05/04/2016

Jesus Cristo e a Igreja – 109

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos
III. Desenvolvimento do tema da continência na Igreja latina
Evolução da questão nos séculos seguintes

Após o fracasso das reformas regionais, os Papas começaram a enfrentar essa situação difícil da Igreja Europeia. Conseguiram, devido ao empenho de Gregório VII, enfrentar este grave perigo que tinha envolvido a hierarquia da Igreja em todos os seus graus.

Assim, esse perigo levou a um impulso decidido para a reintegração da antiga disciplina celibatária; para isso foi necessário cuidar especialmente da eleição e da formação dos candidatos ao sacerdócio, para o qual se limitava cada vez mais a aceitação de homens casados, buscando, assim, o retorno a uma observância geral da obrigação da continência.

Outra consequência importante dessa reforma é a disposição, solenemente declarada no segundo Concílio de Latrão do ano de 1139, de que os casamentos contraídos pelos clérigos maiores, como também os das pessoas consagradas mediante votos de vida religiosa, não só eram ilícitos, mas também inválidos. Isto levou a um grande equívoco difundido ainda hoje: o de que o celibato eclesiástico foi introduzido somente a partir do Concílio Lateranense II. Na realidade, ali só se afirmou que era inválido o que sempre tinha sido proibido. Esta nova sanção confirmava, de facto, uma obrigação existente há muitos séculos.

(revisão da versão portuguesa por ama)

Publicações Abr 05

Publicações Abr 05

São Josemaria – Textos

CEP, Cuidar da vida até à morte (CEP), Dignidade Humana, Nota pastoral (CEP)

AMA - Comentários ao Evangelho Jo 3 7-15

Bento XVI - Pensamentos espirituais

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Do género de vida que Cristo levou - Quest 44 Art. 4

CIC – Compêndio

Celibato eclesiástico

Morte - o que as pessoas sentem

AT – Génesis


Agenda Terça-Feira

Doutrina - 106

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»


CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

A REVELAÇÃO DE DEUS

9. Qual é a etapa plena e definitiva da Revelação de Deus?

É aquela realizada no seu Verbo encarnado, Jesus Cristo, mediador e plenitude da Revelação. Sendo o Filho Unigénito de Deus feito homem, Ele é a Palavra perfeita e definitiva do Pai. Com o envio do Filho e o dom do Espírito, a Revelação está, finalmente, completada, ainda que a fé da Igreja deva recolher todo o seu significado ao longo dos séculos.


«A partir do momento em que nos deu o Seu Filho, que é a Sua única e definitiva Palavra, Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e duma só vez, e nada mais tem a acrescentar» [1].



[1] S. João da Cruz

O que as pessoas sentem ao morrer


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Independentemente do facto de serem pessoas religiosas, agnósticas ou ateias, todas elas têm o sonho ou a visão de como seu familiar se vai embora deste mundo guiado por alguém (cônjuges já falecidos, seres anónimos ou anjos) e o faz com uma clara sensação de “paz e amor”.

‘No começo, me chamava a atenção o facto de que alguns familiares de falecidos não se sentissem tristes após receberem a notícia da morte do seu ente querido, mas, ao entrevistá-los, percebi que, na verdade, estavam tranquilos porque tinham experimentado essa sensação de transcendência da vida’.


Fonte: ALETEIA



(Revisão da versão portuguesa por ama)

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Antigo testamento / Génesis

Génesis 5

Desde Adão a Noé

1 Este é o registo da descendência de Adão: Quando Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou. Quando foram criados, ele os abençoou e os chamou Homem.

2 Aos 130 anos, Adão gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem; e deu-lhe o nome de Sete.

3 Depois que gerou Sete, Adão viveu 800 anos e gerou outros filhos e filhas.

4 Viveu ao todo 930 anos e morreu.

5 Aos 105 anos, Sete gerou Enos.

6 Depois que gerou Enos, Sete viveu 807 anos e gerou outros filhos e filhas.

7 Viveu ao todo 912 anos e morreu.

8 Aos 90 anos, Enos gerou Cainã.

9 Depois que gerou Cainã, Enos viveu 815 anos e gerou outros filhos e filhas.

10 Viveu ao todo 905 anos e morreu.

11 Aos 70 anos, Cainã gerou Maalaleel.

12 Depois que gerou Maalaleel, Cainã viveu 840 anos e gerou outros filhos e filhas.

13 Viveu ao todo 910 anos e morreu.

14 Aos 65 anos, Maalaleel gerou Jarede.

15 Depois que gerou Jarede, Maalaleel viveu 830 anos e gerou outros filhos e filhas.

16 Viveu ao todo 895 anos e morreu.

17 Aos 162 anos, Jarede gerou Enoque.

18 Depois que gerou Eno­que, Jarede viveu 800 anos e gerou outros filhos e filhas.

19 Viveu ao todo 962 anos e morreu.

20 Aos 65 anos, Enoque gerou Matusalém.

21 Depois que gerou Matusalém, Enoque andou com Deus 300 anos e gerou outros filhos e filhas.

22 Viveu ao todo 365 anos.

23 Enoque andou com Deus; e já não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado.

24 Aos 187 anos, Matusalém gerou Lameque.

25 Depois que gerou Lameque, Matusalém viveu 782 anos e gerou outros filhos e filhas.

26 Viveu ao todo 969 anos e morreu.

27 Aos 182 anos, Lameque gerou um filho.

28 Deu-lhe o nome de Noé e disse: "Ele nos aliviará do nosso trabalho e do sofrimento de nossas mãos, causados pela terra que o Senhor amaldiçoou".

29 Depois que Noé nasceu, Lameque viveu 595 anos e gerou outros filhos e filhas.

30 Viveu ao todo 777 anos e morreu.

31 Aos 500 anos, Noé tinha gerado Sem, Cam e Jafé.

(Revisão da versão portuguesa por ama)










Tratado da vida de Cristo 91

Questão 44: De cada uma das espécies de milagres.

Art. 4 — Se Cristo fez convenientemente milagres atinentes às criaturas irracionais.

O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo não fez convenientemente milagres atinentes às criaturas irracionais.

1. — Pois, os brutos são superiores às plantas. Ora, Cristo fez milagres relativos às plantas; assim, a sua palavra fez secar uma figueira, como lemos no Evangelho. Logo, parece que também devia ter feito milagres relativos aos brutos.

2. Demais. — A pena só por uma culpa é que é justamente aplicada. Ora, a figueira não tinha culpa de Cristo não a ter encontrado com frutos, pois, não era tempo deles. Logo, parece que não devia tê-la feito secar.

3. Demais. — A água e o ar estão entre o céu e a terra. Ora, Cristo fez alguns milagres no céu, como se disse. E também na terra, quando esta tremeu, por ocasião da paixão. Logo, parece que também devia ter feito como objecto de seus milagres o ar e a água; e assim, dividir o mar, como o fez Moisés; ou ainda um rio, como o fizeram Josué e Elias; e também causar trovões no ar, como se deu no monte Sinai, quando foi dada a lei, e como o fez Elias.

4. Demais. — A divina Providência serve-se das obras milagrosas para governar o mundo. Ora, essas obras pressupõem a criação. Logo, Cristo não devia, nos seus milagres, recorrer à criação, como quando, por exemplo, multiplicou os pães. Logo, parece que não houve conveniência nos seus milagres, relativos às criaturas irracionais.

Mas, em contrário, Cristo é a sabedoria de Deus, da qual diz a Escritura: Dispõe todas as causas com suavidade.

SOLUÇÃO. — Como dissemos, os milagres de Cristo ordenavam-se a manifestar-lhe o poder divino, para a salvação dos homens. Ora, por natureza ao poder divino hão-de lhe estar sujeitas todas as criaturas. Logo, devia ter feito milagres em relação a todo género de criaturas; e assim, não só em relação aos homens, mas também em relação às criaturas irracionais.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os brutos são genericamente próximos ao homem, sendo por isso feitos no mesmo dia que ele. E como Cristo fez muitos milagres atinentes ao corpo humano, não estava obrigado a fazer nenhuns relativos ao corpo dos brutos. Sobretudo porque, quanto à natureza sensível e corpórea, o homem tem a mesma natureza que os outros animais, sobretudo terrestres. Os peixes, porém, vivendo na água, diferem mais da natureza dos homens, e por isso foram feitos em outro dia. E em relação a eles Cristo fez o milagre da copiosa pesca, que refere o Evangelho; e também o do peixe que Pedro pescou e no qual achou um estáter. — Quanto ao facto dos porcos precipitados no mar, essa não foi uma obra milagrosa de Deus, mas acto dos demônios, por permissão divina.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz Crisóstomo, quando o Senhor opera obras tais sobre os plantas ou os brutos, não indagues se houve justiça no fazer secar-se a figueira, por não ter frutos, apesar de não ser tempo deles; pois, essa indagação seria grande demência, porque tais seres não são susceptíveis de culpa nem de pena; mas antes, atende ao milagre e admira-lhe o autor. Nem o Criador faz nenhuma injustiça a quem possui, quando usa da criatura, a seu talante, para a salvação dos homens. Ao contrário, como nota Hilário, nisso descobrimos um argumento da bondade divina. Pois, quando quis dar um exemplo da salvação, que veio trazer, exerceu a força do seu poder sobre corpos humanos; quando porém aplicou a sua severidade contra os contumazes, indicou o que havia de acontecer, amaldiçoando a figueira. E sobretudo como diz Crisóstomo, a figura, que é humilíssima, manifesta um maior milagre.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo também fez milagres, que convinha fazer, em relação à água e ao ar; assim, quando, segundo lemos no Evangelho, pôs preceito ao mar e aos ventos e logo se seguiu uma grande bonança. Não era conveniente, porém, a quem vinha repor tudo no estado de paz e de tranquilidade causar qualquer perturbação no ar ou divisão nas águas. Donde o dizer o Apóstolo: Não vos haveis ainda chegado ao monte palpável e ao fogo incendido e ao turbilhão e à obscuridade e à tempestade. Na sua paixão, porém, rasgou-se o véu do templo, em duas partes, para mostrar a revelação dos mistérios da lei; abriram-se as sepulturas, para mostrar que pela sua morte seria dada aos mortos a vida; tremeu a terra e partiram-se as pedras, a fim de mostrar que os corações empedernidos dos homens se abrandariam com a sua paixão e que todo o mundo, por virtude dessa paixão, se mudaria para melhor.

RESPOSTA À QUARTA. — A multiplicação dos pães não se fez a modo de criação, mas pelo acrescento de uma certa matéria estranha, convertida em pães. Donde o dizer Agostinho: Do mesmo modo que com poucos grãos multiplica as sementeiras, assim nas suas mãos multiplicou os cinco pães. Ora, é manifesto que, por conversão de matéria, os grãos produzem colheitas abundantes.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Bento XVI – Pensamentos espirituais 85

Comunhão de liberdades


A liberdade do ser humano é a liberdade de um ser limitado e é, portanto, limitada em si mesma.


Apenas podemos possuí-la como liberdade compartilhada, numa comunhão de liberdades: a liberdade só se pode desenvolver se vivermos da maneira certa uns com os outros e uns para os outros.

Homilia da Missa da Imaculada Conceição, (8.Dez.05)


 (in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

O valor divino do matrimónio

No meio do júbilo da festa, em Caná, só Maria nota a falta de vinho... Até aos mais pequenos pormenores de serviço chega a alma quando vive, como Ela, apaixonadamente atenta ao próximo, por Deus. (Sulco, 631)

O amor puro e limpo dos esposos é uma realidade santa, que eu, como sacerdote, abençoo com ambas as mãos. A tradição cristã viu frequentemente na presença de Jesus nas bodas de Caná uma confirmação do valor divino do matrimónio: O nosso Salvador foi às bodas – escreve S. Cirilo de Alexandria – para santificar o princípio da geração humana.

O matrimónio é um sacramento que faz de dois corpos uma só carne: como diz com expressão forte a teologia, são os próprios corpos dos contraentes que constituem a sua matéria. O Senhor santifica e abençoa o amor do marido à mulher e o da mulher ao marido; e ordenou não só a fusão das suas almas, mas também a dos seus corpos. Nenhum cristão, esteja ou não chamado à vida matrimonial, pode deixar de a estimar.

O Criador deu-nos a inteligência, centelha do entendimento divino, que nos permite – com vontade livre, outro dom de Deus – conhecer e amar; e deu ao nosso corpo a possibilidade de gerar, que é como uma participação do seu poder criador. Deus quis servir-se do amor conjugal para trazer novas criaturas ao mundo e aumentar o corpo da Igreja. O sexo não é uma realidade vergonhosa; é uma dádiva divina que se orienta limpamente para a vida, para o amor, para a fecundidade. (Cristo que passa, 24)


Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 3, 7-15

7 Não te maravilhes de Eu te dizer: É preciso que nasçais de novo. 8 O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem nem para onde vai; assim é todo aquele que nasceu do Espírito». 9 Nicodemos disse-Lhe: «Como pode ser isto?». 10 Jesus respondeu-lhe: «Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? 11 «Em verdade, em verdade te digo que Nós dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não recebeis o Nosso testemunho. 12 Se, quando vos falo das coisas terrenas, não Me acreditais, como Me acreditareis, se vos falar das celestes? 13 Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu. 14 E como Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que seja levantado o Filho do Homem, 15 a fim de que todo o que crê n'Ele tenha a vida eterna.

Comentário:

Jesus faz uma crítica a Nicodemos e, como sempre, cheio de razão.

Como é que Nicodemos não sabe os fundamentos da religião de que é mestre?

Mas depois também lhe diz porque é que não sabe: porque não acredita nos ensinamentos que Ele próprio tem sobejamente propalado por todo o Israel.

No fim e ao cabo, a sabedoria, só se adquire com o espírito aberto e o coração liberto de amarras a preconceitos e bastará comparar o que se ouve com o que se vê para tirar a ilacção correcta.

(ama, comentário sobre Jo 3, 7b-15, 2015.04.15)

Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

LIVRO NONO

CAPÍTULO VIII

Mónica

Tu, que fazes morar na mesma casa os que têm coração unânime, trouxeste para junto de nós Evódio, jovem do nosso município que, militando como agente de negócios do imperador, se convertera e recebera o baptismo antes de nós, abandonara a milícia do século, alistando-se na tua.

Estávamos juntos, e juntos pensávamos viver o nosso santo propósito. Buscávamos um lugar onde nos pudéssemos instalar mais comodamente para te servir e juntos rumávamos para a África quando, chegando a Óstia, na foz do Tibre, faleceu a minha mãe.

Passo em silêncio muitas coisas, porque tenho pressa. Recebe as minhas confissões e acções de graças, meu Deus, pelas inúmeras bondades que não menciono aqui. Mas não quero calar o que brota da minha alma a respeito desta tua serva, que me gerou na carne para a luz temporal, e no coração para a luz eterna. Não referirei as suas qualidades, nem que a si mesma se havia educado.

Foste tu quem a educaste, nem seu pai, nem sua mãe sabiam o que viriam a ser aquela a quem geraram. A disciplina do teu Cristo, a doutrina do teu Filho único educaram-na no teu temor numa família fiel, digno membro de tua Igreja.

Nem ela mesma enaltecia o zelo da mãe em educá-la, quanto o de uma velha serva, que carregara o seu pai quando menino, como hoje as meninas maiores costumam carregar as crianças, às costas.

Estas recordações, a sua idade avançada e hábitos exemplares asseguravam-lhe naquela casa cristã o respeito dos seus amos. Ela própria cuidava solicitamente das meninas que lhe haviam sido confiadas, ora repreendendo-as quando fosse o caso, com santa e enérgica severidade, ora instruindo-as com discreta prudência. Afora do horário em que tomavam uma sóbria refeição à mesa dos seus pais, ainda que tivessem muita sede, nem água permitia que elas bebessem, precavendo com isso um mau costume. E acrescentava este sábio aviso: “Agora bebeis água, porque não tendes como beber vinho; mas quando estiverdes casadas, donas da despensa e da adega, deixareis a água, mas continuará o hábito de beber”.

E unindo assim o conselho à autoridade, refreava os apetites daquela tenra idade, e acostumava aquelas jovens à temperança, para que não tivessem desejo do que não lhes convinha.

No entanto – como a tua serva me contou a mim, seu filho – insinuou-se nela certo gosto pelo vinho. Julgando-a menina sóbria, seus pais a escolheram, como era costume, para tirar o vinho do tonel. Mergulhava a caneca pela parte superior do recipiente e, antes de passar o vinho para a garrafa, sorvia com a ponta dos lábios um pouquinho; era-lhe impossível beber mais, porque o vinho lhe repugnava. Não fazia isto movida pela inclinação à embriaguez, mas pela exuberância juvenil, que se manifestava em movimentos, em brincadeiras, e que na meninice costumam ser reprimidos pela autoridade severa dos mais velhos. Mas, acrescentando todos os dias uns goles àqueles goles – pois quem descuida das coisas pequenas pouco a pouco cai nas maiores – acostumou-se a esvaziar avidamente copos quase cheios de vinho puro.

Onde estava então a prudente anciã, e a sua severa proibição? Mas que remédio curaria um mal oculto se a tua medicina, Senhor, não velasse sobre nós? Na ausência do pai, da mãe e das amas, estavas lá tu que nos criaste, que nos chamas, e que por meio dos que nos educam fazes o bem para a salvação das almas. Que fizeste então, meu Deus? Como a socorreste? Como a curaste? Fizeste sair de outra pessoa, segundo as tuas secretas providências, um sarcasmo duro e pungente como ferro medicinal, para curar de um só golpe aquela gangrena.

A criada que costumava acompanhá-la à adega, discutindo com a sua jovem senhora, como às vezes acontece, estando as duas a sós, lançou-lhe em rosto a sua intemperança, chamando-a insultuosamente de bêbada. Ferida por esse sarcasmo, a jovem reconheceu a fealdade daquele hábito, reprovou-o, e no mesmo instante o abandonou.

Assim como muitas vezes as lisonjas dos amigos nos pervertem, assim os insultos dos inimigos nos corrigem. Mas não é o bem que nos fazem por seu intermédio que retribuis, mas a intenção com que o fazem. Aquela criada zangada pretendia ofender a sua jovem senhora, e não corrigi-la; e se o fez às escondidas foi só por força da circunstância do lugar e tempo, ou para que não viesse a sofrer por denunciar tão tarde o costume da sua senhora.

Mas, tu, Senhor, governador do céu e da terra, que desvias para os teus desígnios as águas da torrente e regulas o curso turbulento dos séculos, curaste a loucura de uma alma com a insânia de outra. Por isso ninguém, ao considerar o caso, atribua a seu poder pessoal o mérito de ter corrigido com as suas palavras a alguém cuja emenda deseja conseguir.

CAPÍTULO IX

Esposa e mãe exemplar

Educada assim na modéstia e na temperança, mais sujeita a seus pais pela tua mão que por seus pais a ti, logo que chegou à idade núbil, foi dada em matrimónio a um homem, a quem serviu como senhor. Procurou conquistá-lo para ti, falando-lhe de ti com as suas virtudes, com as quais tu a tornavas bela e reverentemente amável e admirável ante os seus olhos. Suportou as suas infidelidades conjugais com tanta paciência, que jamais teve com ele a menor briga por isso, pois esperava que a tua misericórdia viria sobre ele, e que lhe trouxesse, com a fé, a castidade.

O seu marido, se por um lado era sumamente afectuoso, por outro era extremamente colérico, mas ela tinha o cuidado de não contrariá-lo nem com acções, nem com palavras, se o visse irado.

Logo que o via calmo e sossegado, oportunamente, mostrava-lhe o que havia feito, se por acaso se tivesse irritado desmedidamente.

Muitas senhoras, embora tendo maridos mais calmos, traziam no rosto as marcas das pancadas que as desfiguravam. Conversando entre amigas, lamentavam a conduta dos maridos.

A minha mãe reprovava-lhes a língua e, como por gracejo, lembrava-lhes que, desde a leitura do contrato matrimonial, deviam considerá-lo como documento que as tornava servas, e portanto proibia-lhes serem altivas com os seus senhores. Essas senhoras, que conheciam o mau génio do seu marido, admiravam-se de que jamais ninguém tivesse ouvido ou percebido qualquer indício que Patrício maltratasse a mulher, nem sequer que algum dia tivessem brigado por questões domésticas. E como lhe pedissem confidencialmente a razão disso, minha mãe expunha-lhes o seu agir habitual, como acima mencionei. Algumas, após experimentar, punham-no em prática e davam-lhe graças; as que não a imitavam continuavam a sofrer humilhações e violências.

Sua sogra, a princípio irritara-se contra ela por causa dos mexericos de criadas malévolas.
Mas conseguiu conquistá-la com respeito, contínua tolerância e mansidão, que ela mesma, espontaneamente, denunciou ao filho as línguas intrigantes das criadas, que perturbavam a paz doméstica entre ela e a nora, e pediu que as castigasse. Ele, em obediência à mãe, para manter a disciplina familiar e a harmonia entre os seus, mandou açoitar as acusadas, segundo a vontade da acusante; e esta prometeu-lhes ainda que esse era o prémio que devia esperar quem, querendo agradá-la, lhe dissesse mal da nora. E ninguém mais se atreveu a fazê-lo, e viveram as duas em doce e memorável harmonia.
A esta tua boa serva, em cujo seio me criaste, ó meu deus, minha misericórdia, dotaste de outra grande virtude: a de intervir como pacificadora, sempre que podia, nas discórdias e querelas. Daquilo que ouvia de queixas amargas, vomitadas com animosidade ressentida, quando na presença de uma amiga os ódios mal digeridos se desafogam em amargas confidencias a respeito de uma amiga ausente, ela nada referia uma à outra, senão o que poderia servir para a reconciliação.

Este dom parecer-me-ia de pouca monta se uma triste experiência não me houvesse mostrado grande número de pessoas – por não sei que horrível contagio de pecados, espalhados por toda parte – que não só revelam as palavras pesadas de inimigos irados, mas que ainda acrescentam coisas que não foram ditas. Quem fosse realmente humano, deveria ter em pouca conta ou não excitar nem fomentar as inimizades dos homens, e melhor ainda procurar extingui-las com boas palavras.

Assim era minha mãe, ensinada por ti, mestre interior, na escola do seu coração.
Por fim, conquistou para ti o seu marido, já no fim da vida, não tendo que lamentar no cristão o que havia tolerado no infiel.

Ela era verdadeiramente a serva de teus servos, e todos os que a conheciam te louvavam, honravam, te amavam em sua pessoa, porque percebiam tua presença em seu coração, confirmada pelos frutos de uma vida santa.

Havia sido mulher de um só homem, cumprira sua dívida de gratidão com os pais, governara sua casa piedosamente e dava testemunho com suas boas obras. Educara os filhos, dando-os à luz tantas vezes quantas os via apartarem-se de ti.

E de nós, que nos chamamos teus servos por liberalidade tua, nós que vivemos em comum na graça de teu baptismo, antes de adormecer em tua paz, ela cuidou de nós como se todos fôssemos seus filhos, e de tal modo nos serviu como se fosse filha de cada um de nós.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


Temas para meditar - 610

Bioética


Recordamos que todas as orientações éticas têm como objectivo encontrar concretizações de um morrer verdadeiramente humano.
O que está em causa é a preservação da dignidade da pessoa em algo que é decisivo e constitutivo de todo o projecto pessoal de vida. Isto inclui certamente fazer aquilo que é razoavelmente possível para que o paciente preserve as condições de sujeito da sua própria história. Na medida possível, “não se deve privar o moribundo da consciência de si mesmo, sem motivo grave”, uma vez que também nos momentos finais da vida cada pessoa deve estar em condições de poder assumir as suas responsabilidades morais, de relacionar-se com as pessoas que lhe são significativas e de viver todo este processo no contexto da sua relação com Deus.


(Nota pastoral da CEP, Cuidar da vida até à morte: Contributo para a reflexão ética sobre o morrer, 5 a)