14/04/2016

Publicações Abr 14


Publicações Abr 14

São Josemaria – Textos

AMA - Reflectindo - Faço o bem que quero

AMA - Comentários ao Evangelho Jo 6 41-51

CIC – Compêndio

Vida espiritual

AT – Génesis


Agenda Quinta-Feira

3º Passo para uma vida espiritual cristã

A SAGRADA ESCRITURA

Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente o seu alimento e a sua força, pois nela não acolhe somente uma palavra humana, mas o que ela é realmente: a Palavra de Deus.

Os livros sagrados não devem ser apenas um livro de leitura ou somente para conhecimento intelectual, mas sim um livro para rezar e meditar os mistérios revelados por Deus a cada um de nós.

Aqueles que desejam conhecer Deus mais profundamente, devem ter a Bíblia sagrada como um grande meio para chegar ao conhecimento do Amor de Deus.

A Sagrada Escritura é uma grande arma espiritual para derrubar as forças de Satanás.

Fonte: ALETEIA


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Pequena agenda do cristão


Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Doutrina – 116

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»
CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

A SAGRADA ESCRITURA

19. Como ler a Sagrada Escritura?

A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com a ajuda do Espírito Santo e sob a condução do Magistério da Igreja segundo três critérios:
1) Atenção ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura;
2) Leitura da Escritura na Tradição viva da Igreja;

3) Respeito pela analogia da fé, isto é, da coesão entre si das verdades da fé.

Antigo testamento / Génesis

Génesis 14

Abrão salva Lot

1 Naquela época, Anrafel, rei de Sinear, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, foram para a guerra contra Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de Gomorra, contra Sinabe, rei de Admá, contra Semeber, rei de Zeboim, e contra o rei de Belá, que é Zoar.

2 Todos esses últimos juntaram as suas tropas no vale de Sidim, onde fica o mar Salgado.

3 Doze anos estiveram sujeitos a Quedorlaomer, mas no décimo terceiro ano rebelaram-se.

4 No décimo quarto ano, Quedorlaomer e os reis que se tinham aliado a ele derrotaram os refains em Asterote-Carnaim, os zuzins em Hã, os emins em Savé-Quiriataim a ele e os horeus desde os montes de Seir até El-Parã, próximo ao deserto.

5 Depois, voltaram e foram para En-Mispate, que é Cades, e conquistaram todo o território dos amalequitas e dos amorreus que viviam em Hazazom-Tamar.

6 Então os reis de Sodoma, de Gomorra, de Admá, de Zeboim e de Belá, que é Zoar, marcharam e tomaram posição de combate no vale de Sidim contra Quedorlaomer, rei de Elão, contra Tidal, rei de Goim, contra Anrafel, rei de Sinear, e contra Arioque, rei de Elasar. Eram quatro reis contra cinco.

7 Ora, o vale de Sidim era cheio de poços de betume e, quando os reis de Sodoma e de Gomorra fugiram, alguns dos seus homens caíram nos poços e o restante escapou para os montes.

8 Os vencedores saquearam todos os bens de Sodoma e de Gomorra e todos os seus mantimentos, e partiram.

9 Levaram também Ló, sobrinho de Abrão, e os bens que ele possuía, visto que morava em Sodoma.

10 Mas alguém que tinha escapado veio e relatou tudo a Abrão, o hebreu, que vivia próximo dos carvalhos de Manre, o amorreu. Manre e os seus irmãos Escol e Aner eram aliados de Abrão.

11 Quando Abrão ouviu que o seu parente fora levado prisioneiro, mandou convocar os trezentos e dezoito homens treinados, nascidos em sua casa, e saiu em perseguição dos inimigos até Dã.

12 Atacou-os durante a noite em grupos, e assim os derrotou, perse­guindo-os até Hobá, ao norte de Damasco.

13 Recuperou todos os bens e trouxe de volta o seu parente Ló com tudo o que possuía, com as mulheres e o resto dos prisioneiros.

14 Voltando Abrão da vitória sobre Quedorlaomer e sobre os reis que a ele se haviam aliado, o rei de Sodoma foi ao seu encontro no vale de Savé, isto é, o vale do Rei.

15 Então Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe pão e vinho e abençoou Abrão, dizendo: "Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, Criador dos céus e da terra.

16 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os seus inimigos nas suas mãos".
E Abrão lhe deu o dízimo de tudo.

17 O rei de Sodoma disse a Abrão: "Dá-me as pessoas e podes ficar com os bens".

18 Mas Abrão respondeu ao rei de Sodoma: "De mãos levantadas ao Senhor, o Deus Altíssimo, Criador dos céus e da terra, juro que não aceitarei nada do que te pertença, nem mesmo um cordão ou uma correia de sandália, para que jamais venhas a dizer: 'Eu enriqueci Abrão'.

19 Nada aceitarei, a não ser o que os meus servos comeram e a porção pertencente a Aner, Escol e Manre, os quais me acompanharam. Que eles recebam a sua porção".

(Revisão da versão portuguesa por ama)










Meu Pai do Céu, ajuda-me

A ti, que desmoralizas, repetir-te-ei uma coisa muito consoladora: a quem faz o que pode, Deus não lhe nega a Sua graça. Nosso Senhor é Pai, e se um filho lhe diz na quietude do seu coração: Meu Pai do Céu, aqui estou, ajuda-me... Se recorre à Mãe de Deus, que é Mãe nossa, vai para a frente. Mas Deus é exigente. Pede amor de verdade; não quer traidores. É preciso ser fiel a essa luta sobrenatural, que é ser feliz na terra à força de sacrifício. (Via Sacra, 10ª Estação, n. 3)

Recorrei semanalmente – e sempre que o necessiteis, sem dar lugar aos escrúpulos – ao santo Sacramento da Penitência, ao sacramento do perdão divino. Revestidos da graça, caminharemos por entre os montes e subiremos a encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos. Utilizando estes recursos com boa vontade e rogando ao Senhor que nos conceda uma esperança cada dia maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem filhos de Deus: Se Deus está connosco, quem nos poderá derrotar? Optimismo, portanto. Incitados pela força da esperança, lutaremos para apagar a mancha viscosa que espalham os semeadores do ódio e redescobriremos o mundo com uma perspectiva jubilosa, porque saiu formoso e limpo das mãos de Deus, e restituir-lho-emos assim belo, se aprendermos a arrepender-nos.
Cresçamos na esperança, que deste modo nos consolidaremos na fé, verdadeiro fundamento das coisas que se esperam e prova das que não se veem. Cresçamos nesta virtude, que é suplicar ao Senhor que aumente a sua caridade em nós, porque só se confia verdadeiramente no que se ama com todas as forças. E vale a pena amar o Senhor. Vós haveis experimentado, como eu, que a pessoa enamorada se entrega confiante, com uma sintonia maravilhosa, em que os corações batem num mesmo querer. E que será o Amor de Deus? Não sabeis que Cristo morreu por cada um de nós? Sim, por este nosso coração pobre, pequeno, se consumou o sacrifício redentor de Jesus.

Frequentemente, o Senhor fala-nos do prémio que nos ganhou com a sua Morte e Ressurreição. Vou preparar um lugar para vós. Depois que eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo para que, onde eu estou, estejais Vós também. O Céu é a meta do nosso caminho terreno. Jesus Cristo precedeu-nos e ali, na companhia da Virgem e de S. José – a quem tanto venero – dos Anjos e dos Santos, aguarda a nossa chegada. (Amigos de Deus, nn. 219–220)

Reflectindo - 172

Faço o bem que quero?

A pergunta completa será:
Faço o bem que desejo ou pratico o mal que não quero?

Velha de dois mil anos - veja-se São Paulo – [1] esta questão torna-se uma constante nas almas que procuram a perfeição, a santidade.

Leva-nos a considerar, sobretudo, as faltas de omissão que frequentemente nos esquecemos de confessar.
E também, evidentemente, na nossa condição humana frágil e volúvel que nos leva por caminhos que não queremos e nos afasta de outros que deveríamos escolher.

A vontade própria só o é verdadeiramente quando é livre de quaisquer amarras ou preconceitos, quando a exercemos com plena consciência e conhecimento.


Um acto da vontade não é nunca uma experiência mas uma certeza.


A "máxima" poderia ser: "se não sabemos não fazemos, se não conhecemos não desejamos".

Existe ainda um perigo que surge  com mais frequência e que é fazer mal com a convicção que estamos a praticar o bem.

O exemplo mais conhecido, talvez, seja o que de passou na morte de  Cristo quando Ele pede ao Pai perdão para eles porque «não sabem o que fazem» [2], como se dissesse que pensariam estar a fazer algo bom.

Mais tarde - mais de dois mil anos passados - a Igreja reconhece o mesmo e o Santo que era o seu chefe na altura - João Paulo II - chega a pedir perdão ao povo judeu por séculos a serem considerados como criminosos.

(cont)



[1] Cfr. Ro 7, 15 - «não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero
[2] Cfr. Lc 23, 34,

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 6, 44-51

44 Ninguém pode vir a Mim se o Pai que Me enviou não o atrair; e Eu o ressuscitarei no último dia. 45 Está escrito nos profetas: “E serão todos ensinados por Deus”. Portanto, todo aquele que ouve e aprende do Pai, vem a Mim. 46 Não porque alguém tenha visto o Pai, excepto Aquele que vem de Deus; Esse viu o Pai. 47 Em verdade, em verdade vos digo: O que crê em Mim tem a vida eterna. 48 Eu sou o pão da vida. 49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50 Este é o pão que desceu do céu para que aquele que dele comer não morra. 51 Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente; e o pão que Eu darei é a Minha carne para a salvação do mundo».

Comentário:

Nunca compreenderemos bem o Milagre Eucarístico porque, de facto é um mistério.

Aceitamos e acreditamos porque a nossa Fé nos garante que na Hóstia Consagrada se encontra realmente o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Podemos afirmar que é a expressão completa e definitiva do Amor de Jesus Cristo pelos homens Seus irmãos.

(ama, comentário sobre Jo 6, 44-51, 2015.08.09) 


Leitura espiritual




SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

LIVRO DÉCIMO

CAPÍTULO XXVII

Solilóquio de amor

Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora, a procurar-te! Eu, disforme, atirava-me à beleza das formas que criaste. Estavas comigo, e eu não estava em ti. Retinha-me longe de ti, aquilo que nem existiria se não existisse em ti. Tu me chamaste, gritaste por mim, e venceste a minha surdez. Brilhaste, e o teu esplendor afugentou a minha cegueira. Exalaste o teu perfume, respirei-o, e suspiro por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e o desejo da tua paz me inflama.

CAPÍTULO XXVIII

A vida do homem

Quando me unir a ti com todo o meu ser, não sentirei mais dor ou fadiga; a minha vida, cheia de ti, será então a verdadeira vida. Alivias aqueles que enches de ti; mas, como ainda não estou cheio de ti, sou um peso para mim mesmo. As minhas alegrias, que deveriam ser choradas, lutam com as minhas tristezas que deveriam alegrar-me, e ignoro de que lado está a vitória.

Ai de mim, Senhor, tem piedade de mim! As tristezas do meu mal lutam com as minhas santas alegrias, e eu não sei de que lado está a vitória. Ai de mim! Senhor, tem piedade de mim!

Eis as minhas feridas: eu não as escondo. Tu és o médico, eu o enfermo; és misericordioso, e eu, miserável. Não é contínua tentação a vida do homem sobre a terra? Quem quer aborrecimentos e dificuldades? Mandas que os suportemos, e não que os amemos. Ninguém ama o que tolera, ainda que goste de o tolerar; e mesmo que alguém se alegre em tolerar, preferiria nada ter que suportar. Na adversidade, desejo a prosperidade, e na prosperidade temo a adversidade. Entre estes dois extremos, qual será o termo médio onde a vida humana não seja tentação?

Ai das prosperidades do século, onde se receia a adversidade e a alegria é corrompida! Ai das adversidades do século, uma, duas, três vezes ai! Pelo desejo da prosperidade, por ser dura a adversidade, e pelo temor que vença a nossa paciência! A vida do homem sobre a terra não é pois uma contínua tentação?

CAPÍTULO XXIX

Esperança em Deus

Só na grandeza da Tua misericórdia coloco toda a minha esperança. Dai-me o que me ordenas e ordena-me o que quiseres. Mandas que sejamos castos. “Sabendo, diz um sábio, que ninguém pode ser casto se Deus não lhe der este dom, já é sabedoria saber de quem procede este dom”. A continência reúne os elementos da nossa pessoa, reconduz-nos à unidade que perdemos dispersando-nos por tantas criaturas. Pouco te ama quem te ama juntamente com alguma criatura, e não a ama por tua causa.

Ó amor, que sempre ardes e jamais te extingues! Ó caridade, meu Deus, inflama-me!

Ordena-me a continência? Dá-me o que mandas, e ordena o que quiseres!

CAPÍTULO XXX

Sonho e voluptuosidade

Ordenas que me abstenha da concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da ambição do século. Proibiste as uniões luxuriosas, e embora tenhas permitido o casamento, ensinaste que há um estado bem melhor. E, pela tua graça, optei por esse estado, antes mesmo de me tornar dispensador do teu sacramento.

Mas na minha memória, de que falei longamente, vivem ainda as imagens dessas voluptuosidades que os meus costumes de outrora ali gravaram. Sem forças diante de mim quando estou acordado, durante o sono, elas não somente suscitam em mim o prazer, mas o consentimento do prazer e a ilusão da acção. Tais ilusões têm tal poder sobre a minha alma e sobre o meu corpo, apesar de tão falsas, que os seus fantasmas impedem o meu sono o que a realidade não me pode induzir quando em vigília. Acaso então, Senhor meu Deus, será que eu não sou eu nessas horas? E como há tão grande diferença dentro de mim mesmo, do momento em que passo da vigília para o sono e vice-versa! Onde pois está a razão, que durante a vigília resiste a tais sugestões, e que não se abala mesmo diante da realidade? Acaso se fecha juntamente com os olhos? Ou adormece com os sentidos do corpo?

E porquê, muitas vezes, mesmo no sono, resistimos, lembrados do nosso propósito, e nele permanecemos castos, negando o consentimento a tais seduções? Todavia, a diferença é tanta que, no caso de não resistir durante o sono, ao acordar voltamos a encontrar a paz de consciência; e a própria diferença entre os dois estados indica que não fomos nós que fizemos aquilo, e lamentamos o que se fez em nós.

Senhor omnipotente, não poderia a tua mão curar todas as enfermidades da minha alma, abolindo também, com maior abundância de graça, os movimentos lascivos do meu sono? Cada vez mais multiplica, Senhor, o número das tuas bondades para comigo, para que a minha alma, livre do visco da concupiscência, siga até chegar a ti. Para que não seja rebelde, nem mesmo durante o sono; para que, pelo estímulo de imagens bestiais, não só não cometa essas torpezas degradantes até a lascívia carnal, mas que nem mesmo consinta nisso.

Não é muito para ti, ó Todo-Poderoso, que podes fazer mais do que pedimos e compreendemos, fazer com que, quer na minha idade presente, quer na minha vida futura, eu me deleite nessas tentações – mesmo que sejam tão pequenas, que o primeiro esforço as venceria, quando adormeço com pensamentos castos.

Agora digo exultando no meu Senhor em que estado me encontro neste género de pecado, com tremor pelos dons que já me concedeste, e gemendo pelas minhas imperfeições.

Espero que aperfeiçoes em mim as tuas misericórdias, até que atinja a plenitude da paz de que gozarão em ti o meu espírito e o meu corpo, quando a morte for absorvida pela vitória.

CAPÍTULO XXXI

A intemperança

O dia traz-me novo pecado, e oxalá fosse o único! Comendo e bebendo, restauramos as perdas diárias do nosso corpo, até ao dia em que destruirás o alimento e o estômago, matando a minha necessidade com uma maravilhosa saciedade, e revestindo este corpo corruptível de eterna incorruptibilidade.

Mas por ora esta necessidade é-me grata, e luto contra essa delícia, para que não me domine; é uma guerra quotidiana que sustento com jejum, reduzindo o meu corpo à escravidão. Mas as minhas dores são eliminadas pelo prazer, porque a fome e a sede são sofrimentos: queimam e matam como a febre se os alimentos não lhe põem remédio. Mas como esse remédio está sempre à nossa disposição, graças à liberalidade dos teus dons que põe à disposição da nossa fraqueza a terra, a água e o céu, as nossas misérias recebem de nós o nome de delícias.

Tu me ensinaste a considerar os alimentos como remédios. Mas quando passo dessa penosa necessidade à paz da saciedade, nessa passagem a concupiscência arma para mim a sua cilada. Esta passagem é prazeirosa, e não há outra para se chegar onde a necessidade nos obriga. A razão do beber e do comer é a conservação da saúde; mas um prazer insidioso acompanha como lacaio essas funções, e sempre tenta tomar a dianteira, de modo que faço pelo prazer o que digo fazer pela minha saúde.

Ora, a medida do prazer não é a mesma da saúde; o que é bastante para a saúde não o é para o prazer, e muitas vezes é difícil discernir se é o cuidado com o corpo que pede reforço de alimento, ou se é a gula que nos engana e quer ser servida. Essa incerteza alegra a nossa pobre alma, feliz por ter encontrado um álibi e uma desculpa na impossibilidade de determinar o que basta para o cuidado com a saúde, e sob o pretexto da sua conservação esconde a busca do prazer. Esforço-me para resistir a essas tentações diárias, e invoco a tua mão para me socorrer. A ti confesso a minha incerteza, porque sobre este ponto o meu juízo ainda não é firme.

Ouço a voz do meu Deus que ordena: “Não se façam pesados os vossos corações com a intemperança e embriaguez”. A embriaguez está longe de mim; que a tua misericórdia não a deixe aproximar-se. Mas a intemperança, ao contrário, chega às vezes a arrastar o teu servo. A tua misericórdia há-de afastá-la de mim, porque ninguém pode ser temperante senão pela tua graça.

Concedes-nos muitas coisas quando te invocamos, e todo o bem que recebemos, mesmo antes de o pedir, é a ti que sempre o devemos. E o próprio acto de reconhecermos que esses dons são teus, é ainda graça tua. Nunca estive embriagado, mas conheci muitos, dados a esse vício, que se tornaram sóbrios pela tua graça. Assim, é graças a ti que alguns não são o que nunca foram; e também é graças a ti que outros não são mais o que foram; e é graças a ti, enfim, que estes e aqueles sabem a quem devem essa graça.

Ouvi ainda de ti outra palavra: “Não corras atrás das tuas concupiscências, e reprime os teus apetites” – A tua graça ainda me fez ouvir outra palavra, de que tanto gostei: “Se comemos, não teremos abundância; e se não comemos, não sofreremos privação”. – Ou seja: nem isto me fará rico, nem aquilo pobre. – E ouvi ainda esta outra: “Aprendi a contentar-me com o que tenho: sei viver na abundância e suportar a penúria. Tudo posso naquele que me fortalece”. – Eis como fala o bom soldado da milícia celeste: nada parecido ao pó que somos. Mas, Senhor, lembra-se que somos pó, e que de pó fizeste o homem; que este se havia perdido, e que foi reencontrado.

Por si mesmo, formado do mesmo pó que nós, nada podia aquele cujas palavras inspiradas tanto amei: “Tudo posso naquele que me fortalece” – Concede-me forças, para que eu possa. Dá-me o que mandas, e manda o que quiseres. Paulo confessa que tudo recebeu de ti, e, quando se gloria, é no Senhor que ele se gloria.

Ouvi também outro que te pedia esta graça: “Afasta de mim a intemperança”. – De onde se conclui claramente, ó Deus santo, que dás a força para cumprir o que mandas.

“Tu me ensinaste, Pai bondoso, que tudo é puro para os puros, mas que é mau para o homem comer com escândalo, que tudo o que fizeste é bom, e que nada deve ser rejeitado do que se recebe com acção de graças; que os alimentos não nos recomendam a Deus, que ninguém nos deve julgar pela comida ou pela bebida; que o que come não deve julgar o que não come”.

Por essas lições, graças e louvores te dou, meu Deus, meu Mestre, que bateste à porta dos meus ouvidos e iluminaste o meu coração. Livra-me de toda a tentação. Não receio a impureza dos alimentos, mas a impureza do prazer.

Sei que Noé teve permissão de comer toda espécie de carne que pudesse servir de alimento, e que Elias comeu carne para reparar as forças; sei que João Baptista, asceta admirável, não se manchou com os animais – os gafanhotos – de que se alimentava. Todavia eu sei que Esaú se deixou enganar pelo desejo de um prato de lentilhas; que David se repreendeu a si mesmo por ter desejado água; que o nosso Rei foi submetido à tentação, não de carne, mas de pão. Por isso o povo foi justamente repreendido no deserto, não por ter desejado comer carne, mas porque o desejo o fez murmurar contra o Senhor.

Exposto a estas limitações, luto diariamente contra a concupiscência do comer e do beber, pois não é coisa que possa cortar de uma vez por todas, apenas com o propósito de nunca mais recair, como fiz com a luxúria. É uma rédea imposta ao meu paladar, ora para afrouxá-la, ora para retesá-la. E quem é, Senhor, que não se deixa arrastar às vezes além dos limites do necessário? Se existe alguém assim, é de facto grande, e deve engrandecer o teu nome. Eu porém não sou desse número, porque sou pecador. Contudo, também, eu engrandeço o teu nome, e Aquele que venceu o mundo intercede junto de ti pelos meus pecados. Conta-me entre os membros enfermos do seu corpo, porque os teus olhos viram as minhas imperfeições e porque todos serão inscritos no teu livro.

(Revisão de versão portuguesa por ama)