02/01/2015

Ev. diário, coment. e L. esp. (Amigos de Deus)

Oitava do Natal

São Basílio Magno e São Gregório Nazianzo Doutores da Igreja

Evangelho: Jo 1 19-28

19 Eis o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas a perguntar-lhe: «Quem és tu?». 20 Ele confessou a verdade, não a negou; e confessou: «Eu não sou o Cristo». 21 Eles perguntaram-lhe: «Quem és, pois? És tu Elias?». Ele respondeu: «Não sou». «És tu o profeta?». Respondeu: «Não». 22 Disseram-lhe então: «Quem és, pois, para que possamos dar resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?». 23 Disse-lhes então: «”Eu sou a voz do que clama no deserto. Endireitai o caminho do Senhor”, como disse o profeta Isaías». 24 Ora os que tinham sido enviados eram fariseus. 25 Interrogaram-no, dizendo: «Como baptizas, pois, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?». 26 João respondeu-lhes: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Quem vós não conheceis. 27 Esse é O que há-de vir depois de mim, e eu não sou digno de desatar-Lhe as correias das sandálias». 28 Estas coisas passaram-se em Betânia, além Jordão, onde João estava a baptizar.
Comentário

Com o aproximar da grande data, o nascimento Salvador, a Igreja propõe a liturgia própria da época e fala-nos repetidamente do Percursor nas últimas e etapas da sua vida.
Não é demais recordar esta figura incontornável do que veio com a missão específica de anunciar a vinda, eminente, do Salvador.
A ele devemos este tempo de  Advento, preparação indispensável para nos dispormos para bem receber O que nos vem redimir.

(ama comentário sobre Jo 1, 19-28, Carvide, 2012.12.22)


Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 233 a 240

233         
Uma das suas primeiras manifestações concretiza-se em iniciar a alma nos caminhos da humildade. Quando sinceramente nos consideramos nada; quando compreendemos que, se não tivéssemos o auxílio divino, a mais débil e fraca das criaturas seria melhor do que nós; quando nos vemos capazes de todos os erros e de todos os horrores; quando nos reconhecemos pecadores, embora lutemos com empenho por nos afastarmos de tantas infidelidades, como havemos de pensar mal dos outros? Como se poderá alimentar no coração o fanatismo, a intolerância, o orgulho?

A humildade leva-nos pela mão a tratar o próximo da melhor forma: compreender a todos, conviver com todos, desculpar a todos; não criar divisões nem barreiras; comportarmo-nos - sempre! - como instrumentos de unidade. Não é em vão que existe no fundo do homem uma forte aspiração à paz, à união com os seus semelhantes e ao respeito mútuo pelos direitos da pessoa, de modo que tal aspiração se transforme em fraternidade. Isto reflecte uma nota característica do que há de mais valioso na condição humana: se todos somos filhos de Deus, a fraternidade nem se reduz a uma figura de retórica, nem consiste num ideal ilusório, pois surge como meta difícil, mas real.

Perante os cínicos, os cépticos, os insensíveis, os que fizeram da sua cobardia um modo de pensar, nós, os cristãos, havemos de demonstrar que esse carinho é possível. Existem talvez muitas dificuldades para nos comportarmos deste modo, pois o homem foi criado livre e tem a possibilidade de se levantar inútil e amargamente contra Deus; mas esse caminho é possível e é real, porque tal conduta nasce necessariamente como consequência do amor de Deus e do amor a Deus. Se tu e eu quisermos, Jesus Cristo também o quer. Então compreenderemos, em toda a sua profundidade e com toda a sua fecundidade, a dor, o sacrifício, a entrega desinteressada na convivência diária com os outros.

234         
O exercício da caridade

Pecaria por ingenuidade quem imaginasse que as exigências da caridade cristã se cumprem facilmente. É bem diferente o que nos diz a experiência, quer no âmbito das ocupações habituais dos homens, quer, por desgraça, no âmbito da Igreja. Se o amor não nos obrigasse a calar, cada um de nós teria muito que contar de divisões, de ataques, de injustiças, de murmurações e de insídias. Temos de o admitir com simplicidade, para tratar de aplicar, pela parte que nos corresponde, o remédio oportuno, que se há-de traduzir num esforço pessoal por não ferir, por não maltratar, por corrigir sem deixar ninguém esmagado.

Não são problemas de hoje. Poucos anos depois da Ascensão de Cristo aos céus, quando ainda andavam de um lugar para outro todos os Apóstolos e era geral um admirável fervor de fé e de esperança, já muitos, no entanto, começavam a desencaminhar-se e a não viver a caridade do Mestre.

Havendo entre vós rivalidades e discórdias - escreve S. Paulo aos de Corinto - não é notório que sois carnais e procedeis como homens? Porque, quando um diz: eu sou de Paulo, e outro: eu sou de Apolo, não estais a mostrar que ainda sois homens carnais que não compreendem que Cristo veio para superar todas essas divisões? Quem é Apolo? Quem é Paulo? Ministros daquele em quem vós crestes e isso segundo a medida que o Senhor concedeu a cada um.

O Apóstolo não rejeita a diversidade: cada um tem de Deus o seu próprio dom; um de um modo e outro de outro. Mas essas diferenças têm de estar ao serviço do bem da Igreja. Sinto-me inclinado agora a pedir ao Senhor - se quiserdes unir-vos a esta minha oração - que não permita que na sua Igreja a falta de amor semeie joio nas almas. A caridade é o sal do apostolado dos cristãos; se perde o sabor, como poderemos apresentar-nos ao mundo e explicar, de cabeça erguida, que aqui está Cristo?

235         
Portanto, repito-vos com S. Paulo: ainda que eu falasse as línguas dos homens e a linguagem dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que ressoa ou como o címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e possuísse toda a ciência, e tivesse toda a fé, de modo a mover montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, nada me aproveita .

Perante estas palavras do Apóstolo dos gentios, não faltam os que se assemelham àqueles discípulos de Cristo, que, ao anunciar-lhes Nosso Senhor o Sacramento da sua Carne e do seu Sangue, comentaram: - É dura esta doutrina; quem a pode escutar?. É dura, sim. Porque a caridade que o Apóstolo descreve não se limita à filantropia, ao humanitarismo ou à natural comiseração pelo sofrimento alheio; exige a prática da virtude teologal do amor a Deus e do amor, por Deus, aos outros. Por isso, a caridade nunca deixará de existir, ao passo que as profecias terminarão, as línguas cessarão e a ciência acabará... Agora permanecem estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade; mas, das três, a caridade é a mais excelente.

236         
O único caminho

Já nos convencemos de que a caridade nada tem a ver com essa caricatura que às vezes se tem pretendido traçar da virtude central da vida cristã. Mas perguntamos agora: porque se exige pregá-la constantemente? Será uma espécie de tema obrigatório, mas com poucas possibilidades de se manifestar em factos concretos?

Olhando à nossa volta, talvez descobríssemos razões para pensar que a caridade é realmente uma virtude ilusória. Mas considerando as coisas com sentido sobrenatural, descobrirás também a raiz dessa esterilidade, que se cifra numa ausência de convívio intenso e contínuo, de tu a tu, com Nosso Senhor Jesus Cristo, e no desconhecimento da acção do Espírito Santo na alma, cujo primeiro fruto é precisamente a caridade.

Recolhendo um conselho do Apóstolo - levai uns as cargas dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo - acrescenta um Padre da Igreja: amando a Cristo, suportaremos facilmente a fraqueza dos outros, mesmo a daquele a quem ainda não amamos, porque não tem boas obras.

Por aí se eleva o caminho que nos faz crescer na caridade. Enganar-nos-íamos se imaginássemos que primeiro temos de nos exercitar em actividades humanitárias, em trabalhos de assistência, excluindo o amor do Senhor. Não descuidemos Cristo por causa do próximo que está enfermo, uma vez que devemos amar o enfermo por causa de Cristo.

Olhai constantemente para Jesus, que, sem deixar de ser Deus, se humilhou tomando a forma de servo para nos poder servir, porque só nessa mesma direcção se abrem os afãs por que vale a pena lutar. O amor procura a união, a identificação com a pessoa amada; e, ao unirmo-nos com Cristo, atrair-nos-á a ânsia de secundar a sua vida de entrega, de amor sem medida, de sacrifício até à morte. Cristo coloca-nos perante o dilema definitivo: ou consumirmos a existência de uma forma egoísta e solitária ou dedicarmo-nos com todas as forças a uma tarefa de serviço.

237         
Vamos pedir agora ao Senhor, para terminar este tempo de conversa com Ele, que nos conceda poder repetir com S. Paulo que triunfamos por virtude daquele que nos amou. Pelo qual estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem o presente, nem o futuro, nem a força, nem o que há de mais alto, nem de mais profundo, nem qualquer outra criatura poderá jamais separar-nos do amor de Deus que está em Jesus Cristo Nosso Senhor.

Este amor também a Escritura o canta com palavras inflamadas: as águas copiosas não puderam extinguir a caridade, nem os rios afogá-la. Este amor encheu sempre o Coração de Santa Maria, ao ponto de enriquecê-la com entranhas de Mãe para toda a humanidade. Em Nossa Senhora o amor a Deus confunde-se com a solicitude por todos os seus filhos. O seu Coração dulcíssimo teve de sofrer muito, atento aos mínimos pormenores - não têm vinho - ao presenciar aquela crueldade colectiva, aquele encarniçamento dos verdugos, que foi a Paixão e Morte de Jesus. Mas Maria não fala. Como o seu Filho, ama, cala e perdoa. Essa é a força do amor.

238         
Sempre que sentimos no nosso coração desejos de melhorar, de responder mais generosamente ao Senhor, e procuramos um guia, um norte claro para a nossa existência cristã, o Espírito Santo traz à nossa memória as palavras do Evangelho: importa orar sempre e não cessar de o fazer.

A oração é o fundamento de todo o trabalho sobrenatural; com a oração somos omnipotentes; se prescindíssemos deste recurso, nada conseguiríamos.

Eu gostaria que hoje, na nossa meditação, nos persuadíssemos definitivamente da necessidade de nos dispormos a ser almas contemplativas no meio do mundo e do trabalho, com uma conversa contínua com o nosso Deus, a qual não deve esmorecer ao longo do dia. Se pretendemos seguir lealmente os passos do Mestre, este é o único caminho.

239          
Voltemos os nossos olhos para Jesus Cristo, que é o nosso modelo, o espelho em que nos devemos olhar. Como se comporta, mesmo exteriormente, nas grandes ocasiões? Que nos diz d'Ele o Santo Evangelho? Comove-me essa disposição habitual de Cristo, que recorre ao Pai antes dos grandes milagres e o seu exemplo, ao retirar-se quarenta dias e quarenta noites para o deserto, antes de iniciar a sua vida pública, para rezar.

É muito importante - perdoai a minha insistência - observar os passos do Messias, porque Ele veio mostrar-nos o caminho que nos leva ao Pai: descobriremos, com ele, como se pode dar relevo sobrenatural às actividades aparentemente mais pequenas; aprenderemos a viver cada instante com vibração de eternidade e compreenderemos com maior profundidade que a criatura precisa desses tempos de conversa íntima com Deus, para privar com Ele na sua intimidade, para invocá-lo, para ouvi-lo ou, simplesmente, para estar com Ele.

Há já muitos anos, considerando este modo de proceder do meu Senhor, cheguei à conclusão de que o apostolado, seja ele de que tipo for, consiste numa superabundância da vida interior. Por isso me parece tão natural, e tão sobrenatural, essa passagem em que se relata como Cristo decidiu escolher definitivamente os primeiros doze. Conta S. Lucas que, antes, tinha passado toda a noite em oração. Vede-o também em Betânia. Quando se dispõe a ressuscitar Lázaro, depois de ter chorado pelo amigo, levanta os olhos ao céu e exclama: Pai, dou-te graças porque me tens ouvido. Este foi o seu ensinamento preciso: se queremos ajudar os outros, se pretendemos sinceramente animá-los a descobrir o autêntico sentido do seu destino na terra, é preciso que nos fundamentemos na oração.

240         
São tantas as cenas em que Jesus Cristo fala com o seu Pai, que se torna quase impossível determo-nos em todas. Mas penso que não podemos deixar de considerar as horas, tão intensas, que precederam a sua Paixão e Morte, quando se prepara para consumar o Sacrifício que nos reconduzirá ao Amor Divino. Na intimidade do Cenáculo o seu Coração transborda, dirige-se suplicante ao Pai, anuncia a vinda do Espírito Santo, anima os seus a um contínuo fervor de caridade e de fé.

Esse fervoroso recolhimento do Redentor continua em Getsemani, quando se apercebe de que já está iminente a Paixão, com as humilhações e as dores que se aproximam, essa Cruz dura, onde suspendem os malfeitores e que Ele desejou ardentemente. Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice. E logo a seguir: não se faça, contudo, a minha vontade, mas a tua. Mais tarde, pregado ao madeiro, só, com os braços estendidos num gesto de sacerdote eterno, continua a manter o mesmo diálogo com o seu Pai: nas tuas mãos encomendo o meu espírito.

(cont)







Temas para meditar - 322


Infância espiritual


Não progride na vida de infância espiritual quem vive no emaranhado da complicação, com todas as flutuações da imaturidade nos seus desejos, suas ideias, suas ocorrências, suas emoções, com uma conduta variável a cada momento e permanentemente preocupada com o seu «eu».



(b. perquin, Abba, Padre, pg. 143, trad ama)

Tratado do verbo encarnado 78

Questão 11: Da ciência inata ou infusa da alma de Cristo

Art. 3 - Se a alma de Cristo tinha a ciência infusa por via de comparação.

O terceiro discute-se assim. Parece que a alma de Cristo não tinha a ciência infusa por via de comparação.

1 - Pois, diz Damasceno: Não atribuímos a Cristo nem conselho sem eleição. Ora, aquele e esta não se lhe negam senão porque implicam a comparação e o discurso. Logo, parece que em Cristo não havia ciência comparativa nem discursiva.

2. Demais. — O homem necessita da comparação e do discurso racional para inquirir o que ignora. Ora, a alma de Cristo sabia tudo, como se disse. Logo, nele não havia ciência comparativa nem discursiva.

3. Demais. — A ciência da alma de Cristo era igual à dos que gozam da visão beatífica, como os anjos, segundo diz o Evangelho. Ora, os anjos não têm ciência discursiva ou comparativa, como está claro em Dionísio. Logo, nem também a alma de Cristo tinha ciência discursiva ou comparativa.

Mas, em contrário, Cristo tinha uma alma racional, como se estabeleceu. Ora, é próprio da alma racional comparar e discorrer de um conhecimento para outro. Logo, em Cristo havia ciência discursiva ou comparativa.

Uma ciência pode ser discursiva ou comparativa de dois modos. - Primeiro, quanto à sua aquisição, como se dá connosco que chegamos a um conhecimento por meio de outro - assim, dos efeitos, pelas causas e inversamente. Ora, deste modo, a ciência da alma de Cristo não era discursiva ou comparativa, pois, essa ciência inata, de que agora tratamos, foi-lhe infundida por Deus, e não adquirida pela investigação racional. — Noutro sentido, uma ciência pode ser chamada discursiva ou comparativa, quanto ao seu uso. Assim, às vezes, do conhecimento das causas concluímos os efeitos, e não adquirimos assim um novo conhecimento, mas usamos de uma ciência que já possuíamos. E, deste modo, a ciência da alma de Cristo podia ser comparativa e discursiva, pois, podia de uma conclusão deduzir outra, como lhe aprouvesse. Assim, como se lê no Evangelho, quando o Senhor perguntou a Pedro, de quem os reis da terra recebiam tributo se dos seus ou dos estranhos, e como Pedro respondesse, que dos estranhos, o Senhor concluiu — Logo os filhos são isentos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — De Cristo se exclui o conselho acompanhado de dúvida, e por consequência, a eleição, que por essência inclui um tal conselho. Mas, Cristo não estava privado do uso do conselho.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A referida objecção procede, quanto ao discurso e à comparação, enquanto ordenados à aquisição da ciência.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os bem-aventurados são iguais aos anjos quanto aos dons das graças, mas permanece entre eles a diferença de natureza. Donde, usar da comparação e do discurso é conatural às almas dos bem-aventurados, mas não, à dos anjos.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Jesus Cristo e a Igreja

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos [i]

I. INTRODUÇÃO

No debate sobre o celibato dos ministros da Igreja Católica, que regressa de novo e que se tem intensificado nos últimos tempos, encontramos as mais variadas opiniões, especialmente no que se refere à sua origem e desenvolvimento na Igreja Ocidental e Oriental. Essas opiniões vão desde a convicção de sua origem divina até da que se trata – especialmente no caso da disciplina, mais restrita, da Igreja latina – de uma mera instituição eclesiástica. Da disciplina da Igreja Latina, afirma-se frequentemente que a obrigatoriedade do celibato só poderia ser constatada desde o século IV em diante; para outros, ela foi adotada no início do segundo milénio, concretamente a partir do II Concilio de Latrão em 1139.
Essas opiniões tão distantes entre si e as razões e as premissas que se alegam para sustentá-las, permitem constatar a existência de uma significativa imprecisão no conhecimento dos factos e das disciplinas eclesiásticas a esse respeito, e ainda mais sobre os motivos do celibato eclesiástico. Esta imprecisão é verificada inclusive em algumas declarações no ambiente eclesiástico, alto ou baixo.
Parece, pois, necessário para alcançar um conhecimento seguro desta tão criticada Instituição, esclarecer os factos e as disposições da Igreja, desde o início até hoje, e analisar os seus fundamentos teológicos. É evidente que este objectivo, se quisermos que a nossa exposição tenha validade científica, só será alcançado a partir de um conhecimento actualizado das fontes e da bibliografia sobre a questão.
Neste sentido, convém notar que, nos últimos tempos, foram alcançados importantes resultados sobre a história do celibato eclesiástico, no Ocidente e no Oriente. Mas tais resultados ou ainda não entraram na consciência geral, ou são silenciados, pois se considera que poderiam influenciar de uma forma não desejada em dita consciência.
Esta exposição sintética irá acompanhada de um dispositivo científico que se limita ao essencial e que permite, junto ao controle das afirmações feitas, um eventual aprofundamento posterior no seu conteúdo.
A descrição da evolução histórica da questão, tanto na Igreja ocidental como na oriental, irá precedida de uma parte na que, acima de tudo, se fará um esclarecimento do conceito de celibato eclesiástico que está na base das obrigações que impõe, para em seguida indicar o método exigido para chegar – em uma adequada apreciação do tema – a conclusões seguras. A última parte será dedicada às bases ou fundamentos teológicos do celibato, cujo desenvolvimento é cada vez mais necessário.

(cont)

(revisão da tradução portuguesa por ama)





[i] Card. alfons m. stickler, Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro


Jesus Cristo e a Igreja - 49

Quem foi Pôncio Pilatos?

Pôncio Pilatos desempenhou o cargo de Prefeito da província romana de Judeia, desde o ano 26 d.C. até 36 ou começos de 37 d.C. A sua jurisdição estendia--se também à Samaria e à Idumeia. Não temos dados certos sobre sua vida antes destas datas. O título do ofício que desempenhou, foi o de Praefectus, tal como corresponde aos que desempenharam esse cargo antes do Imperador Cláudio, e é confirmado por uma inscrição encontrada na Cesareia. O título de Procurator que empregam alguns autores antigos para se referirem ao seu ofício, é um anacronismo. Os evangelhos referem-se a ele pelo título genérico de “governador”. Como prefeito, correspondia-lhe manter a ordem na província e administrá-la judicial e economicamente. Portanto, devia estar à frente do sistema judicial (e assim consta que fez no processo de Jesus) e recolher tributos e impostos para suprir as necessidades da província e de Roma. Desta última actividade não há provas directas, se bem que o incidente do aqueduto narrado por Flávio Josefo (ver mais abaixo) seja seguramente uma consequência dela. Por outro lado, foram encontradas moedas cunhadas em Jerusalém nos anos 29, 30 e 31, que, sem dúvida, foram mandadas fazer por Pilatos. Mas, acima de tudo, passou à história por ter sido quem
ordenou a execução de Jesus de Nazaré. Ironicamente o seu nome passou, desta maneira, a integrar o símbolo da fé cristã: “ padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”.

As suas relações com os judeus, como nos informam Filão e Flávio Josefo, não foram propriamente pacíficas. Na opinião de Josefo, os anos de Pilatos foram muito turbulentos na Palestina, e Filão diz que o governador se caracterizava pela “sua venalidade, a sua violência, os seus roubos, os assaltos, a conduta abusiva, as frequentes execuções de prisioneiros que não tinham sido julgados, e a ferocidade sem limite” (Gayo 302). Embora nestas apreciações influa seguramente a intencionalidade e a compreensão própria destes dois autores, a crueldade de Pilatos, como sugere Lc 13, 1 – onde se menciona o incidente de certos galileus, cujo sangue o governador misturara com o dos sacrifícios deles – parece fora de dúvida. Josefo e Filão dizem também que Pilatos introduziu em Jerusalém umas insígnias em honra de Tibério, que originaram uma grande agitação até que foram levadas para Cesareia. Josefo relata, noutro momento, que Pilatos utilizou fundos sagrados para construir um aqueduto. A decisão originou uma revolta, que foi esmagada de forma sangrenta. Alguns pensam que este acontecimento é aquele a que se refere Lc 13, 1. Um último episódio, relatado por Josefo, é a violenta repressão de samaritanos no monte Garizim, no ano 35. Como resultado disso, os samaritanos enviaram uma delegação ao governador da Síria, L. Vitélio, que suspendeu Pilatos do seu cargo. Este foi chamado a Roma para dar explicações, mas chegou já depois da morte de Tibério. Segundo uma tradição recolhida por Eusébio, caiu em desgraça, sob o império de Calígula, e acabou por se suicidar.
Nos séculos posteriores surgiram todo o tipo de lendas sobre a sua pessoa. Umas, atribuíram-lhe um fim terrível, no Tibre ou em Vienne (França), enquanto outras (sobretudo as Actas de Pilatos, que na Idade Média formavam parte do (Evangelho de Nicodemos) o apresentavam como convertido ao cristianismo juntamente com a sua mulher Prócula, que é venerada como santa, na Igreja Ortodoxa, pela sua defesa de Jesus (Mt 27, 19). Inclusivamente, o próprio Pilatos conta-se entre os santos da igreja etíope e copta. Mas, acima destas tradições, que na sua origem reflectem uma intenção de mitigar a culpa do governador romano, nos tempos em que o cristianismo tinha dificuldades para abrir caminho no Império, a figura de Pilatos que conhecemos pelos evangelhos é a de um personagem indolente, que não quer enfrentar a verdade e prefere contentar a multidão.
A sua inclusão no Credo é, contudo, de grande importância, porque nos recorda que a fé cristã é uma religião histórica e não um programa ético ou uma filosofia. A redenção teve lugar num lugar concreto
do mundo, a Palestina, num tempo concreto da história, isto é, quando Pilatos era prefeito da Judeia.

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.


Pequena agenda do cristão




Sexta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)





Propósito:
Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?