08/12/2016

Leitura espiritual



JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR

Iniciação à Cristologia


PRIMEIRA PARTE


A PESSOA DE JESUS CRISTO


Capítulo II


A VINDA DO FILHO DE DEUS NA ECONOMIA DIVINA DA SALVAÇÃO

4. Anúncio da vinda do salvador, o Messias esperado


Como ninguém podia salvar-se depois do pecado original Senão Jesus Cristo, Deus anunciou a sua vinda repetidas vezes e preparou-a de muitas formas desde o princípio do mundo. O próprio Deus se encarregou de manter e reforçar essa esperança do salvador através da história d humanidade, ao mesmo tempo que ia revelando e precisando diferentes aspectos da figura e da vida do Messias prometido.


a) Promessas do Redentor


O proto-evangelho.


Depois do pecado dos nossos primeiros pais, Deus não abandonou os homens, antes imediatamente os levou à esperança da salvação. Com efeito Deus dirigiu à serpente estas palavras: «Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua linhagem e a sua linhagem; ele te pisará a cabeça, enquanto tu mordes o seu calcanhar» [i]. A este versículo do Génesis chama-se «proto-evangelho», precisamente porque constitui o primeiro anúncio e promessa da salvação.

O descendente da mulher que vencerá o demónio é o Redentor, Jesus Cristo. A mulher de que se fala é Eva no seu sentido imediato, e Maria em sentido pleno.


A promessa a Abraão.


Deus fez uma aliança com Abraão e fez-lhe a promessa de lhe dar não só uma terra, como fazê-lo pai de um grande povo, e que pela sua descendência seriam benditas todas as nações da terra [ii].


Deus renovou várias vezes a Abraão estas promessas [iii], que representam um anúncio da salvação universal por meio de um descendente seu, que será Jesus.


Confirmação e renovação da promessa.


Deus renovou a Aliança e a promessa com diferentes eleitos e foi concretizando a ascendência do Messias: não só será descendente de Abraão, como mais concretamente um descendente de Jacob [iv], e mais especificamente da tribo de Judá [v], e mais concretamente ainda da família de David [vi].


b) Profecias sobre o Messias rei


O filho de David.


O profeta Natán, em nome de Deus, promete a David que o Messias esperado desde os tempos mais antigos será seu descendente. E reinará para sempre, não só sobre Israel, mas sobre todos os povos [vii].


Na Bíblia aplica-se frequentemente a David o título de «ungido do senhor»; ele será o tipo por excelência de rei ungido no qual se cumprirá plenamente a promessa divina: o Messias, que será filho de David e rei de Israel, cujo reino não terá fim.


São muitas as profecias do Antigo Testamento sobre o Messias-rei, filho de David. Destaquemos só dois pelos aspectos particulares que assinalam:


Especial Filiação Divina do Messias: Salmo 2.


Este salmo messiânico descreve a rebelião das nações contra Deus e contra o seu Messias. Deus, pelo contrário, ri-se dos seus inimigos e anuncia que constituiu o Messias rei sobre Sião. Este Messias-rei promulga o decreto de Yahwé que encerra uma declaração de uma especial Filiação Divina: «Tu és o meu filho, eu hoje te gerei. Pede-me e dar-te-ei as gentes por herança, e as tuas possessões até aos confins da terra».


O Emanuel nascido de uma virgem.

Isaías transmite-nos uma série de profecias entre os capítulos 7 e 11 do seu livro, que se conhecem como o livro do Emanuel.


Ali se diz que o Messias-rei nascerá de uma virgem e se chamará Emanuel [viii], que significa «Deus connosco». Será grande e terá de modo eminente as virtudes de todas as grandes personagens da sua linhagem. Chamar-se-á também Deus Forte e Príncipe da paz [ix]. Este descendente de David estará cheio do espírito de Deus e fará com que reine entre os homens a justiça [x]. No Novo testamento é manifesto que se trata de Jesus que nascerá de Maria Virgem [xi].


5. Outras profecias acerca de Jesus


Há muitas outras profecias que se referem à pessoa e à obra de Cristo. Tendo só em conta ao Antigo Testamento tornar-se-ia difícil interpretar só algumas delas como referidas claramente ao Messias, mas à luz do Novo Testamento é transparente o seu significado messiânico. Vejamos só algumas delas.


a) Profecias sobre o Messias rei e profeta


Moisés sempre foi como que tipo e a figura de todos os profetas: ele falava com deus «face a face» [xii] e transmitia ao seu povo as palavras e os mandamentos de Yahwé. Pois bem, já desde antigamente se anunciou que Deus enviaria «outro profeta» como Moisés que ensinará e guiará o seu povo com as palavras de Deus [xiii].


Assim em algumas ocasiões anuncia-se um Messias que será rei e profeta simultaneamente, à semelhança de David, que teve ambas prerrogativas: o Messias será rei descendente de David e será ungido por Deus com o espírito dos profetas para anunciar a salvação aos homens [xiv]. Este é Jesus [xv], [xvi]

b) Profecias sobre o Messias rei e sacerdote

     Salmo 110/109,1-4). Neste salmo anuncia-se um Messias superior ao próprio David; o salvador será rei que dominará todos os inimigos e, ao mesmo tempo, será sacerdote do Altíssimo. Esta unidade de rei e sacerdote tem como que um protótipo em Melquisedec, rei de Salem, misterioso contemporâneo de Abraão (cf. Gen 14,18-19). O Messias será rei e sacerdote, mas o seu sacerdócio não é levítico, antes se trata de um diferente, misterioso e superior (cf. Heb 6,20-7,28).

c) Profecias sobre o sacrifício de Cristo

    Cantos sobre o Servo de Yahwé. No livro do profeta Isaías encontram-se quatro cantos sobre a missão redentora do Messias, que é chamado «Servo de Yahwé»[1]


O Servo é um eleito de Deus e objecto da sua complacência. Ele vai ser rei de justiça, e o seu reinado será universal. Será luz dos gentios e reconciliador dos povos. Deus elegeu-o desde o seio materno para fazer voltar os filhos de Israel e para levar a salvação até aos confins da terra. O Servo de Yahwé sofrerá a oposição e perseguição por parte do seu próprio povo, ainda que sendo inocente. Isaías narra o sofrimento e a morte do Servo, oferecido como sacrifício pela redenção de todos, de tal forma que reflecte de modo exacto e impressionante a Paixão e Morte de Jesus [xvii].


Salmo 22/21.

Começa com: «Deus meu, Deus meu, porque me abandonas-te?» que o Senhor recitou na cruz. E narra como o justo, perseguido por muitos inimigos e no meio de um grande sofrimento, recorre cheio de confiança a Deus. Não se trata do grito de angústia de um desesperado, mas da oração confiada do que se abandona nas mãos de Deus, e é escutado. Termina com a vinda do reino de Deus ao mundo, a salvação universal, como fruto dos sofrimentos do justo que pede que voltem a Yahwé todas as famílias das nações. Este salmo messiânico narra por antecipação muitos episódios concretos da Paixão de Cristo.


d) A figura do Filho do homem


O título «Filho do homem» procede do Antigo Testamento, em concreto do livro do profeta Daniel. Designa uma pessoa misteriosa e gloriosa que supera a condição humana e restaura definitivamente o reino messiânico [xviii].

Todavia. Convém notar que a expressão «filho de homem» (ben-adam) na época de Jesus indicava simplesmente «homem». Por isso Jesus, ao referir-se a si mesmo como Filho do homem, tentava esconder por detrás do véu do significado comum a acepção messiânica que essa locução tinha na profecia de Daniel. E ao mesmo tempo, quis corrigir uma concepção exclusivamente gloriosa do Messias, muito arreigada no pensamento hebreu, ao uni-la à sua condição humana e passível, pois anunciava que esse «Filho do homem» tem de padecer e dar a sua vida como resgate por todos [xix].


Vicente Ferrer Barriendos

(Tradução do castelhano por ama)



[1][1] Son: Is 42,1-9; 49,1-7; 50,4-9; 52,13-53,12.



[i] (Gen 3,15)
[ii] (cf. Gen 12,3)
[iii] Cf. Gen 13,14-17; 17,1-9; 18,17-19; 22,13-18.
[iv] (cf. Gen 28,12-14)
[v] (cf. Gen 49,9-11)
[vi] (cf. Sam 7,8-16); Sal 89/88,20-38)
[vii] (cf. 2 Sam 7,12-16)
[viii] (Is 7,14)
[ix] (cf. Is 9,5-6)
[x] (cf. Is 11,1 ss.)
[xi] (cf. Mt 1,23)
[xii] (Ex 33,11)
[xiii] (cf. Dt 18,15-19)
[xiv] (cf. Is 61,1-2)
[xv] (cf. Lc 4,18-21)
[xvi] Todavia, muitos judeus não entenderam a união rei-profeta e esperavam esse «profeta» excepcional e o Messias, como duas pessoas diferentes (cf. Jo 1,20-21; 7,40-41).
[xvii] (cf. Act 8,32-33)
[xviii] (cf. Dan 7,13-14)
[xix] (cf. Mt 17,12;20,28)

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