22/02/2015

Cristo também vive agora

Vive junto de Cristo! Deves ser, no Evangelho, uma personagem mais, convivendo com Pedro, com João, com André..., porque Cristo também vive agora: "Iesus Christus, heri et hodie, ipse et in saecula!" Jesus Cristo vive!, hoje como ontem; é o mesmo, pelos séculos dos séculos. (Forja, 8)


É esse amor de Cristo que cada um de nós deve se esforçar por realizar na sua vida. Mas para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma ideia geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores e atitudes. É preciso contemplar a sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz, serenidade, paz.

Quando se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu carácter, para nos identificarmos com essa pessoa. Por isso temos de meditar na vida de Jesus, desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua Ressurreição. Nos primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa vida, acudam à memória as palavras e os actos do Senhor.


Sentir-nos-emos assim metidos na sua vida. Na verdade, não se trata apenas de pensar em Jesus e de imaginar aqueles episódios; temos de meter-nos em cheio neles, como actores. (Cristo que passa, 107)

Evangelho, coment. L espirit. (Santíssima Virgem)

Quaresma

Cadeira de São Pedro

Evangelho: Mc 1 12-15

12 Imediatamente o Espírito impeliu Jesus para o deserto. 13 E permaneceu no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos O serviam. 14 Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus 15 e dizendo: «Completou-se o tempo e aproxima-se o reino de Deus; arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

Comentário

Começa o Novo Tempo o Tempo do Reino.
Chegou ao fim a “vida oculta” do Salvador, a partir de agora poderá ser encontrado pelos caminhos da Palestina, nas Sinagogas e no Templo, na casa de amigos e outros que O convidam.
Fala com todos, responde às perguntas mesmo aquelas que são dúbias e mal intencionadas. Rapidamente se reúnem à Sua volta e começam a segui-lo numerosos discípulos dos quais escolherá doze para serem os Seus mais próximos, as Suas palavras falam de um mundo novo de justiça e paz, de amor entre os homens.

Para imitar Jesus, nosso Mestre e Guia, é o que temos de fazer. Deixar de lado tudo - e talvez seja muito - que não nos interessa nem convém para recomeçar uma nova vida, um tempo novo.

(ama, comentário sobre Mc 1, 12-15, 2012.02.260)

Leitura espiritual



Santíssima Virgem
Vida de Maria (X)

A voz do Magistério

«Depois de terem adorado o Senhor e terem satisfeito a sua devoção, os Magos, de acordo com o aviso recebido em sonhos, regressaram ao seu país por um caminho diferente daquele por onde tinham vindo. Acreditando já em Cristo, não tinham que ir, com efeito, pelo caminho da sua antiga vida, mas entrando na nova rota, abstêm-se dos erros que tinham abandonado. Era necessário invalidar as manobras de Herodes, que, sob o pretexto de zelo, preparava um engano ímpio sobre o Menino Jesus.

Por isso, ficando o seu plano desbaratado e a sua esperança iludida, a cólera do rei inflamou-se com ardor. Recordando a data que os Magos tinham indicado, derramou a raiva da sua crueldade sobre todas as crianças de Belém e numa matança geral fez perecer todos os recém-nascidos da cidade, fazendo-os passar para a glória eterna. Pensou que nenhuma criança tinha escapado da morte nesse lugar e, por isso, que Cristo tinha também morrido. Mas Ele, que reservava para outro tempo a efusão do Seu sangue para a redenção do mundo, tinha fugido para o Egipto, levado pelo cuidado dos Seus pais. Restaurava assim a antiga linhagem do povo hebreu e exercia o principado do verdadeiro José, usando de um poder e de uma providência muito maior que a sua, pois vinha libertar os corações dos egípcios de uma fome mais terrível do que toda a indigência, que eles sofriam pela ausência da verdade, já que Ele veio do Céu como verdadeiro pão de vida (cfr. Jo 6, 51). De modo que este país não seria já estranho à preparação do mistério da única vítima, onde, pela imolação do cordeiro, tinham sido prefigurados pela primeira vez o sinal salvador da cruz e a Páscoa do Senhor»[i].

***

«Tal como o agir, também o sofrimento faz parte da existência humana. Este deriva, por um lado, da nossa finitude e, por outro, do volume de culpa que se acumulou ao longo da história e, mesmo actualmente, cresce de modo irreprimível.

Certamente é preciso fazer tudo o possível para diminuir o sofrimento: impedir, na medida do possível, o sofrimento dos inocentes; amenizar as dores; ajudar a superar os sofrimentos psíquicos. Todos estes são deveres tanto da justiça como da caridade, que se inserem nas exigências fundamentais da existência cristã e de cada vida verdadeiramente humana. Na luta contra a dor física conseguiu-se realizar grandes progressos; mas o sofrimento dos inocentes e inclusive os sofrimentos psíquicos aumentaram durante os últimos decénios.

Devemos – é verdade – fazer tudo por superar o sofrimento, mas eliminá-lo completamente do mundo não entra nas nossas possibilidades, simplesmente porque não podemos desfazer-nos da nossa finitude e porque nenhum de nós é capaz de eliminar o poder do mal, da culpa que – como constatámos – é fonte contínua de sofrimento. Isto só Deus o poderia fazer: só um Deus que pessoalmente entra na história fazendo-Se homem e sofre nela. Nós sabemos que este Deus existe e que por isso este poder que «tira os pecados do mundo»[ii] está presente no mundo. Com a fé na existência deste poder, surgiu na história a esperança da cura do mundo»[iii].

A voz dos Padres

«Aparecido, pois, o anjo, fala não com Maria, mas com José, e diz-lhe: Levanta-te e toma o Menino e Sua Mãe[iv]. Ao ouvir isto, José não se escandalizou nem disse: isto parece um enigma. Tu mesmo me dizias não há muito tempo que Ele salvaria o Seu povo, e agora não é capaz nem de Se salvar a Si mesmo, mas temos necessidade de fugir, de empreender uma viagem e uma longa deslocação. Isto é contrário à tua promessa. Mas não diz nada disto, porque José é um varão fiel. Também não pergunta pelo tempo do regresso, apesar de que o anjo o tenha deixado indeterminado, pois tinha-lhe dito: e fica lá até que eu te avise (Ibid.). No entanto, nem por isso entorpece, antes obedece, acredita e suporta alegremente todas as provas. É bem verdade que Deus, que ama os homens, mistura dificuldades e doçuras, estilo que Ele segue com todos os santos. Nem os perigos nem os consolos no-los dá contínuos, antes de uns e outros vai Ele entretecendo a vida dos justos. Assim fez com José»[v].


***

«Herodes teme, os magos desejam; estes desejam encontrar o Rei, aquele temeu perder o reino. Por último, todos O procuram: aqueles, para viver por Ele; o outro, porque quer dar-Lhe a morte; Herodes, para cometer um grande pecado contra Ele; os magos, para que lhes perdoe todos os seus. Herodes dá morte a muitas crianças com a intenção de matar um determinado, e enquanto causa tão cruel e sangrenta matança nas pessoas de tantos inocentes, é ele o primeiro a causar a sua própria morte com tanta maldade. Entretanto, o nosso Rei, a Palavra que ainda não fala, enquanto os magos O adoravam as crianças morriam por Ele, ou jazia deitado ou tomava o peito, e antes de falar encontrava crentes e antes de padecer fazia também mártires.

Oh crianças ditosas, recém-nascidas, nunca tentados, nunca forçados a lutar e já coroados! Duvide que fostes coroados, ao padecer por Cristo, quem pense que de nada serve às crianças o Baptismo de Cristo. Ainda não tínheis a idade para crer em Cristo, que havia de sofrer também a Sua paixão, mas tínheis carne em que padecê-la por Ele, que a sofreria posteriormente. De nenhum modo a graça do Salvador abandonaria estas crianças, o Menino que tinha vindo buscar o que se tinha perdido, não só mediante o Seu nascimento, mas também suspenso da cruz. Quem pôde ter como pregoeiros do seu nascimento os anjos, como proclamadores os céus e como adoradores os magos, poderia conceder-lhes que não morressem aqui por Ele, se soubesse que com aquela morte iam perecer e não viver numa felicidade maior. Longe, longe de nós pensar que, vindo libertar os homens, Cristo não se preocupasse com a recompensa para aqueles que iam morrer por Ele que, pendente da cruz, orou inclusivamente pelos seus assassinos»[vi].


***

«Que temes, Herodes, ao ouvir que nasceu um Rei? Ele não veio expulsar-te a ti, mas para vencer o Maligno. Mas tu não entendes estas coisas e por isso perturbaste e enfureces-te, e, para que não escape o que procuras, mostras-te cruel, dando a morte a tantas crianças. Nem a dor das mães que gemem, nem o lamento dos pais pela morte dos seus filhos, nem o choro e os gemidos das crianças te fazem desistir do teu propósito. Matas o corpo das crianças, porque o temor te matou em ti o coração (...).

As crianças sem o saber, morrem por Cristo; os pais fazem luto pelos mártires. Cristo fez Suas dignas testemunhas os que ainda não podiam falar. É esta a maneira com reina Aquele que veio para reinar. É assim que o Libertador concede liberdade e o Salvador dá a salvação... Oh! grande dom da graça! De quem são os merecimentos para que triunfem assim as crianças? Ainda não falam, e já confessam Cristo. Ainda não podem entabular batalha, valendo-se dos seus próprios membros, e já conseguem a palma da vitória»[vii].


A voz dos santos

«Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Ao ouvir isto, o Rei Herodes ficou perturbado, e com ele toda a cidade de Jerusalém[viii]. Esta cena continua a repetir-se nos nossos dias. Perante a grandeza de Deus, perante a decisão – seriamente humana e profundamente cristã – de viver de modo coerente com a fé, há quem fique desconcertado, e mesmo quem se escandalize, sem nada entender. Dir-se-ia que não admitem a existência de outra realidade para além dos seus acanhados horizontes terrenos. Em face das manifestações de generosidade que observam no comportamento dos que ouviram o chamamento do Senhor, sorriem com displicência, assustam-se, ou então - em casos que parecem verdadeiramente patológicos - obstinam-se em pôr obstáculos à santa determinação tomada por uma consciência com plena liberdade.

Já várias vezes tive oportunidade de assistir a essa espécie de mobilização geral contra quem se decide a dedicar toda a sua vida ao serviço de Deus e do próximo. Há pessoas que estão convencidas que o Senhor não pode escolher quem quer que seja sem lhes pedir primeiro autorização a eles; e de que o homem não tem inteira liberdade para aceitar ou recusar o Amor. Para quem pensa desse modo, a vida sobrenatural de cada alma é algo de secundário; julgam que se lhe deve prestar atenção, mas só depois de satisfeitos os pequenos comodismos e os egoísmos humanos (…).

Considerai o caso de Herodes. É um poderoso da terra e tem oportunidade de recorrer à colaboração dos sábios: convocando todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Messias.O poder e a ciência não o levam ao conhecimento de Deus. Para o seu coração empedernido, o poder e a ciência são instrumentos da maldade: o desejo inútil de aniquilar Deus, o desprezo pela vida de um punhado de crianças inocentes»[ix].


***

«Não nos entristeçamos pela Sua morte, alegremo-nos, antes, porque receberam o prémio merecido. Quando eles morreram entre os tormentos, Raquel, ou seja, a Mãe Igreja, acompanhou-os com luto e lágrimas. Mas a Jerusalém celestial, que é Mãe de todos nós, acolheu imediatamente com sinais de alegria os que tinham sido audazes na terra e introduziu-os na glória do Seu Senhor, para que recebessem d’Ele a coroa. Por este motivo, São João afirma que "estavam diante do trono e diante do Cordeiro, revestidos com vestes brancas, com palmas nas suas mãos"[x]. Agora, coroados, estão de pé diante do trono de Deus os mesmos que antes jaziam, esmagados pelos sofrimentos, diante dos tribunais terrenos. Estão na presença do Cordeiro e não poderão ser excluídos, por motivo algum, da contemplação da Sua glória, do mesmo modo que aqui em baixo nenhum suplício pôde apartá-los do amor (...). "Por isso estão diante do trono de Deus e O servem de dia e de noite no Seu Templo"[xi].

Estar na presença de Deus, louvá-Lo sem interrupção, não é um serviço custoso, é antes algo muito grato e desejável; a expressão "de dia e de noite" não significa propriamente sucessão no tempo, indica antes de modo simbólico a perpetuidade. Nos claustros de Cristo "já não existirá a noite"[xii], mas um dia único, mais feliz do que mil dias em qualquer outro lugar. Nesse dia, Raquel já não chorará pelos seus filhos, pois Deus "enxugará as lágrimas dos seus olhos"[xiii]; mas "há gritos de júbilo e de vitória nas tendas dos justos"[xiv]».[xv]


A voz dos poetas


Desterrado parte o Menino,
e chora;
disse-lhe Sua Mãe assim,
e chora.

Calai, meu Senhor, agora.

Ouvi prantos de amargura,
pobreza, temor, tristura,
águas, ventos, noite escura,
com que vai Nossa Senhora,
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

O desterro que sofreis
é a chave com que abris
ao mundo que redimis,
a cidade em que Deus mora
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Não pode ficar nisto;
morrereis, e não tão presto;
mas a cruz do serás posto
me trespassa desde agora,
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Calai-vos, minha luz é aviso,
pois que vosso Pai quis
que sejais do paraíso
Flor que nunca se desflora,
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Oh grande Rei de minhas entranhas,
como ides pelas montanhas,
fugindo para terras estranhas
da mão matadora!
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Vós tomais esta viagem
por guardar a homenagem
que fizeste à linhagem
da gente pecadora,
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Com seu Filho já fugindo,
já cansado, já temendo,
já tremendo, já correndo
atrás da fé, sua guia,
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Chora o Menino do látego,
da água e do desabrigo
com a Mãe, que é testemunha,
nossa luz que ilumina,
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Oh os que vão caminhando,
temendo e atrás mirando
se os ia já alcançando
a gente perseguidora!

E chora;
calai, meu Senhor, agora.

À Virgem sem mancha
a verde palma se humilha,
em sinal de maravilha,
que é do céu imperadora,
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Este frio não Vos fatigue,
nem Herodes, que vos persegue,
pelo grande bem que se segue
desta vida penosa,
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Pela ira herodiana
que sofreis, Filho, de gana,
dai a glória soberana
ao que tal desterro adora
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

Estando o Menino nos seus braços,
faixazinha de retalhos,
desfizeram-se em mil pedaços
os ídolos a destempo
e chora;
calai, meu Senhor, agora.

¡Oh se soubesses, Egipto,
quanto já és bendito
pelo tesouro infinito
que hoje em ti se entesoura!

E chora;
calai, meu Senhor, agora.[xvi]

ambrósio de montesino (século XV), Cancionero.




  




[i] são leão magno, Papa século V, Homilia 3 na solenidade da Epifania.
[ii] Jo 1,29
[iii] bento xvi século XXI, Carta encíclica Spe salvi, 30-XI-2007, n. 36.
[iv] Mt 2, 13
[v] são joão crisóstomo século IV, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, 8, 3.
[vi] santo agostinho séculos IV-V, Sermão 373, 2-3.
[vii] são quodvultdeus século V, Sermão 2, sobre o Símbolo.
[viii] Mt 2, 2-3
[ix] são josemaria século XX, Cristo que passa, n. 33.
[x] Ap 7,9
[xi] Ap 7, 15
[xii] Ap 21, 25
[xiii] Ap 7, 17
[xiv] Sal 117, 15
[xv] são beda o venerável séculos VII-VIII, Homilia sobre os Santos Inocentes 1, 10.
[xvi] ambrósio de montesino século XV, Cancionero.

Tratado do verbo encarnado 129

Questão 20: Da sujeição de Cristo ao Pai

Art. 2 — Se Cristo estava sujeito a si próprio.

O segundo discute-se assim. — Parece que Cristo não estava sujeito a si próprio.

1. — Pois, diz Cirilo, numa Epístola aceita pelo Sínodo Efesino: Não era Cristo seu próprio servo nem senhor. E assim, é fátuo, e ainda mais, impio, senti-lo e dizê-lo, O que também afirma Damasceno quando diz: O mesmo ser, Cristo, não podia ser servo e senhor de si mesmo. Ora, Cristo é chamado servo do Pai enquanto lhe está sujeito. Logo, Cristo não estava sujeito a si mesmo.

2. Demais. — O servo supõe o senhor. Ora, não pode haver relação de um ser para consigo mesmo e por isso diz Hilário, que nada é semelhante ou igual a si mesmo. Logo, não podemos dizer que Cristo fosse senhor de si mesmo. E por consequência, nem que a si próprio estivesse sujeito.

3. Demais. — Assim como a alma racional e a carne constituem um só homem, assim Deus e o homem constituem um só Cristo, no dizer de Atanásio. Ora, não dizemos, de ninguém, que esteja sujeito a si mesmo ou seja servo de si mesmo ou seja maior que si mesmo, pelo facto de ter o corpo sujeito à alma. Logo, nem que Cristo fosse sujeito a si mesmo, pelo facto de ser a sua humanidade sujeita à divindade.

Mas, em contrário, Agostinho diz: A verdade mostra, deste modo, isto é, pelo qual o Pai é maior que Cristo segundo a natureza humana, que o Filho é menor que si próprio.

Demais. — Como Agostinho argumenta no mesmo lugar, o Filho de Deus recebeu a forma de servo mas de modo a não perder a forma de Deus. Ora, pela forma de Deus, comum ao Pai e ao Filho, o Pai é maior que o Filho segundo a natureza humana. Logo, também o Filho é maior que si próprio segundo a natureza humana.

Demais. — Cristo, segundo a natureza humana, é servo de Deus Pai, conforme o Evangelho. Vou para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. Ora, quem é servo do Pai é-o também do Filho, de contrário, nem tudo o que é do Pai seria do Filho. Logo, Cristo é servo de si mesmo e a si mesmo sujeito.

Como dissemos, ser senhor e servo é atributo da pessoa ou da hipóstase, segundo uma certa natureza. Quando, pois, dizemos que Cristo é Senhor ou servo de si mesmo, ou que o Verbo de Deus é Senhor do homem Cristo, podemos entender essas expressões de dois modos. - Num sentido aplicam-se em razão de uma hipóstase ou pessoa, como se uma seja a Pessoa do Verbo de Deus, como senhor, e outra a do homem, como servo, o que constitui a heresia de Nestório. Por isso, na condenação de Nestório, diz o Sínodo Efesino: Quem disser que é Deus ou Senhor o Verbo de Cristo, procedente de Deus Pai, e não o confessar simultaneamente como Deus é homem, por ter o Verbo sido feito carne, segundo as Escrituras, seja anátema. E é nesse sentido que o negam Cirilo e Damasceno, devendo-se no mesmo sentido negar que Cristo fosse menor que si próprio, ou a si próprio sujeito. — De outro modo podemos entender as referidas expressões relativamente à diversidade de naturezas numa mesma Pessoa ou hipóstase. E então podemos dizer, relativamente a uma delas, na qual convém com o Pai, que Cristo, simultaneamente com o Pai é senhor e domina, relativamente porém à outra natureza, na qual convém connosco, está sujeito e serve. E, neste sentido, Agostinho diz ser o Filho menor que si próprio.

É mister porém saber que, sendo o nome de Cristo um nome de Pessoa, como o é o nome de Filho, podemos atribuir a Cristo, essencial e absolutamente falando, o que lhe convém em razão da sua Pessoa, que é eterna, e sobretudo essas relações consideradas como mais propriamente pertencentes à pessoa ou à hipóstase. Ao passo que o que lhe convém segundo a natureza humana, devemos, antes, atribuir-lhe com restrição. Assim, podemos dizer que Cristo é, absolutamente falando, Máximo, Senhor e Chefe, mas o ser sujeito ou servo ou menor devemos atribuir-lhe com restrição, isto é, segundo a natureza humana.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Cirilo e Damasceno negam que Cristo fosse Senhor de si mesmo, se isso importar pluralidade de supostos, necessária para alguém ser senhor de si mesmo, absolutamente falando.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Absolutamente falando, é necessário que o senhor seja diferente do servo, pode porém o domínio e a servidão revestirem-se de um algum aspecto, de modo que possa alguém ser senhor e servo de si mesmo, a diversas luzes.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Por causa das partes diversas do homem, das quais uma é superior e outra inferior, diz também o Filósofo, que pode haver justiça do homem para consigo mesmo, quando o irascível e o concupiscível obedecem à razão. E assim, desse modo, pode um homem considerar-se sujeito a si mesmo e de si mesmo servidor, conforme as suas partes diversas.

As RESPOSTAS aos outros argumentos resultam claras do que ficou dito. — Assim, Agostinho afirma que o Filho é menor que si próprio, ou a si mesmo sujeito, segundo a natureza humana, não segundo a diversidade de supostos.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Temas para meditar - 373


Temor de Deus 


Bem-aventurada a alma de quem teme a Deus, pois está forte contra as tentações do diabo: Bem-aventurado o homem que persevera no temor de Deus (Prov. 28, 14) e a quem foi dado ter sempre diante dos olhos o temor de Deus. Quem teme o Senhor afasta-se do mau caminho e dirige os seus passos pela senda da virtude; o temor de Deus torna o homem precavido e vigilante para não pecar. Onde não há temor de Deus reina a vida dissoluta.



(santo agostinho, Sermão sobre a Humildade e o Temor de Deus)

Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé.

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?