01/12/2015

Índice de publicações em 01 DEZ

Índice de publicações em Dez 01

São Josemaria – Textos

AMA - Comentários ao Evangelho Lc 10 21-24, Leit. Espiritual (Resumos da Fé cristã - Tema 35)

Doutrina - Dom de línguas

Advento, São Josemaria - Textos

Bento XVI - Pensamentos espirituais

AT - Salmos – 31

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Suma Teológica - Quest 37 Art. 3


Agenda Terça-Feira

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Doutrina - 6

O que significa falar em línguas?

…/10

Em outras palavras, falar em línguas entre os cristãos servia originalmente para edificar os ouvintes com informações sobre o propósito de Deus, em relação com Jesus Cristo. Em harmonia com isto, o apóstolo Paulo orientou que tudo que se falasse em línguas fosse traduzido, "para que a Igreja receba edificação". [i]
Mas, o falar em línguas actualmente, se é que possa ser traduzido, não raro significa simplesmente "Deus é grande", "Deus é bom", ou expressões semelhantes.
Ocasionalmente, até mesmo linguagem suja talvez ocorra. 
D. A. Hayes, em seu livro, The Gift of Tongues, (O Dom de Línguas), relata tal experiência:

"Em Los Angeles, não faz muito tempo, uma senhora tinha o dom de línguas, e um chinês de boa reputação que a ouvia disse que ela falava em seu dialecto chinês. Quando se lhe pediu que interpretasse o que ela disse, recusou-se a fazê-lo, afirmando que a linguagem era a mais baixa possível."

Por certo, Deus não poderia ser responsável pela linguagem "baixa". O que, então, acha-se por trás do falar em línguas que não se ajusta ao padrão bíblico? É digno de nota que o apóstolo Paulo falou duma vindoura "apostasia" do verdadeiro cristianismo e o aparecimento duma classe chamada "o homem que é contra a lei", cuja presença seria "segundo a operação de Satanás, com toda obra poderosa, e sinais e portentos mentirosos, e com todo engano injusto para com os que estão perecendo". [ii] Poderia o falar em línguas ser parte dum "engano injusto" promovido por Satanás?

(cont)




[i] 1 Cor. 14, 5.27. 28
[ii] 2 Tes. 2, 3. 9.10

O Advento

Resultado de imagem para advento 2015S. Josemaria dizia que cada Natal “tem de ser para nós um novo e especial encontro com Deus, deixando que a sua luz a sua graça entrem até ao fundo da alma”.

Chegou o Advento. Que bom tempo para remoçar o desejo, o anelo, as ânsias sinceras pela vinda de Cristo!, pela sua vinda quotidiana à tua alma na Eucaristia! Ecce veniet!, está a chegar!, anima-nos a Igreja. (Forja, 548)

Olhai e levantai as vossas cabeças porque está próxima a vossa redenção [i], lemos no Evangelho.
O tempo do Advento é o tempo da esperança.
Todo o panorama da nossa vocação cristã, a unidade de vida que tem como nervo a presença de Deus, Nosso Pai, pode e deve ser uma realidade diária. (Cristo que passa, 11, 4)

Procura a união com Deus e enche-te de esperança – virtude segura! –, porque Jesus te iluminará, mesmo na noite mais escura, com a luz da sua misericórdia. (Forja, 293)

Jesus Christus, Deus Homo, Jesus Cristo, Deus-Homem!
Eis uma magnalia Dei [ii], uma das maravilhas de Deus em que temos de meditar e que temos de agradecer a este Senhor que veio trazer a paz na terra aos homens de boa vontade [iii], a todos os homens que querem unir a sua vontade à Vontade boa de Deus.
Não só aos ricos, nem só aos pobres!
A todos os homens, a todos os irmãos!
Pois irmãos somos todos em Jesus; filhos de Deus, irmãos de Cristo. Sua Mãe é nossa Mãe.

É preciso ver o Menino, nosso Amor, no seu berço.
Olhar para Ele, sabendo que estamos perante um mistério. Precisamos de aceitar o mistério pela fé, aprofundar o seu conteúdo. Para isso necessitamos das disposições humildes da alma cristã: não pretender reduzir a grandeza de Deus aos nossos pobres conceitos, às nossas explicações humanas, mas compreender que esse mistério, na sua obscuridade, é uma luz que guia a vida dos homens. (Cristo que passa, 13)




[i] Lc 21, 28
[ii] Act. II, 11
[iii] Lc 2, 14

Antigo testamento / Salmos

Salmo 31


1 Em ti, Senhor, me refugio; nunca permitas que eu seja humilhado; livra-me pela tua justiça.
2 Inclina os teus ouvidos para mim, vem livrar-me depressa! Sê minha rocha de refúgio, uma fortaleza poderosa para me salvar.
3 Sim, tu és a minha rocha e a minha fortaleza; por amor do teu nome, conduz-me e guia-me.
4 Tira-me da armadilha que me prepararam, pois tu és o meu refúgio.
5 Nas tuas mãos entrego o meu espírito; resgata-me, Senhor, Deus da verdade.
6 Odeio aqueles que se apegam a ídolos inúteis; eu, porém, confio no Senhor.
7 Exultarei com grande alegria por teu amor, pois viste a minha aflição e conheceste a angústia da minha alma.
8 Não me entregaste nas mãos dos meus inimigos; deste-me segurança e liberdade.
9 Misericórdia, Senhor! Estou em desespero! A tristeza consome-me a vista, o vigor e o apetite.
10 A minha vida é consumida pela angústia, e os meus anos pelo gemido; a minha aflição esgota as minhas forças, e os meus ossos enfraquecem.
11 Por causa de todos os meus adversários, sou motivo de ultraje para os meus vizinhos e de medo para os meus amigos; os que me veem na rua fogem de mim.
12 Sou esquecido por eles como se estivesse morto; tornei-me como um pote quebrado.
13 Ouço muitos cochicharem a meu respeito; o pavor me domina, pois conspiram contra mim, tramando tirar-me a vida.
14 Mas eu confio em ti, Senhor, e digo: Tu és o meu Deus.
15 O meu futuro está nas tuas mãos; livra-me dos meus inimigos e daqueles que me perseguem.
16 Faz o teu rosto resplandecer sobre o teu servo; salva-me pelo teu amor leal.
17 Não permitas que eu seja humilhado, Senhor, pois tenho clamado a ti; mas que os ímpios sejam humilhados, e calados fiquem no Sheol.
18 Sejam emudecidos os seus lábios mentirosos, pois com arrogância e desprezo humilham os justos.
19 Como é grande a tua bondade, que reservaste para aqueles que te temem, e que, à vista dos homens, concedes àqueles que se refugiam em ti!
20 No abrigo da tua presença os escondes das intrigas dos homens; na tua habitação os proteges das línguas acusadoras.
21 Bendito seja o Senhor, pois mostrou o seu maravilhoso amor para comigo quando eu estava numa cidade cercada.
22 Alarmado, eu disse: Fui excluído da tua presença! Contudo, ouviste as minhas súplicas quando clamei a ti por socorro.
23 Amem o Senhor, todos vocês, os seus santos! O Senhor preserva os fiéis, mas aos arrogantes dá o que merecem.
24 Sejam fortes e corajosos, todos vocês que esperam no Senhor!


Tratado da vida de Cristo 55

Questão 37: Da circuncisão de Cristo

Art. 3 — Se Cristo foi convenientemente oferecido no Templo.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Cristo não foi convenientemente oferecido no Templo.

1. — Pois, diz a Escritura: Consagra-me todos os primogénitos, que abrem o útero de sua mãe entre os filhos de Israel. Ora, Cristo veio ao mundo sem detrimento da virgindade de sua mãe, que portanto deu à luz por um parto miraculoso. Logo, em virtude da lei referida, Cristo não devia ser oferecido no Templo.

2. Demais. — O que está sempre presente a alguém não lhe pode ser apresentado. Ora, a humanidade de Cristo era por excelência sempre presente a Deus, como sempre unida com ela pela unidade de pessoa. Logo, não era necessário que Cristo fosse apresentado ao Senhor.

3. Demais. — Cristo é a hóstia principal a quem se referem todas as hóstias da lei antiga, como a figura se refere à verdade. Ora, uma hóstia não deve ser referida a outra. Logo, não foi conveniente que por Cristo se oferecesse outra hóstia.

4. Demais. — Entre as vítimas legais a principal era o cordeiro, que constituía um sacrifício perpétuo. Por isso Cristo é também chamado Cordeiro no Evangelho: Eis o Cordeiro de Deus. Logo, era mais conveniente fosse oferecido por Cristo um cordeiro do que um par de rolas ou dois pombinhos.

Mas, em contrário, a autoridade da Escritura, que atesta o facto.

Como se disse, Cristo quis submeter-se à lei, a fim de remir aqueles que estavam debaixo da lei; e para que a justificação da lei se cumprisse espiritualmente nos seus membros. Ora, sobre os filhos recém-nascidos há na lei um duplo preceito. — Um geral, abrangendo a todos, pelo qual, depois de completos os dias da purificação da mãe, fosse oferecido um sacrifício pelo filho, ou pela filha, como se lê na Escritura. E esse sacrifício era em expiação do pecado, no qual a prole foi concebida e nascida; e também para a consagração do recém-nascido, que era então pela primeira vez apresentado no Templo. Por isso, fazia-se uma oferenda em holocausto e outra pelo pecado. — O outro preceito da lei era especial, sobre os primogénitos, tanto dos homens como dos animais. Pois, o Senhor se reservou todos os primogénitos em Israel, porque, para a libertação do povo de Israel matara os primogénitos do Egipto, desde os homens até aos animais, excetuados os primogénitos dos filhos de Israel. E esse mandamento lê-se na Escritura. O que também prefigurava a Cristo, que é o primogénito entre muitos irmãos. — E como Cristo, nascida de uma mulher, era quase primogénito, e quis sujeitar-se à lei, o evangelista Lucas mostra-nos que esses dois preceitos foram observados a respeito dele. Primeiro, o atinente aos primogénitos, quando diz: Levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor; segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo filho macho que for primogénito será consagrado ao Senhor. — Segundo o que se aplica em geral a todos, quando diz: E para oferecerem em sacrifício, conforme ao que está mandado na lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Diz Gregório Nisseno: Esse preceito da lei cumpriu-se, de maneira singular e diferentemente do que o cumpriam os outros, só com Deus encarnado. Pois, só ele, concebido de um modo inefável e dado à luz de maneira incompreensível, saiu do ventre virginal de sua mãe, que antes não conhecera a relação conjugal e conservou inviolavelmente depois do parto os atributos da sua virgindade. E assim, a expressão da Escritura — adaperiens vulvam — significa que o parto virginal de Maria foi o primeiro e único. E por isso também especialmente a Escritura diz — masculino: porque não teve nenhum contágio da culpa da mulher. E ainda, singularmente santo: porque pela singularidade do seu parto imaculado não sofreu qualquer contágio da corrupção terrena.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Assim como o Filho de Deus não se fez homem nem foi circuncidado na sua carne por causa de si mesmo, mas para nos divinizar pela graça e nos circuncidar espiritualmente, assim por nossa causa foi oferecido ao Senhor, para aprendermos a nos oferecermos nós mesmos a Deus. E isso se fez depois da sua circuncisão, para mostrar que ninguém, se não se circuncidar aos vícios, é digno de ver a Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Aquele que era a verdadeira vítima quis que por si se oferecesse as hóstias da lei, para ficar a figura unida à realidade e por esta ficar demonstrada aquela. Contra aqueles que negam ter Cristo pregado no Evangelho o Deus da lei: Pois, como diz Orígenes, não devemos pensar que o Deus bom sujeitou o seu Filho a lei do inimigo, a qual não tivesse ele mesmo jeito.

RESPOSTA À QUARTA. — A Escritura ordena que quem pudesse oferecesse, por filho ou por filha, simultaneamente com um cordeiro um pombinho ou uma rola; os que porém não tivessem nas suas posses nem pudessem oferecer um cordeiro, oferecessem duas rolas ou dois pombinhos. Porque, como diz o Apóstolo, o Senhor que, sendo rico, se fez pobre por nosso amor, a fim de que nós fôssemos ricos pela sua pobreza, quis que se lhe fizesse a oferta dos pobres; assim como, na sua natividade foi envolto em panos e reclinado no presépio. - Nem por isso, contudo essas aves deixavam de se adaptar ao que figuravam. Assim, a rola, ave gárrula, significa a pregação e a confissão da fé; mas por ser casta, exprime a castidade; e enfim, por ser solitária, é o símbolo da contemplação. Por seu lado, a pomba, mansa e simples, figura por isso a mansidão e a simplicidade. É também ave gregária, símbolo da vida activa. Donde, tais vítimas figuravam a perfeição de Cristo e a dos seus membros. Pois, ambas essas aves, pelo costume que têm de gemer, simbolizam as lágrimas dos santos nesta vida; mas a rola, como solitária, significa as lágrimas da oração; ao passo que a pomba, que é gregária, exprime as orações públicas da Igreja. - E tanto uma como outra eram oferecidas em dobro, para significar que a santidade deve ser, não só do corpo, mas também da alma.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Fome e sede dele e da Sua doutrina

Sem a vida interior, sem formação, não há verdadeiro apostolado nem obras fecundas: o trabalho é precário e, inclusivamente, fictício. Que responsabilidade, portanto, a dos filhos de Deus! Temos de ter fome e sede dele e da sua doutrina. (Forja, 892)

Às vezes, com a sua actuação, alguns cristãos não dão ao preceito da caridade o valor máximo que tem. Cristo, rodeado pelos seus, naquele maravilhoso sermão final, dizia à maneira de testamento: "Mandatum novum do vobis, ut diligatis invicem", dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros.

E ainda insistiu: "In hoc cognoscent omnes quia discipuli mei estis", nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.

Oxalá nos decidamos a viver como Ele quer! (Forja, 889)

Se faltar a piedade – esse laço que nos ata a Deus fortemente e, por Ele, aos outros, porque neles vemos Cristo –, é inevitável a desunião, com a perda de todo o espírito cristão. (Forja, 890)

Agradece com todo o coração a Nosso Senhor as potências admiráveis... e terríveis, da inteligência e da vontade com que quis criar-te. Admiráveis, porque te fazem semelhante a Ele; terríveis, porque há homens que as põem contra o seu Criador.


A mim, como síntese do nosso agradecimento de filhos de Deus, ocorre-me dizer a este Pai-nosso, agora e sempre: "Serviam!" – Servir-te-ei! (Forja, 891)

Bento XVI – Pensamentos espirituais - 80

Limites do secularismo



O crente sabe bem que o Evangelho tem uma sintonia intrínseca com os valores inscritos na natureza humana.
A imagem de Deus está tão profundamente gravada no espírito humano que dificilmente se pode fazer calar a voz da consciência.

Discurso à Conferência Internacional sobre o Genoma Humano, (19.Nov.05)

 (in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006) 

Evangelho, comentário, L. espiritual



Tempo de Advento


Evangelho: Lc 10, 21-24

21 Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no Espírito Santo, e disse: «Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos simples. Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 22 Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar». 23 Depois, tendo-Se voltado para os discípulos, disse: «Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. 24 Porque Eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não o viram, ouvir o que vós ouvis e não o ouviram».

Comentário:

Jesus Cristo confirma o que nós sabemos pela Fé: Ele é o Dono e Senhor de todas as coisas.
Um Senhor assim, que Se empenha na salvação e redenção definitivas dos Seus servos que somos todos os homens, merece e tem absoluto direito à nossa confiança, esperança e cumprirmos estrito dever de fazermos, em tudo, a Sua Vontade.
Esta Vontade é o penhor da nossa salvação, e fazê-la é a garantia de que a conseguiremos.
(AMA, comentário sobre Lc 10, 21-24, 2014.12.03)


Leitura espiritual


Resumos da Fé cristã

TEMA 35

O sexto mandamento do Decálogo

Deus é amor, e o seu amor é fecundo. Deus quis que a pessoa humana participasse desta fecundidade, associando a geração a um acto específico de amor entre o homem e a mulher.

1. Criou-os homem e mulher

A ordem de Deus ao homem e à mulher para «crescer e multiplicar-se», há-de ler-se na perspectiva da criação «à imagem e semelhança» da Trindade [i].
Isto faz com que a geração humana, no contexto mais vasto da sexualidade, não seja algo «puramente biológico», mas diga «respeito à pessoa humana como tal, no que ela tem de mais íntimo» [ii]; logo, é essencialmente diferente da própria vida animal.

«Deus é amor» [iii] e o seu amor é fecundo.
Nesta fecundidade, quis Deus que a pessoa humana participasse, associando à geração de cada nova pessoa um acto específico de amor entre um homem e uma mulher [iv].
Por isso, «o sexo não é uma realidade vergonhosa; é uma dádiva divina que se orienta limpidamente para a vida, para o amor, para a fecundidade» [v].

Sendo o homem um indivíduo composto de corpo e alma, o acto amoroso generativo exige a participação de todas as dimensões da pessoa: a corporeidade, os afectos, o espírito [vi].

O pecado original quebrou a harmonia do homem consigo mesmo e com os outros.
Esta fractura teve particular repercussão na capacidade da pessoa viver racionalmente a sexualidade.
Por um lado, obscurecendo na inteligência o nexo inseparável que existe entre as dimensões afectivas e generativas da união conjugal; por outro lado, dificultando o domínio que a vontade exerce sobre os dinamismos afectivos e corporais da sexualidade.

A necessidade de purificação e maturidade que a sexualidade exige nestas condições não significa de modo algum a sua rejeição, ou uma consideração negativa deste dom que o homem e a mulher receberam de Deus.
Significa, isso sim, a necessidade de que «o amor – o eros – possa amadurecer até à sua verdadeira grandeza» [vii].
Nesta tarefa joga um papel fundamental a virtude da castidade.

2. A vocação para a castidade

O Catecismo da Doutrina Católica fala de vocação para a castidade, porque esta virtude é condição e parte essencial da vocação para o amor, para o dom de si, ao qual Deus chama cada pessoa.
A castidade torna possível o amor na corporeidade e através dela [viii].
De algum modo, pode-se dizer que a castidade é a virtude que possibilita e conduz a pessoa humana na arte de viver bem, na benevolência e na paz interior com os outros homens e mulheres e consigo mesmo; visto que a sexualidade humana atravessa todas as potências, do mais físico e material ao mais espiritual, colorindo as diversas faculdades no masculino e feminino.

A virtude da castidade não é simplesmente um remédio contra a desordem que o pecado origina na esfera sexual, mas uma afirmação gozosa, porque permite amar a Deus e, através d’Ele, os outros homens, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças  [ix], [x].

«A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardeal da temperança» [xi] e «significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual» [xii].

É muito importante na formação das pessoas, sobretudo dos jovens, falar da castidade, explicando a profunda e estreita relação entre a capacidade de amar, a sexualidade e a procriação.
Se não for assim, pode parecer que se trata duma virtude negativa, já que boa parte da luta por viver a castidade caracteriza-se pela tentativa de dominar as paixões, que nalgumas circunstâncias se orientam para bens particulares que não são ordenáveis racionalmente em função do bem da pessoa considerada como um todo [xiii].

No estado actual, o homem não pode viver a lei moral, e por conseguinte a castidade, sem a ajuda da graça.
Isto não significa a impossibilidade da virtude humana ser incapaz de conseguir um certo controlo das paixões nesta área, mas sim a constatação da magnitude da ferida produzida pelo pecado, a qual exige o auxílio divino para a perfeita reintegração da pessoa [xiv].

3. A educação da castidade

A castidade exige o domínio da concupiscência, que é parte integrante do domínio de si. Este domínio é uma tarefa que dura a vida inteira e supõe esforço reiterado que pode ser especialmente intenso nalgumas épocas. A castidade deve crescer sempre, com a graça de Deus e a luta ascética [xv], [xvi].

«A caridade é a forma de todas as virtudes. Sob a sua influência, a castidade aparece como uma escola de doação da pessoa. O domínio de si ordena-se para o dom de si» [xvii].

A educação da castidade é muito mais do que alguns denominam “educação sexual”, que se ocupa fundamentalmente de proporcionar informação sobre os aspectos fisiológicos da reprodução humana e os métodos contraceptivos.
A verdadeira educação da castidade não se limita a informar sobre aspectos biológicos, mas ajuda a reflectir sobre os valores pessoais e morais que entram em jogo em tudo o que se relaciona com o nascimento da vida humana e a maturidade pessoal. Por outro lado, fomenta grandes ideais de amor a Deus e aos outros através do exercício das virtudes da generosidade, do dom de si, do pudor que protege a intimidade, etc., os quais ajudam a pessoa a superar o egoísmo e a tentação de se fechar sobre si mesma.

Neste empenho, os pais têm grande responsabilidade, visto que são os primeiros e principais mestres na formação da castidade dos seus filhos [xviii].

Meios importantes na luta por viver esta virtude:

a) A oração: pedir a Deus a virtude da santa pureza [xix] e a frequência dos sacramentos são os remédios para a nossa debilidade;

b) Trabalho intenso, evitar o ócio;

c) Moderação na comida e na bebida;

d) Cuidado dos pormenores de pudor e modéstia no vestuário, etc.;

e) Rejeitar as leituras de livros, revistas e jornais inconvenientes; e evitar os espectáculos imorais;

f) Muita sinceridade na direcção espiritual;

g) Esquecer-se de si próprio;

h) Ter uma grande devoção a Maria Santíssima, Mater pulchrae dilectionis (Mãe do Amor formoso).

(cont)




[i] cf. Gn 1
[ii] Catecismo , 2361
[iii] 1Jo 4, 8
[iv] Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimónio é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: “O homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne” (Gn 2, 24). Desta união procedem todas as gerações humanas (cf. Gn 4, 1-2.25-26; 5, 1)» (Catecismo, 2335).
[v] S. Josemaria, Cristo que Passa, 24.
[vi] Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza» (Bento XVI, Enc. Deus Caritas Est , 25-XII-2005, 5).
[vii] Certamente «o eros quer elevar-nos “em êxtase” para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos» (Ibidem)
[viii] Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão» (João Paulo II, Ex. Ap. Familiaris Consortio, 22-XI-1981, 11).
[ix] cf. Mc 12, 30
[x] A castidade é a afirmação gozosa de quem sabe viver o dom de si, livre de toda a escravidão egoísta» (Conselho Pontifício para a Família, Sexualidade humana: verdade e significado, 8-XII-1995, 17). «A pureza é consequência do amor com que entregámos ao Senhor a alma e o corpo, as potências e os sentidos. Não é uma negação; é uma alegre afirmação». (S. Josemaria, Cristo que Passa, 5).
[xi] Catecismo, 2341
[xii] Catecismo, 2337
[xiii] «A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz (cf. Sir 1, 22.). “A dignidade do homem exige que ele proceda segundo uma opção consciente e livre, isto é, movido e determinado por uma convicção pessoal e não sob a pressão de um cego impulso interior ou da mera coacção externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-se de toda a escravidão das paixões, prossegue o seu fim na livre escolha do bem e se procura de modo eficaz e com diligente iniciativa os meios adequados” (Gaudium et Spes, 17)» (Catecismo, 2339).
[xiv] «A castidade é uma virtude moral. Mas é também um dom de Deus, uma graça, um fruto do trabalho espiritual (cf. Gl 5, 22). O Espírito Santo concede a graça de imitar a pureza de Cristo (cf. 1 Jo 3,3) àquele que regenerou pela água do Baptismo» (Catecismo, 2345).
[xv] cf. Catecismo, 2342
[xvi] A maturidade da pessoa humana inclui o domínio de si, que supõe o pudor, a temperança, o respeito e abertura aos outros (cf. Congregação para a Educação Católica, Orientações educativas sobre o amor humano, 1-XI-1983, 35).
[xvii] Catecismo, 2346
[xviii] Este aspecto da educação tem hoje maior importância do que no passado, já que são muitos os modelos negativos que a sociedade actual apresenta (cf. Conselho Pontifício para a Família, Sexualidade humana: verdade e significado, 8-XII-1995, 47). «Diante de uma cultura que «banaliza» em grande parte a sexualidade humana, porque a interpreta e a vive de maneira limitada e empobrecida coligando-a unicamente ao corpo e ao prazer egoístico, o serviço educativo dos pais deve dirigir-se com firmeza para uma cultura sexual que seja verdadeira e plenamente pessoal» (João Paulo II, Ex. Ap. Familiaris Consortio, 37).
[xix] «Deus concede a santa pureza aos que Lha pedem com humildade» (S. Josemaria, Caminho, 118).