30/10/2016

Tratado da vida de Cristo 132

Questão 48: Do modo da paixão de Cristo
Art. 6 — Se a Paixão de Cristo obrou a nossa salvação a modo de eficiência.

O sexto discute-se assim. — Parece que a Paixão de Cristo não obrou a nossa salvação a modo de eficiência.

1. — Pois, a causa eficiente da nossa salvação é a grandeza da virtude divina, segundo a Escritura: Eis ai está que a mão do Senhor não é abreviada para não poder salvar. Ora, Cristo foi crucificado por enfermidade. Logo, a Paixão de Cristo não obrou eficientemente a nossa salvação.

2. Demais. — Nenhum agente material age eficientemente senão por contacto; assim, o próprio Cristo curou o leproso tocando-o, para mostrar que a sua carne tinha uma virtude curativa, como diz Crisóstomo (Teofilacto). Ora, a Paixão de Cristo não podia estar em contacto com todos os homens. Logo, não podia obrar eficientemente a salvação de todos.

3. Demais. — Não pode um mesmo agente obrar o modo de mérito e de eficiência; porque quem merece espera receber o efeito, de outrem. Ora, a Paixão de Cristo obrou a nossa salvação a modo de mérito. Logo, não a modo de eficiência.

Mas, em contrário, o Apóstolo diz que a palavra da cruz é a virtude de Deus para os que se salvam. Ora, a virtude de Deus obra eficientemente a nossa salvação. Logo, a Paixão de Cristo na cruz obrou eficientemente a nossa salvação.

Há uma dupla espécie de eficiência: a principal e a instrumental. Ora, o eficiente principal da salvação humana é Deus. Sendo, porém a humanidade de Cristo o instrumento da divindade, como se disse, por isso e consequentemente, todas as acções e paixões de Cristo obram instrumentalmente, em virtude de divindade, para a salvação humana. E, a esta luz, a Paixão de Cristo causa eficientemente a salvação humana.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A paixão de Cristo, referida à carne de Cristo, convinha à enfermidade que assumiu. Referida, porém à divindade, resulta dela uma virtude infinita, segundo o Apóstolo: O que parece em Deus uma fraqueza é mais forte que os homens. Isto é, porque a enfermidade própria de Cristo, enquanto de Deus, tem uma virtude excedente a toda virtude humana.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A Paixão de Cristo, embora fosse a do seu corpo, contudo tem uma virtude espiritual procedente da divindade que lhe estava unida. E desse contacto espiritual lhe advém a eficácia; isto é, pela fé e pelos sacramentos da fé, segundo o Apóstolo: Ao qual propôs Deus para ser vítima de propiciação pela fé no seu sangue.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A Paixão de Cristo referida à sua divindade, age a modo de eficiência. Referida, porém à vontade da alma de Cristo, age a modo de mérito, Referida ainda à própria carne de Cristo age a modo de satisfação, enquanto que por ela somos libertados do reato da pena; mas a modo de redenção, enquanto por ela somos libertados da servidão da culpa; e enfim a modo de sacrifício, enquanto fomos por ela reconciliados com Deus, como a seguir se dirá.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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