10/09/2016

Extraordinária carta de uma Filha a seus Pais

Porto, 17 de Fevereiro de 1999

Faltam 17 dias para eu dar o grande passo da minha vida, passo esse que dou com muito orgulho, confiança, maturidade e alegria.
Amo o … e tenho a certeza que ele ama a sua futura mulher.

Queridos Pais:

Os Pais sabem que quando eu amo, amo com todas as forças terrenas e Divinas, este saber amar aprendi, só com os Pais maravilhosos que o Menino Jesus escolheu para mim.
Ao fim de 25 anos de existência, sinto-me feliz, não, muito feliz, sinto que tenho tudo e levo tudo, valores, Fé, requinte, Amor – enfim que se fecha um ciclo que os meus Pais iniciaram e finalizaram, com toda a sabedoria.

Quero também dizer que tudo o que sou hoje, vos devo, meus queridos Pais.
Agradeço tudo aquilo que fizeram por mim e o que fazem e o que virão a fazer e não aponto nada, todos nós temos as nossas fraquezas e as nossas virtudes.

Tenho tanta coisa que gostaria de dizer mas como não tenho jeito para escrever, nem posso ordenar as minhas ideias, aqui vai tudo à mistura.

Mãe:

Obrigado!

Acho que não preciso dizer grande coisa porque a Mãe está sempre comigo, sempre a meu lado e eu, Mãe, estarei sempre ao seu lado.
Adoro-a, amo-a. Tenho por si uma estima e uma admiração incomparável.
Agradeço-lhe a força que transmite, a ajuda, as perrices, os berros, o mandar arrumar o quarto, etc.
Agradeço-lhe o carinho com que fez o meu enxoval, pois tem a certeza que vou dar um valor enorme a cada pano que bordou, a cada pega que comprou, enfim a generosidade grande que sempre teve comigo.

Pai:

Não tenho palavras para este enorme Pai!
Valores, Fé, método, conselhos, amizade, bondade, amor, enfim, tudo me foi transmitindo e eu apanhei tudo ou quase tudo.

Pai e Mãe:

Chegou a altura de agradecer o maravilhoso casamento que me proporcionaram, a vida que me deram, a experiência de vida que me ensinaram, o amor, o carinho e a amizade que nunca faltou nem sequer em alturas da nossa vida mais desagradáveis.

Meu Deus!

Estou tão feliz, obrigado pelo Pais que me deste e pelo marido que me proporcionaste.

Mãe (novamente)

Queria pedir-lhe um último favor: sempre que tiver alguma coisa entalada na garganta, ou por alguma atitude que eu tenha tido menos sensata consigo, diga-me, fale-me… não deixe que a nossa amizade caia ou enfraqueça eu vou tentar sempre fazer o mesmo que custe, e venho ter consigo, telefono e digo o que tiver entalado.

Para mim, os Pais terem-me dado (a mim e ao …) as alianças tem um enorme significado, pois a aliança não quer só dizer que estou unida com o … num círculo que é a vida futura.
Mas a minha aliança leva também o círculo desta família, Pais, Manas, sobrinhos. Tudo o que foram estes 25 anos estão lá e o resto dos anos também estarão.

Pai e Mãe; mais uma vez obrigado!

Adoro-os, amo-os.


Da filha sempre vossa

Ele é bom..., e Ele ama-te

Penas? Contradições por aquele acontecimento ou outro qualquer?... Não vês que é o que o teu Pai-Deus que o quer..., e Ele é bom..., e Ele ama-te – a ti só! – mais que todas as mães do mundo juntas podem amar os seus filhos? (Forja, 929)

Mas não esqueçamos que estar com Jesus é seguramente encontrar-se com a sua Cruz. Quando nos abandonamos nas mãos de Deus, é frequente que Ele permita que saboreemos a dor, a solidão, as contradições, as calúnias, as difamações, os escárnios, por dentro e por fora: porque quer conformar-nos à Sua imagem e semelhança e permite também que nos chamem loucos e que nos tomem por néscios.

É a altura de amar a mortificação passiva que vem – oculta, ou descarada e insolente – quando não a esperamos. Chegam a ferir as ovelhas com as pedras que deviam atirar-se aos lobos: quem segue Cristo experimenta na própria carne que aqueles que o deviam amar se comportam com ele de uma maneira que vai da desconfiança à hostilidade, da suspeita ao ódio. Olham-no com receio, como um mentiroso, porque não acreditam que possa haver relação pessoal com Deus, vida interior; em contrapartida, com o ateu e com o indiferente, geralmente rebeldes e desavergonhados, desfazem-se em amabilidades e compreensão.

E talvez Nosso Senhor permita que o Seu discípulo se veja atacado com a arma, que nunca é honrosa para aquele que a empunha, das injúrias pessoais; com lugares comuns, fruto tendencioso e delituoso de uma propaganda massificada e mentirosa... Porque o bom gosto e a cortesia não são coisas muito comuns.


Assim vai Jesus esculpindo as almas dos Seus, sem deixar de lhes dar interiormente serenidade e alegria, porque eles entendem muito bem que – com cem mentiras juntas – os demónios não são capazes de fazer uma verdade: e grava nas suas vidas a convicção de que só se sentirão bem quando renunciarem à comodidade. (Amigos de Deus, 301)

Evangelho e comentário


Tempo Comum

Evangelho: Lc 6, 43-49

«Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto: não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas das sarças. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração. Porque Me chamais ‘Senhor! Senhor!’, mas não fazeis o que vos digo? Vou mostrar-vos a quem se assemelha todo aquele que vem ter comigo, ouve as minhas palavras e as põe em prática. É semelhante a um homem, que, para construir a casa, escavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Quando veio uma cheia, a torrente irrompeu contra aquela casa, mas não a pôde abalar, porque estava bem construída. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem que construiu a casa sobre a terra, sem alicerces. A torrente irrompeu contra aquela casa, que imediatamente desabou; e foi grande a sua ruína».

Comentário:

Fica bem claro que o que interessa verdadeiramente é fazer.
Conhecer a doutrina, rezar belas orações mais ou menos extensas, ter bons sentimentos de paz e solidariedade tudo isso – importantíssimo sem dúvida – de pouco vale se ficarmos imóveis como que fechados numa concha sem sair ao encontro dos outros para transmitir, partilhar e tentar “arrastar” para o Reino de Deus quantas almas encontramos no nosso caminhar.

Mesmo os contemplativos têm um trabalho estrénuo estabelecendo e fortalecendo essa “corrente” entre o Céu e a Terra por onde nos chegam as inúmeras Graças que o Senhor tem reservadas para todos.

(ama, comentário sobre Lc 6, 43-49, Cascais, 2015.09.12)








Antigo testamento / Êxodo

Êxodo 33

1 Depois ordenou o Senhor a Moisés: "Sai deste lugar, com o povo que tiraste do Egito, e vai para a terra que prometi com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacob, dizendo: 'Eu a darei aos seus descendentes'.

2 Mandarei à tua frente um anjo e expulsarei os cananeus, os amorreus, os hititas, os ferezeus, os heveus e os jebuseus.

3 Vão para a terra onde há leite e mel com fartura. Mas eu não irei convosco, pois são um povo obstinado, e eu poderia destruí-los no caminho".

4 Quando o povo ouviu essas palavras terríveis, começou a chorar, e ninguém usou enfeite algum.

5 Isso porque o Senhor ordenara que Moisés dissesse aos israelitas: "Vós sois um povo obstinado. Se eu fosse convosco, ainda que por um só momento, eu vos destruiria. Agora tirem os seus enfeites, e eu decidirei o que fazer convosco".

6 Por isso, do monte Horebe em diante, os israelitas não usaram mais nenhum enfeite.

A tenda do encontro com Deus
7 Moisés costumava montar uma tenda do lado de fora do acampamento; ele a chamava Tenda do Encontro. Quem quisesse consultar o Senhor ia à tenda, fora do acampamento.

8 Sempre que Moisés ia até lá, todo o povo levantava-se e ficava em pé à entrada das suas tendas, observando-o, até que ele entrasse na tenda.

9 Assim que Moisés entrava, a coluna de nuvem descia e ficava à entrada da tenda, enquanto o Senhor falava com Moisés.

10 Quando o povo via a coluna de nuvem parada à entrada da tenda, todos prestavam adoração em pé, cada qual na entrada de sua própria tenda.

11 O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com o seu amigo. Depois Moisés voltava ao acampamento; mas Josué, filho de Num, que lhe servia como auxiliar, não se afastava da tenda.

Moisés e a glória do Senhor
12 Disse Moisés ao Senhor: "Tu me ordenaste: 'Conduz este povo', mas não me permites saber quem enviarás comigo. Disseste: 'Eu  conheço-te pelo nome e de ti tenho me agradado'.

13 Se me vês com agrado, revela-me os teus propósitos, para que eu te conheça e continue sendo aceite por ti. Lembra-te de que esta nação é o teu povo".

14 Respondeu o Senhor: "Eu mesmo o acompanharei e lhe darei descanso".

15 Então Moisés declarou-lhe: "Se não fores connosco, não nos envies.

16 Como se saberá que eu e o teu povo podemos contar com o teu favor, se não nos acompanhares? Que mais poderá distinguir a mim e a teu povo de todos os demais povos da face da terra?"

17 O Senhor disse a Moisés: "Farei o que me pedes, porque tenho me agradado de ti e te conheço pelo nome".

18 Então disse Moisés: "Peço-te que me mostres a tua glória".

19 E Deus respondeu: "Diante de ti farei passar toda a minha bondade e diante de ti proclamarei o meu nome: o Senhor. Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão".

20 E acrescentou: "Tu não poderás ver a minha face, porque ninguém poderá ver-me e continuar vivo".

21 E prosseguiu o Senhor: "Há aqui um lugar perto de mim, onde tu ficarás, em cima de uma rocha.

22 Quando a minha glória passar, eu o colocarei numa fenda da rocha e o cobrirei com a minha mão até que eu tenha acabado de passar.

23 Então tirarei a minha mão e tu verás as minhas costas; mas a minha face ninguém poderá ver".

(Revisão da versão portuguesa por ama)

Pequena agenda do cristão


SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Leitura espiritual

Leitura Espiritual


Cristo que passa



São Josemaria Escrivá


129
          
Permiti-me narrar um facto da minha vida pessoal, ocorrido já há muitos anos.
Certo dia, um amigo de bom coração, mas que não tinha fé, disse-me, indicando um mapa-mundi:
- Ora veja, de norte a sul e de leste a oeste.
- Que queres que eu veja?
- O fracasso de Cristo.
Tantos séculos a procurar meter na vida dos homens a sua doutrina, e veja os resultados.
Num primeiro momento, enchi-me de tristeza: é uma grande dor, efectivamente, considerar que são muitos os que ainda não conhecem o Senhor e que, entre aqueles que O conhecem, são muitos também os que vivem como se O não conhecessem.

Mas essa impressão durou apenas um instante, para logo dar lugar ao amor e à acção de graças, porque Jesus quis que cada um dos homens fosse cooperador livre da sua obra redentora.
Cristo não fracassou: a sua doutrina está continuamente a fecundar o Mundo.
A redenção realizada por Ele é suficiente e superabundante.

Deus não quer escravos, mas sim filhos e, portanto, respeita a nossa liberdade.
A salvação continua e nós participamos dela: é vontade de Cristo que - segundo as palavras fortes de S. Paulo - cumpramos na nossa carne, na nossa vida, o que falta à sua Paixão, pro Corpore eius, quod est Ecclesia, em benefício do seu corpo, que é a Igreja.

Vale a pena jogar a vida, entregar-se por inteiro, para corresponder ao amor e à confiança que Deus deposita em nós.
Vale a pena, acima de tudo, que nos decidamos a tomar a sério a nossa fé cristã.
Quando recitamos o Credo, professamos crer em Deus Pai Todo-Poderoso, em seu Filho Jesus Cristo que morreu e foi ressuscitado, no Espírito Santo, Senhor que dá a vida.
Confessamos que a Igreja una, santa, católica e apostólica, é o corpo de Cristo, animado pelo Espírito Santo.
Alegramo-nos com a remissão dos nossos pecados e com a esperança da futura ressurreição.
Mas, essas verdades penetrarão até ao fundo do coração ou ficarão apenas nos lábios?
A mensagem divina de vitória, alegria e paz do Pentecostes deve ser o fundamento inquebrantável do modo de pensar, de reagir e de viver de todo o cristão.

130
          
Força de Deus e fraqueza humana

Non est abbreviata manus Domini, a mão de Deus não diminuiu; Deus não é menos poderoso hoje do que em outras épocas, nem é menos verdadeiro o seu amor pelos homens.
A nossa fé ensina-nos que a criação inteira, o movimento da Terra e dos astros, as acções rectas das criaturas e tudo quando há de positivo no decurso da História, tudo, numa palavra, veio de Deus e a Deus se ordena.

A acção do Espírito Santo pode passar-nos despercebida, porque Deus não nos dá a conhecer os seus planos e porque o pecado do Homem turva e obscurece os dons divinos.
Mas a Fé recorda-nos que o Senhor age constantemente:
Ele é que nos criou e nos conserva no ser; Ele, com a sua graça, conduz a criação inteira para a liberdade da glória dos filhos de Deus.

Por isso, a Tradição cristã resumiu a atitude que devemos adoptar para com o Espírito Santo num só conceito: docilidade.
Sermos sensíveis àquilo que o Espírito divino promove à nossa volta e em nós mesmos: aos carismas que distribui, aos movimentos e instituições que suscita, aos efeitos e decisões que faz nascer nos nossos corações...
O Espírito Santo realiza no Mundo as obras de Deus. Como diz o hino litúrgico, é dador das graças, luz dos corações, hóspede da alma, descanso no trabalho, consolo no pranto.
Sem a sua ajuda nada há no homem que seja inocente e valioso, pois é Ele que lava o que está sujo, que cura o que está doente, que aquece o que está frio, que corrige o extraviado, que conduz os homens ao porto da salvação e do gozo eterno.

Mas esta nossa fé no Espírito Santo deve ser plena e completa. Não é uma crença vaga na sua presença no mundo; é uma aceitação agradecida dos sinais e realidades a que quis vincular a sua força de um modo especial.
Quando vier o Espírito de Verdade - anunciou Jesus - Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará.
O Espírito Santo é o Espírito enviado por Cristo, para operar em nós a santificação que Ele nos mereceu para nós na Terra.

É por isso que não pode haver fé no Espírito Santo, se não houver fé em Cristo, na doutrina de Cristo, nos sacramentos de Cristo, na Igreja de Cristo.
Não é coerente com a fé cristã, não crê verdadeiramente no Espírito Santo, quem não ama a Igreja, quem não tem confiança nela, quem se compraz apenas em mostrar as deficiências e limitações dos que a representam, quem a julga por fora e é incapaz de se sentir seu filho.

E sou levado a considerar até que ponto será extraordinariamente importante e abundantíssima a acção do Divino Paráclito enquanto o sacerdote renova o sacrifício do Calvário, quando celebra a Santa Missa nos nossos altares.

131 
         
Nós, os cristãos, trazemos em vasos de barro os grandes tesouros da graça:
Deus confiou os seus dons à frágil e débil liberdade humana e, embora a sua força certamente nos assista, a nossa concupiscência, o nosso comodismo e o nosso orgulho repelem-na por vezes e levam-nos a cair em pecado.
Em muitas ocasiões, de há mais de um quarto de século para cá, ao recitar o Credo e ao afirmar a minha fé na divindade da Igreja, una, santa, católica e apostólica, costumo acrescentar: apesar dos pesares.
Quando alguma vez me acontece comentar este costume e alguém me pergunta a que quero referir-me, respondo: aos teus pecados e aos meus.

Tudo isto é certo, mas não autoriza de maneira nenhuma a julgar a Igreja por critérios humanos, sem fé teologal, atendendo apenas ao maior ou menor valor de certos eclesiásticos ou de certos cristãos. Proceder assim é ficar à superfície.
O mais importante na Igreja não é ver como correspondemos nós, os homens, mas sim o que Deus realiza.
A Igreja é isto mesmo: Cristo presente entre nós; Deus que vem até à humanidade para a salvar, chamando-nos com a sua revelação, santificando-nos com a sua graça, sustentando-nos com a sua ajuda constante, nos pequenos e grandes combates da vida de todos os dias.

Podemos chegar a desconfiar dos homens, e cada um está obrigado a desconfiar pessoalmente de si mesmo e a concluir cada um dos seus dias com um mea culpa, com um acto de contrição profundo e sincero. Mas não temos o direito de duvidar de Deus.
E duvidar da Igreja, da sua origem divina, da eficácia salvífica da sua pregação e dos seus sacramentos, é duvidar do próprio Deus; é não acreditar plenamente na realidade da vinda do Espírito Santo.

Antes de Cristo ser crucificado, - escreve S. João Crisóstomo - não havia nenhuma reconciliação. E, enquanto não houve reconciliação, não foi enviado o Espírito Santo...
A ausência do Espírito Santo era sinal da ira divina.
Agora que O vês enviado em plenitude, não duvides da reconciliação. Mas, se perguntarem: onde está agora o Espírito Santo?
Falar da sua presença quando se davam milagres, quando eram ressuscitados os mortos e curados os leprosos, era possível; mas como saber, agora, que está deveras presente?
Não vos preocupeis. Hei-de demonstrar-vos que o Espírito Santo está também agora entre nós...

Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos dizer Senhor, Jesus, pois ninguém pode invocar Jesus como Senhor senão no Espírito Santo (I Cor. 12,3).

Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos orar com confiança, porque ao rezar dizemos Pai Nosso, que estais nos Céus (Mat. 6,9).
Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos chamar Pai a Deus. Como sabemos isso?
É porque o Apóstolo nos ensina:
E, porque somos filhos, Deus mandou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba Pai (Gal, 4,6).

Portanto, quando invocares Deus Pai, recorda-te de que foi o Espírito Santo que, ao mover a tua alma, te deu essa oração.
Se não existisse o Espírito Santo, não haveria na Igreja palavra alguma de sabedoria ou de ciência, pois está escrito: Porque... a um é dada pelo Espírito a palavra da sabedoria (I Cor, 12, 8)...
Se o Espírito Santo não estivesse presente, a Igreja não existiria. Mas, se a Igreja existe, é certo que o Espírito Santo não falta.

Acima das deficiências e limitações humanas, repito, a Igreja é isto: sinal e, de certo modo - não no sentido estrito em que dogmaticamente se definiu a essência dos sete sacramentos da Nova Aliança - o sacramento universal da presença de Deus no Mundo.
Ser cristão é ter sido regenerado por Deus e enviado aos homens para lhes anunciar a salvação. Se tivéssemos fé firme e viva e déssemos a conhecer Cristo com audácia, veríamos que ante os nossos olhos se realizariam milagres como os da era apostólica.

Porque a verdade é que também agora se dá vista aos cegos, que tinham perdido a capacidade de olhar para o Céu e de contemplar as maravilhas de Deus; também agora se dá liberdade a coxos e entrevados, que se encontravam tolhidos pelas próprias paixões e cujo coração já não sabia amar; também agora se dá ouvido aos surdos, que não desejavam o conhecimento de Deus, e se consegue que falem os mudos, que tinham amordaçada a língua por não quererem confessar as suas derrotas; também agora se ressuscitam mortos, em que o pecado destruíra a vida.
Mais uma vez se verifica que a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes.
E, como os primeiros fiéis cristãos, também nós nos alegramos ao admirar a força do Espírito Santo e a sua acção na inteligência e na vontade das suas criaturas.

132
          
Dar a conhecer a Cristo

Todos os acontecimentos da vida - os de cada existência individual e, de algum modo, os das grandes encruzilhadas da História - vejo-os como outros tantos chamamentos que Deus faz aos homens para olharem de frente a verdade e como ocasiões oferecidas a nós, cristãos, para anunciarmos com as nossas obras e as nossas palavras, auxiliados pela graça, o Espírito a que pertencemos.

Cada geração de cristãos deve redimir e santificar o seu tempo: para tanto, precisa de compreender e de compartilhar os anseios dos homens, seus iguais, a fim de lhes dar a conhecer, com dom de línguas, como corresponder à acção do Espírito Santo, à efusão permanente das riquezas do Coração divino.
A nós, cristãos, compete anunciar nestes dias, ao mundo a que pertencemos e em que vivemos, a antiga e sempre nova mensagem do Evangelho.

Não é verdade que toda a gente de hoje - assim, em geral ou em bloco - esteja fechada ou permaneça indiferente ao que a fé cristã ensina sobre o destino e o ser do Homem.
Não é certo que os homens do nosso tempo se ocupem só das coisas da Terra e se desinteressem de olhar para o Céu.
Embora não faltem ideologias - e pessoas para as sustentarem - que estão fechadas, na nossa época não há apenas atitudes rasteiras, mas também altos ideais; não há apenas cobardia, mas heroísmo, e ao lado das desilusões permanecem grandes aspirações.
Há pessoas que sonham com um mundo novo, mais justo e mais humano, enquanto outras, talvez decepcionadas diante do fracasso dos seus primeiros ideais, se refugiam no egoísmo de buscarem a sua própria tranquilidade ou de se deixarem ficar mergulhadas no erro.

A todos os homens e todas as mulheres, estejam onde estiverem, em momentos de exaltação ou de crise ou de derrota, devemos fazer chegar o anúncio solene e claro de S. Pedro, durante os dias que se seguiram ao Pentecostes: Jesus é a pedra angular, o Redentor, tudo da nossa vida, pois fora d'Ele não foi dado outro nome, aos homens, debaixo do céu, pelo qual possamos ser salvos.


(cont)