25/05/2016

Santo Rosário - Mistérios da Luz

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MISTÉRIOS DA LUZ ([i])

Segundo Mistério


Bodas de Caná

Este "mistério" evoca dois importantes acontecimentos:

O início da vida pública de Jesus Cristo que pela primeira vez nos apa­rece acompanhado de discípulos o que significa que a Sua missão re­dentora começa por formar o escol, o núcleo central dos Seus seguido­res e a instituição formal do matrimónio.

Com a Sua presença Cristo avaliza a união entre um homem e uma mulher.

Evidentemente que não pudemos esquecer o primeiro milagre público que, de certo modo, vem "coroar" o dito antes.

É uma cena comum, familiar e ao mesmo tempo de sociedade. E Cristo está presente como que a demonstrar que não Se alheia da vida co­mum dos Seus irmãos os homens por mais trivial ou simples que possa ser.

Parece haver como que um "repensar" a resposta que deu à Santíssima Virgem e, de facto, o que se pode concluir é que terá querido de forma clara e iniludível sublinhar o "poder intercessor" da Sua Santíssima Mãe.

Por outro lado, a Santíssima Virgem define de forma lapidar o que, sabe, é o melhor para nós:

«Fazei o que Ele vos disser"!

Assim resume o que realmente deverá ser a nossa postura no caminho da salvação:

Fazer em tudo, a Vontade de Deus!

Nunca estamos entregues a nós mesmos, Jesus Cristo está connosco para nos guiar e conduzir.
E, se acaso, alguma vez não vejamos com suficiente clareza o que fazer bastará perguntar-lhe:

Senhor, agora, nestas circunstâncias, com estas condicionantes que surgiram inopinadamente... que queres que faça?

Sabemos por experiência própria que algumas vezes a vontade de Deus se apresenta como que difusa, pouco clara.

Outras vezes, trava-se uma luta no nosso íntimo entre aquilo que nos apetece fazer e o que sabemos nos convém que façamos.

E, o que nos convém, é sempre actuar com a meridiana certeza que fazemos o melhor que podemos em cada circunstância.

Os desejos, os propósitos têm sempre de estar estreitamente ligados à nossa consciência segura, bem formada que nunca deixará de nos alertar para o desvio, o desleixo, a comodidade.

Temos sempre um último recurso que, aliás é o primeiro:

Pedir à Nossa Mãe do Céu que nos indique e leve por um caminho seguro.

O seu coração de Mãe extremosa não deixará de atender a nossa sú­plica:

Cor Maria Dulcíssimo iter para tuto!

(ama, Malta, Abril de 2016)



[i] São João Paulo II acrescentou estes “Mistérios” a que chamou da Luz – ou Luminosos– ao Rosário de Nossa Senhora.

Não sei, evidentemente, a razão que terá levado o Santo Pontífice a fazê-lo e alguém poderá questionar o que têm a ver com o Rosário Mariano.

Têm tudo a ver porque a vida de Nossa Senhora está tão intimamente unida à do Seu Filho, nosso Salvador, que me parece muito lógico e adequado.

Os Cinco Mistérios levam-nos a considerar, principalmente, a instituição dos sacramentos que Jesus nos quis deixar como preciosos e imprescindíveis meios para obter a Salvação Eterna que nos ganhou na Cruz.

Antigo testamento / Génesis

Génesis 34

Diná e Siquem

1 Certa vez, Diná, a filha que Lia dera a Jacob, saiu para conhecer as mulheres daquela terra.

2 Siquém, filho de Hamor, o heveu, governador daquela região, viu-a, agarrou-a e violentou-a.

3 Mas o seu coração foi atraído por Diná, filha de Jacob, e ele amou a jovem e falou-lhe com ternura.

4 Por isso Siquém foi dizer a Hamor, seu pai: "Consegue-me aquela jovem para que seja minha mulher".

5 Quando Jacob soube que sua filha Diná tinha sido desonrada, seus filhos estavam no campo, com os rebanhos; por isso esperou calado até que regressassem.

6 Então Hamor, pai de Siquém, foi conversar com Jacob.

7 Quando os filhos de Jacob voltaram do campo e souberam de tudo, ficaram profundamente entristecidos e irados, porque Siquém tinha cometido um acto vergonhoso em Israel, ao deitar-se com a filha de Jacob - coisa que não se faz.

8 Mas Hamor disse-lhes: "O meu filho Siquém apaixonou-se pela vossa filha. Por favor, entreguem-na a ele para que seja sua mulher.

9 Casem-se entre nós; deem-nos as  vossas filhas e tomem para vocês as nossas.

10 Estabeleçam-se entre nós. A terra está aberta para vocês: habitem-na, façam comércio nela e adquiram propriedades".

11 Então Siquém disse ao pai e aos irmãos de Diná: "Concedam-me este favor, e eu lhes darei o que me pedirem.

12 Aumentem quanto quiserem o preço e o presente pela noiva, e pagarei o que me pedirem. Tão somente me deem a jovem por mulher".

13 Os filhos de Jacob, porém, responderam com falsidade a Siquém e a seu pai, Hamor, por Siquém ter desonrado Diná, a irmã deles.

14 Disseram: "Não podemos fazer isso; jamais entregaremos a nossa irmã a um homem que não seja circuncidado. Seria uma vergonha para nós.

15 Da­remos nosso consentimento a vocês com uma condição: que vocês se tornem como nós, circuncidando todos os do sexo masculino.

16 Só então lhes daremos as nossas filhas e poderemos casar-nos com as vossas. Nós nos estabeleceremos entre vocês e seremos um só povo.

17 Mas, se não aceitarem circuncidar-se, tomaremos a nossa irmã e partiremos".

18 A proposta deles pareceu boa a Hamor e a seu filho Siquém.

19 O jovem, que era o mais respeitado de todos os da casa de seu pai, não demorou em cumprir o que pediram, porque realmente gostava da filha de Jacob.

20 Assim Hamor e o seu filho Siquém dirigiram-se à porta da cidade para conversar com os seus concidadãos. E disseram:

21 "Esses homens são de paz. Permitam que eles habitem na nossa terra e façam comércio entre nós; a terra tem bastante lugar para eles. Poderemos casar com as suas filhas, e eles com as nossas.

22 Mas eles só consentirão em viver connosco como um só povo sob a condição de que todos os nossos homens sejam circuncidados, como eles.

23 Lembrem-se de que os seus rebanhos, os seus bens e todos os seus outros animais passarão a ser nossos. Aceitemos então a condição para que se estabeleçam em nosso meio".

24 Todos os que saíram para se reunirem à porta da cidade concordaram com Hamor e com o seu filho Siquém, e todos os homens e meninos da cidade foram circuncidados.

25 Três dias depois, quando ainda sofriam dores, dois filhos de Jacob, Simeão e Levi, irmãos de Diná, pegaram nas suas espadas e atacaram a cidade desprevenida, matando todos os homens.

26 Mataram ao fio da espada Hamor e o seu filho Siquém, tiraram Diná da casa de Siquém e partiram.

27 Vieram então os outros filhos de Jacob e, passando pelos corpos, saquearam a cidade onde sua irmã tinha sido desonrada.

28 Apoderaram-se das ovelhas, dos bois e dos jumentos, e de tudo o que havia na cidade e no campo.

29 Levaram as mulheres e as crianças, e saquearam todos os bens e tudo o que havia nas casas.

30 Então Jacob disse a Simeão e a Levi: "Pusestes-me em grandes apuros, atraindo sobre mim o ódio dos cananeus e dos ferezeus, habitantes desta terra. Somos poucos, e, se eles juntarem as suas forças e nos atacarem, eu e a minha família seremos destruídos".

31 Mas eles responderam: "Está certo ele tratar a nossa irmã como uma prostituta?"

(Revisão da versão portuguesa por ama)








Cinco passos para vencer a depressão 1

Primeiro passo



Cuide das suas rotinas: sono, vigília, alimentação, exercício (caminhar, por exemplo, é um excelente primeiro passo). Em geral, começar a apropriar-se da sua vida faz bem, iniciando pelas condutas de auto-cuidado.


(saulo medina ferrer, psicólogo)


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Antigo testamento / Êxodo 14

Êxodo 14

A perseguição dos egípcios

1 Disse o Senhor a Moisés:

2 "Diz aos israelitas que mudem o rumo e acampem perto de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar. Acampem à beira-mar, defronte de Baal-Zefom.

3 O faraó pensará que os israelitas estão vagueando confusos, cercados pelo deserto.

4 Então endurecerei o coração do faraó, e ele vos perseguirá. Todavia, eu serei glorificado por meio do faraó e de todo o seu exército; e os egípcios saberão que eu sou o Senhor". E assim fizeram os israelitas.

5 Contaram ao rei do Egipto que o povo tinha fugido. Então o faraó e os seus conselheiros mudaram de ideia e disseram: "O que foi que fizemos? Deixamos os israelitas sair e perdemos os nossos escravos!"

6 Então o faraó mandou aprontar a sua carruagem e levou consigo o seu exército.

7 Levou todos os carros de guerra do Egipto, inclusive seiscentos dos melhores desses carros, cada um com um oficial no comando.

8 O Senhor endureceu o coração do faraó, rei do Egipto, e este perseguiu os israelitas, que marchavam triunfantemente.

9 Os egípcios, com todos os cavalos e carros de guerra do faraó, os cavaleiros e a infantaria, saíram em perseguição aos israelitas e alcançaram-nos quando estavam acampados à beira-mar, perto de Pi-Hairote, defronte de Baal-Zefom.

10 Ao aproximar-se o faraó, os israelitas olharam e avistaram os egípcios que marchavam na sua direcção. E, aterrorizados, clamaram ao Senhor.

11 Disseram a Moisés: "Foi por falta de túmulos no Egipto que nos trouxeste para morrermos no deserto? O que fizeste connosco, tirando-nos de lá?

12 Já te tínha­mos dito no Egipto: 'Deixa-nos em paz! Seremos escravos dos egípcios!' Antes ser escravos dos egípcios do que morrer no deserto!"

13 Moisés respondeu ao povo: "Não tenham medo. Fiquem firmes e vejam a salvação que o Senhor trará hoje, porque vós nunca mais vereis os egípcios que hoje veem.

14 O Senhor lutará por vós; acalmem-se".

A passagem pelo meio do mar

15 Disse então o Senhor a Moisés: "Por que ainda me estás clamando? Diz aos israelitas que sigam avante.

16 Ergue a sua vara e estende a mão sobre o mar, e as águas se dividirão para que os israelitas atravessem o mar em terra seca.

17 Eu, porém, endurecerei o coração dos egípcios, e eles vos perseguirão. E serei glorificado com a derrota do faraó e de todo o seu exército, com os seus carros de guerra e os seus cavaleiros.

18 Os egípcios saberão que eu sou o Senhor quando eu for glorificado com a derrota do faraó, com os seus carros de guerra e os seus cavalei­ros".

19 A seguir o anjo de Deus que ia à frente dos exércitos de Israel retirou-se, colocando-se atrás deles. A coluna de nuvem também saiu da frente deles e pôs-se atrás, entre os egípcios e os israelitas. A nuvem trouxe trevas para uns e luz para outros, de modo que os egípcios não puderam aproximar-se dos israelitas durante toda a noite.

20 Então Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor afastou o mar e o tornou em terra seca, com um forte vento oriental que soprou toda aquela noite. As águas dividiram-se, e os israelitas atravessaram pelo meio do mar em terra seca, tendo uma parede de água à direita e outra à esquerda.

21 Os egípcios perseguiram-nos, e todos os cavalos, carros de guerra e cavaleiros do faraó foram atrás deles até o meio do mar.

22 No fim da madrugada, do alto da coluna de fogo e de nuvem, o Senhor viu o exército dos egípcios e pô-lo em confusão.

23 Fez que as rodas dos seus carros começassem a soltar-se, de forma que tinham dificuldade em conduzi-los. E os egípcios gritaram: "Vamos fugir dos israelitas! O Senhor está lutando por eles contra o Egipto".

24 Mas o Senhor disse a Moisés: "Estende a mão sobre o mar para que as águas voltem sobre os egípcios, sobre os seus carros de guerra e sobre os seus cavaleiros".

25 Moisés estendeu a mão sobre o mar, e ao raiar do dia o mar voltou ao seu lugar. Quando os egípcios estavam fugindo, foram de encontro às águas, e o Senhor lançou-os ao mar.

26 As águas voltaram e cobriram os seus carros de guerra e os seus cavaleiros, todo o exército do faraó que havia perseguido os israelitas mar adentro. Ninguém sobreviveu.

27 Mas os israelitas atravessaram o mar pisando em terra seca, tendo uma parede de água à direita e outra à esquerda.

28 Naquele dia o Senhor salvou Israel das mãos dos egípcios, e os israelitas viram os egípcios mortos na praia.

29 Israel viu o grande poder do Senhor contra os egípcios, temeu o Senhor e pôs nele a sua confiança, como também em Moisés, seu servo.


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo Comum

Evangelho: Mc 10, 32-45

32 Iam em viagem para subir a Jerusalém; Jesus ia diante deles. E iam perturbados e seguiam-n'O com medo. Tomando novamente à parte os doze, começou a dizer-lhes o que tinha de Lhe acontecer: 33 «Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas; eles O condenarão à morte e O entregarão aos gentios; 34 e O escarnecerão, Lhe cuspirão, O açoitarão, e Lhe tirarão a vida. Mas ao terceiro dia ressuscitará». 35 Então aproximaram-se d'Ele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo: «Mestre, queremos que nos concedas o que Te vamos pedir». 36 Ele disse-lhes: «Que quereis que vos conceda?». 37 Eles responderam: «Concede-nos que, na Tua glória, um de nós se sente à Tua direita e outro à Tua esquerda». 38 Mas Jesus disse-lhes: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber, ou ser baptizados no baptismo com que Eu vou ser baptizado?». 39 Eles disseram-Lhe: «Podemos». Jesus disse-lhes: «Efectivamente haveis de beber o cálice que Eu vou beber e haveis de ser baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado; 40 mas, quanto a estardes sentados à Minha direita ou à Minha esquerda, não pertence a Mim concedê-lo, mas é para aqueles para quem está preparado». 41 Ouvindo isto, os dez começaram a indignar-se com Tiago e João. 42 Mas Jesus, chamando-os, disse-lhes: «Vós sabeis que aqueles que são reconhecidos como chefes das nações as dominam e que os seus príncipes têm poder sobre elas. 43 Porém, entre vós não deve ser assim, mas o que quiser ser o maior, será o vosso servo, 44 e o que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. 45 Porque também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida para redenção de todos».

Comentário:

Secretamente por vezes alberga-se no nosso íntimo o desejo de que nos sirvam.

Achamos que temos "direito" a tal e que não é demais.

Pode ser mas... e desejo de servir os outros... também o temos?

(ama, comentário sobre Mc 10, 35-45, Enxomil, 2015.10.18)


Leitura espiritual




INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

INTRODUÇÃO

“CREIO – AMÉM”

«Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra"

CAPÍTULO QUINTO

Fé no Deus Trino

b) Motivos condutores. Como se chegou a essa decisão? No caminho para ela três atitudes básicas foram decisivas. A primeira poderia chamar-se o imediatismo do homem com Deus. Trata-se do homem em relação com Cristo: nele, acessível como seu próximo, o homem encontra o próprio Deus, não um ser híbrido que se colocasse entre ele e Deus. A preocupação pela verdadeira divindade de Jesus na Igreja antiga tem as mesmas raízes que o cuidado pela sua verdadeira condição humana. Somente sendo homem real como nós, Cristo pode ser o nosso mediador; e somente sendo Deus real como Deus, a sua mediação alcança a meta. Aliás, não é difícil de perceber que aqui está posta em questão a atitude fundamental do monoteísmo – a identidade já descrita do Deus da fé e do Deus dos filósofos – alçando-se aqui à sua posição mais aguda: meta de uma piedade comprometida com a verdade só pode estar naquele Deus que, por um lado, é o fundamento real do mundo e, por outro, nos está completamente próximo. Com o que já está aduzida a segunda atitude básica: a inabalável tomada de posição na opção pela fé de que existe somente um Deus. Em qualquer hipótese, impunha-se impedir que, por trás do mediador, afinal, tomasse a criar-se uma região de seres intermediários, e, com ela, uma região de deuses, onde o homem iria adorar o que não é Deus.

A terceira atitude básica poderia ser descrita como o esforço em tomar a sério a história de Deus com o homem. Isto é: se Deus se apresenta como Filho que diz "tu" ao Pai, não se trata de nenhuma encenação feita para o homem, de nenhum baile de máscaras no palco da história humana, mas de uma expressão da realidade. A ideia de um drama divino foi apresentada pelos "monarquistas" na Igreja antiga. As três pessoas são três "papéis" com que Deus se nos revela no correr da história. Aqui cumpre lembrar que o termo "pessoa" (persona em latim e em grego prósopon) tomou-se emprestado da linguagem teatral. Chamava-se assim a máscara que permitia ao artista tomar-se a encarnação de um outro. A partir destas conotações, a palavra foi introduzida na linguagem da fé, por ela alterada até surgir a ideia de pessoa, estranha à mentalidade antiga.

Outros, os chamados "modalistas", ensinavam que as três figuras de Deus eram "modos" como Deus é percebido pela nossa consciência e como ele mesmo se explica. Muito embora seja verdade que conhecemos a Deus só na representação da mente humana, a fé cristã sustenta sempre que nessa representação conhecemos a Deus. Mesmo sendo incapazes de romper a estreiteza da nossa consciência, Deus é capaz de invadir esta consciência e revelar-se-lhe. E não é preciso negar que nos esforços monarquistas e modalistas houve notável arranque rumo a ideia certa de Deus: a linguagem da fé acabou incorporando a terminologia propagada por eles, na confissão das três pessoas em Deus, em uso até hoje. O vocábulo prósopon-persona (pessoa) não estava em condições de exprimir toda a extensão do que aqui devia ser expresso: mas isto não é culpa sua. A ampliação dos limites do pensamento humano necessária para elaborar espiritualmente a experiência cristã de Deus não se realizou por si mesma. Exigiu uma luta, para a qual também o erro trouxe as suas vantagens. E aí ela seguiu a lei fundamental, à qual está subordinado o espírito humano no seu avanço contínuo.

c) A inviabilidade dos caminhos. Toda esta luta, tão profundamente ramificada nos primeiros séculos, à luz do que se disse até agora, pode reduzir-se à situação aporética (cética) de dois caminhos, mais e mais identificáveis como não-caminhos: subordinacionismo e monarquismo. Ambas as soluções parecem lógicas, e ambas destroem o todo com sua simplificação tentadora. A doutrina cristã, tal como se nos oferece na expressão: "Deus uno e trino" denota, no fundo, a renúncia ao atalho e a permanência no mistério insondável para o homem: na realidade, esta confissão é a única renúncia real à pretensão de saber, que torna tão atraentes as soluções simples com a sua falsa modéstia.

O assim chamado subordinacionismo escapa ao dilema, afirmando: o próprio Deus é um só; Cristo não é Deus, mas um ser muito chegado a Deus. Com isto suprime-se a dificuldade, mas a consequência é – como anteriormente desenvolvemos detalhadamente - que o homem se separa de Deus, trancando-se no provisório. Deus torna-se, por assim dizer, monarca constitucional; a fé nada tem a ver com ele, mas com os seus ministros. Quem não aceita isto, quem crê realmente no domínio de Deus, no "máximo" dentro do "mínimo", deverá aferrar-se à ideia de que Deus é homem, de que o ser de Deus e do homem se entrosaram, aceitando assim, com a fé em Cristo, o ponto de partida para a doutrina trinitária.

O monarquismo, cuja solução já foi explanada anteriormente, resolve o dilema no sentido contrário. Também ele se atém decididamente à unidade de Deus, mas igualmente toma a sério o Deus que vem ao nosso encontro, que nos aborda como Criador e Pai, primeiro, como Filho e Salvador em Cristo, depois, e, finalmente, como Espírito Santo. Contudo, as três figuras são consideradas meras máscaras de Deus, que revelam algo sobre nós, nada porém sobre Deus. Por aliciante que pareça tal caminho, afinal, torna a colocar o homem exclusivamente dentro de si mesmo, não avançando até Deus. A pós-história do monarquianismo no pensamento moderno apenas tornou a comprová-lo. Hegel e Schelling, na sua tentativa de explicar o Cristianismo filosoficamente e de fazer Filosofia a partir do Cristianismo, reataram a antiga tentativa de uma Filosofia cristã, esperando tornar racionalmente compreensível e manejável a doutrina trinitária, a partir daí; elevando-a à chave de uma compreensão completa do ser, no seu supostamente puro sentido filosófico. Evidentemente, não queremos tentar agora uma avaliação completa destas tentativas, até agora, sem dúvida, as mais fascinantes de aplicação racional da fé cristã. Basta apontar como a inviabilidade, que constatamos como típica para o monarquismo (modalismo) simplesmente volta aqui.

Ponto de partida continua sendo a ideia de que a doutrina trinitária é expressão do lado histórico de Deus, ou seja, do modo como Deus se manifesta na história. Desenvolvendo radicalmente esta ideia, Hegel – e de modo diverso, Schelling chega à consequência de não distinguir mais esse processo da auto-representação histórica divina do Deus que permanece, repousado, por trás dos bastidores, mas passa agora a compreender o processo da história como processo do próprio Deus. Então a imagem histórica de Deus torna-se progressivo auto-devir do divino; história é real como progresso do Logos, mas também o Logos só é real como progresso da história. Expresso noutros termos: o Logos – o sentido de todo o ser – nasce para si mesmo, gradativamente, somente na história. A historicidade da doutrina trinitária, incluída no monarquismo torna-se assim historicidade de Deus. O que, novamente, significa que o sentido não é, sem mais, criador da história, mas que a história se torna criadora do sentido, passando este a criatura dela. Karl Marx contentou-se em tirar as últimas consequência desta doutrina: se o sentido não antecede o homem, está no futuro, que o homem, combativamente, deve tornar presente.

Ora, assim se comprova que na lógica do pensamento monarquista o caminho da fé se perde não menos do que o subordinacionismo. Porquanto numa tal opinião suspende-se o contraste das liberdades, tão essencial para a fé; suspende-se, não menos, o diálogo do amor e a sua incalculabilidade, suspende-se a estrutura personalística do sentido cosmo-envolvente e da criatura aberta para este sentido. Tudo isto – o pessoal, o dialogal, a liberdade e o amor – funde-se na necessidade do processo único da razão. Mas ainda há outra coisa a notar: o desejo radical de penetrar na doutrina trinitária, a racionalização radical que devém historicidade do próprio Logos, querendo, com o conceito de Deus, compreender sem mistério, também a história de Deus e construí-la na sua lógica exacta exactamente esta grandiosa tentativa de apossar-se totalmente da lógica do próprio Logos reconduz à mitologia da história, ao mito de um Deus que se dá à luz a si mesmo historicamente. A tentativa de uma lógica total termina em ilógica, em auto-supressão da lógica mergulhada no seio do mito.

De resto, a história do monarquismo ainda revela um outro aspecto que cumpre citar, ao menos brevemente: o monarquismo recebe uma conotação positivamente política já na sua forma primitiva e, depois novamente, na sua versão tomada por Hegel e Marx: torna-se "teologia política". Na Igreja antiga o monarquismo serve para a tentativa de fundamentar teologicamente a monarquia imperial; em Hegel torna-se apoteose do estado prussiano; em Marx passa a ser programa de acção para um futuro feliz da humanidade. Vice-versa, poder-se-ia notar, como, na Igreja antiga, a vitória sobre o monarquismo denota um triunfo sobre o abuso político da teologia: a fé trinitária da Igreja destruiu os modelos politicamente aproveitáveis, suprimindo deste modo a teologia como mito político e recusando o abuso da pregação para justificar uma situação política.

d) Doutrina trinitária como teologia negativa. Um olhar complexivo sobre o conjunto constata que a forma eclesiástica da doutrina trinitária pode ser justificada, primeiro e antes de tudo, negativamente, como comprovante da inviabilidade de todos os demais caminhos. Talvez seja isto a única coisa que aqui de facto se possa fazer. Num tal caso, a doutrina trinitária deveria ser entendida negativamente, como a única forma segura de rebater qualquer veleidade de penetrar o mistério, como uma espécie de código para a insolubilidade do mistério de Deus. Tornar-se-ia problemática se tentasse, por sua vez, encaminhar-se por um querer-saber simples e positivo. Se a trabalhosa história da luta humana e cristã em torno de Deus prova alguma coisa, então será que qualquer tentativa de enquadrar Deus no conceito da nossa razão conduz ao absurdo. Podemos falar correctamente dele, exclusivamente renunciando ao desejo de compreender, deixando-o como o incompreensível. Portanto, doutrina trinitária não pode ser uma compreensão de Deus. Ela é uma declaração de limites, um gesto indicador, a apontar para o inominável, não uma definição a encaixar as coisas nos arquivos do saber humano; não um conceito capaz de colocar o objecto na posse do espírito humano.

Este carácter de indicação onde conceito se torna mero aceno, compreensão se torna simples tentativa rumo ao inatingível, poderia ser representado exactamente mediante as próprias formulações eclesiásticas e por meio de sua pré-história. Cada um dos grandes conceitos básicos da doutrina trinitária já foi condenado alguma vez: todos eles só foram aceites através desse entre-cruzamento com alguma condenação; tais conceitos valem apenas enquanto são simultaneamente designados como inúteis para assim serem admitidos, como pobre balbuciar e nada mais. O conceito persona (prósopon), como ouvimos, foi condenado uma vez; o termo central, que no século IV se tornou estandarte da ortodoxia, o homousios (= uma natureza com o Pai) fora condenado no século IV; a ideia da processão tem atrás de si uma proscrição, e assim por diante. Penso que essas condenações das fórmulas posteriores da fé pertencem intrinsecamente a estas mesmas fórmulas: são utilizáveis apenas pela negação e no ilimitado carácter indirecto que daí se segue: a doutrina trinitária só é possível como teologia entrecruzada.

Ainda haveria outra observação a acrescentar. Perlustrando a história dogmática da doutrina trinitária em qualquer tratado moderno de Teologia, temos a impressão de estar nalguma necrópole de heresias, cujos estandartes a Teologia continua a carregar consigo, como outros tantos troféus de batalhas vencidas. Contudo, olhando desta maneira, não se compreende bem a questão, pois todas essas tentativas repelidas finalmente como aporias e, assim como heresias, no correr de uma refrega demorada, não são meros mausoléus de pesquisas humanas fracassadas, sepulcros nos quais nos é dado constatar quantas vezes o pensamento falhou, restos que agora podemos contemplar com uma curiosidade voltada para o passado – aliás sem resultado prático. Cada heresia é, antes, um código, uma sigla a resumir alguma verdade permanente que só subsiste unida com outras declarações igualmente válidas, separada das quais, resulta em falsa visão. Dito por outras palavras: todas essas declarações não são tanto monumentos sepulcrais, mas, antes, pedras de uma catedral, que, naturalmente, serão aproveitáveis se não ficarem isoladas, mas, encaixadas no todo maior, assim como as fórmulas positivamente aceites só valem quando guardam consciência, ao mesmo tempo, da sua insuficiência.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)




Doutrina – 154

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

58. Porque é que Deus permite o mal?


A fé dá-nos a certeza de que Deus não permitiria o mal se do próprio mal não extraísse o bem. Deus realizou admiravelmente isso mesmo na morte e ressurreição de Cristo: com efeito, do maior mal moral, a morte do Seu Filho, Ele retirou os bens maiores, a glorificação de Cristo e a nossa redenção.