27/12/2014

Ev. Coment. L. esp. (Amigos de Deus)

Oitava do Natal

São João – Apóstolo e Evangelista

Evangelho: Jo 20 2-8

Aquele que entra pela porta é pastor das ovelhas. 3 A este o porteiro abre e as ovelhas ouvem a sua voz, ele as chama pelo seu nome e as tira para fora. 4 Quando as tirou para fora, vai à frente delas e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. 5 Mas não seguem o estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». 6 Jesus disse-lhes esta alegoria, mas eles não compreenderam o que lhes dizia. 7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo que Eu sou a porta das ovelhas. 8 Todos os que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.

Comentário

Com Cristo a vida humana alcança a sua plenitude.
Isto compreende-se porque, Ele, é o Senhor da vida e só a pode querer, como Ele próprio diz, em plenitude.
A plenitude da vida humana é, pois, o próprio Jesus Cristo que, sendo Deus, é completo, pleno.
Vivendo unido a Cristo o homem alcança a plenitude que a própria união confere.

(ama, comentário sobre Jo 10, 1-10, 2012.04.30)


Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 183 a 190

183         
Com o coração todo entregue

Devo recordar-vos que não encontrareis a felicidade fora das vossas obrigações cristãs. Se as abandonardes, ficar-vos-á um enorme remorso e sereis uns pobres infelizes. Então até mesmo as coisas mais correntes, que são lícitas e trazem um bocadinho de felicidade, se podem tornar amargas como fel, azedas como o vinagre, repugnantes como o rosalgar.

Peçamos a Jesus, cada um de vós e eu também: Senhor! Eu proponho-me lutar e sei que Tu não perdes batalhas.

E compreendo que, se alguma vez as perco, é porque me afastei de Ti! Leva-me pela tua mão e não Te fies de mim! Não me soltes!

Pensareis: mas eu sou tão feliz, Padre! Eu amo Jesus Cristo e, ainda que seja de barro, desejo chegar à santidade com a ajuda de Deus e da sua Mãe Santíssima! Não o duvido. Apenas te previno com estas exortações para o caso de se te apresentar alguma dificuldade.

Tenho também de te repetir que a existência do cristão - a tua e a minha - é de Amor. Este nosso coração nasceu para amar e, quando não se lhe dá um afecto puro, limpo e nobre, vinga-se e enche-se de miséria. O verdadeiro amor de Deus, que pode traduzir-se por viver uma vida bem limpa, está tão longe da sensualidade como da insensibilidade e tão longe de qualquer sentimentalismo como da ausência de coração ou da sua dureza.

É uma pena não ter coração. Os que nunca aprenderam a amar com ternura são uns infelizes. Nós, os cristãos, estamos apaixonados pelo amor: o Senhor não nos quer secos, insensíveis, como matéria inerte. Quer-nos impregnados do seu carinho! Aquele que, por Deus, renunciou a um amor humano, não é um solteirão, como aquela pessoa triste, infeliz, que anda sempre de asa murcha, por ter desprezado a generosidade de amar limpamente.

184         
Amor humano e castidade

Para manter intimidade com o meu Senhor, já vo-lo contei muita vez, utilizei também - não me importo que se saiba - as canções populares que se referem, quase sempre, ao amor. Delicio-me a ouvi-las! O Senhor escolheu-me a mim e a alguns de vós para que fôssemos totalmente seus e transformássemos em divino o amor nobre das cantigas humanas. É o que o Espírito Santo faz no Cântico dos Cânticos. É o que fizeram os místicos de todos os tempos.

Escutai estes versos da Santa de Ávila: Se quereis que esteja descansado / quero, por amor, descansar; / Se me mandais trabalhar, / quero morrer trabalhando. / Dizei: onde, como e quando? / Dizei, dizei, doce Amor: / Como quereis de mim dispor?.

Ou aquela canção de S. João da Cruz que começa de um modo encantador: Sofrendo, só, um pequeno pastor, / Alheio ao prazer, sem contentamento, / Na sua pastora tem o pensamento / E o peito sangra-lhe em penas de amor.

Quando é limpo, o amor humano merece-me um imenso respeito, uma enorme veneração. Não haveríamos nós de estimar o carinho nobre e santo dos nossos pais, ao qual devemos uma grande parte da nossa amizade com Deus? Eu abençoo esse amor com as duas mãos e sempre que me perguntaram porquê com as duas mãos, respondi imediatamente: porque não tenho quatro!

Bendito seja o amor humano! Mas a mim, o Senhor pediu-me mais. A própria teologia católica o afirma: entregar-se exclusivamente a Jesus, por amor do Reino dos Céus e, por Jesus, a todos os homens, é mais sublime do que o amor matrimonial. Isto não tira que o matrimónio seja um sacramento e sacramentum magnum.

Seja como for, cada um deve esforçar-se por viver delicadamente a castidade, no seu lugar respectivo e com a vocação que Deus lhe infundiu na alma - solteiro, casado, viúvo, sacerdote. A razão é que a castidade é virtude para todos e a todos exige luta, delicadeza, esmero, rijeza, essa finura que só se compreende, quando nos colocamos junto do Coração apaixonado de Cristo na Cruz. Não vos preocupeis se a tentação vos espreita: uma coisa é sentir, outra é consentir. A tentação pode afastar-se facilmente com a ajuda de Deus. O que não convém, de modo algum, é dialogar com ela.

185         
Meios para vencer

Vejamos com que recursos é que, nós, cristãos, podemos contar para vencer nesta luta por guardar a castidade, não como anjos, mas como mulheres e homens sãos, fortes, normais! Venero os anjos com toda a minha alma e une-me uma grande devoção a esse exército de Deus, mas não gosto de os comparar connosco, porque a sua natureza é diferente e qualquer equiparação seria uma desordem.

Generalizou-se em muitos ambientes um clima de sensualidade que, ajudado pela confusão doutrinal, leva muita gente a justificar ou, pelo menos, a mostrar a tolerância mais indiferente para com todo o género de costumes licenciosos.

Devemos ser o mais limpos possível em relação ao corpo, mas sem medo, porque o sexo, é algo santo e nobre - participação no poder criador de Deus-, foi feito para o matrimónio. Assim, limpos e sem medo, dareis com a vossa conduta o testemunho da viabilidade e da formosura da santa pureza.

Antes de mais, empenhemo-nos em afinar a consciência, aprofundando o que for preciso, até ficarmos com a segurança de termos adquirido uma boa formação, distinguindo bem entre consciência delicada, que é uma graça de Deus, e consciência escrupulosa que é outra coisa.

Cuidai com esmero da castidade e também das virtudes que a acompanham e a salvaguardam: a modéstia e o pudor. Não olheis com ligeireza as normas, tão eficazes, que nos ajudam a conservarmo-nos dignos do olhar de Deus: a guarda atenta dos sentidos e do coração; a valentia de ser cobarde para fugir das tentações; a frequência dos sacramentos, especialmente da Confissão sacramental; a sinceridade total na direcção espiritual pessoal; a dor, a contrição e a reparação depois das faltas. E tudo isto ungido com uma terna devoção a Nossa Senhora, de modo que ela nos obtenha de Deus o dom de uma vida limpa e santa.

186         
Se, por desgraça, se cai, é preciso levantar-se imediatamente. Com a ajuda de Deus, que não nos faltará se usarmos os meios adequados, chegaremos, o mais depressa possível, ao arrependimento, à sinceridade humilde, à reparação, para que a derrota momentânea redunde numa grande vitória de Jesus Cristo.

Habituai-vos também a travar a luta longe das muralhas principais da fortaleza. Não podemos andar a fazer equilíbrios nas fronteiras do mal; temos de evitar com firmeza o voluntário in causa. Temos de afastar a mais pequena falta de amor, temos de fomentar as ânsias de apostolado cristão, contínuo e fecundo, que necessita da santa pureza como alicerce, sendo esta, aliás, um dos seus frutos mais característicos. Devemos, além disso, encher o tempo com trabalho intenso e responsável, procurando a presença de Deus, porque nunca nos podemos esquecer que fomos comprados por alto preço e que somos templos do Espírito Santo.

Que outros conselhos vos hei-de eu sugerir, senão os que sempre foram utilizados pelos cristãos que pretendiam, de verdade, seguir Cristo? Trata-se, afinal, dos mesmos que empregaram os primeiros a escutarem o apelo de Jesus: o encontro assíduo com o Senhor na Eucaristia, a invocação filial da Santíssima Virgem, a humildade, a temperança, a mortificação dos sentidos - porque não convém olhar o que não é lícito desejar, advertia S. Gregório Magno - e a penitência.

Dir-me-eis que, ao fim e ao cabo, tudo isto é uma síntese da vida cristã. Na verdade, não seria correcto separar a pureza, que é amor, da essência da nossa fé, que é a caridade, ou seja, um renovado apaixonar-se por Deus que nos criou, nos redimiu e que nos estende continuamente a sua mão, ainda que muitas vezes não nos apercebamos disso. Deus não nos pode abandonar. Sião dizia: Yavé abandonou-me e o Senhor esqueceu-se de mim. Pode a mulher esquecer-se do fruto do seu ventre, não se compadecer do fruto das suas entranhas? Pois, ainda que ela se esquecesse, Eu não te esqueceria. Não vos causam estas palavras uma enorme alegria?

187         
Digo frequentemente que são três as coisas que nos dão alegria na terra e nos alcançam a felicidade eterna do Céu: a fidelidade firme, dedicada, alegre e indiscutida à fé, à vocação que cada um recebeu e à pureza. Quem ficar agarrado às silvas do caminho - isto é, à sensualidade, à soberba...-, há-de ficar por sua própria vontade; se não rectificar, será um desgraçado, porque virou as costas ao Amor de Cristo.

Volto a afirmar que todos temos misérias. Isso, porém, não é razão para nos afastarmos do Amor de Deus. É, sim, estímulo para nos acolhermos a esse Amor, para nos acolhermos à protecção da bondade divina, como os antigos guerreiros se metiam dentro da sua armadura. Esse ecce ego, quia vocasti me, conta comigo porque me chamaste, é a nossa defesa. Não devemos fugir de Deus quando descobrimos as nossas fraquezas, mas devemos combatê-las, precisamente porque Deus confia em nós.

188         
Como é que conseguiremos superar estas coisas mesquinhas? Insisto neste ponto, porque ele se reveste de importância capital: com humildade e sinceridade na direcção espiritual e no sacramento da Penitência. Ide aos que vos dirigem espiritualmente, com o coração aberto. Não o fecheis porque, se se mete o demónio mudo pelo meio, depois é difícil lançá-lo fora.

Perdoai-me a insistência, mas julgo imprescindível que fique gravado a fogo nas vossas inteligências que a humildade e a sua consequência imediata a sinceridade, se ligam com os outros meios de luta e fundamentam a eficácia da vitória. Se a tentação de esconder alguma coisa se infiltra na alma, deita tudo a perder; se, pelo contrário, é vencida imediatamente, tudo corre bem, somos felizes e a vida caminha rectamente. Sejamos sempre selvaticamente sinceros, embora com modos prudentemente educados.

Quero dizer-vos com toda a clareza que me preocupa muito mais a soberba do que o coração e a carne. Sede humildes! Sempre que estiverdes convencidos de que tendes toda a razão, é porque não tendes nenhuma. Ide à direcção espiritual com a alma aberta. Não a fecheis, porque então intromete-se o demónio mudo e é muito difícil expulsá-lo.

Lembrai-vos do pobre endemoninhado que os discípulos não conseguiram libertar. Só o Senhor o pôde fazer com oração e jejum. Naquela altura o Mestre realizou três milagres. O primeiro foi fazê-lo ouvir, porque quando o demónio mudo nos domina, a alma fica surda; o segundo foi fazê-lo falar; e o terceiro foi expulsar o diabo.

189         
Começai por contar o que não quereríeis que se soubesse. Abaixo o demónio mudo! De uma coisa de nada, dando-lhe voltas e mais voltas, faz-se uma grande bola como com a neve, e acaba-se por ficar fechado lá dentro. Porquê?... Abri a alma! Asseguro-vos a felicidade, que é fidelidade à vocação cristã, se fordes sinceros. A clareza e a simplicidade são disposições absolutamente indispensáveis. Abramos pois, de par em par a nossa alma, de modo que o sol de Deus possa entrar e com ele a caridade do Amor.

Para se afastar da sinceridade total nem sempre é preciso má intenção; às vezes, basta um erro de consciência. Há pessoas que formaram (isto é, deformaram) de tal modo a consciência que o seu mutismo, a sua falta de simplicidade lhes parece bom; até pensam que é bom calar. Acontece que às vezes até receberam uma boa preparação e conhecem as coisas de Deus e talvez, por isso, se convençam de que é conveniente calar. Enganam-se, porém, porque a sinceridade é sempre necessária e não cabem desculpas, ainda que pareçam boas.

Acabamos esta conversa, na qual tu e eu fizemos a nossa oração com o Nosso Pai, pedindo-lhe a graça de viver essa afirmação gozosa, que é a virtude cristã da castidade.

Pedimo-la por intercessão de Santa Maria, que é a pureza imaculada. Recorramos a Ela, tota pulchra, seguindo um conselho que eu dava, há muitos anos, àqueles que se sentiam intranquilos no seu empenho diário por ser humildes, limpos, sinceros, alegres e generosos: Todos os pecados da tua vida parecem ter-se posto de pé. - Não desanimes. - Pelo contrário, chama por tua Mãe, Santa Maria, com fé e abandono de criança. Ela trará o sossego à tua alma.

190         
Ouve-se às vezes dizer que actualmente os milagres são menos frequentes. Não se dará antes o caso de serem menos as almas que vivem vida de fé? Deus não pode faltar à sua promessa: Pede-me e eu te darei as nações em herança. Os teus domínios irão até aos confins da terra. O nosso Deus é a Verdade, o fundamento de tudo o que existe: nada se cumpre sem o seu querer omnipotente.

Como era no princípio, agora e sempre. O Senhor não muda, não precisa de se mover para alcançar coisas que não possua. Ele é todo o movimento, toda a beleza e toda a grandeza. Hoje como outrora. Passarão os céus como o fumo e a terra envelhecerá como um vestido, mas a minha salvação durará pela eternidade e a minha justiça durará para sempre.

Deus estabeleceu em Jesus Cristo uma nova e eterna aliança com os homens. Pôs a sua omnipotência ao serviço da nossa salvação. Quando as criaturas desconfiam, quando vacilam por falta de fé, ouvimos novamente Isaías anunciar em nome do Senhor: Será que o meu braço tenha ficado mais curto para vos salvar ou que já não tenha força para vos libertar? Só com a minha ameaça, seco o mar e transformo os rios num deserto, até perecerem os seus peixes por falta de água e morrerem de sede os seus viventes. Eu revisto os céus com um manto de sombra e cubro-os com um saco de luto.

(cont)





Temas para meditar - 316


Voar alto 


Com o corpo pesado e farto de manutenção, muito mal aparelhado está o ânimo para voar para o alto.



(são pedro de alcântara, Tratado da Oração e da Meditação, 11, 3)

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (7)

Joaquim, tu amas-me?

Senhor, sabes bem que eu gosto de Ti.

Joaquim, tu amas-me?

Senhor, sabes bem que eu gosto muito de Ti.

Joaquim, de verdade, tu amas-me?

Oh Senhor, Tu que tudo sabes e vês, não sabes bem que eu Te amo?

Oh Joaquim, gostar não é amar!

Pois não, Senhor, mas a verdade é que algumas vezes “apenas” gosto de Ti.

Então porquê?

Porque, Senhor, às vezes precisava de perceber melhor o caminho e Tu não mo mostras. Às vezes precisava sentir-Te mais perto de mim e Tu não me tocas. Às vezes peço-Te coisas que Tu não me dás.

Bem, Joaquim, tu acreditas que Eu te amo com amor infinito?

Sim, Senhor, acredito.

Acreditas que Eu sou omnisciente e portanto sei o que é melhor para ti e aquilo que te pode afastar do meu caminho?

Sim, Senhor, acredito.

Então, Joaquim, se acreditas que Eu te amo com amor infinito, que só Eu sei o que é bom e mau para ti, como podes duvidar de que estou a teu lado e que tudo o que faço e te dou, é para teu bem?

Mas, Senhor, eu não compreendo porque é certas coisas que me parecem boas, e assim sendo mas poderias conceder, afinal, por aquilo que me dizes, não serão boas para mim?

Lembras-te de quando eras mais novo e os teus pais te diziam para não fazeres isto ou aquilo porque depois te ias arrepender?

Sim, Senhor, lembro-me bem.

E eles não tinham razão? Não constataste isso mesmo na tua vida?

Oh sim, Senhor, ainda hoje em dia faço a mesma coisa aos meus filhos e eles não percebem e julgam que naqueles momentos não gosto deles, por não lhes dar o que me pedem.

Vês, percebes agora? Tu para mim és um filho muito querido, mas ainda uma criança que procura a verdadeira vida, a vida que Eu te quero dar. Por isso tenho que velar constantemente por ti. Um dia, quando viveres a vida que não acaba, a vida que já não precisa de fé, pois já é toda só amor, perceberás porque é que o meu amor te dava apenas o que verdadeiramente precisavas.

Obrigado, Senhor! Quero perceber melhor e amar-te mais, cada vez mais, e por causa desse amor, fazer apenas a tua vontade.


Marinha Grande, 16 de Dezembro de 2014
Joaquim Mexia Alves
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Tratado do verbo encarnado 72

Questão 10: Da ciência da bem-aventurança da alma de Cristo

Em seguida devemos tratar de cada uma das referidas ciências. Mas, como já tratamos da ciência divina na Primeira Parte, resta agora tratar das outras três. Primeiro, da ciência da bem-aventurança. Segundo, da ciência infusa. Terceiro, da ciência adquirida.

Mas como, da ciência da bem-aventurança, consistente na união de Deus, já dissemos muito na Primeira Parte, por isso agora só devemos tratar do que propriamente pertence à alma de Cristo.

Donde, nesta questão discutem-se quatro artigos:

Art. 1 — Se a alma de Cristo contemplava e contempla o Verbo, ou a essência divina.
Art. 2 — Se a alma de Cristo conhece todas as coisas no Verbo.
Art. 3 — Se a alma de Cristo pode conhecer infinitas coisas no Verbo.
Art. 4 — Se a alma de Cristo vê o Verbo mais perfeitamente que qualquer outra criatura.

Art. 1 — Se a alma de Cristo contemplava e contempla o Verbo, ou a essência divina.

O primeiro discute-se assim. — Parece que a alma de Cristo contemplava e contempla o Verbo, ou a essência divina.

1 — Pois, diz Isidoro que a Trindade é conhecida só de si e do homem assumido, Logo, o homem assumido participa, com a santa Trindade, daquele conhecimento que ela tem de si e só a ela é próprio: Ora, tal é o conhecimento da visão beatífica. Logo, a alma de Cristo contempla a divina essência.

2. Demais. — Maior união é a com Deus pelo seu ser pessoal que pela visão. Ora, como Damasceno diz, toda a divindade, na unidade de Pessoas, está unida à natureza humana em Cristo. Logo, com maior razão toda a natureza divina é contemplada pela alma de Cristo. E, assim, parece que a alma de Cristo contemplava a divina essência.

3. Demais. — O que convém ao Filho de Deus por natureza, ao Filho do Homem lhe convém pela graça, com diz Agostinho. Ora, contemplar a divina essência convém ao Filho de Deus por natureza. Logo, convém ao Filho do Homem pela graça. E assim, parece que a alma de Cristo contemplava, pela graça, o Verbo.

Mas, em contrário, diz Agostinho, O que se contempla é para si finito. Ora, a essência divina não é finita relativamente à alma de Cristo, pois, a esta excede em infinito. Logo, a alma de Cristo não contempla o Verbo.

Como do sobredito resulta, a união das naturezas na pessoa de Cristo se fez de modo tal que a propriedade de uma e outra natureza permaneceu confusa, de maneira que o incriado permaneceu incriado e o criado ficou dentro dos limites da criatura, como diz Damasceno, Ora, é impossível uma criatura compreender a divina essência, como dissemos na Primeira Parte, porque o infinito não pode ser compreendido pelo finito. Logo devemos concluir que a alma de Cristo de nenhum modo compreende a divina essência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O homem assumido se acha associado com a divina Trindade, no seu conhecimento, não em razão da compreensão, mas, de um certo excelentíssimo conhecimento superior ao das outras criaturas.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Nem mesmo pela união segundo o ser pessoal a natureza humana compreende o Verbo de Deus ou a natureza divina, a qual, embora estivesse toda unida à natureza humana na pessoa una do Filho, não era contudo a virtude total da divindade, quase circunscrita pela natureza humana. Donde o dizer Agostinho, quero que saibas que a doutrina cristã não ensina que Deus se revestiu da carne humana de maneira a renunciar aos cuidados do governo universal, ou a tê-lo perdido, ou a tê-la referido ao seu frágil corpo, concentrando-o nele por assim dizer. Semelhantemente, a alma de Cristo vê toda a essência de Deus, não a compreende, porém, pela não ver totalmente, isto é, de tão perfeita maneira como ela se oferece à visão, conforme expusemos na Primeira Parte.

RESPOSTA À TERCEIRA. — As palavras referidas de Agostinho devem entender-se da graça de união, pela qual, tudo o atribuído à natureza divina do Filho de Deus o é ao Filho do Homem, por causa da identidade do suposto. E, assim sendo, podemos, verdadeiramente dizer que o Filho do Homem compreende a essência divina, não com a sua alma, mas, pela sua natureza divina. Por cujo modo também podemos dizer que o Filho do Homem é criador.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Pequena agenda do cristão




SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:
Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?