07/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

MÃE CASTÍSSIMA

Um dia a voz de Deus se ouviu no Empíreo:
«Colhei a flor mais bela do jardim,
levai-a à terra e nela, como um círio,
do mundo brilhará até ao fim.»

Então um Anjo foi buscar um lírio
que cioso guardava um Serafim,
levando-o logo às almas que em delírio,
queriam ter a alvura do marfim.

Essa flor era a flor da CASTIDADE
que libertou a pobre humanidade
dum suicídio tão certo como atroz.

E a fonte que alimenta a flor de encanto
é de Maria o peito sacrossanto…
Ó MÃE CASTÍSSIMA, rogai por nós!

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima:Centenário - Oração Diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Quaresma 2017 - prácticas básicas

Neste período que começou na Quarta-Feira de Cinzas e termina na Quarta-Feira da Semana Santa, somos convidados afazer o confronto especial entre as nossas vidas e a mensagem cristã expressa nos Evangelhos. Este confronto deve levar-nos a aprofundar a compreensão da Palavra de Deus e a intensificar a prática dos princípios essenciais da fé.
É um tempo de transformação, em que nos devemos exercitar espiritualmente para podermos melhorar. É um tempo de alegria, em que devemos estar atentos às oportunidades de mais amar.

Oração – para aprofundar e melhorar a minha relação com Deus. Trata-se de dar mais tempo e tempo de qualidade ao meu relacionamento com o Pai.
Esmola – para melhor amar e melhorar a minha relação com os outros. Estar atento aos que me rodeiam (Família, amigos, colegas de trabalho) e também aos que estão mais longe, mas que têm algum tipo de necessidades.
Jejum – para adquirir maior liberdade interior. Procurar as minhas dependências, aquelas que me limitam, afastam os outros, e tentar combatê-las.

Alguns exemplos destas três prácticas:

Oração
(como, quanto tempo, de que maneira)
Esmola
(ir ao encontro do outro de forma positiva)
Jejum
(libertar de manias, preconceitos, vícios)
Meditação
Ajudar financeiramente pessoas vítimas da actual crise
Abster-se de beber ou comer o que nos dá maior prazer.
Exame de consciência
Dar atenção a alguém
Televisão
Eucaristia
Ajudar instituições de cariz social
Determinado tipo de conversas
Reconciliação
Agradecer
Show off
Rezar o terço
Dizer coisas positivas
Comentar ou fazer juízos de valor sobre o próximo
Rezar pelos outros
Um sorriso
Evitar compras desnecessárias
Fazer silêncio no meu dia
Visitar um doente, um idoso.
Computador

E, no fim do dia, pensar em algo que fiz bem e em algo que poderia ter feito melhor.



(Síntese elaborada com base na Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2017)

Hoy el reto del Amor es dejar que el Amor conduzca tu corazón.

TE OFREZCO MIS ZAPATOS

Lety lleva unos días con dolor en el empeine de un pie. Debe de tener una tendinitis, para cuya recuperación recomiendan reposo, pero, como eso iba a ser más complicado, intenté convencerla de que estos días llevara unos zapatos más holgados. Como no se negó a ello, le dije que probara con los míos, que son alguna talla más y así nos asegurábamos de que no le apretaban.

A la mañana siguiente fui a coger algunos de mis zapatos para ofrecérselos, pero todos estaban sucios, así que decidí darles un poco de betún y frotarlos con la esponja para dejárselos medianamente presentables.

Mientras los limpiaba, me reía de mí misma intentando recordar cuándo había sido la última vez que los había limpiado. Ni me acordaba... Cómo me sorprendió el Señor, porque lo que me movió a limpiarlos no fue el perfeccionismo, sino un gesto de amor. Y así, sin darme casi ni cuenta de lo que hacía, me acababa de limpiar los zapatos.

El Amor provoca que las cosas que normalmente te pueden costar más, se vuelvan sencillas de realizar. Pues ya no se trata de hacer las cosas porque la ley dice que hay que hacerlas, sino que todo brota desde el Amor.

Cristo obró esta transformación desde que vino al mundo. Para Él no eran importantes los grandes cumplidores de la ley, sino lo pequeños, los que cambiaban al encontrase con Su Amor, como Zaqueo o Mateo. Tampoco alababa a los observantes de la religión, sino a los que se sabían pecadores y que, sin ocultar su pequeñez, se dejaron transformar por Él, como la pecadora, Magdalena, o Pablo.

Su Amor es el que nos trasforma y nos limpia, y por eso, cada vez que te descubres haciendo algo que no sueles hacer, puedes descubrir Su paso por tu día. Él es quien te mueve, déjate llevar por su Amor.

Hoy el reto del Amor es dejar que el Amor conduzca tu corazón. Él siempre te guiará a salir de ti mismo y mirar a los demás, pero recuerda que siempre saldrás beneficiado tú primero.


VIVE DE CRISTO

Doutrina – 262

 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

41. Em que sentido Deus é a verdade?

Deus é a própria Verdade e como tal não se engana e não pode enganar. Ele «é luz e n’Ele não há trevas». [1] O Filho eterno de Deus, Sabedoria encarnada, foi enviado ao mundo «para dar testemunho da Verdade». [2]







[1] 1 Jo 1,5
[2] Jo 18, 37

Epístolas de São Paulo – 38

2ª Epístola de São Paulo aos Coríntios

I. DEFESA DO APÓSTOLO (1,12-7,16)

Capítulo 3

Ministério do Espírito, não da letra

1Vamos começar de novo a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós ou da vossa parte? 2A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. 3É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações.
4Tal confiança, porém, nós a temos diante de Deus, por meio de Cristo. 5Não é que sejamos capazes de conceber alguma coisa como de nós mesmos; é de Deus que provém a nossa capacidade. 6É Ele que nos torna aptos para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, enquanto o Espírito dá a vida.

Glória da nova Aliança

7Ora se o ministério da morte, gravado com letras em pedra, foi de tal glória que os filhos de Israel não podiam fixar o rosto de Moisés, por causa do esplendor que nele havia, aliás passageiro, 8quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito? 9Na verdade, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais rico de glória será o ministério da justiça. 10Mesmo até o que, sob tal aspecto, foi glorioso, deixou de o ser por causa da glória eminentemente superior. 11Se, com efeito, foi glorioso o que era transitório, muito mais glorioso é o que permanece. 12Na posse de uma tal esperança, procedemos com total desassombro. 13E não fazemos como Moisés, que punha um véu sobre o seu rosto para que os filhos de Israel não vissem o fim do que era transitório. 14Mas o entendimento deles foi obscurecido, e ainda hoje, quando lêem o Antigo Testamento, esse mesmo véu continua a não ser removido, pois é só em Cristo que deve ser levantado. 15Sim, até hoje, todas as vezes que lêem Moisés, um véu cobre-lhes o coração. 16Mas, quando se converterem ao Senhor, o véu será tirado. 17Ora, o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade. 18E nós todos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito.


Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS


Vol. 2

LIVRO X

CAPÍTULO XXIX

A impiedade dos platónicos envergonha-se de confessar a encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Proclamas o Pai e seu Filho, a quem chamas «Intelecto ou Mente Paterna», assim como o que está no meio dos dois que, julgam os nós, será, na tua maneira de dizer, o Espírito Santo, e a quem, segundo os vossos hábitos, chamas três deuses. Nisso, embora usando de termos imprecisos, sabeis de algum modo e com o que através das sombras duma frágil imaginação, qual o alvo que se deve atingir. Mas a encarnação do Filho imutável de Deus — pela qual nos salvamos e a qual nos permite chegarmos ao que cremos, ou, por pouco que seja, compreendemos — não quereis vós reconhecer. Assim, pois, vedes, embora de longe e com a vista obnubilada, a pátria onde devemos permanecer; mas não sois senhores do caminho por onde se deve seguir.

Contudo, confessas a graça, pois dizes que só a poucos foi concedido chegar a Deus pelo poder da inteligência. Realmente, não dizes: «aprouve a poucos» ou «poucos quiseram», mas, dizendo «foi concedido», não há dúvida de que confessas a graça de Deus e não a ciência do homem, alas ainda da graça em termos mais claros quando, segundo a opinião de Platão, não duvidas de que é impossível ao homem chegar à sabedoria perfeita, mas o que falta aos que vivem segundo a inteligência, pode pela providência e pela graça de Deus completar-se depois desta vida.
Oh! Se tivesses conhecido a graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor, se tivesses podido ver na encarnação, em que Ele tom ou uma alma e um corpo de homem, a mais bela das graças! Mas que hei-de fazer? Sei que é em vão que falo a um morto, pelo menos no que a ti se refere. Mas talvez não seja em vão que me dirijo, mais do que a ti, aos que te admiram e te amam devido a certo apego à sabedoria ou à curiosidade pelas artes que não devias ter estudado. A graça de Deus não podia ser mais graciosamente realçada do que no Filho único de Deus que, mantendo-se em Si imutável, se revestiu do homem e deu aos homens pela mediação do homem, o espírito do seu amor, para que, por este amor, possam os homens chegar a Ele, tão afastado dos mortais pela sua imortalidade, pela sua imutabilidade dos que mudam, pela sua justiça dos ímpios e pela sua beatitude dos infelizes. E porque na nossa própria natureza infundiu o desejo de felicidade e de imortalidade, permanecendo bem-aventurado ao assumir o homem mortal para nos conferir o que amamos, ensinou-nos pelos seus sofrimentos a desprezar o que receamos.

Mas, para poderdes aceitar esta verdade, tendes necessidade de humildade, virtude bem difícil de vencer cabeças como as vossas. Realmente, que é que há de incrível — sobretudo para vós, cuja doutrina vos convida a voltar-vos para esta crença — que é que há de incrível — sobretudo para vós, repito, em ouvir-nos afirmar que Deus assumiu a alma e um corpo de homem? Certam ente formais da alma intelectual, que é sem dúvida humana, uma tão elevada ideia que ela pode, na vossa opinião, tornar-se consubstanciai àquela Inteligência Paterna em que reconheceis o Filho de Deus. Que há, pois, de incrível se uma destas almas intelectuais, duma forma inefável e excepcional foi assumida para a salvação de muitos. O corpo está unido à alma para constituir o homem total e completo; sabemo-lo pelo testemunho da nossa natureza, se isto não fosse um facto tanto da experiência corrente, seria com certeza um facto bastante difícil de crer; realmente, é mais fácil crer na união do humano com o divino, do mutável com o imutável, e até de um espírito ou, segundo a vossa maneira de falar, do incorpóreo com o incorpóreo, do que na união de um corpo com um incorpóreo.

Será que o extraordinário parto de um filho por uma virgem nos repugna? Mas isso não vos deve espantar; pelo contrário: o facto de um ser admirável vir ao mundo duma maneira admirável deveria levar-vos a experimentar um sentimento de piedade. Será que vos recusais a acreditar que este corpo, abandonado com a morte, passado pela ressurreição a um estado melhor, doravante incorruptível e imortal, Ele o tenha arrebatado para as alturas? Tendes, sem dúvida, os olhos postos em Porfírio, nos seus livros acerca do Regresso da alma (De regressu anime), de que já citei muitas passagens, onde ele repete tantas vezes: «Deve-se fugir de todo o corpo para que a alma possa manter-se bem-aventurada com Deus». Mas a sua opinião é que ele devia corrigir, sobretudo porque partilhais com ele tantas ideias incríveis acerca da alma deste mundo visível, desta imensa massa corporal. Encostados à autoridade de Platão, chegais mesmo a dizer que o mundo é um ser animado, um ser vivo, todo felicidade, e até, acrescentais vós, eterno. Com o é, então, que a alma nunca se separará do corpo e nunca deixará de ser feliz, se, para ser feliz, precisa de evitar todo o corpo? E o Sol e os outros astros, também reconheceis nos vossos livros que eles são corpos e toda a gente o constata e concorda convosco sem hesitar. Todavia, acrescentais em nome de uma ciência mais profunda, parece-vos, que eles são seres vivos e felicíssimos e, com esses corpos, eternos. Mas, então, porque e que, quando vos é exposta a fé cristã, esqueceis ou fingis ignorar o que costumais sustentar e ensinar? Porque é que em nome dessas vossas opiniões que vós próprios desmentis, não quereis ser cristãos, senão porque Cristo apareceu humildemente e vós sois orgulhosos?

Quais serão as qualidades dos corpos dos santos na ressurreição — os mais doutos nas Escrituras cristãs podem discuti-lo com grande precisão. Não temos a menor dúvida de que ele será imortal e de que Cristo mostrou dele o modelo na ressurreição. Mas quaisquer que sejam as qualidades que tenham os corpos ressuscitados, se por um lado se diz que são absolutamente incorruptíveis e imortais e que não criarão qualquer obstáculo à contemplação que fixa a alma a Deus, e, por outro lado, afirmais que há corpos imortais entre os imortalmente felizes — porque é então que julgais que, para sermos felizes, devemos fugir de todo o corpo, acreditando encontrar nisto uma boa razão de fugir à fé cristã? Porque será senão, volto a dizê-lo, porque Cristo é humilde e vós sois orgulhosos? Será que tendes vergonha de que vos corrijam? E esse, precisam ente, o vício dos orgulhosos. Causa de facto vergonha aos sábios abandonarem a escola de Platão e fazerem-se discípulos de Cristo que, pelo seu Espírito, ensinou um pescador a dizer com sabedoria:

No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus. N o princípio estava em Deus. Tudo foi feito por Ele e nada do que foi feito, foi feito sem Ele. N ’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz brilhou
nas trevas e as trevas não o compreenderam
[i].

É este o princípio do Santo Evangelho que nós chamamos «segundo João». Conforme ouvimos muitas vezes contar ao santo velho Simpliciano (que posteriormente, como bispo, presidiu à Igreja de Milão) houve um platónico que dizia dever este princípio ser escrito em letras de ouro e colocado em todas as igrejas no lugar mais destacado mas, entre os orgulhosos, Deus, o Doutor por excelência, perdeu todo o crédito desde que

o Verbo o fez came e habitou entre nós.[ii]

para estes infelizes é pouco estarem doentes; é preciso ainda que eles se vangloriem da sua doença e se envergonhem dos remédios que os poderiam curar. Não procedem assim para se elevarem, mas para que, caindo, agravem mais o seu mal.

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[1] Jo I, 1-3.
[1] Jo I, 1-14.

Evangelho e comentário

Tempo da Quaresma


Evangelho: Jo 10, 31-42

Naquele tempo, os judeus agarraram em pedras para apedrejarem Jesus, Então Jesus disse-lhes: «Apresentei-vos muitas boas obras, da parte de meu Pai. Por qual dessas obras Me quereis apedrejar?» Responderam os judeus: «Não é por qualquer boa obra que Te queremos apedrejar: é por blasfémia, porque Tu, sendo homem, Te fazes Deus». Disse-lhes Jesus: «Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses’? Se a Lei chama ‘deuses’ a quem a palavra de Deus se dirigia – e a Escritura não pode abolir-se –, de Mim, que o Pai consagrou e enviou ao mundo, vós dizeis: ‘Estás a blasfemar’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de Deus’!» Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis. Mas se as faço, embora não acrediteis em Mim, acreditai nas minhas obras, para reconhecerdes e saberdes que o Pai está em Mim e Eu estou no Pai». De novo procuraram prendê-l’O, mas Ele escapou-Se das suas mãos. Jesus retirou-Se novamente para além do Jordão, para o local onde anteriormente João tinha estado a baptizar e lá permaneceu. Muitos foram ter com Ele e diziam: «É certo que João não fez nenhum milagre, mas tudo o que disse deste homem era verdade». E muitos ali acreditaram em Jesus.

Comentário:

Em boa verdade temos de reconhecer que as dúvidas – e até escândalo – dos judeus, tem alguma razão de ser.

Até então, Deus era de tal forma distante e inatingível, que nem sequer o Seu nome se podia pronunciar.

O que não percebem, ainda, é que Jesus Cristo vem exactamente para ensinar que Deus não é nem distante e muito menos inatingível; está com os homens, quer os homens perto de Si, deseja “conviver” com eles como um Pai convive com os seus filhos.

Este ensinamento – anúncio – é de tal forma contraditório com séculos da história das relações de Israel com Deus que nem lhes ocorre que, de facto, Deus sempre falou com os homens, os profetas – a começar por Abraão, nosso Pai na Fé – intervindo pessoalmente nas suas vidas como, por exemplo, guiando o povo durante a travessia do deserto a caminho da terra prometida.

Os homens sim, foram gradualmente afastando-se da convivência divina assumindo eles próprios o “direito” de interpretar a Lei como de facto o faziam.

Acontece que, uma Lei, não se interpreta a bel-prazer, ou se aceita e se cumpre ou, não a aceitando, não se tem o direito de falar em nome dela.

(ama, comentário sobre Jo 10, 31-42, 15.12.2016)







Fortes e pacientes: serenos

Se, por teres o olhar fixo em Deus, souberes manter-te sereno no meio das preocupações; se aprenderes a esquecer as ninharias, os rancores e as invejas; pouparás muitas energias, que te fazem falta para trabalhar com eficácia, em serviço dos homens. (Sulco, 856)

Quem sabe ser forte não se deixa invadir pela pressa de conquistar logo o fruto da sua virtude; é paciente. A fortaleza leva-nos realmente a saborear a virtude humana e divina da paciência. Mediante a vossa paciência, possuireis as vossas almas (Lc XXI, 19). A posse da alma exprime-se na paciência, que, na verdade, é raiz e custódia de todas as virtudes. Nós possuímos a alma com a paciência, porque, aprendendo a dominar-nos a nós mesmos, começamos a possuir aquilo que somos. E é esta paciência que nos leva também a ser compreensivos com os outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho, melhoram com o tempo.


Fortes e pacientes: serenos. Mas não com a serenidade daquele que compra a tranquilidade pessoal à custa de se desinteressar dos seus irmãos ou da grande tarefa, que corresponde a todos, de difundir ilimitadamente o bem por todo o mundo. Serenos, porque há sempre perdão, porque tudo tem remédio, menos a morte, e, para os filhos de Deus, a morte é vida. Serenos, ainda que seja só para poder actuar com inteligência: quem conserva a calma está em condições de reflectir, de estudar os prós e os contras de cada problema, de examinar judiciosamente os resultados das acções previstas. E depois, sossegadamente, pode intervir com decisão. (Amigos de Deus, 78–79).

Pequena agenda do cristão

Sexta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?