03/03/2017

Reflectindo - 231

Abrir os olhos

Estava numa aflição: não via nada; tinha os olhos abertos mas não enxergava absolutamente nada. Parecia estar mergulhado numa escuridão absoluta, profunda, total.
Ouvia ruídos à minha volta, conseguia identificar pessoas a falar e a mover-se, veículos a transitar nas ruas e muitos outros ruídos comuns no dia-a-dia a quem vive numa cidade.
Estava assustado e muito, muito preocupado pois não fazia a menor ideia do que se passava comigo. Não me doía nada, sentia-me muito bem e, se não fosse a escuridão em que estava mergulhado, poderia dizer que não se passava nada de anormal, fora do comum.

Levei a ponta dos dedos à cara para me certificar que tinha as pálpebras abertas e, de facto, estavam...

A minha preocupação subiu uns graus, sentia-me perdido, confuso, desnorteado. Percebi então que também não conseguia falar. Bem abria a boca na tentativa de gritar, chamar a atenção de alguém, mas não saía um som da minha garganta.

Estava cego e mudo! Triste e amarga realidade!

Isto aconteceu-me hoje, há pouco, sem eu dar conta.

Mas...quantas vezes, esta aflição, me atinje, porque, numa desatenção, num afrouxar da guarda, fecham-se-me os olhos e os ouvidos incapacitam-se para ouvir e, eu, fico assim, cego e surdo.

Nestas situações só me oiço e vejo a mim próprio. Fico como que numa câmara de eco forrada a espelhos, oiço-me e vejo-me repetidamente.

Na porta desta câmara, para que não restem dúvidas a ninguém, pende um letreiro: ORGULHO.


AMA, reflexões, 22.09.2014



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