20/05/2016

Pequena agenda do cristão


Sexta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Os demónios do apostolado 13

A instalação

O demónio da instalação, às vezes com boas desculpas, corrói no apóstolo o espírito de superação em todos os aspectos. É uma tentação que costuma chegar, ainda que nem sempre, com o passar dos anos e a chegada da maturidade. Ela expressa-se no facto do apóstolo ter encontrado o seu cantinho, o seu ritmo e o seu modo de trabalhar, e de se ter arraigado nos seus critérios e ideias. Ele é consciente de que o apostolado da Igreja avançou, que ele apresenta novos desafios e exigências, mas não tem disposição para mudar e renovar-se. Aos mais jovens que trabalham junto dele, deixa-os fazer, mas não se deixa questionar. Pode até participar em reuniões e cursos de renovação, mas estes não têm influência sobre ele. Tudo o que ele espera é que o deixem em paz, instalado na sua pastoral que, além do mais, costuma realizar de forma irrepreensível. Apesar disso, é possível até que ocupe altos cargos na Igreja.

Esta tentação, que vai tomando conta lentamente e se torna inevitável quando o apóstolo perde a espiritualidade do trabalho, costuma ir combinada com a instalação nos seus próprios defeitos. Provavelmente nem se trata de algo realmente grave, mas o dinamismo espiritual está estancado. Sob uma aparência exterior honesta, há uma mediocridade interior. Desanimado, já não tem suficiente esperança e nem confiança em Deus para melhorar e, tacitamente, já fez um pacto com os seus defeitos e mediocridade que ele pensa, falsamente, que não pode ou não vale a pena superar. “Eu sou assim mesmo…”.

Este demónio induz a pensar, sobretudo depois de certa idade, que se tem o direito de procurar compensações e de aburguesar-se. E, então, o apóstolo termina contentando-se com as exigências mínimas.

Fonte: presbíteros

(revisão da versão portuguesa por ama)

Este texto é um extracto do livro do teólogo chileno segundo galilea, Tentación y Discernimiento, Narcea, Madrid 1991, p. 29-67.

Antigo testamento / Êxodo 9

Êxodo 9

A peste nos animais

1 Depois o Senhor disse a Moisés: "Vai ao faraó e diz-lhe que assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: Deixa o meu povo ir para que me preste culto.

2 Se ainda não quiseres deixá-lo ir e continuar a impedi-lo, fica sabendo que a mão do Senhor trará uma praga terrível sobre os rebanhos do faraó que estão nos campos: os cavalos, os jumentos, os camelos, os bois e as ovelhas.

3 Mas o Senhor fará distinção entre os rebanhos de Israel e os do Egipto. Nenhum animal dos israelitas morrerá".

4 O Senhor estabeleceu um prazo: "Amanhã o Senhor fará o que prometeu nesta terra".

5 No dia seguinte o Senhor o fez. Todos os rebanhos dos egípcios morreram, mas nenhum rebanho dos israelitas morreu.

6 O faraó mandou verificar e constatou que nenhum animal dos israelitas havia morrido. Mesmo assim, o seu coração continuou obstinado e não deixou o povo ir.

A praga das chagas

7 Disse mais o Senhor a Moisés e a Arão: "Tirem um punhado de cinza de uma fornalha, e Moisés a espalhará no ar, diante do faraó.

8 Ela se tornará como um pó fino sobre toda a terra do Egipto, e feridas purulentas surgirão nos homens e nos animais em todo o Egipto".

9 Eles tiraram cinza duma fornalha e puseram-se diante do faraó. Moisés a espalhou pelo ar, e feridas purulentas começaram a estourar nos homens e nos animais.

10 Nem os magos podiam manter-se diante de Moisés, porque ficaram cobertos de feridas, como os demais egípcios.

11 Mas o Senhor endureceu o coração do faraó, e ele recusou-se a atender Moisés e Arão, conforme o Senhor tinha dito a Moisés.

A praga da saraiva

12 Disse o Senhor a Moisés: "Levanta-se logo cedo, apresenta-te ao faraó e diz-lhe que assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: Deixa o meu povo ir para que me preste culto.

13 Caso contrário, mandarei desta vez todas as minhas pragas contra você, contra os teus conselheiros e contra o teu povo, para que saibas que em toda a terra não há ninguém como eu.

14 Porque eu já poderia ter estendido a mão, ferindo-te a ti e o seu povo com uma praga que o teria eliminado da terra.

15 Mas eu mantive-te em pé exactamente com este propósito: mostrar-te o meu poder e fazer que o meu nome seja proclamado em toda a terra.

16 Contudo ainda insistes em colocar-te contra o meu povo e não o deixas ir.

17 Amanhã, a esta hora, enviarei a pior tempestade de granizo que já caiu sobre o Egipto, desde o dia da sua fundação até hoje.

18 Agora, manda recolher os teus rebanhos e tudo o que tens nos campos. Todos os homens e animais que estiverem nos campos, que não tiverem sido abrigados, serão atingidos pelo granizo e morrerão".

19 Os conselheiros do faraó que temiam a palavra do Senhor apressaram-se em recolher aos abrigos os seus rebanhos e os seus escravos.

20 Mas os que não se importaram com a palavra do Senhor deixaram os seus escravos e os seus rebanhos no campo.

21 Então o Senhor disse a Moisés: "Estende a mão para o céu, e cairá granizo sobre toda a terra do Egipto: sobre homens, sobre animais e sobre toda a vegetação do Egipto".

22 Quando Moisés estendeu a vara para o céu, o Senhor fez vir trovões e granizo, e raios caíam sobre a terra. Assim o Senhor fez chover granizo sobre a terra do Egipto.

23 Caiu granizo, e raios cortavam o céu em todas as direcções. Nunca houve uma tempestade de granizo como aquela em todo o Egipto, desde que este se tornou uma nação.

24 Em todo o Egipto o granizo atingiu tudo o que havia nos campos, tanto homens como animais; destruiu toda a vegetação, além de quebrar todas as árvores.

25 Somente na terra de Gósen, onde estavam os israelitas, não caiu granizo.

26 Então o faraó mandou chamar Moisés e Arão e disse-lhes: "Desta vez eu pequei. O Senhor é justo; eu e o meu povo é que somos culpados.

27 Orem ao Senhor! Os trovões de Deus e o granizo já são demais. Eu vos deixarei ir; não precisam mais ficar aqui".

28 Moisés respondeu: "Assim que eu tiver saído da cidade, erguerei as mãos em oração ao Senhor. Os trovões cessarão e não cairá mais granizo, para que saibas que a terra pertence ao Senhor.

29 Mas eu bem sei que tu e os teus conselheiros ainda não sabem o que é tremer diante do Senhor Deus!"

30 (O linho e a cevada foram destruídos, pois a cevada já havia amadurecido e o linho estava em flor.

31 Todavia, o trigo e o centeio nada sofreram, pois só amadurecem mais tarde.)

32 Assim Moisés deixou o faraó, saiu da cidade, e ergueu as mãos ao Senhor. Os trovões e o granizo cessaram, e a chuva parou.

33 Quando o faraó viu que a chuva, o granizo e os trovões haviam cessado, pecou novamente e obstinou-se no seu coração, ele e os seus conselheiros.

34 O coração do faraó continuou endurecido, e ele não deixou que os israelitas saíssem, como o Senhor tinha dito por meio de Moisés.


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Maio - Monstra te esse matrem


Monstra te esse matrem!

Sim, mostra que és Mãe, minha Mãe.

Como, apesar de tudo quanto não sou e deveria ser, tu és minha Mãe e me queres, e me proteges, e desejas a minha felicidade aqui na terra e, depois, no Céu.

Monstra te esse matrem!

Ajuda-me também a mostrar-me como teu filho, a comportar-me, a conduzir a minha vida como teu filho, e, sobretudo: 

Recordare Virgo Mater Di, dum steteris in conspectu Domini et loquaris pro me bona. Amen.

ama 

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo ComumPáscoa

Evangelho: Mc 10, 1-12

1 Saindo dali, foi Jesus para o território da Judeia, e além Jordão. Novamente as multidões se juntaram à volta d'Ele, e de novo as ensinava, segundo o Seu costume. 2 Aproximando-se os fariseus, perguntavam-Lhe para O tentarem: «É lícito ao marido repudiar a mulher?». 3 Ele respondeu-lhes: «Que vos mandou Moisés?». 4 Eles responderam: «Moisés permitiu escrever libelo de repúdio e separar-se dela». 5 Jesus disse-lhes: «Por causa da dureza do vosso coração é que ele vos deu essa lei.6 Porém, no princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. 7 Por isso deixará o homem pai e mãe, e se juntará à sua mulher; 8 e os dois serão uma só carne. Assim não mais são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, não separe o homem o que Deus juntou». 10 Depois, em casa, os discípulos interrogaram-n'O novamente sobre o mesmo assunto. 11 Ele disse-lhes: «Quem repudiar a mulher e se casar com outra comete adultério contra a primeira; 12 e se a mulher repudiar o marido e se casar com outro comete adultério».

Comentário:

O Evangelho é sempre actual!

Esta passagem de São Marcos reflecte muitíssimo bem o que Jesus Cristo estabelece sobre o matrimónio.

A Doutrina da Igreja é clara neste candente assunto.

O Papa, o Magistério, estão atentos e debruçam-se com empenho na procura de orientações simples mas seguras que permitam aos cristãos viver como Deus quer que vivam.


É estrita obrigação de todos rezar intensamente ao Espírito Santo para que ilumine e guie a Igreja.

(ama, comentário sobre Mc 10, 2-12, 2015.10.04)


Leitura espiritual



INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

INTRODUÇÃO

“CREIO – AMÉM”

CAPÍTULO SEGUNDO

PRIMEIRA PARTE

DEUS

«Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra"

CAPÍTULO SEGUNDO

A Fé em Deus na Bíblia

2. Pressuposto intrínseco da Fé em "Iahvé": o Deus dos pais

Na raiz etimológica e lógica do nome "Iahvé" que julgamos reconhecer no Deus pessoal insinuado pela forma "yau", torna-se visível tanto a escolha como a segregação que afectou Israel no seu ambiente religioso-histórico, como também a continuidade com a pré-história de Israel desde Abraão. Sem dúvida, o Deus dos pais não se chamava Iahvé, mas vem-nos ao encontro como "El" ou "Elohim". Assim os patriarcas podiam entrosar-se com a religião de El, do seu mundo ambiente, caracterizada essencialmente pelo cunho social e pessoal da divindade denominada El. O Deus pelo qual optaram distingue-se religioso-tipicamente pelo facto de ser numen personale (um Deus pessoal) e não numen locale (um Deus local). Que vem a ser isto? Tentemos explicá-lo brevemente partindo cada vez do ponto de saída do que se diz. Primeiro, poderíamos lembrar-nos do seguinte: a experiência religiosa da humanidade deflagra-se em lugares sagrados onde, por um motivo qualquer, o todo outro, o divino, se torna particularmente sensível; uma fonte, um roble poderoso, uma pedra misteriosa ou um acontecimento incomum podem tornar-se actinos. Mas então, em breve, surge o perigo de que o lugar da experiência religiosa e a própria divindade se confundam, de modo que o homem acredite numa presença especial de Deus em determinado lugar, não a supondo possível noutro – o local torna-se lugar sagrado, habitação da divindade. Ou então, a ligação local com o divino assim efectuada conduz, com uma espécie de fatalismo, para a sua multiplicação: a experiência do sagrado dá-se em muitos lugares e não em um apenas, embora o sagrado seja imaginado como circunscrito cada vez ao seu local; por isto surge uma multiplicidade de divindades locais que se tornam divindades próprias dos respectivos espaços. Pode constatar-se uma certa sombra destas tendências mesmo no cristianismo, entre fiéis pouco esclarecidos, para os quais as Senhoras de Lourdes, Fátima ou Aparecida são seres diferentes e não representações da mesma pessoa. Mas voltemos ao nosso tema. Em contraposição à tendência pagã do numen locale, da divindade local, ou seja condicionada e limitada localmente, o Deus dos patriarcas expressa uma determinação completamente diversa. Não é o Deus de um lugar, mas o Deus dos homens: o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob, que não está ligado a um local, mas encontra-se, poderoso e activo, em toda parte, onde se encontre o homem. Assim chega-se a um modo completamente diferente de pensar sobre Deus. Deus é visto no plano do "eu" e do "tu", não no plano espacial. Afasta-se para a transcendência do ilimitado e, exactamente assim, se revela como o próximo em toda parte (e não em um local apenas), cujo poder é ilimitado. Ele não está em alguma parte, mas encontra-se onde está o homem e onde o homem se deixa encontrar por ele. Decidindo-se por El, os pais de Israel realizaram uma escolha de maior transcendência: pelo numen personale contra o numen locale, do Deus pessoal e relacionado pessoalmente, que pensa e se encontra no âmbito do "eu" e do "tu" e não, primariamente, em lugares sagrados. Esse traço fundamental do El permaneceu um dos elementos básicos não só da religião de Israel, como também da fé do Novo Testamento: um Deus pessoal é o ponto de partida da religião, um Deus é compreendido naquele plano que se caracteriza pela relação do "'eu" com o "tu".

A este aspecto que determina essencialmente a localização da fé em El, cumpre acrescentar um segundo: El não é considerado apenas como dono de personalidade própria, como Pai, Criador dos seres, como Sábio, e Monarca; ele impõe-se sobretudo como o Deus máximo, como a suprema força, como o que paira acima de todas as coisas. Não é preciso destacar que também este segundo elemento se conservou característico para a experiência bíblica inteira de Deus. Não se opta por uma força qualquer a actuar num lugar qualquer, mas exclusivamente por aquela força que inclui em si todo o poder e que se sobrepõe a todas as demais dominações.

Finalmente temos de apontar para um terceiro elemento que igualmente perdura através de todo o pensamento bíblico: esse Deus é o Deus da promessa. Não é uma força da natureza, em cuja epifania (revelação, manifestação) se mostra o eterno poder da natureza, o eterno "morre e serás"; não é um Deus a orientar o homem para o imutável bailado do cosmos, mas a apontar para o que há-de vir, para a meta de sua história, para o sentido e o fim que são definitivos – é o Deus da esperança colocada no futuro, um rumo que é irreversível.

Finalmente ainda resta dizer que a fé em El foi aceite pelos israelitas sobretudo na sua forma desdobrada em "Elohim", na qual se revela, ao mesmo tempo, o processo de metamorfose de que a figura de El também precisava. Poderia causar espécie o facto de substituir-se aqui o singular "El" por um termo que, propriamente, denota plural (Elohim). Sem precisar expor os detalhes multiformes deste processo, seja dito que foi exactamente assim que Israel conseguiu acentuar sempre mais a singularidade do seu Deus: um Deus único, mas supergrande, todo outro, ultrapassando os limites de singular e plural, estando além deles. Embora não se encontre no Antigo Testamento (pelo menos no seu estágio mais antigo) nenhuma revelação trinitária, oculta-se neste facto uma experiência orientadora para a doutrina cristã do Deus trino. Sabe-se, embora sem reflectir, que, por um lado, Deus é radicalmente um, sem contudo poder ser enquadrado nas nossas categorias de singular e plural, ficando acima delas, de modo que, afinal, também não pode ser determinado com exactidão pela categoria "um", por mais que, na verdade, seja um Deus apenas. Na história antiga de Israel (e também mais tarde, exactamente para nós) isto significa que, dessa maneira, foi incorporado o legítimo problema inerente ao politeísmo. O plural relacionado com o Deus único significa: Ele é tudo que é divino.

Se quiséssemos falar adequadamente sobre o Deus dos patriarcas, deveríamos acrescentar agora que espécie de renúncia se acha incluída na afirmação que se nos apresenta nas formas El e Elohim. Baste o aceno para dois nomes divinos que predominavam no ambiente existencial de Israel. São excluídas as ideias de Deus espalhadas entre os povos vizinhos dos israelitas sob o nome de Baal (= o Senhor) e Melech ou Moloch (= rei). Repudia-se assim o culto da fertilidade e a ligação local do divino que ela envolve. Além disto, com a negação do deus régio Melech, repudia-se determinado modelo social. O Deus de Israel não se refugia na distância aristocrática de um rei, não conhece o despotismo ilimitado que, naquele tempo, se ligava ao conceito de monarca – é o Deus próximo capaz de tornar-se o Deus de cada pessoa. Quanto se poderia dizer e ponderar sobre este ponto!... Renunciemos a isto, para tornar ao ponto de partida, à questão do Deus da sarça-ardente.

3. Iahvé, Deus dos patriarcas e de Jesus Cristo

Iahvé é considerado o Deus dos patriarcas. Na fé em Iahvé incluem-se todos os ingredientes que eram visados na fé dos pais, recebendo assim um nexo novo e nova forma. Mas, onde está o específico, o novo expresso com o vocábulo "Iahvé"? São numerosas as respostas; não é possível transmitir com certeza o sentido exacto das fórmulas de Ex 3. Contudo, destacam-se dois aspectos. Constatamos que, para a nossa mentalidade, o simples facto de um Deus que tem nome, surgindo como uma espécie de indivíduo, causa escândalo. Mas, encarando mais de perto o texto, surge a pergunta: Tratar-se-ia realmente de um nome? Tal pergunta inicialmente parece absurda, pois está fora de dúvida que Israel conhecia a palavra Iahvé como um nome divino. Uma leitura atenta, no entanto, mostra que a cena da sarça-ardente expõe este nome de tal modo, que ele parece excluído como nome; em todo caso, parece afastar-se do rol de denominações divinas, a que primeiro parece pertencer. Escutemos com atenção! Moisés pergunta: Os filhos de Israel, aos quais me envias, dirão: Quem é o Deus que te manda? Qual é o seu nome? Como deverei responder-lhes? A seguir relata-se que Deus respondeu a Moisés: "Sou aquele que sou"; também poderíamos traduzir: "Sou o que sou". Temos aí propriamente uma recusa; parece antes uma negação de citar o nome, do que uma apresentação do nome. Toda a cena está envolvida como que numa atmosfera de mau-humor, por causa de tamanha importunação e a resposta vem impaciente: Ora, sou quem sou! A ideia de que aqui não se dá nome algum, mas de que a pergunta de Moisés foi rejeitada, torna-se mais provável, através do cotejo com os dois textos que se poderiam aduzir como paralelos ao nosso: Jz 13,18 e Gén 32,30. No texto de Jz 13,18 um certo Manué pergunta pelo nome do Deus que lhe aparece. Recebe como resposta: "Por que perguntas pelo meu nome? Ele é mistério (ou: ele é misterioso)". Não é mencionado nome algum. Em Gén 32,30 é Jacob quem pergunta pelo nome, após a luta noturna com o desconhecido; e também ele recebe uma resposta negativa: "Por que perguntas por meu nome?" Ambos os tópicos são muito aparentados com o nosso texto, tanto linguisticamente, como estruturalmente, de modo que se tornaria difícil não aceitar entre eles uma dependência ideal. Também aqui nota-se o gesto da recusa. O Deus com o qual Moisés trata na sarça-ardente não pode citar seu nome, da mesma maneira como os deuses vizinhos; deuses-indivíduos ao lado de outros da mesma espécie e por isto necessitados de um nome. O Deus da sarça não se enfileira entre eles.

No gesto da recusa transparece um pouco desse Deus todo outro frente às divindades. A interpretação do nome "Iahvé" pelo verbo "ser" serve, assim, a uma espécie de teologia negativa. Destaca o nome como nome, realizando, por assim dizer, a volta do excessivamente conhecido (que o nome parece indicar) ao desconhecido, ao oculto. Dissolve o nome no seio do mistério, de modo que, no nome, se equiparam ser conhecido e não ser, ocultamento e revelação de Deus. O nome, sinal de conhecimento, torna-se sigla para o perene "ser-desconhecido" e "ser-inominável" de Deus. Em vez da ideia de poder apreender a Deus, oculta-se aqui a permanência da infinita distância. E neste sentido foi legítima aquela evolução pela qual os israelitas evitavam mais e mais pronunciar esse nome, usando de perífrases, de modo que, na versão grega, ele não figura mais, tendo sido substituído pela palavra "Senhor". Nesta evolução compreende-se mais exactamente, sob muitos pontos de vista, o mistério da cena da sarça, do que em muitas explicações filológicas.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)



Doutrina – 149

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

53. Para que foi criado o mundo?

O mundo foi criado para a glória de Deus, que quis manifestar e comunicar a sua bondade, verdade e beleza. O fim último da criação é que Deus, em Cristo, possa ser «tudo em todos» [1], para a sua glória e para a nossa felicidade.

«A Glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus» [2].



[1] 1 Cor 15,28
[2] Santo Ireneu

Pequena agenda do cristão


Sexta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Ano Jubilar da misericórdia - Reflexão

divulgacao02 Palmeiras estica seu pires e pede esmola aos torcedores ...Esmola

A tendência para associar a misericórdia à esmola é recorrente. Tal serve a muitos para se considerarem isentos de pensar muito no assunto: 'ajudo tanta gente...’

É, pelo menos, simplificar as coisas e reduzi-las a uma atitude simplista em vez de, como deve ser, procurar com abertura de espírito o verdadeiro âmbito e significado da palavra.

Dar esmola é apenas uma das obras de misericórdia e, sem dúvida, uma das que mais se pratica.

Reconheçamos, porém, que ė a mais fácil de praticar não exigindo grande esforço ou preocupação.

Mas... e as outras sete?

Não vamos ver uma a uma mas considerar que a verdadeira misericórdia tem de estar no nosso coração de forma permanente e para ser de facto verdadeira tem de se traduzir em atitudes concretas.

Dar esmola não me dispensa de visitar quem está doente sobretudo se se trata de alguém que não recebe apoio nem de familiares - que talvez não tenha - ou de conhecidos que talvez não sejam seus amigos.

A experiência de cada um sobre este assunto revela que não é fácil.

Além do incómodo da deslocação - ao hospital ou onde for -  há que enfrentar também a delicadeza da situação em que se encontra quem vamos visitar, o seu estado de espírito, a receptividade que pode ou não manifestar à nossa visita e, até, muitas vezes o termos de ter a paciência para ouvir longas histórias repetidas sobre os males que o afligem e condicionam.
[1]




[1] (ama, Reflexão, Ano Jubilar da Misericórdia, 2016.01.31)

Maria procura o Filho que se perdeu

Três dias e três noites procura Maria o Filho que se perdeu... Oxalá possamos dizer, tu e eu, que a nossa vontade de encontrar Jesus também não conhece descanso. (Sulco, 794)

Que dor a de sua Mãe e a de S. José, porque – no regresso de Jerusalém – não vinha entre os parentes e amigos! E que alegria a sua, quando o veem, já de longe, doutrinando os mestres de Israel! Mas reparai nas palavras, aparentemente duras, que saem da boca do Filho, ao responder a sua Mãe: por que me buscáveis?

Não era razoável que o procurassem? As almas que sabem o que é perder Cristo e encontrá-lo podem compreender isto... Por que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai? Não sabíeis, porventura, que eu devo dedicar totalmente o meu tempo ao meu Pai celestial?


Este é o fruto da oração de hoje: que nos persuadamos de que o nosso caminhar na terra – em todas as circunstâncias e em todos os momentos – é para Deus; que é um tesouro de glória, uma imagem do Céu; que é, nas nossas mãos, uma maravilha que temos de administrar, com sentido de responsabilidade perante os homens e perante Deus, sem necessidade de mudar de estado, no meio da rua, santificando a nossa profissão ou o nosso ofício, a vida de família, as relações sociais e todas as actividades que parecem à primeira vista só terrenas. (Amigos de Deus, 53–54)

Temas para meditar - 636

Convivência


(As pessoas) não podem conviver se não têm os mesmos gostos e não gozam e se entristecem com as mesmas coisas.


(S. tomás de aquinoIn ethica Arist. Ad Nicom. Expositio 9,3.