19/09/2016

Adormeceu a Mãe de Deus

Esta é a chave para abrir a porta e entrar no Reino dos Céus: "qui facit voluntatem Patris mei qui in coelis est, ipse intrabit in regnum coelorum" – quem faz a vontade de meu Pai..., esse entrará! (Caminho, 754)

Assumpta est Maria in coelum gaudent angeli! – Maria foi levada por Deus, em corpo e alma, para o Céu. E os Anjos rejubilam!
Assim canta a Igreja. – E é assim, com este clamor de regozijo, que começamos a contemplação, desta dezena do Santo Rosário.
Adormeceu a Mãe de Deus. – Em volta do seu leito encontram-se os doze Apóstolos.
– Matias substituiu Judas.
E nós, por graça que todos respeitam, estamos também a seu lado.
Mas Jesus quer ter Sua Mãe, em corpo e alma, na Glória. – E a Corte celestial ostenta todo o seu esplendor, para receber a Senhora. – Tu e eu – crianças, afinal – pegamos na cauda do esplêndido manto azul da Virgem e assim podemos contemplar aquela maravilha.
A Trindade Santíssima recebe e cumula de honras a Filha, Mãe e Esposa de Deus... – E é tamanha a majestade da Senhora, que os Anjos perguntam Quem é esta? (Santo Rosário, 4º mistério Glorioso).


Diálogos apostólicos

Diálogos apostólicos II Parte
16 - [1]

Como sabes sou uma pessoa bem-disposta.
Às vezes temo que possa parecer irreflectido ou “ligeiro” nas minhas relações com os outros.
Que achas?

Respondo:

Realmente, o bom humor é uma virtude excelente que torna o convívio ou as relações com aquele que a possui, muito agradável.
Em qualquer tempo, mas sobretudo no que decorre, é bastante difícil não ser constantemente assediado com assuntos, factos ou incidências que nos provocam apreensão, dúvida, sentimentos contraditórios, e, se em sociedade, discussões e confrontos que, por vezes, desgastam desnecessariamente a pessoa e podem, de alguma forma, corromper essas mesmas relações.
Normalmente, o bom humor está associado à serenidade (de que já falámos) porque também é uma virtude estável do indivíduo não sujeita a influências alheias, do meio ambiente, etc.
                                                           
Mas não tem nada a ver com a inconsciência ou a ligeireza de carácter que levam a encarar o que se lhe depara com a displicência própria dos néscios.
Pelo contrário, é uma virtude que dá ao que a possui, um enfoque optimista das coisas, procurando sempre o “lado bom”, tirando partido das situações que se apresentam como menos boas para lhes descobrir um bem que não parece evidente.
Sim, tem também muito a ver com a esperança já que, esta, é fundamental para evitar o derrotismo, a consideração da inevitabilidade do que se apresenta.
Na luta interior, então, esta virtude é fundamental para que, associando-a à consciência, se possa ter um optimismo razoável quanto aos resultados do esforço por melhoria.
A pessoa bem-humorada faz amizades com mais facilidade já que, tem um espírito mais aberto e construtivo que, naturalmente, atrai e arrasta. [i]


[1] Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.



[i] (Cfr, ama, in Migalhas para o Caminho I, pg. 48)

Evangelho e comentário


Tempo Comum

Evangelho: Lc 8, 16-18

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Ninguém acende uma lâmpada para a cobrir com uma vasilha ou a colocar debaixo da cama, mas coloca-a num candelabro, para que os que entram vejam a luz. Não há nada oculto que não se torne manifesto, nem secreto que não seja conhecido à luz do dia. Portanto, tende cuidado com a maneira como ouvis. Pois àquele que tem, dar-se-á; mas àquele que não tem, até o que julga ter lhe será tirado».

Comentário:

Pode dizer-se que este texto de São Lucas versa sobre a verdadeira humildade pessoal.
Ser-se aquilo que se é e agir em conformidade.
Se sou cristão tenho de pensar e, sobretudo, agir como tal o que não poderei nunca fazer eficazmente sem uma formação segura e completa sobre as verdades da Fé.
Até ao último sopro de vida, desta vida terrena, procurar com afinco e perseverança adquirir esses sólidos fundamentos deverá ser a nossa principal preocupação e, não colhe a falsa “teoria” de passar despercebido, vem pelo contrário, a nossa luz deve iluminar todos os ambientes onde nos movemos.

(ama, comentário sobre Lc 8, 16-18, 2014.09.21)









Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Leitura espiritual

Leitura Espiritual


Cristo que passa



São Josemaria Escrivá


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Evocámos há pouco o episódio de Naim.
Poderíamos citar ainda outros, porque os Evangelhos estão cheios de cenas semelhantes.
Esses relatos sempre comoveram e hão-de continuar a comover os corações dos homens.
Efectivamente, não incluem apenas o gesto sincero de um homem que se compadece dos seus semelhantes: são, essencialmente, a revelação da imensa caridade do Senhor.
O Coração de Jesus é o Coração de Deus Encarnado, do Emanuel - Deus connosco.

A Igreja, unida a Crista, nasce de um Coração ferido.
É desse Coração, aberto de par em par, que a vida nos é transmitida. Como não recordar aqui, embora de passagem, os sacramentos através dos quais Deus opera em nós e nos faz participantes da força redentora de Cristo?
Como não recordar com particular gratidão o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, o Santo Sacrifício do Calvário e a sua constante renovação incruenta na nossa Missa?
É Jesus, que Se nos entrega como alimento; porque Jesus vem até nós, tudo muda e no nosso ser manifestam-se forças - a ajuda do Espírito Santo - que enchem a alma, que formam as nossas acções, o nosso modo de pensar e de sentir.
O coração de Cristo é paz para o cristão.

O fundamento da entrega que o Senhor nos pede não está só nos nossos desejos e nas nossas forças, tantas vezes limitados e impotentes: apoia-se, antes de tudo, nas graças que conquistou para nós o amor do Coração de Deus feito Homem.
Por isso, podemos e devemos perseverar na nossa vida interior de filhos do Pai que está nos Céus, sem darmos acolhimento ao desânimo e à desesperança.
Gosto de mostrar como o cristão, na sua existência habitual e corrente, nos mais simples pormenores, nas circunstâncias normais do seu dia-a-dia, exercita a Fé, a Esperança e a Caridade, porque aí é que reside a essência da conduta de uma alma que conta com o auxílio divino e que, na prática dessas virtudes teologais, encontra a alegria, a força e a serenidade.

São estes os frutos da paz de Cristo, da paz que nos veio trazer o seu Coração Sagrado.
Porque - digamo-lo mais uma vez - o amor de Jesus pelos homens é uma das profundidades insondáveis do mistério divino, do amor do Filho ao Pai e ao Espírito Santo.
O Espírito Santo, laço de amor entre o Pai e o Filho, encontra no Verbo um coração humano.

Não é possível falar destas realidades centrais da nossa fé sem darmos pela limitação da nossa inteligência diante das grandezas da Revelação.
No entanto, embora a nossa razão se encha de pasmo, cremos nelas com humildade e firmeza.
Sabemos, apoiados no testemunho de Cristo, que essas realidades são assim mesmo.
Que o Amor, no seio da Trindade, se derrama sobre todos os homens por intermédio do amor do Coração de Jesus.

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Viver no Coração de Jesus, unir-nos a Ele estreitamente é, portanto, convertermo-nos em morada de Deus.
Aquele que Me ama será amado pelo meu Pai, anunciou o Senhor. E Cristo e o Pai, no Espírito Santo, vêm à alma e fazem nela a sua morada.

Quando compreendemos - ainda que seja só um poucochinho - estas verdades fundamentais, a nossa maneira de ser transforma-se.
Passamos a ter fome de Deus e fazemos nossas as palavras do Salmo: Meu Deus, eu Te procuro solícito; sedenta de Ti está a minha alma; a minha carne deseja-Te, como terra árida, sem água.
E Jesus, que suscitou as nossas ansiedades, vem ao nosso encontro e diz-nos: se alguém tem sede, venha a Mim e beba.
E oferece-nos o seu Coração, para encontrarmos nele o nosso repouso e a nossa fortaleza.
Se aceitarmos o seu chamamento, veremos como as suas palavras são verdadeiras, e aumentará a nossa fome e a nossa sede, até desejarmos que Deus estabeleça no nosso coração o lugar do seu repouso e não afaste de nós o seu calor e a sua luz.

Ignem veni mittere in terram, et quid volo nisi ut accendatur?, vim trazer fogo à Terra, e que quero eu senão que se acenda?
Já que nos aproximámos um bocadinho do fogo do Amor de Deus, deixemos que o seu impulso mova as nossas vidas, sintamos o entusiasmo de levar o fogo divino de um extremo ao outro do mundo, de o dar a conhecer àqueles que nos rodeiam - para que também eles conheçam a paz de Cristo e, com ela, encontrem a felicidade.
Um cristão que viva unido ao Coração de Jesus não pode ter outros objectivos senão estes: a paz na sociedade, a paz na Igreja, a paz na própria alma, a paz de Deus, que se consumará quando vier a nós o seu Reino.

Maria, Regina pacis, Rainha da Paz, porque tiveste fé e acreditaste que se cumpriria o anúncio do Anjo, ajuda-nos a aumentar a Fé, a sermos firmes na Esperança, a aprofundar o Amor.
Porque é isso que quer hoje de nós o teu Filho, ao mostrar-nos o seu Sacratíssimo Coração.

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Assumpta est Maria, in coelum, gaudent angeli
Maria foi levada por Deus, em corpo e alma, para os Céus.
Há alegria entre os anjos e os homens.
Qual a razão desta satisfação íntima que descobrimos hoje, com o coração que parece querer saltar dentro do peito e a alma cheia de paz?
Celebramos a glorificação da nossa Mãe e é natural que nós, seus filhos, sintamos um júbilo especial ao ver como é honrada pela Trindade Beatíssima.

Cristo, seu Filho Santíssimo, nosso irmão, deu-no-la por Mãe no Calvário, quando disse a S. João: eis aqui a tua Mãe.
E nós recebêmo-la, com o discípulo amado, naquele momento de imenso desconsolo.
Santa Maria acolheu-nos na dor, quando se cumpriu a antiga profecia: e uma espada trespassará a tua alma.
Todos somos seus filhos; ela é Mãe de toda a Humanidade.
E agora, a Humanidade comemora a sua inefável Assunção: Maria sobe aos céus, Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa de Deus Espírito Santo. Mais do que Ela, só Deus.

O mistério do amor

Mistério de amor é este.
A razão humana não consegue compreendê-lo.
Só a fé pode explicar como é que uma criatura foi elevada a tão grande dignidade, até se tornar o centro amoroso em que convergem as complacências da Trindade.
Sabemos que é um segredo divino. Mas, por se tratar da nossa Mãe, sentimo-nos capazes de o compreender melhor - se é possível falar assim - do que outras verdades da fé.

Como nos teríamos comportado se tivéssemos podido escolher a nossa mãe?
Julgo que teríamos escolhido a que temos, enchendo-a de todas as graças.
Foi o que Cristo fez, pois sendo Omnipotente, Sapientíssimo e o próprio Amor, seu poder realizou todo o seu querer.

Vede como os cristãos descobriram, há já bastante tempo, este raciocínio: convinha - escreve S. João Damasceno - que aquela que no parto tinha conservado íntegra a sua virgindade, conservasse depois da morte o seu corpo sem corrupção alguma. Convinha que aquela que tinha trazido no seu seio o Criador feito menino, habitasse na morada divina. Convinha que a Esposa de Deus entrasse na casa celestial. Convinha que aquela que tinha visto o seu Filho na Cruz, recebendo assim no seu coração a dor de que tinha sido isenta no parto, o contemplasse sentado à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que corresponde a seu Filho, e que fosse honrada como Mãe e Escrava de Deus por todas as criaturas.

Os teólogos formularam com frequência um argumento semelhante, tentando compreender de algum modo o significado desse cúmulo de graças de que Maria se encontra revestida, e que culmina com a Assunção aos Céus.
Dizem convinha; Deus podia fazê-lo; e por isso o fez.
É a explicação mais clara das razões que levaram Cristo a conceder a sua Mãe todos os privilégios, desde o primeiro instante da sua Imaculada Conceição.
Ficou livre do poder de Satanás; é formosa - tota pulchra! - limpa, pura na alma e no corpo.

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O mistério do sacrifício silencioso

Mas reparai: se Deus quis, por um lado exaltar a sua Mãe, por outro, durante a sua vida terrena, não foram poupados a Maria a experiência da dor, nem o cansaço do trabalho, nem o claro-escuro da fé. Àquela mulher do povo, que, certo dia, irrompe em louvores a Jesus, exclamando Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos a que foste amamentado, o Senhor responde: Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus, e a põem em prática.
Era o elogio da sua Mãe, do seu fiat, do faça-se, sincero, entregue, cumprido até às últimas consequências, que não se manifestou em acções aparatosas, mas no sacrifício escondido e silencioso de cada dia.

Ao meditar nestas verdades, percebemos um pouco mais a lógica de Deus.
Compreendemos que o valor sobrenatural da nossa vida não depende de que se tornem realidade as grandes façanhas que por vezes forjamos com a imaginação, mas da aceitação fiel da vontade divina, da disposição generosa nos pequenos sacrifícios diários,

Para sermos divinos, para nos "endeusarmos", temos de começar por ser muito humanos, vivendo face a Deus dentro da nossa condição de homens correntes, santificando esta aparente pequenez.
Assim viveu Maria.
A cheia de graça, a que é objecto das complacências de Deus, a que está acima dos anjos e dos santos teve uma existência normal.
Maria é uma criatura como nós, com um coração como o nosso, capaz de gozo e de alegrias, de sofrimento e de lágrimas.
Antes de Gabriel lhe comunicar o querer de Deus, não sabe que tinha sido escolhida desde toda a eternidade para ser Mãe do Messias. Considera-se a si mesma cheia de baixeza; por isso, reconhece logo, com profunda humildade, que fez em mim grandes coisas Aquele que é Todo-poderoso.

A pureza, a humildade e a generosidade de Maria contrastam com a nossa miséria, com o nosso egoísmo.
É razoável que, depois de nos apercebermos disso, nos sintamos movidos a imitá-la.
Somos criaturas de Deus, como Ela, e basta que nos esforcemos por ser fiéis para que também em nós o Senhor faça grandes coisas.
Não será obstáculo a nossa pequenez, porque Deus escolhe o que vale pouco, para que assim brilhe melhor a potência do seu amor.

(cont)