09/02/2016

NUNC COEPI – Índice de publicações em Fev 09

nunc coepi – Índice de publicações em Fev 09

São Josemaria – Textos

Aud (São João Paulo II), Fortaleza, São João Paulo II, Virtudes

AMA - Comentários ao Evangelho Mc 7 1-13, Gregório Lutz, Leit. Espiritual (Liturgia)

Doutrina – Eucaristia

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Do género de vida que Cristo levou - Quest 40 Art. 4

Celibato eclesiástico, Jesus Cristo e a Igreja

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Do género de vida que Cristo levou - Quest 40 Art. 4


Agenda Terça-Feira

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo Comum
Semana V

Evangelho: Mc 7, 1-13

1 Reuniram-se à volta de Jesus os fariseus e alguns escribas vindos de Jerusalém; 2 e notaram que alguns dos Seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar; 3 ora os fariseus e todos os judeus aferrados à tradição dos antigos, não comem sem lavar as mãos cuidadosamente; 4 e, quando vêm da praça pública, não comem sem se purificar; e praticam muitas outras observâncias tradicionais, como lavar os copos, os jarros, os vasos de metal, e os leitos. 5 Os fariseus e os escribas interrogaram-n'O: «Porque não se conformam os Teus discípulos com a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?». 6 Ele respondeu-lhes: «Com razão profetizou Isaías de vós, hipócritas, quando escreveu: “Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. 7 É vão o culto que Me prestam, ensinando doutrinas que são preceitos humanos”. 8 Pondo de lado o mandamento de Deus, observais cuidadosamente a tradição dos homens». 9 Disse-lhes mais: «Vós bem fazeis por destruir o mandamento de Deus, para manter a vossa tradição. 10 Porque Moisés disse: “Honra teu pai e tua mãe. E todo o que amaldiçoar seu pai ou sua mãe, seja punido de morte”. 11 Vós, porém, dizeis: Se alguém disser ao pai ou à mãe, é “qorban”, oferta a Deus, qualquer coisa minha que te possa ser útil, 12 já não lhe deixais fazer nada a favor do pai ou da mãe, 13 anulando assim a palavra de Deus por uma tradição que tendes transmitido de uns aos outros. E fazeis muitas coisas semelhantes a estas».

Comentário:

Há comportamentos semelhantes hoje em dia.
Quantos progenitores não celebram os Baptizados dos filhos com grandes festas e aparato e, depois, os deixam como que entregues a si próprios o resto das suas infâncias!

A Catequese na Igreja e se há possibilidades económicas, algum estabelecimento de ensino religioso e… fica-se por aqui a sua preocupação com a educação religiosa da criança.

É verdade, que em muitos casos, não se sentem muito à vontade porque como não observam os Mandamentos e, até, à Missa ao Domingo só se vai de vez em quando, o exemplo que dão aos filhos não sustenta o que possam dizer-lhes.

(ama, comentário sobre Mc 7, 1-13, 2013.02.12)


Leitura espiritual



Teologia da Sacrosanctum Concilium


A liturgia é uma realidade tão rica que deve ser contemplada de vários e diferentes pontos de vista, de fora e de dentro.
Uma abordagem só de fora não é suficiente, embora a liturgia seja essencialmente uma realidade acessível aos nossos sentidos.
Mas este é apenas um lado da medalha.
As palavras e os ritos, os gestos e os símbolos, tudo que fala aos nossos sentidos, expressa aquilo que é acessível aos olhos da fé: a acção divino-humana que se realiza quando celebramos o mistério de Cristo.
A teologia litúrgica é o estudo da liturgia em sua totalidade.
Através dela conhecemos sobretudo a natureza da liturgia que, por sua vez, tem também diversos aspectos e dimensões.

A nossa tarefa é estudar a teologia da liturgia da constituição do Concílio Vaticano II sobre a liturgia, a “Sacrosanctum Concilium”.
Também este documento conciliar contempla a liturgia na sua integridade e nas suas diferentes dimensões.
Basicamente faz isso logo no primeiro item da primeira parte do seu primeiro capítulo, nos artigos 5 a 8, aos quais o Compêndio do Vaticano II organizado por Boaventura Kloppenburg deu o título: “A natureza da liturgia”.
Podemos sem problema considerar estes artigos como a teologia litúrgica do Concílio Vaticano II.
Iremos deter-nos quase exclusivamente nestes artigos da SC, já por causa do limite de tempo que nos é dado, mas sobretudo porque aqui encontramos todo o essencial da compreensão teológica da liturgia da “Sacrosanctum Concilium”.

Realizaremos este estudo em duas grandes partes, seguindo a própria “Sacrosanctum Concilium”:

“A liturgia como momento da história da salvação” e “a liturgia como exercício do sacerdócio de Jesus Cristo”.

Estarão integrados e serão acrescentados itens menores que também têm grande importância num estudo da teologia da liturgia, tanto para o documento conciliar quanto para nós.

A liturgia – momento da história da salvação

1 – A história da salvação

A SC começa a tratar da natureza da liturgia, no seu artigo 5, lembrando em grandes linhas a história da salvação.
No início data história está a vontade de Deus de “salvar e fazer chegar ao conhecimento da verdade todas as pessoas humanas”.
Para o conseguir, Deus acompanha toda a história, particularmente do seu povo eleito, comunicando-se com ele sobretudo pelos profetas, mas finalmente por seu próprio Filho.
Ele completou a obra da redenção da humanidade e da glorificação de Deus principalmente pela sua morte e ressurreição.
Já neste primeiro artigo debaixo do titulo “A natureza da liturgia”, o Concílio como que prolonga esta história de Deus com a humanidade dizendo que por Jesus Cristo “nos foi comunicada a plenitude do culto divino” e que “do lado de Cristo dormindo na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja”.

Nesta exposição do Vaticano II sobre a história da salvação podemos destacar várias afirmações, em vista da própria liturgia:

A vontade de Deus de salvar a humanidade, seu eterno plano de salvação, que é a fonte de toda a história que chega a seu ponto culminante na páscoa do seu Filho, revelando assim que é um Deus de amor.
Este é o grande mistério da fé que celebramos na liturgia.

A santificação das pessoas humanas e a glorificação de Deus são a finalidade da história da salvação, como também da liturgia.

Do lado aberto de Cristo na cruz nasceu a Igreja.

Nesta última afirmação vou deter-me primeiro, em seguida no mistério pascal.

2 – A origem da Igreja e da liturgia

Ao dizer que “do lado de Cristo dormindo na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja”, repetindo assim palavras de santo Agostinho, o Concílio refere-se evidentemente ao relato do evangelista São João sobre a morte de Jesus.
Para dizer que Jesus morreu escreveu:

“Entregou o espírito” [i].

Muitos dos santos padres viam nisso uma segunda afirmação do evangelista, a saber que Jesus entregou, na hora da sua morte, o Espírito Santo.
Esta interpretação certamente baseia-se no contexto do quarto Evangelho.

Como lemos no sétimo capítulo do Evangelho de São João, na festa do templo Jesus anunciou água viva.
O evangelho explica que Jesus estava falando do Espírito, que ainda não havia, porque Jesus ainda não foi glorificado [ii] .
A glorificação de Jesus, no entanto, coincide para São João com a exaltação do Filho do Homem na cruz [iii].
Na base desta interpretação compreende-se bem que o Ressuscitado na tarde do dia da ressurreição soprou sobre os apóstolos e lhes disse:

«Recebei o Espírito Santo» [iv].

Mas devemos dar um passo a mais.
Em antigas e recentes representações iconográficas da morte de Jesus ilustra-se a abertura do lado aberto pela lança e uma figura feminina que está debaixo da cruz com um cálice nas mãos.
Para dentro deste cálice jorram o sangue e a água.
Os padres da Igreja interpretam também a abertura do lado de Jesus como derramamento do Espírito Santo, vendo na mulher com o cálice a Igreja e na água e no sangue os sacramentos do baptismo e da eucaristia.
Como lemos na “Sacrosanctum Concilium”, em santo Agostinho e em muitos outros padres da Igreja, este derramamento do Espírito é o nascimento da Igreja como sacramento universal de salvação, do qual os sete sacramentos, também os sacramentais e as outras celebrações litúrgicas, são como que um desdobramento.

A Igreja e a liturgia nasceram do coração de Jesus.

Já que estamos falando em nascimento da Igreja, parece-me bem completar esta visão a partir do Evangelho de São Mateus, onde se pode ver como ela foi concebida.
Lemos neste Evangelho, no fim do capítulo 9, que Jesus, percorrendo as cidades e os povoados, ensinando o Evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades, “ao ver a multidão teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor”.
Então pediu aos discípulos que rezassem, para que o Senhor enviasse operários para a messe; mas também e sobretudo chamou os doze e “deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda sorte de males e enfermidades[v].
Estes doze são, evidentemente, o núcleo da futura Igreja.
Não será permitido entender este texto no sentido de que a Igreja foi concebida pela compaixão de Jesus, no seu coração compassivo? Podemos assim agora concluir que São João e São Mateus têm, no fundo, a mesma visão da origem da Igreja.

E São Lucas no fundo não discorda de São João e São Mateus sobre a origem da Igreja pelo derramamento do Espírito Santo, embora a descreva de modo diferente.

Parece-me que a “Sacrosanctum Concilium” confirma esta visão da origem da Igreja e com ela da Liturgia, dizendo no artigo 6 que a Igreja, que, como vimos no artigo 5, nasceu na cruz, “no dia de Pentecostes apareceu ao mundo”.
Para a interpretação do texto citado de são Mateus, que apresentei, vendo ai a concepção da Igreja no coração de Jesus, não posso indicar referências, mas penso que esteja em harmonia com o contexto que citei.

3 – O mistério pascal

Depois de ter esboçado a história da salvação, o Concílio Vaticano II diz em sua constituição sobre a liturgia:

“Esta obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas operadas no povo do antigo testamento, completou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão.
Por este mistério, Cristo, ‘morrendo, destruiu a nossa morte e ressuscitando, recuperou a nossa vida’ [vi].
Pois do lado de Cristo dormindo na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja.
Portanto, assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para pregarem o evangelho a toda criatura, (…) mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação através do sacrifício e dos sacramentos, sobra os quais gira toda a vida litúrgica. (…)
Nunca, depois (…) a Igreja deixou de se reunir para celebrar o mistério pascal: lendo «tudo quanto a ele se referia em todas as escrituras» [vii], celebrando a eucaristia, na qual se torna presente a vitória e o triunfo de sua morte [viii] e, ao mesmo tempo, dando graças ‘a Deus pelo dom inefável’ [ix] em Jesus Cristo, ‘para louvor de sua glória’ [x], pela força do Espírito Santo” [xi].

O mistério pascal é, portanto, a páscoa de Jesus que Ele viveu, há quase dois mil anos, a Sua paixão, morte, ressurreição e ascensão. Esta páscoa, no entanto, é o ponto culminante de toda a vida e obra pascal de Jesus.
E devemos abrir o horizonte ainda mais:

Ela tinha os seus prelúdios no antigo testamento e completar-se-á no fim dos tempos.
Ela é realmente o centro de toda a história da salvação.

No entanto, desde que Jesus, que Se tinha tornado um de nós pela encarnação, nos uniu a Si pelo dom do Espírito Santo, que é o fruto da Sua páscoa, somos um com Ele e Ele connosco como membros do Seu corpo místico, como filhos e filhas do Pai do Céu.
Assim também a nossa vida e história são a vida e a história de Cristo glorioso.

Os bispos latino-americanas reunidos em Medellín, no ano de 1968, disseram claramente que Cristo está “activamente presente na nossa história” e que “não podemos deixar de sentir a Sua passagem que salva quando se dá o verdadeiro desenvolvimento” [xii].
Portanto, o nosso sofrer e vencer são participação da morte e ressurreição de Cristo, da Sua páscoa.
A páscoa de Cristo continua na páscoa do povo.

Ora, é esta páscoa de Cristo e do povo que celebramos quando na liturgia anunciamos a morte do Senhor e proclamamos a Sua ressurreição, até que Ele venha.

É como também os bispos em Medellín constataram:

“A presença do mistério da salvação, enquanto a humanidade peregrina até à sua plena realização na parusia do Senhor, culmina na celebração da liturgia eclesial” [xiii].

Ainda uma outra dimensão do mistério pascal e de sua celebração foi destacada em Medellín, quando os bispos ai reunidos declararam:

“O gesto litúrgico não é autêntico se não implica um compromisso de caridade, um esforço sempre renovado para ter os sentimentos de Jesus Cristo e uma contínua conversão” [xiv].

Logo em seguida lemos no documento de Medellín:

“Na hora actual da nossa América Latina, como em todos os tempos, a celebração litúrgica coroa e comporta um compromisso com a realidade humana (…) precisamente porque toda a criação está inserida no desígnio salvador” [xv].

Desta maneira Medellín explicitou e acentuou uma constatação que o Concílio Vaticano II já tinha feito, dizendo que “a liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” [xvi].

Embora o Concílio tenha falado da liturgia como cume e fonte da ação da Igreja, é evidente que a liturgia, na qual celebramos o mistério pascal, é o ponto culminante também de toda a vida da Igreja, e não apenas da Igreja, e sim de toda a humanidade e de sua história.

(cont)

p. gregório lutz cssp

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Jo 19,30
[ii] Cf. Jo 7,37-39
[iii] Cf. Jo 3, 14s
[iv] Jo 20,22
[v] Mt 9,35- 10,1
[vi] Prefácio da páscoa
[vii] Lc 24,27
[viii] Conc. de Trento
[ix] 2 Cor 9,15
[x] Et 1,12
[xi] SC 5s
[xii] Docum. de Medellin, introdução n. 5-6
[xiii] Cap. 9,2
[xiv] 9,3
[xv] 9,4
[xvi] SC 10

Antigo testamento / Salmos

Salmo 99








1 O Senhor reina! As nações tremem! O seu trono está sobre os querubins! Abala-se a terra!
2 Grande é o Senhor em Sião; ele é exaltado acima de todas as nações!
3 Seja louvado o teu grande e temível nome, que é santo.
4 Rei poderoso, amigo da justiça! Estabeleceste a equidade e fizeste em Jacob o que é direito e justo.
5 Exaltem o Senhor, o nosso Deus, prostrem-se diante do estrado dos seus pés. Ele é santo!
6 Moisés e Arão estavam entre os seus sacerdotes, Samuel, entre os que invocavam o seu nome; eles clamavam pelo Senhor, e ele respondia-lhes.
7 Falava-lhes da coluna de nuvem, e eles obedeciam aos seus mandamentos e aos decretos que ele lhes dava.
8 Tu lhes respondeste, Senhor, nosso Deus; para eles, tu eras um Deus perdoador, embora os tenhas castigado por suas rebeliões.

9 Exaltem o Senhor, o nosso Deus; prostrem-se, voltados para o seu santo monte, porque o Senhor, o nosso Deus, é santo.

Tratado da vida de Cristo 75

Questão 40: Do género de vida que Cristo levou

Art. 4 — Se Cristo viveu segundo a lei.

O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo não viveu segundo a lei.


1. — Pois, a lei ordenava que nenhuma obra se fizesse no Sábado, assim como Deus descansou no sétimo dia de toda obra que fizera. Ora, Cristo curou um homem no Sábado e mandou-o levar o seu leito. Logo, parece que não viveu segundo a lei.

2. Demais. — Cristo fez o que ensinou, segundo a Escritura: Jesus começou a fazer e a ensinar. Mas, ele próprio ensinou que não é o que entra pela boca o que faz imundo o homem, o que vai contra o preceito da lei, que dizia tornar-se o homem imundo por comer certos animais e ter contacto com eles. Logo, parece que não viveu segundo a lei.

3. Demais. — Julgamos do mesmo modo tanto quem faz como quem consente, conforme o Apóstolo: Não somente os que estas coisas fazem, senão também os que consentem aos que as fazem. Ora, Cristo consentiu desculpar os seus discípulos transgredirem a lei, quando arrancavam as espigas no sábado. Logo, parece que Cristo não viveu segundo a lei.

Mas, em contrário, o Evangelho: Não julgueis que vim destruir a lei ou os profetas. Expondo o que, Crisóstomo diz: Cumpriu a lei - primeiro, por não ter transgredido nenhuma das suas injunções; segundo, justificando pela fé, o que a letra da lei não podia fazer.

Cristo conformou totalmente a sua vida aos preceitos da lei. E para prová-la, quis circuncidar-se: ora, a circuncisão é uma demonstração de cumprimento da lei, segundo o Apóstolo: Protesto a todo homem que se circuncida que está obrigado a guardar toda a lei. - Ora, Cristo quis viver obediente à lei: primeiro para assim aprovar a lei antiga. - Segundo, a fim de, observando-a, consumá-la em si mesmo e terminá-la, mostrando como ela a si se ordenava. - Terceiro, para não dar aos judeus ocasião de caluniá-lo. - Quarto, para livrar os homens da escravidão da lei, segundo o Apóstolo: Enviou Deus a seu Filho, feito sujeito à lei, a fim de remir aqueles que estavam debaixo da lei.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Nessa matéria, o Senhor desculpa-se de haver transgredido a lei por três razões. - Primeiro, porque o preceito da santificação do sábado não proíbe as obras divinas, mas, as humanas. Assim, embora Deus tivesse cessado de produzir novas criaturas no sétimo dia, sempre porém a sua acção aparece na conservação e no governo das coisas. Ora, os milagres operados por Cristo eram obras divinas. Donde o dizer o Evangelho: Meu Pai até agora não cessa de obrar e eu obro também incessantemente. - Segundo, desculpa-se por não proibir o referido preceito as obras necessárias à saúde do corpo. Assim, ele próprio o disse: Não desprende cada um de vós nos sábados o seu boi ou o seu jumento e não os tira da estrebaria para os levar a beber? E mais adiante: Quem há de entre vós que se o seu jumento ou o seu boi cair num poço em dia de sábado, o não tire logo no mesmo dia? Ora, é manifesto que as obras milagrosas, feitas por Cristo, tinham em vista a saúde do corpo e da alma. - Terceiro, porque esse preceito não proíbe as obras relativas ao culto de Deus. Donde o dizer o Evangelho: Ou não tendes lido na lei que os sacerdotes nos sábados, no templo quebrantam o sábado e ficam sem pecado? E noutro lugar diz que recebe um homem a circuncisão em dia de Sábado. Quanto ao facto de Cristo ter mandado ao paralítico levar o seu leito, no Sábado, isso era em vista do culto a Deus, isto é, para louvor da virtude divina. - Donde é claro que não violava a lei do Sábado; embora os judeus falsamente lho exprobrassem, quando diziam: Este homem, que não guarda o Sábado não é de Deus.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Com as palavras citadas, Cristo quis mostrar que a alma do homem não se torna imunda pelo uso de nenhuns alimentos, quanto à própria natureza deles, senão só quanto a algum significado que tenham. Por isso, diz Agostinho: A quem perguntar se o porco e o cordeiro são de natureza pura, respondemos que toda criatura de Deus é pura; mas, em certo sentido, o cordeiro é puro e o porco, impuro.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Também os discípulos, quando, por terem fome, arrancaram as espigas ao Sábado, ficam desculpados da transgressão à lei, pela necessidade da fome; assim como David não foi transgressor da lei quando, urgido pela fome, comeu os pães que lhes era ilícito comer.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Cristo também vive agora

Vive junto de Cristo! Deves ser, no Evangelho, uma personagem mais, convivendo com Pedro, com João, com André..., porque Cristo também vive agora: "Iesus Christus, heri et hodie, ipse et in saecula!" Jesus Cristo vive!, hoje como ontem; é o mesmo, pelos séculos dos séculos. (Forja, 8)

É esse amor de Cristo que cada um de nós deve se esforçar por realizar na sua vida. Mas para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma ideia geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores e atitudes. É preciso contemplar a sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz, serenidade, paz.

Quando se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu carácter, para nos identificarmos com essa pessoa. Por isso temos de meditar na vida de Jesus, desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua Ressurreição. Nos primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa vida, acudam à memória as palavras e os actos do Senhor.


Sentir-nos-emos assim metidos na sua vida. Na verdade, não se trata apenas de pensar em Jesus e de imaginar aqueles episódios; temos de meter-nos em cheio neles, como actores. (Cristo que passa, 107)

Jesus Cristo e a Igreja – 102

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos [i]

III. Desenvolvimento do tema da continência na Igreja latina

O testemunho da Igreja de Roma

No contexto do testemunho Africano sobre o celibato, já escutamos uma voz muito autorizada por parte de Roma: o legado pontifício Faustino que manifestou em Cartago a plena correspondência de Roma sobre essa questão, suscitada ali incidentalmente.
Roma, aliás, já tinha enviado uma carta aos bispos da África, na época do Papa Sirício, que comunicava as decisões do Sínodo Romano de 386, nas que se insistia novamente em algumas importantes disposições apostólicas. Esta carta tinha sido comunicada durante o Concílio de Telepte do ano 418. A última parte da mesma (can. 9.) trata precisamente da continência do clero.
Com esse documento, introduzimo-nos no segundo conjunto de testemunhos sobre o celibato – presentes nas disposições dos Romanos Pontífices sobre esse tema – que tem claramente um maior peso, não só quanto à consciência da tradição observada pela Igreja Universal, mas também para o desenvolvimento posterior e para a observância do celibato clerical.
Uma afirmação geral sobre a importância da posição de Roma sobre qualquer assunto e, portanto, também sobre o celibato, é proveniente de Santo Irineu, que, tendo sido discípulo de São Policarpo, estava relacionado com a tradição joanica que ele – como bispo de Lião, a partir do ano 178 – transmitia também para a Igreja na Europa. Se na sua principal obra “Contra as heresias” afirma que a tradição apostólica é preservada na Igreja de Roma, fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo, e é por isso que todas as outras igrejas devem concordar com ela, podemos dizer que isso vale também para a tradição sobre a continência dos eclesiásticos.
Os primeiros testemunhos explícitos a respeito provêm de dois Papas: Sirício e Inocêncio I. Ao predecessor do primeiro, o Papa Dâmaso, tinha sido apresentado pelo bispo Himério de Tarragona algumas questões às quais só o seu sucessor, ou seja, Sirício, tinha dado uma resposta. Quando perguntado sobre a obrigação dos clérigos maiores à continência, o Papa respondeu na Carta Directa, em 385, dizendo que os sacerdotes e diáconos que, depois da Ordenação, geram filhos, actuam contrariamente a uma lei irrenunciável, que obriga aos clérigos maiores desde o início da Igreja. A apelação ao facto de que no Antigo Testamento, os sacerdotes e levitas podiam usar do matrimónio, fora do tempo do seu serviço no Templo, foi refutada pelo Novo Testamento, no qual os clérigos maiores devem prestar culto sagrado todos os dias; por isso a partir do dia da sua ordenação, deve viver continuamente a continência.
Uma segunda carta do mesmo Papa, referindo-se à mesma questão e que já a mencionamos, é a enviada aos bispos africanos em 386, que relatou as deliberações de um Sínodo Romano. Essa carta é especialmente ilustrativa sobre o tema do celibato. O Papa assinalou, acima de tudo, que os pontos tratados no Sínodo não se referem a novas obrigações, mas sim a pontos de fé e de disciplina, que, por causa da preguiça e da inércia de alguns, têm sido negligenciados. Devem, portanto, ser revitalizados, pois, segundo as palavras da Sagrada Escritura, “Sê forte e observa as nossas tradições que recebestes, quer oralmente, quer por escrito” [ii], trata-se de disposições dos Padres Apostólicos. O Sínodo Romano é, portanto, consciente de que as tradições recebidas apenas oralmente são vinculativas. E aludindo ao juízo divino, observa que todos os bispos católicos devem observar nove disposições que são enumeradas.
A nove delas é exposta com detalhes: “os sacerdotes e levitas não devem ter relações sexuais com suas esposas, porque devem estar ocupados diariamente com o seu ministério sacerdotal”. São Paulo escreveu aos Coríntios que eles deviam se abster das relações sexuais para se dedicar à oração. Se aos leigos a continência é imposta, a fim de serem ouvidos na sua oração, com muito maior razão deve estar disposto em todo momento o sacerdote para oferecer, com castidade verdadeira, o Sacrifício e para administrar o Baptismo. Depois de outras considerações ascéticas, é rejeitada – que eu saiba, pela primeira vez no Ocidente – pelos oitenta bispos reunidos, uma objecção, ainda hoje viva, que visa provar à continuidade no uso do matrimónio com base nas palavras do Apóstolo São Paulo segundo as quais, o candidato às Sagradas Ordens, só podia ter estado casado uma vez. Essas palavras, apontaram os bispos, não querem dizer que se pode continuar vivendo na concupiscência e gerando filhos, mas foram precisamente ditas em favor da futura continência. É ensinado, por conseguinte, oficialmente – e será repetido continuamente – que as segundas núpcias ou o matrimónio com uma viúva, não oferecem segurança de continência futura. A carta conclui com uma exortação a obedecer estas disposições que estão sustentadas pela tradição.

(cont)

(revisão da tradução portuguesa por ama)



[i] Card. alfons m. stickler, Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
[ii] 2 Tes 2, 15