18/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

VASO ESPIRITUAL


Lindo gomil, todo oiro, imaculado,
de linhas puras, cores de vitrais,
Maria, reúne em seu perfil sagrado
às prendas de alma encantos divinais.

Vaso etéreo que inspire tanto agrado,
o Céu e a terra não verão jamais.
Que é o astro-rei com ele comparado?!...
Nem nas estrelas descobriu rivais!

Vaso de flores em que cada flor
é de virtudes um caudal que passa,
o mundo enchendo de perfume e cor;

Vaso espiritual que é nossa raça
fornece o Pão da vida e a luz da Graça…
 - Vaso que encerra o próprio Criador!

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Fátima: Centenário - Oração Jubilar de Consagração


Salve, Mãe do Senhor,
Virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima!
Bendita entre todas as mulheres,
és a imagem da Igreja vestida da luz pascal,
és a honra do nosso povo,
és o triunfo sobre a marca do mal.

Profecia do Amor misericordioso do Pai,
Mestra do Anúncio da Boa-Nova do Filho,
Sinal do Fogo ardente do Espírito Santo,
ensina-nos, neste vale de alegrias e dores,
as verdades eternas que o Pai revela aos pequeninos.

Mostra-nos a força do teu manto protector.
No teu Imaculado Coração,
sê o refúgio dos pecadores
e o caminho que conduz até Deus.

Unido/a aos meus irmãos,
na Fé, na Esperança e no Amor,
a ti me entrego.
Unido/a aos meus irmãos, por ti, a Deus me consagro,
ó Virgem do Rosário de Fátima.

E, enfim, envolvido/a na Luz que das tuas mãos nos vem,
darei glória ao Senhor pelos séculos dos séculos.


Ámen.

Evangelho e comentário



Evangelho: Jo 20, 11-18

Naquele tempo, Maria Madalena estava a chorar junto do sepulcro. Enquanto chorava, debruçou-se para dentro do sepulcro e viu dois Anjos vestidos de branco, sentados, um à cabeceira e outro aos pés, onde estivera deitado o corpo de Jesus. Os Anjos perguntaram a Maria: «Mulher, porque choras?» Ela respondeu-lhes: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram». Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, sem saber que era Ele. Disse-lhe Jesus: «Mulher, porque choras? A quem procuras?» Pensando que era o jardineiro, ela respondeu-Lhe: «Senhor, se foste tu que O levaste, diz-me onde O puseste, para eu O ir buscar». Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela voltou-se e respondeu em hebraico: «Rabuni!», que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não Me detenhas, porque ainda não subi para o Pai. Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que vou subir para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus». Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: «Vi o Senhor». E contou-lhes o que Ele lhe tinha dito. 

Comentário:

A sensibilidade feminina fica bem patente neste trecho do Evangelho de São João.

Perante as situações mais difíceis e incompreensíveis a mulher reage com o coração.

Maria sabe que o Senhor jaz no sepulcro, mas tem de certificar-se que tudo está em ordem que não profanaram ou de algum modo o ódio demonstrado pelos seus inimigos durante a Paixão não se voltara contra o Seu corpo morto.

Mas os, soldados que guardam o sepulcro?
E a pedra enorme que sela a entrada?

Isso são pormenores que não a detêm porque o seu amor pelo Mestre continua nem vivo.
Tem de O ver nem que seja uma última vez!

E, de facto, o Senhor recompensará essa demonstração de amor.



(AMA, comentário sobre Jo 20, 11-18, 28.12.2016)

Hoy el reto del amor es que des un abrazo a alguien

ABRAZOS QUE ESTRUJAN

El otro día tuvimos cocina, y nos encargamos Sión y yo. Nada más llegar, yo le comenté que, si me veía un poco seria, que no se preocupase, que me había levantado con el pie izquierdo ese día, estaba un poco refunfuñona... Ella inmediatamente me preguntó: "¿Y qué necesitas? ¿Distancia... o un abrazo?" Contesté rápidamente: "UN ABRAZO". Y ella me apretujó de tal manera que se me fue todo el mal humor y pude empezar la cocina con fuerzas.

Cuántas veces tenemos miedo de acercarnos así al Señor, con nuestras pobrezas. Parece que hay que estar perfecto para acudir al Señor, que si estar bien con todo el mundo, que si la lista de propósitos cumplida... Pero en el evangelio no dice en ningún momento: "Se acercó a Jesús una mujer perfecta", o "Pasaba por allí un hombre que no tenía problemas". No... a Jesús se acercan los que tienen la mano paralizada, los ciegos, los leprosos, los que sufren por una hija que se está muriendo... ellos son los que no pueden más, los que se sienten solos, los que necesitan de alguien que les salve de esa situación que tienen.

Puede que tú hayas empezado regular el día, y piensas en alejarte lo más posible de la gente y del Señor para no liarla más. Pero se te olvida una cosa: ¡Cristo te ama así como estás! Y así es como quiere que te presentes ante Él, pobre, nada más que con tu mochila llena de enfados, de personas a las que no puedes ver, de esa situación que te hace sufrir. Él se quiere quedar con todo eso, dáselo: entrégale tu mano paralizada, tu ceguera, tu enfermedad, para que Él pueda entrar en ello. Te aseguro que empezarás a sentir que el Señor no se distancia de ti, sino que te abraza con fuerza para vivirlo contigo, para darte esperanza y alegría.

Hoy el reto del amor es que des un abrazo a alguien, e incluso con más razón si le ves un poco serio o con mala cara. Acércate y estrújale con tanto cariño que pueda afrontar el día de otra manera, que pueda sentirse amado y comprendido. Déjale experimentar el amor de Cristo a través de ti.


VIVE DE CRISTO

Doutrina – 273

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

52. Quem criou o mundo?

O Pai, o Filho e o Espírito Santo são o princípio único e indivisível do mundo, ainda que a obra da criação do mundo seja particularmente atribuída ao Pai.



Epístolas de São Paulo – 49

Carta aos Gálatas

A Carta aos Gálatas é uma das mais lidas e comentadas em todo o mundo cristão. E dos escritos paulinos foi dos mais explorados por alguns grupos ou Igrejas, sobretudo em dois momentos: o da polémica de Santo Agostinho com o herético Pelágio (séc. IV) e o dos Reformadores, no debate católico-protestante.

DATA E DESTINATÁRIOS

Quem são os Gálatas? No tempo do NT, a Galácia era uma província romana da Ásia Menor, que abrangia os seguintes territórios: a Galácia propriamente dita, a Frígia, a Pisídia e a Licaónia. Galácia, nos Actos (Act 16,6; 18,23), distingue-se da Frígia.
As igrejas da Galácia devem ter sido fundadas por ocasião da 1.ª viagem missionária de Paulo (Act 13,1-14,26). O Apóstolo dos gentios escreve a Carta aos Gálatas entre 55 e 57, a partir de Éfeso ou de Corinto, depois de 1 Ts e antes de Rm, Fl e Flm.

CONTEXTO

Na altura, nem sempre havia uma distinção clara entre judaísmo e cristianismo. Pregadores judeus, que seguiram os passos de Paulo, vieram anunciar a necessidade da circuncisão para a salvação. É que, no início da Igreja, o mais sério problema que se apresentou à consciência cristã foi o da relação da “nova doutrina” de Cristo com a Lei de Moisés, ou melhor, com o Antigo Testamento.
O Antigo Testamento, cujos cinco primeiros livros, ou Pentateuco, constituem a Lei de Moisés, ainda hoje é venerado pelos cristãos como Palavra de Deus; mas as suas prescrições sobre o culto, os alimentos, as doenças, etc. ver o Levítico deixaram de vigorar. Hoje, é claro que não estamos obrigados a tais prescrições; para os primeiros cristãos, porém, o assunto não era tão claro. Tratava-se de judeus convertidos, que continuavam a observar a Lei e a circuncidar-se. A Igreja nasceu no seio do Antigo Testamento.
Esta Carta pode considerar-se uma espécie de circular, apaixonada e polémica (5,12), dirigida às pequenas comunidades dispersas pelo imenso território da Galácia, que estavam em situação de crise de identidade cristã. Tratava-se da fidelidade ou infidelidade ao Evangelho, num momento em que o cristianismo corria perigo de se converter numa simples seita judaica.

DIVISÃO E CONTEÚDO

O conteúdo desta Carta pode resumir-se no seguinte:
Introdução: 1,1-10;
I. Origem divina do Evangelho: 1,11-2,21;
II. O Evangelho faz-nos filhos de Deus: 3,1-4,7;
III. O Evangelho faz-nos livres: 4,8-5,12;
IV. Vida cristã, caminho de liberdade: 5,13-6,10;
Conclusão: 6,11-18.

TEOLOGIA

A discussão acerca do anúncio do Evangelho também aos pagãos, considerados imundos pela Lei (Act 10-11; 15), foi o primeiro problema que surgiu após a Ressurreição de Cristo e do Pentecostes. Depois, levantou-se o problema de se os cristãos, vindos do paganismo, estavam também sujeitos à Lei mosaica. Divergiam as opiniões. Paulo, apesar de ser judeu da seita dos fariseus (os mais zelosos da Lei), tornou-se o campeão da liberdade cristã ou da não sujeição à Lei, interpretada à maneira dos fariseus. Isso mereceu-lhe a hostilidade, não só dos judeus, mas também dos cristãos de origem judaica. O chamado concílio de Jerusalém (Act 15) não conseguira acalmar completamente os ânimos. Cristãos de origem judaica os judaizantes puseram em causa a validade e legitimidade do anúncio evangélico feito por Paulo, negando-lhe a dignidade apostólica e acusando-o de pregar um Evangelho mutilado e de anunciar um cristianismo diferente do dos outros Apóstolos de Jerusalém. Por isso, tentavam submeter os recém-convertidos ao jugo da Lei.
Foi o que aconteceu nas igrejas paulinas da Galácia. Nas pegadas do Apóstolo, os judaizantes atraíram os gálatas para a sua causa. Paulo escreveu-lhes, então, esta Carta polémica, em defesa da sua dignidade apostólica e da ortodoxia da sua doutrina, reconhecida, sobretudo, pelas colunas da Igreja-mãe de Jerusalém; expõe aqui o seu pensamento sobre as relações entre a Lei de Moisés e Cristo. Este último ponto será amplamente tratado na Carta aos Romanos, cronologicamente posterior à Carta aos Gálatas.
Para o Apóstolo, a Lei de Moisés foi sobretudo «um pedagogo», cuja missão era conduzir a Cristo (3, 24). Se os cristãos continuassem a observar a Lei como necessária para a salvação, então a obra de Cristo teria sido inútil: a salvação não nos viria por Ele, mas pela Lei. Por isso, o que nos justifica não são as obras da Lei, mas a fé em Cristo.
Partindo deste princípio, Paulo vai ainda mais longe. Esforça-se por provar aos seus adversários que a Lei nunca justificou ninguém. O próprio Abraão não foi justificado pela observância da Lei, mas pela fé e pela Promessa. A Lei não fez mais do que manifestar o pecado, ao indicar um caminho, sem dar forças para o seguir. Só a Boa-Nova de Cristo, que é poder de Deus para todo o que crê, justifica, porque, indicando o caminho, dá também a força sobrenatural para o seguir. O grupo dos judaizantes quase desapareceu com a queda de Jerusalém, por volta do ano 70.




Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS 


Vol. 2

LIVRO X

CAPÍTULO XXVIII

Deveremos nós amar também o próprio amor com que amamos o ser e o saber, para mais nos aproximarmos da imagem da Trindade divina?

Mas acerca desses dois pontos, ou seja, do saber e do conhecer, quanto os amamos em nós, como deles se encontra um a semelhança, em bora longínqua, mesmo nas coisas que são inferiores a nós — já dissemos o bastante, tanto quanto me parece que o exigia o plano desta obra. Acerca do amor com que são amados, não disse se esse amor também é amado. Mas esse amor é amado — e provamos que o é com o facto de que, quanto mais um homem é legitimamente amado, mais este amor é ele pró­prio amado. E com razão, de facto, que se diz bom não quem conhece o bem, mas sim quem o ama. Porque não temos então consciência de amarmos em nós esse mesmo amor que nos faz amar tudo o que de bom nós amamos? Porque também há um amor com que amamos o que amado não deve ser, e a este amor o odeia em si aquele amor com que se ama o que amado deve ser. Podem ambos estes amores existir no mesmo homem — e o bem para o homem consiste em que, progredindo no que nos faz viver bem, vá retrocedendo, até completa cura, no que nos faz viver mal e se mude em bem toda a nossa vida.

Se fôssemos gado, amaríamos a vida carnal e o que é conforme com os seus sentidos. Isso bastaria para nosso bem e se nos encontrássemos bem com isso, nada mais procuraríamos. Da mesma forma, se fôssemos árvores, nada amaríamos, com certeza, com um movimento sensível, — contudo, parece que desejaríamos o que nos tornasse mais fecunda e abundantemente frutíferas. Se fôssemos pedras, ondas, ventos, chama ou coisa parecida, não teríamos nem sensibilidade nem vida; todavia, não seríamos desprovidos dum a certa tendência para o lugar pró­prio e para a ordem. São com o que amores dos corpos as forças dos seus pesos, quer tendam para baixo, devido à gravidade, quer para cima, devido à leveza. Efectivamente, assim com o a alma é arrastada pelo amor para onde quer que vá, assim também o corpo é arrastado pelo seu peso.

Mas nós somos homens criados à imagem do nosso Criador, cuja eternidade é verdadeira, a eterna verdade, a eterna e verdadeira caridade, e Ele próprio é, sem confusão nem separação, a eterna Trindade, a verdadeira Trindade, a bem-amada Trindade. Considerem os todas as coisas que estão abaixo de nós: de forma nenhuma existiriam, não se manteriam em qualquer forma, não desejariam nem observariam qualquer ordem, se não tivessem sido feitos por Aquele que soberanamente é e que é a soberana sabedoria e a soberana bondade. Percorramos todas as obras que Ele fez na sua admirável estabilidade e recolhamos, por assim dizer, os vestígios mais ou menos profundos com que as marcou. Pois, como aquele filho mais novo do Evangelho olhando para a sua figura, entrem os dentro de nós e levantemo-nos para regressarmos Aquele de quem nos afastámos pelo pecado. Lá, o nosso ser não mais terá morte; lá, o nosso conhecer não mais terá erro; lá, o nosso amar não mais terá obstáculo. Estas três realidades, bem nossas, temo-las nós por certas. Acreditamos nelas, não devido ao testemunho de outrem, mas porque nós as sentimos presentes, vemo-las dentro de nós com um olhar que não engana. Mas até quando durarão elas? Jamais acabarão? Que será delas conforme o mau ou o bom uso que lhes dermos? Não podemos sabê-lo por nós próprios. E por isso que a este propósito procuramos outros testem unhos ou já os temos. Acerca da garantia que deve oferecer-nos a sua fidelidade — não é este o lugar, mas mais adiante, em que disso se tratará pormenorizadamente.

Mas neste livro trata-se da Cidade de Deus que não peregrina na mortalidade desta vida, mas reside, sempre imortal, nos Céus — a dos santos anjos, unidos a Deus, que jamais foram ou serão desertores. Há anjos que desertaram da luz eterna e se tornaram trevas; mas, como dissemos, Deus desde as origens separou-os dos primeiros Com a ajuda d’Ele acabemos, pois, de explicar com o pudermos o que começámos.

CAPÍTULO XXIX
Ciência pela qual os santos anjos conhecem a Trindade na sua própria deidade — e pela qual vêem na arte do Criador as causas das suas obras antes de as considerarem na própria obra
do artífice.

Os santos anjos conhecem a Deus não pelos sons das palavras, mas pela própria presença da Verdade imutável, isto é, pelo Verbo, Filho único de Deus. Conhecem o pró­prio Verbo e o Pai e o Espírito Santo d’Eles; vêem que esta Trindade é inseparável, que n’Ela cada uma das pessoas é substancial e que, todavia, todas juntas não fazem três deuses, mas um só Deus; e tudo isto lhes é mais conhecido do que nós somos de nós próprios. Conhecem também melhor a criatura aí, isto é, na Sabedoria de Deus, como na arte em que foi feita, do que em si mesma. Por conseguinte, conhecem-se melhor aí a si mesmos do que em si mesmos, em bora se conheçam também em si mesmos. Foram, na realidade, feitos e são diferentes de quem os fez. Aí, no Verbo, têm eles, com o acima dissemos, um conhecimento, digamos, diurno e neles próprios um conhecimento, digamos ainda, vespertino. E, de facto, muito diferente conhecer um objecto na própria ideia segundo a qual foi feito e conhecê-lo em si mesmo. Assim se conhece a direcção em recta das linhas ou a verdade das figuras, quando se vêem na inteligência, de forma diferente de quando se escrevem na areia; ou ainda: a justiça na imutável Verdade é diferente na alma do justo. Da mesma forma quanto ao resto: o firmamento chamado céu posto entre as águas superiores e as inferiores; a reunião das águas em baixo, a secura da terra, a formação das plantas e das árvores; a criação do Sol, da Lua e das estrelas; os animais provenientes das águas, como as aves, os peixes e os monstros que nadam; da mesma forma os animais que andam ou rastejam na terra; e o próprio homem que supera tudo o que há na Terra: todos estes seres os anjos conhecem no Verbo de Deus, em quem residem imutáveis e permanentes as suas causas e as suas ideias, isto é, Aquele que presidiu à sua criação, de uma forma que difere do conhecimento deles em si mesmos: — com um conhecimento mais claro aí, mais obscuro aqui, como o da arte e o das obras. Quando estas obras se referem ao louvor e glória do Criador, com o que resplandece a manhã no espírito de quem contempla.

CAPÍTULO XXX

A perfeição do número seis — o primeiro que é a soma exacta das suas partes.

É por causa da perfeição do número seis que se narra (na Escritura), que as coisas ficaram perfeitas em seis dias, ou no mesmo dia repetido seis vezes. Não é porque a Deus tosse necessário algum intervalo de tempo, como se ele não pudesse criar duma só vez todos os seres que doravante por seus movimentos apropriados gerariam o tempo: mas porque o número seis significa a perfeição das obras. Efectivamente, ele é o primeiro a ser a soma exacta das suas partes, isto é, do seu sexto, do seu terço e da sua metade — que são, respectivamente, um, dois e três cuja soma faz seis. Devem-se, neste cálculo, tomar como partes aquelas de que se pode dizer que são alíquotas
[i] — tais como a metade, o terço, o quarto e assim de seguida. Assim, por exemplo, quatro é um a parte do número nove, mas não se pode dizer qual, com o se pode dizer de um — que é o nono e de três — que é o terço. Mas estas duas partes somadas — o nono e o terço, isto é, o um e o três — estão longe da soma total que é nove. Também quatro é parte de dez, mas não se pode dizer qual, como se pode dizer de um — que é um décimo, de dois — que é um quinto, de cinco — que é metade. Mas estas três partes — décimo, quinto e metade, ou seja, um, dois e cinco — somam oito e não dez. Ultrapassam-no, porém, as partes adicionadas do número doze, sendo um — o duodé­cimo, dois — o sexto, três — o quarto, quatro — o terço, e seis — metade; pois um, dois, três, quatro e seis perfazem dezasseis, portanto, mais de doze. Julguei que isto devia ser sumariamente rememorado para mostrar a perfeição do número seis que, com o disse, é o primeiro a ser a soma exacta das suas partes: é neste número que Deus deixou perfeitas [ii] as suas obras. Não se deve, pois, desprezar a teoria dos números de que as Sagradas Escrituras, em muitas passagens, desvendam o alto valor aos que as estudam com atenção. Não foi em vão que se disse em louvor de Deus:

Tudo dispuseste em número, peso e medida.
[iii]


(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Com a palavra alíquota, Santo Agostinho pretende referir-se, como resulta, aliás, do contexto, à quota parte ou parte proporcional e não a uma parte qualquer, isto é, que cabe no todo um número inteiro de vezes.
[ii] Sab. de Salomão, XI, 21.
[iii] Ibid.

Temas para meditar - 701

Não tenhais medo

Cristo repete várias vezes: Não tenhais medo... não temais. 
E ao mesmo tempo, juntamente com estas chamadas à fortaleza, ressoa a exortação: Temei, temei antes o que pode enviar o corpo e a alma para o inferno (Mt 10, 28). 
Somos chamados à fortaleza e, ao mesmo tempo, ao temor de Deus, e este deve ser temor de amor, temor filial.
E somente quando este temor penetrar nos nossos corações, poderemos ser realmente fortes com a fortaleza dos Apóstolos, dos mártires, dos confessores. 

são joão paulo II. Disc. aos novos cardeais 1979.06.30,



Reflectindo 243

Da necessidade de reconvenção

O que se entende, exactamente reconvenção?
De forma sintética quererá significar rever o passado, tornar a andar o já andado.

Porque é necessária? Não dizemos que o passado não interessa sim o presente?

É verdade, mas também é verdade que o presente começou ontem e tem consigo, digamos, a carga, o efeito, a consequência do feito ontem.

Não podemos voltar a fazer o mesmo que já fizemos?
Podemos, claro, repetir corrigindo o que foi mal ou deficientemente feito.
Podemos e devemos principalmente fazer o que deveríamos ter feito e não fizemos.

Lembremos que para Deus não há tempo tal como o consideramos, mas um presente contínuo, permanente.

Portei-me mal? Pois, peço perdão e corrijo portando-me bem.

Talvez que, na reconvenção, preocupados com o ter feito mal ou não ter cumprido a nossa obrigação, no esqueçamos de aferir algo muito importante: fomos agradecidos? Demos graças a Deus por tudo - absolutamente - quanto Lhe devemos?

Pois aproveitemos este tempo que nos é concedido para o fazer.



(ama, reflexões, 2016.11.26)

Deus está junto de nós continuamente

É preciso convencermo-nos de que Deus está junto de nós continuamente. – Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um pai amoroso – quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos – ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando... e perdoando. Quantas vezes fizemos desanuviar a fronte dos nossos pais, dizendo-lhes, depois de uma travessura: não torno a fazer mais! – Talvez naquele mesmo dia tenhamos tornado a cair... – E o nosso pai, com fingida dureza na voz, de cara séria, repreende-nos..., ao mesmo tempo que se enternece o seu coração, conhecedor da nossa fraqueza, pensando: pobre rapaz, que esforços faz para se portar bem! É necessário que nos embebamos, que nos saturemos de que é Pai e muito Pai nosso, o Senhor que está junto de nós e nos Céus. (Caminho, 267)


Descansai na filiação divina. Deus é um Pai cheio de ternura, de amor infinito. Chama-lhe Pai muitas vezes durante o dia e diz-lhe – a sós, na intimidade do teu coração – que o amas, que o adoras, que sentes o orgulho e a força de seres seu filho. Tudo isto pressupõe um autêntico programa de vida interior, que é preciso canalizar através das tuas relações de piedade com Deus – poucas, mas constantes, insisto – que te permitirão adquirir os sentimentos e as maneiras de um bom filho.


Devo prevenir-te, no entanto, contra o perigo da rotina – verdadeiro sepulcro da piedade – a qual se apresenta frequentemente disfarçada com ambições de realizar ou empreender gestas importantes, enquanto se descuida comodamente a devida ocupação quotidiana. Quando notares essas insinuações, põe-te diante do Senhor com sinceridade. Pensa se não te terás aborrecido de lutar sempre nas mesmas coisas, porque na realidade não estavas à procura de Deus. Vê se não terá decaído a tua perseverança fiel no trabalho, por falta de generosidade, de espírito de sacrifício. Nesse caso, as tuas normas de piedade, as pequenas mortificações, a actividade apostólica que não produz fruto imediato parecem-te tremendamente estéreis. Estamos vazios e talvez comecemos a sonhar com novos planos, para calar a voz do nosso Pai do Céu, que exige de nós uma lealdade total. E, com um pesadelo de grandezas na alma, lançamos no esquecimento a realidade mais certa, o caminho que sem dúvida nos conduz direitos à santidade. Aí temos um sinal evidente de que perdemos o ponto de vista sobrenatural, a convicção de que somos meninos pequenos, a persuasão de que o nosso Pai fará em nós maravilhas, se recomeçarmos com humildade. (Amigos de Deus, n. 150)

Pequena agenda do cristão

TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)









Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:

Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


 Oração:

Meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo o que me afaste de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me aproxime de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim mesmo, para que eu me dê todo a ti.
Eu sei que podeis tudo e que, para Vós, nenhum projecto é impossível.