16/06/2015

O que pode ver em NUNC COEPI em 16 de Junho

O que pode ver em NUNC COEPI em Jun 16
 
São Josemaria – Textos

Ascética meditada (Salvatore Canals), Intenções, Salvatore Canals

Bento XVI - Pensamentos espirituais

AMA - Comentários ao Evangelho Mt 5 43-48, Francisco (Papa) - Misericaordiae Vultus

Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Quest 29- Art 1,São Tomás de Aquino

Agenda Terça-Feira

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?

Evangelho, comentário, L. Espiritual




Tempo comum XI Semana


Evangelho: Mt 5, 43-48

43 «Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. 44 Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. 45 Deste modo sereis filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o sol sobre maus e bons, e manda a chuva sobre justos e injustos. 46 Porque, se amais somente os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também o mesmo? 4 7 E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazem também assim os próprios gentios? 48 Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.

Comentário:

Perfeito!?
Consciente do nada que sou e posso, das minhas misérias e defeitos fico-me abismado com esta recomendação do Senhor:

Perfeito!

Refreando o meu impulsivo coração que me levava, quase, a responder: ‘Senhor, não sabes o que me pedes!’, caio em mim reflectindo:

‘O Senhor não Se engana nem pode enganar, logo, se Ele assim manda, o que há a fazer é empenhar-me, a sério, para satisfazer a Sua Vontade.

O que me faltar - e será muito - Ele providenciará’.

(ama, meditação sobre Mt 5, 43-48, 2010.06.15)


Leitura espiritual



Misericordiae Vultus

BULA DE PROCLAMAÇÃO 
DO JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
FRANCISCO
BISPO DE ROMA
SERVO DOS SERVOS DE DEUS
A QUANTOS LEREM ESTA CARTA
GRAÇA, MISERICÓRDIA E PAZ


1.   Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai.

O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese.
Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré.

O Pai, «rico em misericórdia»[1], depois de ter revelado o seu nome a Moisés como «Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade» [2], não cessou de dar a conhecer, de vários modos e em muitos momentos da história, a sua natureza divina.

Na «plenitude do tempo» [3], quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor.
Quem O vê, vê o Pai [4].
Com a sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, [5] Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus.

Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz.
É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade.
Misericórdia: é o acto último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida.
Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.

3. Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai.
Foi por isso que proclamei um Jubileu Extraordinário da Misericórdia como tempo favorável para a Igreja, a fim de se tornar mais forte e eficaz o testemunho dos crentes.

O Ano Santo abrir-se-á no dia 8 de Dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição.
Esta festa litúrgica indica o modo de agir de Deus desde os primórdios da nossa história.
Depois do pecado de Adão e Eva, Deus não quis deixar a humanidade sozinha e à mercê do mal.
Por isso, pensou e quis Maria santa e imaculada no amor [6], para que Se tornasse a Mãe do Redentor do homem.
Perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão.
A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa.
Na festa da Imaculada Conceição, terei a alegria de abrir a Porta Santa.
Será então uma Porta da Misericórdia, onde qualquer pessoa que entre poderá experimentar o amor de Deus que consola, perdoa e dá esperança.

No domingo seguinte, o Terceiro Domingo de Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de São João de Latrão.
E em seguida será aberta a Porta Santa nas outras Basílicas Papais. Estabeleço que no mesmo domingo, em cada Igreja particular – na Catedral, que é a Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral ou então numa Igreja de significado especial – se abra igualmente, durante todo o Ano Santo, uma Porta da Misericórdia.
Por opção do Ordinário, a mesma poderá ser aberta também nos Santuários, meta de muitos peregrinos que frequentemente, nestes lugares sagrados, se sentem tocados no coração pela graça e encontram o caminho da conversão.
Assim, cada Igreja particular estará directamente envolvida na vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça e renovação espiritual.
Portanto o Jubileu será celebrado, quer em Roma quer nas Igrejas particulares, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira.

4. Escolhi a data de 8 de Dezembro, porque é cheia de significado na história recente da Igreja.
Com efeito, abrirei a Porta Santa no cinquentenário da conclusão do Concílio Ecuménico Vaticano II.
A Igreja sente a necessidade de manter vivo aquele acontecimento. Começava então, para ela, um percurso novo da sua história.
Os Padres, reunidos no Concílio, tinham sentido forte, como um verdadeiro sopro do Espírito, a exigência de falar de Deus aos homens do seu tempo de modo mais compreensível.
Derrubadas as muralhas que, por demasiado tempo, tinham encerrado a Igreja numa cidadela privilegiada, chegara o tempo de anunciar o Evangelho de maneira nova.
Uma nova etapa na evangelização de sempre.
Um novo compromisso para todos os cristãos de testemunharem, com mais entusiasmo e convicção, a sua fé. A Igreja sentia a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor do Pai.

Voltam à mente aquelas palavras, cheias de significado, que São João XXIII pronunciou na abertura do Concílio para indicar a senda a seguir:
«Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade. (…)
A Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecuménico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade com os filhos dela separados»[7]. 
E, no mesmo horizonte, havia de colocar-se o Beato Paulo VI, que assim falou na conclusão do Concílio:
«Desejamos notar que a religião do nosso Concílio foi, antes de mais, a caridade. (...)
Aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se orientou o nosso Concílio. (…)
Uma corrente de interesse e admiração saiu do Concílio sobre o mundo actual.
Rejeitaram-se os erros, como a própria caridade e verdade exigiam, mas os homens, salvaguardado sempre o preceito do respeito e do amor, foram apenas advertidos do erro.
Assim se fez, para que, em vez de diagnósticos desalentadores, se dessem remédios cheios de esperança; para que o Concílio falasse ao mundo actual não com presságios funestos mas com mensagens de esperança e palavras de confiança.
Não só respeitou mas também honrou os valores humanos, apoiou todas as suas iniciativas e, depois de os purificar, aprovou todos os seus esforços. (…)
Uma outra coisa, julgamos digna de consideração.
Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas a isto: servir o homem, em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades»[8].

Com estes sentimentos de gratidão pelo que a Igreja recebeu e de responsabilidade quanto à tarefa que nos espera, atravessaremos a Porta Santa com plena confiança de ser acompanhados pela força do Senhor Ressuscitado, que continua a sustentar a nossa peregrinação.
O Espírito Santo, que conduz os passos dos crentes de forma a cooperarem para a obra de salvação realizada por Cristo, seja guia e apoio do povo de Deus a fim de o ajudar a contemplar o rosto da misericórdia [9].

5. O Ano Jubilar terminará na solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, 20 de Novembro de 2016.
Naquele dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, antes de tudo, sentimentos de gratidão e agradecimento à Santíssima Trindade por nos ter concedido este tempo extraordinário de graça.
Confiaremos a vida da Igreja, a humanidade inteira e o universo imenso à Realeza de Cristo, para que derrame a sua misericórdia, como o orvalho da manhã, para a construção duma história fecunda com o compromisso de todos no futuro próximo.
Quanto desejo que os anos futuros sejam permeados de misericórdia para ir ao encontro de todas as pessoas levando-lhes a bondade e a ternura de Deus!
A todos, crentes e afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós.

6. «É próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua omnipotência»[10]. 
Estas palavras de São Tomás de Aquino mostram como a misericórdia divina não seja, de modo algum, um sinal de fraqueza, mas antes a qualidade da omnipotência de Deus.
É por isso que a liturgia, numa das suas colectas mais antigas, convida a rezar assim:
«Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis…»[11] 
Deus permanecerá para sempre na história da humanidade como Aquele que está presente, Aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso.

«Paciente e misericordioso» é o binómio que aparece, frequentemente, no Antigo Testamento para descrever a natureza de Deus. O facto de Ele ser misericordioso encontra um reflexo concreto em muitas acções da história da salvação, onde a sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição.
Os Salmos, em particular, fazem sobressair esta grandeza do agir divino:
«É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e ternura»[12].
E outro Salmo atesta, de forma ainda mais explícita, os sinais concretos da misericórdia:
«O Senhor liberta os prisioneiros. O Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores»[13].
E, para terminar, aqui estão outras expressões do Salmista:
«[O Senhor] cura os de coração atribulado e trata-lhes as feridas. (...) O Senhor ampara os humildes, mas abate os malfeitores até ao chão»[14].

Em suma, a misericórdia de Deus não é uma ideia abstracta mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho até ao mais íntimo das suas vísceras.
É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor «visceral». Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão.

7. «Eterna é a sua misericórdia»: tal é o refrão que aparece em cada versículo do Salmo 136, ao mesmo tempo que se narra a história da revelação de Deus.
Em virtude da misericórdia, todos os acontecimentos do Antigo Testamento aparecem cheios dum valor salvífico profundo.
A misericórdia torna a história de Deus com Israel uma história da salvação.
O facto de repetir continuamente «eterna é a sua misericórdia», como faz o Salmo, parece querer romper o círculo do espaço e do tempo para inserir tudo no mistério eterno do amor. É como se se quisesse dizer que o homem, não só na história mas também pela eternidade, estará sempre sob o olhar misericordioso do Pai. Não é por acaso que o povo de Israel tenha querido inserir este Salmo – o «grande hallel», como lhe chamam – nas festas litúrgicas mais importantes.

Antes da Paixão, Jesus rezou ao Pai com este Salmo da misericórdia. Assim o atesta o evangelista Mateus quando afirma que «depois de cantarem os salmos»[15], Jesus e os discípulos saíram para o Monte das Oliveiras.
Enquanto instituía a Eucaristia, como memorial perpétuo d’Ele e da sua Páscoa, Jesus colocava simbolicamente este acto supremo da Revelação sob a luz da misericórdia.
No mesmo horizonte da misericórdia, Ele viveu a sua paixão e morte, ciente do grande mistério de amor que se realizaria na cruz.
O facto de saber que o próprio Jesus rezou com este Salmo torna-o, para nós cristãos, ainda mais importante e compromete-nos a assumir o refrão na nossa oração de louvor diária: «eterna é a sua misericórdia».

8. Com o olhar fixo em Jesus e no seu rosto misericordioso, podemos individuar o amor da Santíssima Trindade.
A missão, que Jesus recebeu do Pai, foi a de revelar o mistério do amor divino na sua plenitude.
«Deus é amor»[16]: afirma-o, pela primeira e única vez em toda a Escritura, o evangelista João.
Agora este amor tornou-se visível e palpável em toda a vida de Jesus.

(cont)
Revisão da versão portuguesa por ama)





[1] Ef 2, 4,
[2] Ex34, 6
[3] Gl 4, 4
[4] cf. Jo 14, 9
[5] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 4.
[6] cf. Ef 1, 4
[7] Discurso de abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, Gaudet Mater Ecclesia 11 de Outubro de 1962, 2-3.
[9] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 16; Const. past. Gaudium et spes, 15.
[10] Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-II, q. 30, a. 4.
[11] Domingo XXVI do Tempo Comum. Esta colecta já aparece, no séc. VIII, entre os textos eucológios do Sacramentário Gelasiano 1198.
[12] 103/102, 3-4
[13] 146/145, 7-9
[14] 147/146, 3.6
[15] 26, 30
[16] 1 Jo 4, 8.16

Tratado da vida de Cristo 11

Questão 29: Dos esponsórios da Mãe de Deus

Em seguida devemos tratar dos esponsórios da Mãe de Deus; e nesta questão discutem-se dois artigos:


Art. 1 — Se Cristo devia nascer de uma virgem desposada.
Art. 2 — Se entre Maria e José houve verdadeiro matrimónio.

Art. 1 — Se Cristo devia nascer de uma virgem desposada.

 O primeiro discute-se assim. — Parece que Cristo não devia nascer de uma virgem desposada.


1. — Pois, os esponsórios ordenam-se à cópula carnal. Ora, a Mãe de Deus não queria jamais usar da cópula carnal, que iria contra a virgindade do seu coração. Logo, não devia ser desposada.

2. Demais. — Que Cristo nascesse de uma virgem foi milagre. Donde o dizer Agostinho: Foi ao poder mesmo de Deus que aprouve a fazer saírem os membros de uma criança através do seio virginal de sua Mãe inviolada, como lhe aprouverá mais tarde fazer entrar os membros de um homem feito através de portas fechadas. Se se procura aqui uma razão, desvanece-se o milagre; se se pede um exemplo, nada mais tem de singular. Ora, os milagres feitos para confirmar a fé devem ser manifestos. Logo, como os esponsórios obumbraram esse milagre, parece não foi conveniente que Cristo nascesse de uma desposada.

3. Demais. — Inácio Mártir, como refere Jerónimo, assinalou como causa aos esponsórios da Mãe de Deus, que o seu parto fosse oculto ao demónio, de modo a ficar este pensando que ele foi gerado, não por uma virgem, mas de uma casada. Quer porque o diabo com a perspicácia dos seus sentidos conhece o que se realiza materialmente. Quer também porque, depois, por muitos sinais evidentes, os demónios de certo modo conheceram a Cristo. Donde o dizer o Evangelho, que um homem possesso do espírito imundo gritava dizendo: Que tens tu connosco, Jesus Nazareno? Vieste a perder-nos? Bem sei quem és: que és o Santo de Deus. Logo, parece que não foi conveniente que a Mãe de Deus fosse desposada.

4. Demais. — Jerónimo assinala outra razão: a fim de que a Mãe de Deus não fosse lapidada pelos Judeus como adúltera. Ora, essa razão nada vale; pois, se não fosse desposada não podia ser condenada como adúltera. Logo, parece não era racional que Cristo tivesse nascido de uma desposada.

Mas, em contrário, o Evangelho: Estando já Maria, sua mãe, desposada com José. E noutro lugar: Foi enviado o anjo Gabriel à Virgem Maria desposada com um varão que se chamava José.

Era conveniente que Cristo nascesse de uma virgem casada: quer por causa dele próprio, quer por causa da mãe, quer também por causa de nós.

Por causa do próprio Cristo, por quatro razões. — Primeiro, para que não fosse rejeitado pelos infiéis, como ilegítimo de nascimento. Donde o dizer Ambrósio: Que se poderia censurar aos Judeus e a Herodes se tivessem perseguido a quem nasceu de um adultério? — Segundo, para que, ao modo acostumado, fosse descrita a sua genealogia pela linha paterna. Por isso diz Ambrósio: Quem veio ao século deve ser descrito ao modo do século. Pois, no Senado e nas outras assembleias, procura-se um varão a quem caibam as honras devidas a sua família. E o mesmo costume testemunham as Escrituras, que sempre buscam a origem viril. — Terceiro, em defesa do menino nascido: para o diabo não suscitar mais violentas ciladas contra ele. Por isso diz Inácio, que a Virgem foi desposada para que o seu parto ficasse oculto ao diabo. — Quarto, para que fosse se educado por José. Por isso este foi chamado seu pai, quase o educador.

Foi também conveniente relativamente à Virgem. — Primeiro, porque assim ficou imune da pena, isto é, para que não fosse lapidada pelos Judeus, como adúltera. — Segundo, para que assim ficasse livre da infâmia. Donde o dizer Ambrósio: Foi desposada para não ser marcada com a infâmia de uma virgindade profanada, quando a gravidez pudesse ser sinal da corrupção. — Terceiro, para que José lhe prestasse o seu ministério, como diz Jerónimo.

Também foi conveniente relativamente a nós. — Primeiro, porque pelo testemunho de José ficou comprovado o nascimento de Cristo, de uma virgem. — Donde o dizer Ambrósio: O testemunho do marido é o melhor testemunho do pudor da mulher; pois se não tivesse conhecido o mistério, o marido é quem teria maior direito a se afligir com a injúria e vingar o opróbrio. — Segundo, porque as próprias palavras da Virgem se tornavam mais dignas de crédito quando afirmava a sua virgindade. Por isso diz Ambrósio: A fé nas palavras de Maria é mais firme, que remove as causas de mentira. Se tivesse ficado grávida, sem ser casada, parecia querer, mentirosamente, esconder a sua culpa. Ao passo que casada, nenhum motivo tinha para mentir, pois, o prémio do casamento e a glória das núpcias é, para as mulheres, o parto. E essas duas razões concernem à firmeza da nossa fé. — Terceiro, para que não tivessem desculpa as virgens que, por falta de cautela, não evitam a infâmia. Por isso, diz Ambrósio: Não convinha deixar às virgens, que vivem com má reputação, pudessem velar-se com a escusa de também a Mãe do Senhor ter tido uma semelhante reputação. — Quarto, porque os esponsórios da Virgem são o símbolo da Igreja universal, que, sendo virgem, desposou contudo um esposo, o Cristo, como diz Agostinho. — Pode-se ainda aduzir uma quinta razão, a saber, que a Mãe do Senhor foi casada e virgem, porque na sua pessoa, é honrada tanto a virgindade como o matrimónio, contra os heréticos que detraem aquela e este.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Devemos crer que foi por uma familiar inspiração do Espírito Santo que a Santa Virgem. Mãe de Deus quis ser desposada. Confiando no divino auxílio, que nunca haveria de usar da cópula carnal; contudo, cometeu essa matéria ao divino arbítrio. Por isso, nenhum detrimento sofreu na sua virgindade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz Ambrósio, o Senhor preferiu que certos duvidassem antes da sua origem que do pudor de sua mãe. Pois, sabia quão delicado é o pudor de uma virgem e de quanto resguardo precisa a sua reputação; nem pensava que a fé na sua origem precisasse defender-se em detrimento de sua mãe. — Devemos porém saber que em certos milagres de Deus devemos ter fé, como o milagre do parto virginal, da ressurreição do Senhor e também o do Sacramento do Altar. Por isso o Senhor quis que esses mistérios fossem mais ocultos, para que fosse mais meritória a fé neles. — Mas, outros milagres servem para comprovação da fé. E esses devem ser mais manifestos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz Agostinho, o diabo pode muitas coisas em virtude da sua natureza, que contudo o poder divino lhe impede. E, assim, podemos dizer que em virtude da sua natureza, o diabo podia saber que a Mãe de Deus não se tinha corrompido, mas era virgem; mas Deus proibiu-lhe conhecer o modo do parto divino. — Nem obsta que depois o diabo de certo modo conhecesse, que esse parto fora o do Filho de Deus; porque já era o tempo de Cristo manifestar o seu poder contra ele e sofrer a perseguição por ele concitada. Mas, durante a infância, era preciso impedir a malícia do diabo; a fim de que não o perseguisse mais cruelmente, numa idade em que Cristo não determinara que houvesse de sofrer nem de manifestar o seu poder, mas em que se mostrava semelhante a todas as mais crianças. Por isso o Papa Leão diz: Os Magos viram a Jesus pequeno de corpo, necessitado do socorro alheio, incapaz de falar e em nada diferente do comum à infância humana. - Ambrósio porém parece ter em conta sobretudo os adeptos do diabo. Pois, depois de ter proposto a razão, do engano do príncipe do mundo, acrescenta: Contudo, esse mistério enganou sobretudo os príncipes deste mundo. Pois, embora a malícia dos demónios também facilmente depreenda as coisas ocultas, contudo as que se ocupam com as vaidades do século não podem saber as coisas divinas.

RESPOSTA À QUARTA. — Pela condenação de adultério eram lapidadas não só as já desposadas ou casadas, mas também as que eram conservadas como virgens na casa paterna para um dia casarem. Por isso diz Escritura: Se a moça não se achou virgem, os habitantes da cidade a apedrejarão e morrerá; porque cometeu um crime detestável em Israel, tendo caído em fornicação em casa de seu pai. — Ou podemos dizer, segundo alguns, que a Santa Virgem era da estirpe ou da parentela de Aarão, sendo por isso cognata de Isabel, como diz o Evangelho. Ora, uma virgem de raça sacerdotal se cometia estupro era condenada à morte, como se lê na Escritura: Se a filha de um sacerdote apanhada em estupro e desonrar o nome de seu pai, será entregue às chamas. - Mas alguns referem as palavras de Jerónimo ao apedrejamento por infâmia.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Bento VXI – Pensamentos espirituais 55

Testemunho



A fé não se reduz a um sentimento privado, porventura a esconder quando se torna incómodo, mas implica a coerência e o testemunho público a favor do Homem, da justiça e da verdade.

Angelus, (9.Out.05)
(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

Temas para meditar - 454

Intenções 



Deus Nosso Senhor está presente em todas as nossas intenções.

Que liberto estará o nosso coração de todo o impedimento terreno, que limpo será o nosso olhar e que sobrenatural o nosso modo de proceder quando Jesus Cristo reine de verdade no mundo da nossa intimidade e presida a todas as nossas intenções.



(salvatore canals, Ascética Meditada, Col. Éfeso, 4ª Ed., nr. 143)