28/10/2016

Piedosos como meninos

– Jesus, considerando agora mesmo as minhas misérias, digo-te: Deixa-te enganar pelo teu filho, como esses pais bons, carinhosos, que põem nas mãos do seu menino a dádiva que dele querem receber..., porque sabem muito bem que as crianças nada têm. E que alvoroço o do pai e o do filho, ainda que ambos estejam no segredo! (Forja, 195)

A vida de oração e de penitência e a consideração da nossa filiação divina transformam-nos em cristãos profundamente piedosos, como meninos pequenos diante de Deus. A piedade é a virtude dos filhos e, para que o filho possa entregar-se nos braços do seu pai, há-de ser e sentir-se pequeno, necessitado. Tenho meditado com frequência na vida de infância espiritual, que não se contrapõe à fortaleza, porque requer uma vontade rija, uma maturidade bem temperada, um carácter firme e aberto.

Piedosos, portanto, como meninos; mas não ignorantes, porque cada um há-de esforçar-se, na medida das suas possibilidades, pelo estudo sério e científico da fé. E o que é isto, senão teologia? Piedade de meninos, sim, mas doutrina segura de teólogos.

O afã por adquirir esta ciência teológica – a boa e firme doutrina cristã – deve-se, em primeiro lugar, ao desejo de conhecer e amar a Deus. Simultaneamente é consequência da preocupação geral da alma fiel por alcançar a mais profunda compreensão deste mundo, que é uma realização do Criador. Com periódica monotonia, há pessoas que procuram ressuscitar uma suposta incompatibilidade entre a fé e a ciência, entre a inteligência humana e a Revelação divina. Tal incompatibilidade só pode surgir, e só na aparência, quando não se entendem os termos reais do problema.


Se o mundo saiu das mãos de Deus, se Ele criou o homem à sua imagem e semelhança e lhe deu uma chispa da sua luz, o trabalho da inteligência deve ser – embora seja um trabalho duro – desentranhar o sentido divino que naturalmente já têm todas as coisas. E, com a luz da fé, compreendemos também o seu sentido sobrenatural, que resulta da nossa elevação à ordem da graça. Não podemos admitir o medo da ciência, visto que qualquer trabalho, se é verdadeiramente científico, tende para a verdade. E Cristo disse: Ego sum veritas. Eu sou a verdade. (Cristo que passa, 10)

Reflectindo - 207

Dons do Espírito Santo - 1

Como viver sem eles?

Não tenho uma resposta porque na realidade não sei.
Considero-me credor de imensos dons que ao longo da minha vida fui recebendo mas, na verdade, sinto que nos últimos tempos têm sido abundantes e de tal forma sensíveis que, também não tenho dúvidas, se tem operado uma notória transformação em mim, na minha vida.

Julgo sinceramente que para melhor.

Como tenho a certeza que como tal não se deve a qualquer mérito da minha parte só posso concluir que o Senhor me tem reservado algo que não sei o que possa ser.
Espero pela santidade, quero definitivamente ser santo!

Parece-me viver uma outra vida, não uma vida dupla, mas única, uma só.

Estou a tornar-me num "místico?

Talvez mas não me assusta.
Deveria?

Rezo não mais que antes mas talvez reze melhor, sinto-me cada vez mais íntimo do Senhor.

Quanto devo?
Sim, assusta-me um pouco a dimensão da dívida.
Como pagar?

Não me parece que deva ser uma preocupação porque não me ocorre sequer que o Senhor dá com o objectivo de receber.

Não!
Dá para que os Seus filhos possam cumprir melhor a Sua Vontade por­que sabe muito bem que por nós próprios não conseguiríamos.

Mas saber que no fundo não existe dívida a pagar não exime que não se agradeça bem pelo contrário quanto mais se recebe mais se deve agradecer.

A gratidão é um sentimento de grande beleza e dignidade e ser grato traz uma satisfação íntima muito real e concreta.

(ama, reflexões, Malta, Maio, 2016)


(cont)

Evangelho e comentário


Tempo Comum

São Simão, São Judas – Apóstolos

Evangelho: Lc 6, 12-19

12 Naqueles dias Jesus retirou-se para o monte a orar, e passou toda a noite em oração a Deus.13 Quando se fez dia, chamou os Seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos:14 Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro, seu irmão André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,15 Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado o Zelote,16 Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor. 17 Descendo com eles, parou numa planície. Estava lá um grande número dos Seus discípulos e uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e de Sidónia,18 que tinham vindo para O ouvir, e para ser curados das suas doenças. Os que eram atormentados pelos espíritos imundos ficavam também curados.19

Comentário:

Quem são estes doze homens que Jesus escolhe? Pessoas inteligentes, de boa posição social, conhecidos pelos seus dotes de chefia e liderança?

São uns homens simples talvez com uma característica comum aos pescadores, têm paciência, estão habituados ao trabalho duro, árduo, esgotante tantas vezes sem resultado compensador. E tentam uma e outra vez, sem desanimar, sempre com a esperança renovada numa captura de peixe abundante que compense esses outros dias de pesca escassa.

Um outro, até, nem é muito bem visto pelos seus conterrâneos, a profissão que exerce – cobrador de impostos – é antipática e, não poucas vezes – leva ao aproveitamento pessoal do que lhe não pertence.
Aquele é um jovem, sem qualquer experiência da vida, com um coração puro e disponível para uma entrega sem condições.


Estoutro é alguém de uma palavra só, em quem não existe duplicidade e, até escolhe um que irá traí-lo de forma miserável.

E o que lhes destina? Conduzir a Igreja que irá fundar, desde o primeiro dia de tal forma sólida e perseverante, arrostando contra todas as dificuldades, obstáculos de toda a ordem e sacrifícios inauditos que chegaram, quase todos a dar a própria vida.

Eles deram tudo quanto tinham numa entrega sem limites, Cristo deu-lhes tudo o resto que lhes faltava para levarem a cabo a gigantesca tarefa que iria pesar sobre os seus ombros.

Sabemos muito bem que, esta escolha de Jesus se revelou um êxito. A Igreja é a prova disso, nós, todos os cristãos, somos os beneficiários dessa escolha.

(ama, comentário sobre Lc 6, 12-19, 2010.09.07)








Leitura espiritual

Leitura Espiritual


Amigos de Deus



São Josemaria Escrivá

202
        
Aproxima-se da figueira: aproxima-se de ti e aproxima-se de mim.
Jesus tem fome e sede de almas.
Do alto da cruz clamou: sítio!, tenho sede.
Sede de nós, do nosso amor, das nossas almas e de todas as almas que lhe devemos levar pelo caminho da Cruz, que é o caminho da imortalidade e da glória do Céu.

Abeirou-se da figueira, mas não encontrou senão folhas.
É lamentável.
Não acontecerá assim também na nossa vida?
Não haverá nela, infelizmente, falta de fé e de vibração de humildade, ausência de sacrifícios e de obras?
Não será que apresentamos um cristianismo só de fachada e sem frutos?
É terrível, porque Jesus ordena: Nunca mais nasça fruto de ti. E, imediatamente, secou a figueira.
Entristece-nos esta passagem da Sagrada Escritura, ao mesmo tempo que, por outro lado, nos anima a avivar a fé, a viver conformes à fé, para que Cristo receba sempre algum lucro da nossa parte.

Não nos enganemos.
Nosso Senhor não depende nunca das nossas construções humanas. Os projectos mais ambiciosos são, para Ele, brincadeiras de crianças. Ele quer almas, quer amor.
Quer que todos venham gozar do seu Reino, por toda a eternidade. Temos de trabalhar muito na terra e temos de trabalhar bem, porque essa ocupação corrente é a que devemos santificar.
Mas nunca nos esqueçamos de a realizar por Deus.
Se trabalhássemos por nós mesmos, isto é, por orgulho, só conseguiríamos produzir folhas e nem Deus nem os homens poderiam saborear, numa árvore tão frondosa, a doçura dos frutos.

203
        
Então, ao olharem para a figueira seca, os discípulos admiraram-se, dizendo: como secou a figueira imediatamente?
Aqueles primeiros doze, que tinham presenciado tantos milagres de Cristo, ficam estupefactos mais uma vez, porque a sua fé ainda não era ardente.
Por isso o Senhor afirma: Na verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito a esta figueira, mas ainda se disserdes a este monte: sai daí e lança-te ao mar, assim se fará.
Jesus Cristo estabelece esta condição: que vivamos da fé, porque depois seremos capazes de remover montanhas.
E há tantas coisas a remover... no mundo e, antes de mais, no nosso coração.
Tantos obstáculos à graça!
Tenhamos, pois, fé. Fé com obras, fé com sacrifício, fé com humildade.
Na realidade, a fé converte-nos em criaturas omnipotentes: E tudo o que pedirdes com fé na oração o recebereis.

O homem de fé sabe julgar bem as questões terrenas, sabe que a vida terrena é, no dizer de Santa Teresa, uma má noite numa má pousada.
Renova a sua convicção de que a nossa existência na terra é tempo de trabalho e de luta, tempo de purificação para saldar a dívida para com a justiça divina, pelos nossos pecados.
Sabe também que os bens temporais são meios e usa-os generosamente, heroicamente.

204
         
A fé não serve só para ser pregada, mas especialmente para ser posta em prática.
Talvez nos faltem as forças com frequência.
Nesses momentos - e de novo nos socorremos do Santo Evangelho - comportai-vos como aquele pai do rapaz lunático.
Deseja a salvação do filho, espera que Cristo o cure, mas não acaba de acreditar em tamanha felicidade.
Por isso Jesus, que sempre pede fé, conhecendo as perplexidades daquela alma, antecipa-se: se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.
Tudo é possível: omnipotentes!
Mas com fé.
Aquele homem sente que a sua fé vacila, teme que essa escassez de confiança impeça que o seu filho recupere a saúde.
E chora.
Que não nos envergonhemos deste pranto: é fruto do amor de Deus, da oração contrita, da humildade.
E o pai do menino, banhado em lágrimas, exclamou: eu creio, Senhor, mas ajuda a minha incredulidade .

Ao terminar agora esta nossa meditação, digamos-lhe com as mesmas palavras: Senhor, eu creio!
Eduquei-me na tua fé, decidi seguir-te de perto.
Ao longo da minha vida, implorei insistentemente a tua misericórdia. E, repetidas vezes também, pareceu-me impossível que pudesses fazer tantas maravilhas no coração dos teus filhos.
Senhor, creio!
Mas ajuda-me, para que eu creia mais e melhor!

Dirigimos igualmente uma súplica a Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, Mestra de fé: Bem-aventurada tu que creste, porque se hão-de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas.

205
        
Há já bastantes anos, com uma convicção que crescia de dia para dia, escrevi: Espera tudo de Jesus; tu nada tens, nada vales, nada podes. - Ele agirá, se n'Ele te abandonares.
Passou o tempo e aquela minha convicção tornou-se ainda mais forte, mais profunda.
Tenho visto, em muitas vidas, que a esperança em Deus acende maravilhosas fogueiras de amor, com um fogo que mantém palpitante o coração, sem desânimos, sem desfalecimentos, embora ao longo do caminho se sofra e, às vezes, se sofra deveras.

Enquanto lia o texto da Epístola da Missa, comovi-me e imagino que vos aconteceu o mesmo.
Compreendia que Deus nos ajudava, com as palavras do Apóstolo, a contemplar a teia divina das três virtudes teologais, que compõem o fundo sobre o qual se tece a existência autêntica do homem cristão, da mulher cristã.

Ouvi de novo S. Paulo: Justificados pela fé, tenhamos paz com Deus, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem temos acesso pela fé a esta graça, na qual permanecemos firmes e nos gloriamos na esperança da glória dos filhos de Deus. Mas não nos gloriamos somente nisto; alegramo-nos também nas tribulações, sabendo que a tribulação exercita a paciência, a paciência a prova e a prova a esperança; esperança que não engana, porque a caridade de Deus foi derramada em nossos corações pelo Espírito Santo.

206
         
Aqui, na presença de Deus, que nos está a presidir do sacrário - como fortalece esta proximidade real de Jesus! - vamos meditar hoje esse suave dom de Deus, a esperança, que enche de alegria as nossas almas, spe gaudentes, jubilosos, porque - se formos fiéis - nos aguarda o Amor infinito.

Não esqueçamos jamais que para todos - para cada um de nós, portanto - só há dois modos de estar no mundo: ou se vive vida divina, lutando para agradar a Deus, ou se vive vida animal, mais ou menos humanamente ilustrada, quando se prescinde d'Ele.
Nunca concedi demasiado peso aos santões que fazem alarde de não serem crentes: quero-lhes realmente muito, como a todos os homens, meus irmãos; admiro a sua boa vontade, que em determinados aspectos pode mostrar-se heróica, mas tenho pena deles, porque têm a enorme desgraça de lhes faltar a luz e o calor de Deus e a inefável alegria da esperança teologal.

Um cristão sincero, coerente com a sua fé, não actua senão com os olhos em Deus, com visão sobrenatural; trabalha neste mundo, que ama apaixonadamente, metido nos afãs da terra, com o olhar no Céu.
É S. Paulo quem o confirma: quæ sursum sunt quærite; buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus; saboreai as coisas do Céu, não as da terra.
Porque estais mortos - para as coisas terrenas, pelo Baptismo - e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.

207
         
Esperança terrena e esperança cristã

Com monótona cadência sai da boca de muitos o ritornello já tão vulgar, de que a esperança é a última coisa que se perde; como se a esperança fosse um apoio para continuarmos a deambular sem complicações, sem inquietações de consciência; ou como se fosse um expediente que permite adiar sine die a oportuna rectificação do procedimento, a luta para alcançar metas nobres e, sobretudo, o fim supremo de nos unirmos com Deus.

Eu diria que esse é o caminho para confundir a esperança com a comodidade.
No fundo, não há ânsias de conseguir um verdadeiro bem, nem espiritual, nem material legítimo; a mais alta pretensão de alguns reduz-se a evitar o que poderia alterar a tranquilidade - aparente - de uma existência medíocre.
Com uma alma tímida, acanhada, preguiçosa, a criatura enche-se de egoísmos subtis e conforma-se com o facto de os dias, os anos decorrerem sine spe nec metu, sem aspirações que exijam esforço, sem os perigos da peleja: o que importa é evitar o risco do desaire e das lágrimas.
Que longe se está de obter uma coisa, se se malogrou o desejo de a possuir, por temor das exigências que a sua conquista comporta!

Também não falta a atitude superficial dos que - inclusive com visos de afectada cultura ou de ciência - compõem poesia fácil com a esperança.
Incapazes de se enfrentarem sinceramente com a sua intimidade e de se decidirem pelo bem, limitam a esperança a uma ilusão, a um sonho utópico, ao simples consolo ante as angústias de uma vida difícil.
A esperança - falsa esperança! - transforma-se para estes numa frívola veleidade que a nada conduz.

(cont)


Satanismo - 4

Satanismo

O Demónio e a Eucaristia

…/4

De facto, como pode ser atestado por muitos que já testemunharam exorcismos, há um poder maravilhoso na água benta, nas relíquias, na cruz do exorcista, na estola do sacerdote e noutros objectos sagrados que afugentam os demónios.
Mesmo assim, muitos católicos e não católicos desvalorizam esses sacramentais (assim como os próprios sacramentos) e utilizam-nos de qualquer maneira, com pouca frequência ou sem frequência alguma.
Há muita gente, inclusive católicos, que os consideram pouco importantes.

Mas os demónios não!

Vergonhosamente, os demónios, às vezes, manifestam mais fé (ainda que cheia de medo) que os crentes que deveriam reverenciar os sacramentos e os sacramentais com fé amorosa.
Mesmo o satanista de Oklahoma reconhece que Jesus está realmente presente na Eucaristia.
É por isso que ele procura uma hóstia consagrada, ainda que para fins tão nefastos e perversos.
Cristo [i].

(cont)

p. charles pope

Revisão da versão portuguesa por ama.



[i] Lc 4,41-42

Pequena agenda do cristão


Sexta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?