16/05/2016

Os demónios do apostolado 10

Fechar-se em sua própria experiência

Este demónio não é sectário, nem tem muita gravidade. é uma tentação mais benigna e subtil. Basicamente, consiste em elevar as experiências apostólicas pessoais à categoria de princípio universal. Se tal ou tal experiência foi boa, todos os que trabalham neste tipo de apostolado deveriam fazê-la. Se a experiência foi má, ninguém deveria fazê-la. E caso se esteja numa posição de autoridade, procurar-se-á simplesmente suprimi-la.

A tentação está em esquecer que toda experiência é relativa: tem circunstâncias próprias, agentes e evangelizadores próprios, tempo e lugar próprios e irrepetíveis. Assim, o que não deu resultado positivo num certo momento, com determinadas pessoas e num certo conjunto de circunstâncias, não significa que não possa dar resultados com protagonistas e circunstâncias diferentes.

Com o passar dos anos, evidentemente, esta tentação agrava-se, dado que o apóstolo já acumulou um número significativo de experiências falidas e frustrantes. A tendência, então, é instalar-se e promover só o que deu resultado a ele próprio, desconfiando de outras experiências e iniciativas.

A verdadeira sabedoria, em contra-partida, consiste em não se deixar condicionar pelos fracassos, nem pelo acervo positivo das experiências passadas, mas em estar disposto a tentar outras formas de apostolado e a abrir-se à experiências de outros.

Fonte: presbíteros

(revisão da versão portuguesa por ama)


Este texto é um extracto do livro do teólogo chileno segundo galilea, Tentación y Discernimiento, Narcea, Madrid 1991, p. 29-67.

Antigo testamento / Êxodo 5

Êxodo 5

Tijolos sem palha

1 Depois Moisés e Arão foram falar com o faraó e disseram: "Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: 'Deixa o meu povo ir para celebrar-me uma festa no deserto' ".

2 O faraó respondeu: "Quem é o Senhor, para que eu lhe obedeça e deixe Israel sair? Não conheço o Senhor e não deixarei Israel sair".

3 Eles insistiram: "O Deus dos hebreus veio ao nosso encontro. Agora, permite-nos caminhar três dias no deserto, para oferecer sacrifícios ao Senhor, o nosso Deus; caso contrário, ele nos atingirá com pragas ou com a espada".

4 Mas o rei do Egipto respondeu: "Moisés e Arão, porque estão fazendo o povo interromper as suas tarefas? Voltem ao trabalho!"

5 E acrescentou: "Essa gente já é tão numerosa, e vós ainda os fazeis parar de trabalhar!"

6 No mesmo dia o faraó deu a seguinte ordem aos feitores e capatazes responsáveis pelo povo:

7 "Não forneçam mais palha ao povo para fazer tijolos, como faziam antes. Eles que tratem de juntar palha!

8 Mas exijam que continuem a fazer a mesma quantidade de tijolos; não reduzam a quota. São preguiçosos, e por isso estão clamando: 'Iremos oferecer sacrifícios ao nosso Deus'.

9 Aumentem a carga de trabalho dessa gente para que cumpram as suas tarefas e não deem atenção a mentiras".

10 Os feitores e os capatazes foram dizer ao povo: "Assim diz o faraó: 'Já não vos darei palha.

11 Saiam e recolham-na onde puderem achá-la, pois o vosso trabalho em nada será reduzido' ".
12 O povo, então, espalhou-se por todo o Egipto, a fim de juntar restolho em lugar da palha.
13 Entretanto, os feitores pressionavam-nos, dizendo: "Completem a mesma tarefa diária que foi vos exigida quando tinham palha".
14 Os capatazes israelitas indicados pelos feitores do faraó eram espancados e interrogados: "Por que não completaram ontem e hoje a mesma quota de tijolos dos dias anteriores?"

15 Então os capatazes israelitas foram apelar para o faraó: "Porque tratas os teus servos dessa maneira?

16 Nós, teus servos, não recebemos palha, e, contudo, dizem-nos: 'Façam tijolos!' Os teus servos têm sido espancados, mas a culpa é do teu próprio povo".

17 Respondeu o faraó: "Preguiçosos é o que vocês são! Preguiçosos! Por isso andam dizendo: 'Iremos oferecer sacrifícios ao Senhor'.

18 Agora, voltem ao trabalho. Não receberão palha alguma! Continuem a produzir a quota integral de tijolos!"

19 Os capatazes israelitas viram-se em dificuldades quando lhes disseram que não poderiam reduzir a quantidade de tijolos exigida a cada dia.

20 Ao saírem da presença do faraó, encontraram-se com Moisés e Arão, que estavam à espera deles, e disseram-lhes: "O Senhor os examine e os julgue! Vós atraístes o ódio do faraó e dos seus conselheiros sobre nós, e puseram-lhes nas mãos uma espada para que nos matem".

22 Moisés voltou-se para o Senhor e perguntou: "Senhor, por que maltrataste este povo? Afinal, por que me enviaste?

23 Desde que me dirigi ao faraó para falar em teu nome, ele tem maltratado este povo, e tu de modo algum libertaste o teu povo!"


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Antigo testamento / Êxodo 4

Êxodo 4

Sinais para Moisés

1 Moisés respondeu: "E se eles não acreditarem em mim nem quiserem ouvir-me e disserem: 'O Senhor não te apareceu a ti?"

2 Então o Senhor perguntou-lhe: "Que é isso na tua mão?"
"Uma vara", respondeu ele.

3 Disse o Senhor: "Atira-a ao chão".
Moisés atirou-a, e ela se transformou numa serpente. Moisés fugiu dela, mas o Senhor disse-lhe: "Estende a mão e pega-a pela cauda". Moisés estendeu a mão, pegou a serpente e esta se transformou numa vara na sua mão.

4 E disse o Senhor: "Isso é para que eles acreditem que o Deus dos vossos antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacob, te apareceu a ti".

5 Disse-lhe mais o Senhor: "Coloca a mão no peito". Moisés obedeceu e, quando a retirou, estava leprosa; parecia neve.

6 Ordenou-lhe depois: "Agora, coloca de novo a mão no peito". Moisés tornou a pôr a mão no peito e, quando a tirou, ela estava novamente como o restante da sua pele.

7 Prosseguiu o Senhor: "Se eles não acreditarem em ti nem derem atenção ao primeiro sinal milagroso, acreditarão no segundo.

9 E, se ainda assim não acreditarem nesses dois sinais nem lhe derem ouvidos, tira um pouco de água do Nilo e derrama-a em terra seca. Quando derramares essa água em terra seca, ela se transformará em sangue".

10 Disse, porém, Moisés ao Senhor: "Ó Senhor! Nunca tive facilidade para falar, nem no passado nem agora que falaste ao teu servo. Não consigo falar bem!"

11 Disse-lhe o Senhor: "Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou o torna cego? Não sou eu, o Senhor?

12 Agora, pois, vai; eu estarei contigo, ensinando-te o que dizer".

13 Respondeu-lhe, porém, Moisés: "Ah, Senhor! Peço-te que envies outra pessoa".

14 Então o Senhor irou-se com Moisés e disse-lhe: "Tu não tens o teu irmão, Arão, o levita? Eu sei que ele fala bem. Ele já está vindo ao teu encontro e se alegrará ao ver-te.

15 Tu falarás com ele e dir-lhe-ás o que ele deve dizer; eu estarei convosco quando falarem e vos direi o que fazer.

16 Assim como Deus fala ao profeta, tu falarás ao teu irmão, e ele será o teu porta-voz diante do povo.

17 E leva na mão esta vara; com ela farás os sinais milagrosos".

Moisés volta ao Egipto

18 Depois Moisés voltou a Jetro, seu sogro, e disse-lhe: "Preciso voltar ao Egipto para ver se os meus parentes ainda vivem".
Jetro lhe respondeu: "Vai em paz!"

19 Ora, o Senhor tinha dito a Moisés, em Midiã: "Volta ao Egipto, pois já morreram todos os que procuravam matar-te".

20 Então Moisés levou a sua mulher e os seus filhos montados num jumento e partiu de volta ao Egipto. Levava na mão a vara de Deus.

21 Disse mais o Senhor a Moisés: "Quando voltares ao Egipto, tem o cuidado de fazer diante do faraó todas as maravilhas que te concedi o poder de realizar. Mas eu vou endurecer o coração dele, para não deixar o povo ir.

22 Depois diz ao faraó que assim diz o Senhor: Israel é o meu primeiro filho, e eu já te disse que deixes o meu filho ir para prestar-me culto. Mas te não quiseste deixá-lo ir; por isso matarei o teu primeiro filho!"

23 Numa hospedaria ao longo do caminho, o Senhor foi ao encontro de Moisés e procurou matá-lo.

24 Mas Zípora pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio do seu filho e tocou os pés de Moisés. E disse: "Tu és para mim um marido de sangue!"

25 Ela disse "marido de sangue", referindo-se à circuncisão. Nessa ocasião o Senhor deixou-o.

26 Então o Senhor disse a Arão: "Vai ao deserto encontrar-te com Moisés". Ele foi, encontrou-se com Moisés no monte de Deus e saudou-o com um beijo.

27 Moisés contou a Arão tudo o que o Senhor lhe tinha mandado dizer e prosseguiu falando de todos os sinais milagrosos que o Senhor lhe havia ordenado realizar.

28 Assim Moisés e Arão foram e reuniram todas as autoridades dos israelitas, e Arão lhes contou tudo o que o Senhor dissera a Moisés. Em seguida, Moisés também realizou os sinais diante do povo, e eles acreditaram. Quando o povo soube que o Senhor decidira vir em seu auxílio, tendo visto a sua opressão, curvou-se em adoração.


(Revisão da versão portuguesa por ama

Maio - Santo Rosário - Segundo Mistério Glorioso


Ascensão de Jesus ao Céu 


Os onze mais íntimos do teu Filho apressaram-se em vir contar-te o que se passou: Elevou-se ao Céu, à vista de todos e desapareceu da sua presença.

Volto a afirmar, sem receio algum de ser desmentido, que Ele te avisara previamente, talvez dizendo-te que chegara ao termo a Sua missão na terra e pedindo-te que “olhasses” pelos onze e os conduzisses com mão segura e terna nos primeiros tempos de desorientação e perplexidade.

O teu Filho voltava “à sua casa”, ao “lugar” que desde sempre fora o Seu.

No teu coração amantíssimo aninha-se o desejo quase incontrolável de te juntares a Ele quanto antes mas sabes bem que a tua missão na terra ainda não terminou.

Há tanto para fazer!
Tantos para guiar e conduzir com mão terna de Mãe!

A cada instante a tua casa fica repleta com esses amigos ainda inconsoláveis e algo desnorteados. Há que sossegá-los, dar-lhes apoio, esperança e, sobretudo, confiança que tudo se cumprirá como o teu Jesus dissera.


O teu Filho partiu para o Céu mas está sempre presente junto de ti numa união tão completa e cúmplice como sempre foi e, por isso mesmo, não estás triste, bem ao contrário tens de mostrar-te alegre para que possas transmitir a todos a alegria dos Filhos de Deus.

Silêncios de Deus

E os silêncios de Deus? 10

Ninguém conhece os caminhos da Providência divina, por onde Ele passa, o que quer com este golpe, o que está fazendo com esta aflição, morte, fracasso, desemprego (…).

Muitas Ordens religiosas foram provadas terrivelmente até se firmarem.
Mas, porque os seus fundadores não desanimaram e não desistiram, a Igreja se tornou rica e santa por causa delas.

Deus não é um ser mudo; Ele se revelou e revelará; se Ele, por vezes, parece calar-se, Ele o faz sábia e providencialmente.

filipe aquino


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo ComumPáscoa

Evangelho: Mc 9, 14-29

14 Chegando junto dos discípulos, viu uma grande multidão em volta, e os escribas a discutirem com eles. 15 E logo toda aquela multidão surpreendida por ver Jesus, correu para O saudar. 16 Perguntou-lhes: «Que estais a discutir entre vós?». 17 Um de entre a multidão respondeu-Lhe: «Mestre, eu trouxe-Te meu filho que está possesso de um espírito mudo, 18 que, onde quer que se apodere dele, o lança por terra, e o menino espuma, range com os dentes, e fica rígido. Pedi aos Teus discípulos que o expulsassem e não puderam». 19 Jesus respondeu-lhes: «Ó geração incrédula! Até quando hei-de estar convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-Mo cá». 20 Trouxeram-Lho. Tendo visto Jesus, imediatamente o espírito o agitou com violência e, caído por terra, revolvia-se espumando. 21 Jesus perguntou ao pai dele: «Há quanto tempo lhe sucede isto?». Ele respondeu: «Desde a infância. 22 O demónio tem-no lançado muitas vezes no fogo e na água, para o matar; porém Tu, se podes alguma coisa, ajuda-nos, tem compaixão de nós». 23 Jesus disse-lhe: «Se podes...! Tudo é possível a quem crê». 24 Imediatamente o pai do menino exclamou: «Eu creio! Auxilia a minha falta de fé». 25 Jesus, vendo aumentar a multidão, ameaçou o espírito imundo, dizendo-lhe: «Espírito mudo e surdo, Eu te mando, sai desse menino e não voltes a entrar nele!». 26 Então, dando gritos e agitando-se com violência, saiu dele, e o menino ficou como morto, tanto que muitos diziam: «Está morto». 27 Porém, Jesus, tomando-o pela mão, levantou-o, e ele pôs-se em pé. 28 Depois de ter entrado em casa, Seus discípulos perguntaram-Lhe em particular: «Porque não pudemos nós expulsá-lo?». 29 Respondeu-lhes: «Esta casta de demónios não se pode expulsar senão mediante a oração».

Comentário:

Por aqui se vê que, de facto o demónio existe e, mais, que há várias castas. Provavelmente, com poderes diferentes e “missões” distintas, como também se pode ver por exemplo, no caso do homem de Gerasa possuído por vários demónios que tinham um nome: Legião.

Como seres inteligentes em muito superiores aos homens, apenas diferem dos anjos por terem sido banidos do Paraíso, da presença de Deus, depois da rebelião celeste.

Jesus Cristo revela uma vez mais a Sua divindade ao reconhecê-los e às suas obras.


(AMA, comentário sobre, Mc 9, 14-29, 2014.02.24)


Leitura espiritual



INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

INTRODUÇÃO

“CREIO – AMÉM”

CAPÍTULO SEGUNDO

Forma Eclesial da Fé

Preliminares à história e à estrutura do Símbolo Apostólico da Fé

…/2

Talvez seja possível, partindo-se daqui, tornar compreensível um facto intrínseco à fé, que deveria parecer surpreendente à primeira vista podendo tornar, pelo menos aparentemente, problemático o comportamento religioso do homem. Pois a fenomenologia religiosa – como todos podemos comprovar – constata que no campo religioso, como nos demais domínios do espírito humano, parece haver gradação de capacidades. Conhecemos, por exemplo, no âmbito da música a classe de espíritos criadores ou produtivos, a dos meramente receptivos e, afinal, a dos a-musicais; o mesmo parece dar-se na religião. Também nela encontramos "talentos" religiosos e outros pouco prendados; também no terreno religioso são muito raros os elementos capazes de uma experiência religiosa e de alguma espécie de criatividade religiosa através de uma intuição mais viva do mundo sacral. O "mediador" ou o "fundador", a testemunha, o profeta, ou qualquer que seja seu nome, capazes de contacto directo com o "divino" são excepções. Em contraste com esses poucos para os quais a divindade se torna uma certeza evidente, encontram-se os muitos, meramente receptivos religiosamente falando, aos quais se recusa a experiência do "sagrado" e que, no entanto, não são tão surdos que não sejam capazes de viver um encontro com o divino através dos homens aos quais tais experiências são concedidas.

E impõe-se a objeção: não deveria cada pessoa ter acesso a Deus, se "religião" é uma realidade que interessa a cada um, e se cada qual se sente reivindicado de maneira idêntica por Deus? Não deveria haver plena "igualdade de oportunidades" e a mesma certeza patenteada a todos? Eis uma pergunta que aponta para o vazio, como se poderá ver do nosso ponto de consideração; pois o diálogo de Deus com os homens desenvolve-se exclusivamente dentro do diálogo dos homens entre si: a diferença de talentos religiosos que classifica os homens em "profetas" e "ouvintes" compele-os reciprocamente uns para junto dos outros e uns pelos outros. É irrealizável e não-cristão o programa do Agostinho dos primeiros tempos: "Deus e a alma – nada mais". Afinal, a religião não existe no solitário caminho do místico, mas só na comunidade do anúncio (pregação) e da audição. Postulam-se e condicionam-se mutuamente diálogo dos homens com Deus e diálogo dos homens entre si. Aliás, o mistério de Deus talvez represente, desde o início, o mais violento desafio do homem para o diálogo, desafio que jamais leva a um resultado completo, diálogo que, por obstruído e perturbado que seja, deixa ressoar o Logos, a palavra por excelência, da qual todas as palavras derivam, tentando proferir todas as vozes num ímpeto contínuo.

Um diálogo legítimo não se realiza entre homens que se contentam em falar sobre alguma coisa. A fala do homem alcança a sua peculiaridade somente ao tentar exprimir não alguma coisa, mas a si próprio, subindo o diálogo à comunicação. Onde tal acontece, onde o homem se exprime a si próprio na conversa, ali, de algum modo, se fala também de Deus, que é o tema dos debates dos homens entre si desde a aurora de sua história. Mas também somente onde o homem se exterioriza como objecto da sua fala, penetra no diálogo humano, com o Logos do ser humano, o Logos de todo ser. Eis a razão do silêncio do testemunho de Deus onde a fala somente é técnica de comunicação de "alguma coisa". Deus não está presente no cálculo lógico. Talvez a dificuldade hodierna de falar de Deus tenha a sua origem exactamente na crescente tendência do nosso falar para o cálculo puro, do facto de ela assumir uma significação crescente de pura comunicação técnica, sendo sempre menos um contacto do ser com o Logos, contacto que adivinha e palpa o fundamento de todas as coisas.

b) Fé como "símbolo".

A reflexão sobre a história do símbolo apostólico levou-nos ao conhecimento de que, na profissão de fé baptismal, estamos diante da forma primitiva da doutrina cristã e do protótipo daquilo que hoje denominamos "dogma". No início não existe uma série de proposições doutrinais capaz de ser citada e reunida num rol de dogmas. Tal ideia, que hoje quiçá se nos imponha, deveria ser considerada como ignorância da natureza da adesão cristã ao Deus que se revela em Cristo. O conteúdo da fé cristã tem o seu lugar fixo no contexto da profissão da fé, que, como vimos, é adesão e renúncia, conversão, virada do ser humano para um rumo novo de vida.

Ou dito de outra forma: a doutrina cristã não existe em forma de artigos atomizáveis, mas na unidade do "símbolo", como a antiga Igreja chama à profissão de fé baptismal. Impõe-se reflectir um pouco mais sobre a importância desta palavra. "Símbolo" vem de "symballein", coincidir, reunir. O seu fundo é formado por um antigo costume: duas partes entrosáveis de um anel, de um bastão ou de uma pequena tábua serviam de sinal de identificação para hóspedes, amigos, mensageiros, partes de contrato. O possuidor da metade correspondente à que estava com o outro, tinha direito de receber algo ou de ser hóspede. Símbolo é a parte que se enquadra com a outra metade criando assim um reconhecimento e uma unidade mútuos. É expressão e é possibilidade de união.

Na denominação da profissão da fé como símbolo existe um profundo significado da sua verdadeira natureza. Com efeito, tal foi exactamente o sentido original das formulações dogmáticas na Igreja: reconhecimento comum de Deus possibilitando comum adoração. Como símbolo, aponta para o outro, numa palavra, para a unidade do espírito. E neste sentido, como com razão observa Rahner, a palavra "dogma" (respectivamente: símbolo) sempre conota essencialmente com uma disciplinação idiomática, que, sob o ponto de vista puramente lógico, poderia receber outra formulação, mas que tem o seu sentido, também como forma idiomática: ser um concurso, um acorrer para a comunidade da palavra crente. Não se trata de uma doutrina isolada em si e por si, mas da forma da nossa liturgia, forma da nossa conversão, não apenas de uma volta a Deus, mas de uma volta, de um unir-se aos outros no rumo da glorificação comum de Deus. A doutrina cristã só encontra o seu exacto lugar dentro deste nexo interno. Seria sedutor tentar uma história da forma da doutrina cristã, partindo do diálogo baptismal através do "nós" conciliar até ao anátema, à confissão da Reforma, desembocando no dogma como afirmação isolada. Num tal estudo transpareceriam claramente a problemática e a consciência diferenciada das expressões da fé.

Outra consequência do que foi dito: cada pessoa detém a fé meramente como "symbolon", como fragmento imperfeito e truncado, destinado a encontrar a sua unidade e integridade ao unir-se com os outros: somente no "symballein", no entrosamento com eles, pode realizar-se o "symballein", o entrosar-se com Deus. A Fé exige unidade, clama pelo co-crente. A Fé relaciona-se com a Igreja, pela sua natureza. A Igreja não é uma organização secundária de ideias discrepantes; a Igreja não é, no máximo, um mal necessário; a Igreja pertence necessariamente à essência de uma fé, cujo sentido é a confluência de uma profissão comum adoração comuns.

Essa realidade aponta ainda em outra direcção: a própria Igreja, em conjunto, tem a fé apenas como "symbolon", como metade partida; e somente indicando para além da Igreja, para o todo, é que essa fé corresponde à verdade. Através da infinita fragmentação do símbolo, a fé consegue alcançar o seu Deus, como um contínuo auto-ultrapassar-se do homem.

Com tal torna-se claro um último ponto, que nos reconduz ao início. Agostinho conta nas suas Confessiones como se tornara decisivo para o seu próprio caminho de conversão saber que o conhecido filósofo Mário Vitorino se tinha tornado cristão, após ter-se recusado durante muitos anos a ingressar na Igreja, alegando já possuir na sua filosofia todos os elementos essenciais do cristianismo, com cujos postulados básicos concordava. Tendo já, como suas, dentro do seu pensamento filosófico, as ideias cristãs centrais, não lhe parecia necessária a institucionalização das suas convicções mediante uma adesão explícita à Igreja. Como numerosos intelectuais de então e de hoje, Agostinho via na Igreja um platonismo feito para o povo, do qual ele não precisava como platónico lídimo. Como elemento decisivo mostrou-se-lhe apenas o pensamento: somente quem não conseguisse captar a verdade na sua originalidade como o filósofo deveria entrar em contacto com ela mediante a organização eclesiástica. Mas, Mário Vitorino, um belo dia, aderiu à Igreja, convertendo-se de platónico em cristão. E estava aí a expressão das suas convicções a respeito do erro fundamental em que versara. O grande platónico compreendeu que a Igreja é algo mais e algo outro do que uma externa institucionalização e organização de ideias. Compreendeu que o cristianismo não é um sistema de conhecimentos, mas um caminho. O "nós" dos crentes não é um acréscimo secundário feito para espíritos mesquinhos, mas, em certo sentido, é a própria coisa; a comunidade humana é uma realidade que se situa num plano diferente do que a mera "ideia". Se o platonismo fornece uma ideia da verdade, a fé cristã aponta a verdade como um caminho, e somente tornando-se caminho, se torna a verdade do homem e para o homem. Verdade como simples conhecimento, como mera ideia conserva-se sem força, e torna-se verdade do homem só como caminho que o reivindica e pelo qual ele pode e deve enveredar.

Portanto, faz parte essencial da fé a profissão, a palavra e a unidade criada pela palavra; pertence-lhe o ingresso na liturgia da comunidade e, afinal, aquele estar-com-os-outros a que chamamos Igreja. A Fé cristã não é ideia, mas vida; não é espírito existente para si, mas encarnação, espírito em corpo, no corpo da história e do seu "nós". Não é mística de auto-identificação do espírito com Deus, mas obediência e serviço: ultrapassagem do "eu", libertação do "eu", exactamente pela aceitação do que não foi nem feito nem imaginado por mim; libertação mediante a aceitação para o todo.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)



Doutrina – 145

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

49. Como operam as três Pessoas divinas?

Inseparáveis na sua única substância, as Pessoas divinas são inseparáveis também no seu operar: a Trindade tem uma só e mesma operação. Mas no único agir divino, cada Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na Trindade.

«Ó meu Deus, Trindade que eu adoro... pacificai a minha alma; fazei dela o vosso céu, vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que eu não vos deixe nunca só, mas que esteja lá, com todo o meu ser, toda vigilante na minha fé, toda em adoração, toda oferecida à vossa acção criadora». [1]



[1] Beata Isabel da Trindade

Mãe! – Chama-a bem alto

Mãe! – Chama-a bem alto. – Ela, a tua Mãe Santa Maria, escuta-te, vê-te em perigo talvez, e oferece-te, com a graça do seu Filho, o consolo do seu regaço, a ternura das suas carícias. E encontrar-te-ás reconfortado para a nova luta. (Caminho, 516)

Intimidade com Maria

De uma maneira espontânea, natural, surge em nós o desejo de conviver com a Mãe de Deus, que é também nossa mãe; de conviver com Ela como se convive com uma pessoa viva, porque sobre Ela não triunfou a morte; está em corpo e alma junto a Deus Pai, junto a seu Filho, junto ao Espírito Santo.

Para compreendermos o papel que Maria desempenha na vida cristã, para nos sentirmos atraídos por Ela, para desejar a sua amável companhia com filial afecto, não são precisas grandes especulações, embora o mistério da Maternidade divina tenha uma riqueza de conteúdo sobre a qual nunca reflectiremos bastante.

Temos de amar a Deus com o mesmo coração com que amamos os nossos pais, os nossos irmãos, os outros membros da nossa família, os nossos amigos ou amigas. Não temos outro coração. E com esse mesmo coração havemos de querer a Maria.


Como se comporta um filho ou uma filha normal com a sua Mãe? De mil maneiras, mas sempre com carinho e confiança. Com um carinho que se manifestará em cada caso de determinadas formas, nascidas da própria vida, e que nunca são algo de frio, mas costumes muito íntimos de família, pequenos pormenores diários que o filho precisa de ter com a sua mãe e de que a mãe sente falta, se o filho alguma vez os esquece: um beijo ou uma carícia ao sair ou ao voltar a casa, uma pequena delicadeza, umas palavras expressivas... (Cristo que passa, 142)

Diálogos apostólicos Diálogos apostólicos

 Diálogos apostólicos II Parte
7 - [1]

Fazes-me, hoje uma grande pergunta:

O que é a liberdade?

Respondo:

A liberdade é o poder, dado por Deus ao homem, de agir e não agir, de fazer isto ou aquilo, praticando assim por si mesmo acções deliberadas.
A liberdade caracteriza os actos propriamente humanos.
Quanto mais faz o bem, mais se torna livre.
A liberdade atinge a perfeição quando é ordenada para Deus, sumo Bem e nossa Bem-aventurança.
A liberdade implica também a possibilidade de escolher entre o bem e o mal. A escolha do mal é um abuso da liberdade, que conduz à escravatura do pecado.


[1] Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.

Diálogos apostólicos

Diálogos apostólicos II Parte
3 - [1]

Mas, então, e o Reino de Deus não é eterno?

A resposta tem de conter quase os mesmos parâmetros das anteriores porque o Reino de Deus teve efectivamente um princípio concretizado com a Ressurreição de  Jesus Cristo.

Ele mesmo afirma por várias vezes que veio para anunciar o Reino; que o Reino está próximo, etc.

Ora não se anuncia algo que já existe mas sim que vai passar a existir.



[1] Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.

Reflectindo - 181

Sou boa pessoa?

…/5

Fazer o bem para obter recompensa divina é perfeitamente aceitável e uma excelente motivação tanto mais que sabemos que o Senhor nunca se deixa vencer em generosidade.

"Deitar-vos-ão no regaço uma medida cheia, calcada, a transbordar".

Ou seja: uma medida sem cálculo nem excesso de rigor.


(ama, Reflexões, Algarve, Setembro 2015)