05/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

MÃE DA DIVINA GRAÇA

Numa efusão de imensa caridade,
prodígio singular fez Deus no mundo:
uniu ao dom da nossa liberdade
o mistério da Graça tão profundo.

São asas a guiar a humanidade
no seu roteiro, ou árduo ou jucundo
que às plagas conduz da eternidade
num voo audaz, esplêndido e fecundo.

Campo de luz e sombras – onde impera,
qual sol de paz e amor, sublime esfera
que brilha sempre, enquanto tudo passa…

Esse astro lindo que JESUS encerra
e os bens celestes com que inunda terra
é MARIA, a MÃE DA DIVINA GRAÇA.

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima:Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Hoy el reto del amor es amar desde dentro.

LA FUERZA DEL INTERIOR

"Me está pasando algo raro...", pensaba. Y no sólo me daba cuenta yo, sino que las demás también empezaron a percibirlo.

-Sión... ¿estás bien?

Generalmente salto de la cama con el pitido del despertador y llego la primera a la ducha. Sin embargo, ya llevaba varios días en que llegaba la última... y si llegaba.

-Debo de estar muy cansada... (explicación día 1)

-Estaba tan dormida que no he oído el despertador... (día 2)

-He debido de apagar el despertador sin darme cuenta... (día 3)

Finalmente, Lety me sugirió otra respuesta:

-Sión... ¿has probado a cambiar las pilas del despertador?

¡¡Oye, mano de santo!! El pobre aparato, aunque seguía mostrando la hora, ya no tenía fuerzas para cantar...

Y así nos puede pasar también a nosotros. A lo largo de los días, vamos perdiendo poco a poco la batería. Sí, seguimos cumpliendo con nuestras obligaciones, sacamos adelante nuestras tareas, seguimos marcando la hora... pero ya no hay fuerzas para cantar.

Sin embargo, a Cristo no le importa sólo "qué" haces... sino "cómo" lo haces. Puedes hacer muchas cosas buenas pero, ¿cómo estás por dentro?

Cristo sabe que toda batería se agota, pequeño despertador, ¡por eso siempre está disponible para recargarte, darte pilas nuevas! No dejes que te viva el día, o que te mueva la simple rutina: de la mano de Cristo, ¡encontrarás oportunidades para amar en miles de detalles!

Hoy el reto del amor es amar desde dentro. Para ello, ¡carga bien tus pilas! Siéntate un rato con Cristo, llénate de su amor y, a lo largo de tu jornada, haz una tarea en casa que no te corresponda. Hazlo por amor, con una sonrisa. Habrás cumplido el reto si, mientras realizas la tarea... ¡tu corazón canta! ¡Deja que el amor de Cristo sea tu batería! ¡Feliz día!


VIVE DE CRISTO

Doutrina – 260

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

39. Só Deus «é»?

Enquanto as criaturas receberam d’Ele tudo o que são e têm, só Deus é em si mesmo a plenitude do ser e de toda a perfeição. Ele é «Aquele que é», sem origem e sem fim. Jesus revela que também Ele é portador do nome divino: «Eu sou». [1]







[1] Jo 8, 28

Epístolas de São Paulo – 36

2ª Epístola de São Paulo aos Coríntios

Capítulo – 1

PRÓLOGO (1,1-11)

Saudação

1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto, como a todos os santos que estão na Acaia inteira, 2a vós, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.

Bênção

3Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação! 4Ele nos consola em toda a nossa tribulação, para que também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus. 5Na verdade, assim como abundam em nós os sofrimentos de Cristo, também, por meio de Cristo, é abundante a nossa consolação. 6Se somos atribulados, é, pois, para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, que vos faz suportar os mesmos sofrimentos que também nós padecemos. 7E a nossa esperança a respeito de vós é firme, porque sabemos que, assim como sois participantes dos nossos sofrimentos, também o haveis de ser da nossa consolação. 8Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia. Fomos maltratados em extremo, acima das nossas forças, até ao ponto de perdermos a esperança de sobreviver. 9Sentimos cair sobre nós mesmos a sentença de morte, para que não puséssemos a confiança em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos. 10Foi Ele quem nos livrou e nos há-de livrar de tão grande perigo de vida; nele colocamos a esperança de que sempre nos livrará, 11se vós também nos ajudardes, com as vossas orações, a fim de que o dom a nós concedido, pela intercessão de muitos, seja motivo de acção de graças para muitos, em nosso favor.

I. DEFESA DO APÓSTOLO (1,12-7,16)

Mudança de planos

12Este é o nosso motivo de glória: o testemunho da nossa consciência de termos procedido no mundo, e mais particularmente em relação a vós, com a simplicidade e a sinceridade que vêm de Deus, e não com a sabedoria humana, mas segundo a graça de Deus. 13Na verdade, não vos escrevemos nada além do que podeis ler e compreender, e espero que o compreendais até ao fim - 14como em parte já nos compreendestes - que nós somos o vosso motivo de glória, como vós sereis o nosso, no dia do Senhor Jesus. 15Com esta confiança, tencionava primeiro ir ter convosco, para que recebêsseis uma segunda graça, 16passando por vós a caminho da Macedónia, para, de lá, ir outra vez ter convosco e ser por vós ajudado na viagem para a Judeia. 17Ao conceber este plano, será que usei de leviandade? Ou será que as resoluções que tomo são puramente humanas, de modo que haja em mim o "sim" e o "não" ao mesmo tempo? 18Mas Deus é testemunha de que a nossa palavra dirigida a vós não é «sim» e «não.» 19Pois o Filho de Deus, Jesus Cristo, aquele que foi por nós anunciado entre vós, por mim, por Silvano e por Timóteo, não foi um «sim» e um «não», mas unicamente um «sim.» 20Nele todas as promessas de Deus se tornaram «sim» e é por isso que, graças a Ele, nós podemos dizer o «ámen» para glória de Deus. 21Aquele que nos confirma juntamente convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, 22Ele que nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito. 23Quanto a mim, invoco a eus por testemunha, sobre a minha vida, de que foi para vos poupar que não voltei a Corinto. 24Não é porque pretendamos actuar como senhores sobre a vossa fé; queremos, antes, contribuir para a vossa alegria, porque, quanto à fé, estais firmes.

Evangelho e comentário

Tempo da Quaresma


Evangelho: Jo 8, 31-42

Naquele tempo, dizia Jesus aos judeus que tinham acreditado n’Ele: «Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará». Eles responderam-Lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como é que Tu dizes: ‘Ficareis livres’?» Respondeu Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: Todo aquele que comete o pecado é escravo. Ora o escravo não fica para sempre em casa ; o filho é que fica para sempre. Mas se o Filho vos libertar, sereis realmente homens livres. Bem sei que sois descendentes de Abraão; mas procurais matar-Me, porque a minha palavra não entra em vós. Eu digo o que vi junto de meu Pai e vós fazeis o que ouvistes ao vosso pai». Eles disseram: «O nosso pai é Abraão». Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas procurais matar-Me, a Mim que vos disse a verdade que ouvi de Deus. Abraão não procedeu assim. Vós fazeis as obras do vosso pai». Disseram-Lhe eles: «Nós não somos filhos ilegítimos; só temos um pai, que é Deus». Respondeu-lhes Jesus: «Se Deus fosse o vosso Pai, amar-Me-íeis, porque saí de Deus e d’Ele venho. Eu não vim de Mim próprio; foi Ele que Me enviou».

Comentário:

Na sequência dos versículos anteriores, o Evangelista especifica que Jesus Cristo Se dirige agora de modo particular aos que creram nele.
Não por desprezo pelos outros, mas com o claro objectivo de catequizar mais profundamente esses que deram o primeiro passo.
E não podemos deixar de sentir simpatia por estes judeus que embora acreditando em Jesus Cristo têm dúvidas e alguma confusão de sentimentos.

Em consequência fazem o que se deve fazer nestes casos: ser claro nas perguntas, objectivo nas questões, sincero na vontade de ver o que está de certa forma oculto.

(ama, comentário sobre Jo 8, 31-42, 2014.04.09)





Si no tengo ganas, no es auténtico?


Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS 


Vol. 2

LIVRO X

CAPÍTULO XXV

Todos os santos que viveram no tempo da lei e nos séculos anteriores foram justificados no ministério e na fé de Cristo.

Foi pela fé neste mistério (sacramentum) que, mesmo os antigos justos que viveram piedosamente, puderam ser purificados, não somente antes de a lei ter sido dada ao povo hebreu (porque nem Deus nem os anjos deixaram de os instruir), mas também no tempo da lei, embora, como figura de realidades espirituais, ela pareça conter promessas carnais — e por isso é que se chama Antigo Testamento. Realmente, existiam então Profetas que, como os anjos, anunciaram a mesma promessa e, entre eles, aquele de quem acima citei o pensamento tão profundo e tão divino acerca de soberano bem do homem:

Para mim estar unido a Deus é que é bom [i].

Neste Salmo fica bem clara a distinção entre os dois Testamentos — o Antigo e o Novo. Por causa das promessas carnais e terrenas em que via abundar os ímpios, diz o Profeta que os seus pés trem eram e os seus passos estiveram prestes a fraquejar ao pensar que tinha servido a Deus em vão, pois, a felicidade que d’Ele esperava, via-a ele prosperar naqueles que O desprezavam. Querendo saber a razão porque era assim, teve muita dificuldade, diz, em explicá-lo até ao momento em que, entrando no santuário de Deus, compreendeu a sorte final dos que, no seu erro, e e julgava felizes. Reconheceu, então, que na sua elevação eles tinham sido, como diz, derrubados, tinham desaparecido e tinham perecido por causa das suas iniquidades. Este fastígio de felicidade temporal tornara-se para eles como o sonho de um homem que ao despertar se encontra de repente privado das alegrias enganosas do seu sonho. E como nesta T erra, na Cidade Terrestre, eles se imaginavam grandes, conclui:

Senhor, na tua cidade reduzirás a nada a sua imagem.[ii]

Que a esta seja, porém, útil pedir mesmo os bens terrenos ao único Deus verdadeiro, em cujo poder estão todas as coisas, mostra-o bem quando diz:

Como um animal tenho estado diante de ti e estou sempre contigo.[iii]

«Como um animal», disse, isto é, como alguém que não compreende. Realmente, eu devia desejar de Ti as coisas que não podem ser comuns a mim e aos ímpios; mas quando os vi na abundância, pensei que Te servi em vão, pois que esses bens eram a parte dos que não puderam servir-Te. Nem por isso deixarei de estar «sempre contigo» porque, mesmo em tais desejos, não recorri a outros deuses. Por isso continua:

Tomaste a minha mão direita, conduziste-me conforme a tua vontade e recebeste-me com glória [iv],

como se ficassem à esquerda todas aquelas coisas cuja abundância viu nos ímpios e por elas esteve prestes a desfalecer:

Que há para mim no Céu e, fora de Ti, que é que quis sobre a Terra? [v]

A si próprio se repreende e tem razão para não estar satisfeito consigo próprio, porque, quando tinha no Céu tamanho bem (mais tarde o compreendeu), pediu ao seu Deus bens transitórios, frágeis e, a bem dizer, uma felicidade de lama na Terra. Diz ele:

Desfaleceu a minha carne e o meu coração, Deus do meu coração [vi].

Desfalecimento feliz, com certeza, que das coisas cá de baixo leva às do alto! Por isso diz noutro salmo:

Minha alma se consome e anela pelos átrios do Senhor.[vii]

E noutra passagem:

Por tua salvação desfalece a minha alma.[viii]

Todavia, depois de ter falado de um e outro desfalecimento — o do coração e o da carne —, não acrescentou «Deus do meu coração e da minha came», mas apenas «Deus da minha carne.», porque, na verdade, é o coração que purifica a came. Daí esta palavra do Senhor:

Limpa o que está dentro que o que está por fora limpo será. [ix] .

Diz a seguir que o seu quinhão é o próprio Deus — nada que venha d’Ele mas Ele mesmo:

Deus do meu coração, Deus meu quinhão, Deus meu para sempre.[x]

Fala assim porque de tudo o que se oferece à escolha dos homens, é ao próprio Deus que lhe apraz escolher. E continua:

Porque eis que os que se afastaram de ti morrerão perdeste todos os que a infidelidade afastou de ti [xi],

isto é, aquele que deseja ser o lupanar de uma multidão de deuses. Segue-se, finalmente, o que motivou as outras citações deste salmo:

Para mim estar unido a Deus é que é bom, [xii]

isto é, não me afastar d ’Ele, não me entregar a tantas fornicações. E esta união só será perfeita quando se tenha libertado de tudo aquilo de que se deve libertar. Mas agora é que se realiza o que se segue:

Pôr em Deus a minha esperança [xiii],

porque, diz o Apóstolo:

Ver o que se espera já não é esperar. Quem vê como
pode esperar? Mas se esperamos o que não vemos aguardemo-lo com constância
[xiv].

Situados agora nesta esperança, ponhamos em prática o que se segue e sejamos nós também, à nossa medida, anjos de Deus, isto é, seus mensageiros, anunciando a sua vontade e louvando a sua glória e a sua graça. 
Por isso, tendo dito:

Pôr em Deus a minha esperança [xv],

acrescenta:

Para anunciar todas as tuas glórias às portas da filha de
Sião
[xvi].

É esta a gloriosíssima Cidade de Deus, aquela que conhece e adora um só Deus, aquela que nos anunciaram os santos anjos, convidando-nos a fazermos parte dela e desejando que sejamos nela seus concidadãos. Eles, de facto, não pretendem que os honremos como deuses, mas que, com eles, adoremos o seu e nosso Deus; eles não pretendem que lhes ofereçamos sacrifícios, mas que, com eles, sejamos um sacrifício oferecido a Deus.

Assim, pois, quem, posta de parte toda a maligna obstinação, considera tudo isto, não pode pôr em dúvida que todos os bem-aventurados imortais que não nos invejam (não seriam felizes se nos invejassem) mas antes nos amam para que sejamos felizes com eles, são-nos bem mais favoráveis, ajudam-nos muito mais se com eles adorarmos o Deus único — Pai, Filho e Espírito Santo — do que se a eles lhes prestássemos culto, oferecendo-lhes sacrifícios.

CAPÍTULO XXVI

Inconstância de Porfírio hesitando entre a confissão do verdadeiro Deus e o culto dos demó­nios.

Quanto a mim, não sei porque é que Porfírio se sentia envergonhado entre os seus amigos teurgos. Sabia de certo modo tudo isto, mas não se sentia com liberdade para o defender contra o culto dos múltiplos deuses. Disse que havia de facto anjos que, descendo do alto, ensinavam aos teurgos as coisas divinas; e que outros, estando na Terra, anunciavam as coisas do Pai, sua sublimidade e profundidade. Será que se pode acreditar que estes anjos, cujo ofício consiste em nos anunciar a vontade do Pai, queiram ver-nos submetidos a outros que não Àquele cuja vontade nos anunciam? Por isso mesmo o platónico nos aconselha com toda a razão que, em vez de os invocarmos, devemos imitá-los. Não devemos, portanto, ter receio de ofender estes seres imortais e bem-aventurados por não lhes oferecermos sacrifícios. Porque o que eles sabem não ser devido senão ao verdadeiro Deus, cuja posse constitui a sua felicidade, sem dúvida alguma não o desejam eles para si, nem em figura, nem na sua própria realidade expressa pelos sacramentos. Esta arrogância é própria dos demónios orgulhosos e infelizes dos quais estão muito longe os piedosos servidores de Deus que não procuram a sua felicidade senão na união com ele. Para conseguirem este bem devem eles favorecer-nos com sincera benevolência, não arrogando o direito de a eles nos sujeitarem, mas ciando-nos Aquele sob cuia autoridade nós lhes seremos associados na paz.

Porque receias então, ó filósofo, levantar livremente a voz contra estas potências ciosas das verdadeiras virtudes e dos dons do verdadeiro Deus? Já distinguiste os anjos que anunciam a vontade do Pai, daqueles que atraídos não sei por que artimanha descem até aos teurgos. Porque continuas ainda a honrá-los ao ponto de afirmares que eles anunciam coisas divinas? Que coisas divinas podem anunciar esses anjos que não anunciam a vontade do Pai? Outros não são eles senão esses espíritos que um invejoso amarrou com os seus sortilégios para os impedir de purificarem uma alma, sem que o homem de bem que, como dizes, deseja essa purificação, possa libertá-los das suas amarras e restituir-lhes o seu poder. Duvidas ainda que sejam malignos demónios ou finges talvez ignorar, com receio de ofender os teurgos que enganaram a tua curiosidade e que te transmitiram, como um grande benefício, essa ciência perniciosa e insensata? E ousas levantar até aos Céus, acima dos ares, esta inveja que não é um poder, mas uma pestilência — não uma senhora, mas, como confessas, uma escrava de invejosos — atreves-te a colocá-la entre os vossos deuses sidérios ou infamar os próprios astros com semelhantes opróbrios?

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i][i][i] Salmo LXXII, 28.
[ii] Salmo LXXII, 20.
[iii] Salmo LXXII, 23.
[iv] Salmo LXXII, 23.
[v] Salmo LXXII, 25.
[vi] Salmo LXXII, 26.
[vii] Salmo LXXX, 2.
[viii] Salmo CXVIII, 81.
[ix] Mt  XXIII,26.
[x] Salmo LXXII, 26.
[xi] Salmo LXXII, 27.
[xii] Salmo LXXII, 28.
[xiii] Salmo LXXII, 26.
[xiv] Rom VIII, 24-26.
[xv] Salmo LXXII, 26.
[xvi] Salmo LXXII, 26.

Pequena agenda do cristão

Quarta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)





Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?