária servidão a Jesus Cristo em todas as nossas actividades, porque é o Senhor de todas as realidades da nossa vida, porque é a única e a última razão da nossa existência. Depois, quando já tivermos prestado esse testemunho do exemplo, seremos capazes de instruir com a palavra, com a doutrina. Assim procedeu Cristo: coepit facere et docere, primeiro ensinou com obras, e só depois com a sua pregação divina.

Servir os outros, por Cristo, exige que sejamos muito humanos. Se a nossa vida é desumana, Deus nada edificará nela, porque habitualmente não constrói sobre a desordem, sobre o egoísmo, sobre a prepotência. Precisamos de compreender todas as pessoas, temos de conviver com todos, temos de desculpar todos, temos de perdoar a todos. Não diremos que o injusto é o justo, que a ofensa a Deus não é ofensa a Deus, que o mau é bom. Todavia, perante o mal, não responderemos com outro mal, mas com a doutrina clara e com a boa acção; afogando o mal em abundância de bem. Assim Cristo reinará na nossa alma e nas almas dos que nos rodeiam.

Alguns procuram construir a paz no mundo sem porem amor de Deus nos seus corações, sem servirem por amor de Deus as criaturas. Como será possível realizar desse modo uma missão de paz? A paz de Cristo é a paz do reino de Cristo; e o reino de Nosso Senhor há-de alicerçar-se no desejo de santidade, na disposição humilde para receber a graça, numa, esforçada acção de justiça, num divino derramamento de amor.

183           
Cristo no cume das actividades humanas

Isto é realizável, não é um sonho inútil. Se nós, homens, nos decidíssemos a albergar nos nossos corações o amor de Deus! Cristo, Senhor Nosso, foi crucificado e, do alto da Cruz, redimiu o mundo, restabelecendo a paz entre Deus e os homens. Jesus Cristo lembra a todos: et ego, si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum, se vós Me puserdes no cume de todas as actividades da Terra, cumprindo o dever de cada momento, sendo meu testemunho naquilo que parece grande e naquilo que parece pequeno, omnia traham ad meipsum, tudo atrairei a Mim. 0 meu reino entre vós será uma realidade!

Cristo, Nosso Senhor, continua empenhado nesta sementeira de salvação dos homens e de toda a Criação, deste nosso mundo, que é bom, porque saiu bom das mãos de Deus. Foi a ofensa de Adão, o pecado do orgulho humano, que quebrou a harmonia divina da criação.

Mas Deus Pai, quando, chegou a plenitude dos tempos, enviou o seu Filho Unigénito, que por obra do Espírito Santo encarnou em Maria sempre Virgem, para restabelecer a paz; para que, redimindo o homem do pecado, adoptionem filiorum reciperemus fôssemos constituídos filhos de Deus, capazes de participar na intimidade divina, e assim fosse concedido a este homem novo, a esta nova estirpe dos filhos de Deus a libertação de todo o universo da desordem, restaurando todas as coisas em Cristo, que as reconciliou com Deus.

A isto fomos chamados, nós, os cristãos; esta é a nossa tarefa apostólica e a ânsia que nos deve queimar a alma: conseguir que seja realidade o reino de Cristo, que não haja mais ódios nem mais crueldades, que dinfundamos na Terra o bálsamo forte e pacífico do amor. Peçamos hoje ao nosso Rei que nos faça colaborar humilde e fervorosamente no divino propósito de unir o que está quebrado, de salvar o que está perdido, de ordenar o que o homem desordenou, de levar ao seu fim aquilo que se desencaminha, de reconstruir a concórdia de tudo o que foi criado.

Abraçar a fé cristã é comprometer-se a continuar entre as criaturas a missão de Jesus. Temos de ser, cada um de nós, altar Christus, ipse Christus, outro Cristo, o próprio Cristo. Só assim poderemos realizar esse empreendimento grande, imenso, interminável: santificar a partir de dentro todas as estruturas temporais, levando até elas o fermento da Redenção.

Nunca falo de política. Não penso na tarefa dos cristãos na terra como o nascer duma corrente político-religiosa - seria uma loucura - nem mesmo com o bom propósito de difundir o espírito de Cristo em todas as actividades dos homens. O que é preciso pôr em Deus é o coração de cada um, seja ele quem for. Procuremos falar a todos os cristãos, para que no lugar onde estiverem - em circunstâncias que não dependem apenas da sua posição na Igreja ou na vida civil, mas do resultado das mutáveis situações históricas - saibam dar testemunho, com o exemplo e com a palavra, da fé que professam.

O cristão vive no mundo com pleno direito, por ser homem. Se aceita que no seu coração habite Cristo, que reine Cristo, em todo o seu trabalho humano encontrará - bem forte - a eficácia Senhor. Não tem qualquer importância que essa ocupação seja, como costuma dizer-se, alta ou baixa, porque um máximo humano pode ser, aos olhos de Deus, uma baixeza, e o que chamamos baixo ou modesto pode ser um máximo cristão de santidade e de serviço.

184           
A liberdade pessoal

O cristão, quando trabalha, como é sua obrigação, não deve marginar nem iludir as exigências próprias do que é natural. Se com a expressão abençoar as actividades humanas se entendesse anular ou escamotear a sua dinâmica própria, negar-me-ia a usar essas palavras. Pessoalmente, nunca me consegui convencer que as actividades correntes dos homens precisassem de ostentar, como um letreiro postiço, um qualificativo confessional, porque me parece, embora respeite a opinião contrária, que se corre o perigo de usar em vão o santo nome da nossa fé e, além disso, porque em certas ocasiões, a etiqueta católica se utilizou até para justificar atitudes e actuações que não são às vezes sequer honradamente humanas.

Se o mundo e tudo o que nele há - menos o pecado - é bom, porque é obra de Deus Nosso Senhor, o cristão, lutando continuamente por evitar as ofensas a Deus - uma luta positiva de amor - há-de dedicar-se a tudo aquilo que é terreno, ombro a ombro com os outros cidadãos, e tem obrigação de defender todos os bens derivados da dignidade da pessoa.

Existe um bem que deverá sempre procurar dum modo especial - o da liberdade pessoal. Só se defende a liberdade individual dos outros com a correspondente responsabilidade pessoal, poderá, com honradez humana e cristã, defender da mesma maneira a sua. Repito e repetirei sem cessar que o Senhor nos deu gratuitamente uma grande dádiva sobrenatural, a graça divina, e outra maravilhosa dádiva humana, a liberdade pessoal, que exige de nós - para que não se corrompa, convertendo-se em libertinagem - integridade, empenho sério por desenvolver a nossa conduta dentro da lei divina, porque onde está o Espírito de Deus, aí há liberdade.

O Reino de Cristo é de liberdade: nele não existem outros servos além daqueles que livremente se deixaram prender por Amor a Deus. Bendita escravidão de amor, que nos faz livres! Sem liberdade, não podemos corresponder à graça; sem liberdade, não podemos entregar-nos livremente ao Senhor pela razão mais sobrenatural: porque nos apetece.

Alguns daqueles que me escutam já me conhecem há muitos anos. Podeis testemunhar que durante toda a minha vida preguei a liberdade pessoal, com pessoal responsabilidade. Procurei-a e procuro-a, por toda a terra, como Diógenes procurava um homem. E amo-a cada vez mais, amo-a sobre todas as coisas terrenas: é um tesoiro que nunca saberemos apreciar suficientemente.

Quando falo de liberdade pessoal, não me refiro com esta desculpa a outros problemas talvez muito legítimos, que não correspondem ao meu ofício de sacerdote. Sei que não me corresponde tratar de temas seculares e transitórios, que pertencem à esfera do temporal e civil, matérias que o Senhor deixou à livre e serena controvérsia dos homens. Sei também que os lábios do sacerdote, evitando a todo o transe parcialidades humanas, hão-de abrir-se apenas para conduzir as almas a Deus, à sua doutrina espiritual salvadora, aos sacramentos que Jesus Cristo instituiu, à vida interior que nos aproxima do Senhor por nos sabermos seus filhos e, portanto, irmãos de todos os homens sem excepção.

Celebramos hoje a festa de Cristo Rei. E não saio do meu ofício de sacerdote quando digo que, se alguma pessoa entendesse o reino de Cristo como um programa político, não teria aprofundado como devia na finalidade da Fé e estaria a um passo de sobrecarregar as consciências com pesos que não são os de Jesus porque o seu jugo é suave e o seu peso é leve. Amemos de verdade todos os homens, amemos a Cristo acima de tudo e então não teremos outro remédio senão amar a legítima liberdade dos outros, numa pacífica e justa convivência.

185           
Serenos, filhos de Deus

Talvez me façais a seguinte sugestão: mas poucos querem ouvir isto e, menos ainda, pô-lo em prática. Consta-me que a liberdade é uma planta forte e sã, que se aclimata mal entre as pedras, espinhos ou nos caminhos calcados pelas pessoas. Isto já nos tinha sido anunciado, mesmo antes de Cristo vir à terra.

Recordai o Salmo número dois: porque razão se amotinam as nações e os povos maquinam planos vãos? Os reis da terra sublevam-se e os príncipes coligam-se contra o Senhor e contra o seu Messias. Vedes? Nada de novo. Opunham-se a Cristo antes de que este nascesse; opuseram-se-lhe enquanto os seus pés pacíficos percorriam os caminhos da Palestina; perseguiram-nO depois e agora, atacando os membros do seu Corpo Místico e real. Porquê tanto ódio, porquê este encarniçar-se contra a cândida simplicidade, porquê este universal esmagamento da liberdade de cada consciência?

Quebremos as suas cadeias, e sacudamos de nós o seu jugo. Quebram o jugo suave, lançam fora a sua carga, maravilhosa carga de santidade e de justiça, de graça, de amor e de paz. Enfurecem-se perante o amor, riem-se da bondade inerme dum Deus que renuncia ao uso das suas legiões de anjos para se defender. Se o Senhor admitisse um arranjo, se sacrificasse uns poucos de inocentes para satisfazer a maioria de culpados, ainda poderiam tentar algum entendimento com Ele. Mas não é esta a lógica de Deus. O nosso Pai é verdadeiramente pai, e está disposto a perdoar a inumeráveis fautores do mal, contanto que haja só dez justos. Os que se movem pelo ódio, não podem entender esta misericórdia, e afincam-se na sua aparente impunidade terrena, alimentando-se da injustiça.

Aquele que habita nos céus ri-se, o Senhor zomba eles. Ele lhes fala então na sua ira, e os aterroriza no seu furor. Que legítima é a ira de Deus e que justo o seu furor! E que grande também a sua clemência!

Eu, porém, fui por Ele constituído Rei sobre Sião, seu monte santo, para anunciar os seus preceitos. O Senhor disse-me: Tu és meu filho, eu gerei-te hoje. A misericórdia de Deus Pai deu-nos como Rei o seu Filho. Quando ameaça, enternece-Se; anuncia a sua ira e entrega-nos o seu amor. Tu és meu filho: dirige-se a Cristo e dirige-se a ti e a mim, se nos decidimos a ser alter Christus, ipse Christus.

As palavras não podem seguir o coração, que se emociona diante da bondade de Deus: tu és meu filho. Não um estranho, não um servo benevolamente tratado, não um amigo, que já seria muito. Filho! Concede-nos via livre para que vivamos com Ele a piedade do filho e, atrever-me-ia a afirmar, também a desvergonha do filho dum Pai que é incapaz de lhe negar o que quer que seja.

186           
Que há muita gente empenhada em comportar-se com injustiça? Sim, mas o Senhor insiste: pede-me, e eu te darei as nações em herança, e os teus domínios irão até aos confins da Terra. Tu os governarás com vara de ferro, e quebrá-los-ás qual vaso de oleiro. São promessas fortes e são de Deus. Por isso, não podemos dissimulá-las. Não é em vão que Cristo é o Redentor do mundo, e reina, soberano, à direita do Pai. É o terrível anúncio daquilo que espera a cada um de nós, quando a vida passar - porque passa - e a todos, quando a história acabar, se o coração se endurece no mal e na desesperança.

Contudo, Deus, que sempre pode vencer, prefere convencer: E agora, ó reis, atendei: instruí-vos, vós que governais a Terra.. Servi ao Senhor com temor, e louvai-o com alegria; com tremor, prestai-lhe vassalagem, para que não Se ire, e não pereçais fora do caminho, quando daqui a pouco se incendiar a sua indignação. Cristo é o Senhor, o Rei. E nós vos anunciamos que aquela promessa, que foi feita a nossos pais, Deus a cumpriu para nossos filhos, ressuscitando Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, eu te gerei hoje...

Seja-vos, pois, notório, homens, irmãos, que por Ele vos é anunciada a remissão dos pecados e de tudo aquilo de que não pudestes ser justificados pela lei de Moisés. Por Ele é justificado todo aquele que crê. Tomai pois cuidado que não venha sobre vós o que foi fito pelos profetas: Vede, ó despertadores, e admirai-vos e desaparecei, que eu faço uma obra em vossos dias, uma obra que vós não crereis, se alguém vo-la contar.

É a obra da salvação, o reinado de Cristo nas almas, a manifestação da misericórdia de Deus. Bem-aventurados todos os que confiam n'Ele! Nós, cristãos, temos direito a enaltecer a realeza de Cristo, porque, ainda que a injustiça abunde, ainda que muitos não desejem este reinado de amor, na própria história humana que é o cenário do mal, vai-se tecendo a obra da salvação eterna.

187           
Anjos de Deus

Ego cogito cogitationes pacis, et non afilictionis , eu tenho pensamentos de paz e não de tristeza, diz o Senhor. Sejamos homens de paz, homens de justiça, fazedores do bem, e o Senhor não será para nós juiz, mas amigo, irmão.

Que neste caminhar - alegre! - pela Terra, nos acompanhem os anjos de Deus. Antes do nascimento do nosso Redentor - escreve São Gregório Magno - tínhamos perdido a amizade dos Anjos. O pecado original e os nossos pecados quotidianos tinham-se afastado da sua luminosa pureza... Mas desde o momento que nós reconhecemos o nosso Rei, os anjos reconheceram-nos como concidadãos.

E como o Rei dos Céus quis tornar a nossa carne terrena, os Anjos já não se afastam da nossa miséria. Não se atrevem a considerar inferior à sua esta natureza que adoram, vendo-a exaltada, acima deles, na pessoa do Rei do Céu; e não sentem já inconveniente em considerar o homem como companheiro.

Maria, a Mãe santa do nosso Rei, a Rainha do nosso coração, cuida de nós como só Ela sabe fazê-lo. Mãe compassiva, trono da graça, pedimos-te que saibamos compor na nossa vida e na vida dos que nos rodeiam, verso a verso, o poema simples da caridade, quasi fluvium pacis, como um rio de paz. Porque tu és mar de inesgotável misericórdia: os rios vão dar todos ao mar e o mar não se enche.






Pequena agenda do cristão




SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:
Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?